CONGRESSO BRASILEIRO DE COLOPROCTOLOGIA
RAIMUNDO PESSOA VIEIRA - TSBCP
Fábio Guilherme Campos _ TSBCP
Dan Linetzky Waitzberg
Angela Logulo
Raquel Susana Torrinhas
Caio Plopper
Ricardo Terra
William Teixeira
Daniel Andrade
Celso Cukier
Angelita Habr-Gama _ TSBCP
Trabalho apresentado no 49º Congresso Brasileiro de Coloproctologia para concorrer ao prêmio Pitanga Santos.
CAMPOS FG, WAITZBERG DL, LOGULO A, TORRINHAS RS, PLOPPER C, TERRA R, TEIXEIRA W, ANDRADE D, CUKIER C, HABR-GAMA A - Ácidos graxos ômega-3 por via parenteral: impacto no tratamento de colite aguda experimental. - Rev bras Coloproct, 2001; 21(1): 42-49.
RESUMO: Nos últimos anos, a literatura tem dedicado especial atenção aos efeitos imuno-moduladores de emulsões lipídicas (EL) enriquecidas com óleo de peixe (FO) sobre processos inflamatórios. O objetivo deste trabalho foi estudar os efeitos da administração parenteral de EL enriquecidas com ácidos graxos ômega-3 (AGn-3). em colite aguda experimental. MÉTODOS: Setenta e quatro ratos Wistar machos adultos foram randomizados em seis grupos submetidos a indução de colite com ácido acético a 10% ( exceto grupo CS). Os ratos foram alimentados com dieta oral sem gorduras ad libitum em gaiolas metabólicas individuais. Durante sete dias, os grupos controle CS (sem colite) e CC (com colite) receberam solução fisiológica e os outros grupos, EL específicas por catéter venoso central (0,5 ml/hora). As composições lipídicas e as razões entre AGn-3 e AGn-6 dos grupos foram: grupo L -1:7,7 (TCL; n=12), M- 1:7,0 (TCMnCL; n=12), LW-3 -1:4,5 (TCL + FO; n=12) e MW-3 -1 :3,0 (TCM/TCL + FO; n=13). Os ratos foram avaliados quanto à ocorrência de diarréia, relação ingestão/peso, as alterações na cavidade abdominal (dilatação e espessamento da parede intestinal, mesenterite, aderências de epíplon ou do intestino delgado), celularidade de macrófagos (por imuno-histoquímica), alterações histológicas, e concentrações de leucotrienos (LTB4 e C4), prostaglandina (pGE2) e tromboxane (TXB2) no cólon (por ensaio imuno-enzimático). RESULTADOS: os grupos M, MW-3 e LW-3 apresentaram maior número de ratos com fezes normais que o grupo não tratado (CC). Os ratos MW-3 foram os únicos cuja média de ingestão/peso não diferiu do grupo CS e foi superior a CC. Somente os animais que receberam suplementação com AGn-3 (LW-3 e MW-3) apresentaram menor número de alterações inflamatórias em comparação aos ratos CC. A formação de úlceras da mucosa intestinal do grupo MW-3 equiparou-se ao grupo sem colite (CS). Somente os grupos CS, M e MW-3 apresentaram escores I de celularidade de macrófagos inferiores ao grupo CC. Em relação às dosagens de mediadores inflamatórios, não houve diferença estatística quanto às médias de L TC4 entre os grupos. Em comparação ao grupo CC, foram menores as concentrações teciduais de LTB4 dos grupos CS, LW-3 e MW-3, de PGE2 dos grupos CS, M e MW-3 e de TXB2 dos grupos CS e MW-3.
CONCLUSÕES: 1) EL contendo TCL com razão n-3/n-6 de 1: 7,7 não modificam as manifestações clínicas e inflamatórias da colite; 2) EL enriquecidas com AGn-3 reduzem a diarréia, preservam a relação ingestão/peso, atenuam as conseqüências morfológicas e diminuem as concentrações teciduais de mediadores inflamatórios; 3) EL contendo TCM/TCL e com razão n-3/n-6 de I :3 determinam maior impacto na redução das repercussões clínicas, morfológicas e inflamatórias da colite e na diminuição das concentrações dos eicosanóides no cólon.
