ATUALIZAÇÃO
RENATO ARAÚJO BONARDI - TSBCP
Bonardi RA - Químio e radioterapia adjuvante melhoram o prognóstico a longo prazo de pacientes com câncer de reto distal T2, tratado com ressecção local. Rev bras Coloproct, 2000; (4):246-247.
Abstrato
Em pacientes selecionados, a ressecção local do
carcinoma do reto distal, com ou sem radioterapia pélvica,
tem sido boa alternativa em relação à cirurgia radical
amputativa. Com a finalidade de definir o papel da
radioterapia adjuvante, os autores neste estudo compararam os
resultados a longo prazo em pacientes submetidos a
ressecção local de carcinoma T1 e T2, com e sem radioterapia.
Noventa e nove pacientes com lesões T1 e T2 foram
submetidos a ressecção local, destes 47 receberam
radioterapia adjuvante. Destes 47 pacientes, 26 foram
submetidos a terapia combinada com 5FU e radioterapia. Os
pacientes foram avaliados com relação a recidiva
local, metástases a distância e sobrevida após o tratamento.
Todos os pacientes foram acompanhados por uma média
de 51 meses (4 a 162 meses).
O acompanhamento em 5 anos mostrou que para os pacientes submetidos a ressecção local somente, a
ausência de recidiva local foi de 72% e a sobrevida livre
de doença 66%. Para os pacientes que além da ressecção
local foram submetidos a radioterapia adjuvante, a
ausência de recidiva local foi de 90% e a sobrevida livre da
doença de 74%. Esta melhora dos resultados ocorreu apesar
do fato de que 33 dos 47 pacientes do grupo irradiado
estavam no estadiamento T2, comparados aos somente 8
dos 52 pacientes submetidos somente a ressecção local.
Achados anatomo-patológicos adversos como
graduação histológica indiferenciada e invasão angio-linfática,
aumentaram a recidiva local e diminuiram a sobrevida livre
de doença no grupo submetido a ressecção local somente.
À radioterapia adjuvante, quatro pacientes apresentaram
recidiva local aos 64, 72, 86 e 91 meses respectivamente.
Estes achados sugerem que todos os pacientes
submetidos a ressecção local por tumores T2 e T1 com
características patológicas de alto-risco
(histologicamente indiferenciados e/ou invasão angiolinfática) deverão
ser submetidos a radio-quimioterapia adjuvante.
Comentário
O tratamento do carcinoma de reto evoluiu nas
últimas décadas. Com o advento dos grampeadores circulares e
a radio-quimioterapia adjuvante, mais pacientes que
necessitariam cirurgias radicais, têm sido submetidos a
operações com preservação esfincteriana. Infelizmente,
tumores de reto distal, ainda freqüentemente necessitam de
amputação abdomino-perineal do reto. A ressecção local
se tornou uma alternativa para os pacientes com
morbidades, metástases, com expectativa de vida curta, ou ainda
para aqueles que recusam a cirurgia radical com colostomia.
A ressecção local ainda diminuiu acentuadamente
a morbilidade e mortalidade do tratamento de alguns
casos de câncer de reto distal. A recidiva locoregional tem
sido aceitável em pacientes selecionados com tumores
iniciais para ressecção local; isto tem dado suporte a esta
modalidade de tratamento, especialmente quando submetidos
a radio e quimioterapia adjuvante.
Este trabalho é uma revisão retrospectiva de 99
pacientes com tumores retais T1 e T2, tratados por
ressecção local com ou sem terapia adjuvante. Dos 47 pacientes
submetidos a radioterapia, 26 também receberam
quimioterapia com 5FU. A mudança de radioterapia isolada para
radio-quimioterapia reflete as mudanças que ocorreram no
tratamento do câncer do reto distal ao longo do período de
31 anos em que os pacientes foram avaliados. Os autores
observaram que o controle local e a sobrevida livre de
doença melhoraram com a radioterapia. Embora este
estudo não seja randomizado, o fato de que mais tumores T2
e com alterações de invasão angiolinfática foram tratados
com terapia adjuvante, comprova a eficácia de sua
utilização. Estes achados já foram observados em outros estudos.
As recidivas locais ocorreram tardiamente no grupo que
recebeu terapia adjuvante. O período médio do
aparecimento da recidiva foi de 35 meses. Após quase 5 anos a
maioria dos pacientes foi considerada curada. O seguimento
médio total dos dois grupos foi de 51 meses. Isto contibuiu para
o controle de recidiva local no grupo que recebeu
tratamento adjuvante. O tempo livre de doença para os tumores
precoces submetidos à ressecção local, sete pacientes
apresentaram metástases à distância. Ainda que o
tratamento adjuvante se dirigisse às recidivas locais, os
pacientes freqüentemente sucumbem pelas metástases à distância
e, portanto, a sobrevida geral ainda não é satisfatória. A
inabilidade de melhorar a sobrevida com o controle das
recidivas locais mostra a necessidade de novas
terapias sistêmicas adjuvantes. Os autores têm o mérito de
relatar uma das maiores séries de pacientes submetidos à
ressecção local com ou sem terapia adjuvante.
A ressecção local de tumores de reto distal é uma
opção excelente em pacientes selecionados. para os
tumores T2 e para aqueles com alterações anátomo-patológicas
de alto risco, o uso de ressecção local com terapia adjuvante
é um tratamento adequado. Nos tumores T1, sem
alterações anátomo-patológicas de alto risco, podem ser tratados
por ressecção local somente. As metástases à distância
têm uma importância fundamental na sobrevida e,
portanto, necessitam de novas terapias sistêmicas para a
obtenção de melhores resultados.
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