Unitermos: Doenças Inflamatórias Intestinais, Colite Ulcerativa, Lipídios, Ácidos Graxos Polinsaturados ômega-3, Mediadores Inflamatórios, Emulsão Lipídica.
INTRODUÇÃO
As Doenças Inflamatórias Intestinais (DII) são
afecções de etiologia ainda não claramente definida, em cuja
patogenia estão envolvidos fatores genéticos, ambientais
e imunológicos (Rutgeerts, 1998; Sartor, 1997).
Drogas anti-inflamatórias e imunossupressoras
constituem a base do tratamento das Dll. Entretanto, a
terapêutica clínica não controla a doença em definitivo, não
evita recidivas, é dispendiosa e ocasionalmente determina
efeitos colaterais que limitam a qualidade de vida dos
pacientes (Habr-Gama, 1994; Teixeira et aI, 1993).
A terapia nutricional pode ser necessária em
diferentes fases evolutivas da doença para recuperar o
estado nutricional e/ou controlar doença ativa. Reconhece-se,
atualmente, que a formulação racional de nutrientes a
serem fornecidos deve levar em conta os diversos
mecanismos envolvidos na etiopatogenia das Dll, tornando- se
necessário incluir aqueles que forneçam calorias, despertem
pouco estimulo antigênico e tenham a capacidade de modular
processos inflamatórios (Campos et al., 1998; Carpentier
et al., 1997; Hayashi et aI, 1998; Schreiber, 1998).
Em relação ao uso de lípides em nutrição enteral
ou parenteral, a otimização de regimes nutricionais que
empregam emulsões lipídicas (EL ) deve focalizar a
proporção entre ácidos graxos poli-insaturados ômega-3
(AGn-3) e ômega-6 (AGn- 6) e a dimensão da cadeia
de triglicérides (FUrst, 1994). Desde os
estudos epidemiológicos realizados em esquimós na Noruega,
diversos efeitos potenciais da suplementação alimentar
com óleo de peixe têm sido reportados, destacando-se a
modulação de processos inflamatórios e
imunológicos (Alexander, 1998; Morlion et aI, 1997). Os AGn-3
são encontrados principalmente nos óleos de canola e de
peixe, sendo representados pelo EPA
(eisosapentaenoic acid) e DHA (docosahexaenoic acid),
que são incorporados pelas membranas celulares em humanos.
Em humanos e em animais de experimentação,
a suplementação de AGn-3 estabelece uma
competição extracelu1ar com o ácido araquidônico (AGn-6) na via
da 5-lipoxigenase, suprimindo a formação de mediadores
pró-inflamatórios dele derivados (prostaglandinas e
tromboxanes da série dois e de leucotrienos da série quatro) e
aumentando a produção de mediadores com menor potencial
inflamatório (Calder, 1996; Ropper; Phipps, 1994).
O objetivo deste trabalho foi estudar os efeitos da
administração endovenosa de diferentes EL em ratos
com colite inflamatória experimental induzida por ácido
acético, avaliando-se as repercussões clínicas, as
alterações histológicas, inflamatórias e a produção de
eicosanóides. Serão analisados, mais especificamente, eventuais
benefícios propiciados pela composição lipídica das emulsões
em relação à presença de triglicérides de cadeia média, de
cadeia longa e à proporção existente entre ácidos graxos
ômega-3 e ômega-6.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizados 74 ratos Wistar, machos, adultos,
com peso entre 200 e 220 gramas, mantidos em gaiolas
metabólicas individuais onde receberam dieta oral
padronizada sem gorduras ad libitum. No primeiro dia os ratos
foram anestesiados para inoculação via endoanal de solução
fisiológica (grupo CS) ou solução de ácido acético a 10%
(demais grupos), e passaram a receber solução fisiológica
por catéter venoso central em veia jugular externa por 48
horas. Após este período, os animais receberam
infusão endovenosa (0,5 ml por hora) de soro fisiológico
(grupos- controle CS e CC) ou emulsões lipidicas a 10% (grupos
L, M, LW-3 e MW-3). Após sete dias completos de
infusão parenteral, todos os ratos foram submetidos a
ressecção do cólon para realização dos estudos propostos e
sacrificados.
Os grupos experimentais receberam EL com
diferentes relações n-3/n-6 e foram denominados conforme a
solução injetada via retal e a infusão parenteral (Tabela
1). Utilizaram-se EL a 10% para fornecer triglicérides de
cadeia longa (TCL), de cadeia média (TCM) e óleo de
peixe aos grupos L, LW-3, M e MW-3. Foram utilizadas as
EL Lipovenõs, Lipofundin MCT/LCT e Omegavenõs.
Tabela 1: Denominação, infusões retal e parenteral e razões n-3/n-6 em cada grupo experimental.
Grupos | Número | Infusão retal | Infusão parenteral | Razão |
de ratos | n-3/n-6 | |||
SC | 12 | SF | SF | - |
CC | 13 | AA 10% | SF | - |
M | 12 | AA 10% | Lipofundin | 1 : 7,0 |
M-W3 | 13 | AA 10% | Lipofundin e Omegavenös | 1 : 3,0 |
L | 12 | AA 10% | Lipovenös | 1 : 7,7 |
L-W3 | 12 | AA 10% | Lipovenös e Omegavenös | 1 : 4,5 |
AA = ácido acético, SF = solução fisiológica |
A avaliação dos animais foi feita por dados clínicos
(diarréia e relação ingestão/peso diário), por alterações na
cavidade peritonial à laparotomia (dilatação e
espessamento da parede intestinal, aderências com intestino delgado
ou com epíplon e mesenterite), pela análise histológica do
cólon (presença de úlceras), por análise histoquimica
da celularidade de macrófagos e por radioimunoensaio
(dosagens teciduais de mediadores da inflamação -leucotrienos
-L TB e L TC- da série 4, prostaglandinas -PGE- da série
2 e tromboxane- TX- da série 2).
A celularidade de macrófagos foi apresentada em
escores de inflamação representado três características:
quantidade, distribuição e localização em relação à
membrana basal. Diferentes valores foram atribuídos a essas
variáveis para discriminar seu papel nos escores finais. De
acordo com o critério utilizado, a presença de macrófagos
variou de 5 a 10 (Tabela 2).
Tabela 2: Celularidade dos macrófagos. Escores relacionados às variáveis quantidade, distribuição e localização em relação à membrana basal.
Quantidade | Distribuição | Localização | |||
valor = 2 | valor = 1 | valor = 2 | |||
Pequena = 1 | Grande = 2 | Isolados = 1 | Agrupados= 2 | Abaixo= 1 | Acima = 2 |
Escore final | Escore final | Escore final | Escore final | Escore final | Escore final |
2xl=2 | 2x2=4 | lxl=l | lx2=2 | 2xl=2 | 2x2=4 |
MB. = membrana basal |
RESULTADOS
Os resultados da análise estatística dos
diversos parâmetros avaliados são apresentados nas Tabelas 3 e
4. Quanto à diarréia os grupos M, MW-3 e LW-3
apresentaram maior número de animais com fezes
normais que o grupo CC. MW-3 foi o único grupo tratado cuja
relação ingestão/peso não diferiu de CS e foi superior à do
grupo CC. Os ratos que receberam suplementação com
AGn-3 (LW-3 e MW-3) apresentaram menos alterações
inflamatórias que o grupo CC. A formação de úlceras no
grupo MW-3 foi a única comparável ao grupo controle
sem colite (CS), e somente os ratos CS, M e MW-3
tiveram menor celularidade de macrófagos em relação a CC.
Em comparação ao grupo CC, encontraram-se
médias menores de L TB4 nos ratos CS, LW-3 e MW-3,
de PGE2 nos grupos CS, M e MW-3, e de TXB2 nos grupos CS e MW-3. As médias de LTC4 não diferiram
entre os grupos.
Tabela 3: Resultados das variáveis estudadas nos grupos experimentais.
Variáveis | Grupos | CS | CC | L | LW-3 | M | MW-3 |
Fezes | normal (n) | 12 | 5 | 8 | 12 | 11 | 11 |
alterado (n) | 0 | 8 | 4 | 0 | 1 | 2 | |
Ingestão | média | 137,7 | 106,8 | 104,0 | 92,6 | 104,9 | 129,8 |
I Peso | dp | 21,1 | 24,9 | 30,0 | 21,7 | 21,0 | 26,5 |
Alterações | média | 0,0 | 2,7 | 2,5 | 1,1 | 2,0 | 0,9 |
abdominais | dp | 0,0 | 1,8 | 1,9 | 1,6 | 1,4 | 1,7 |
Úlcera na | presente (n) | 0 | 10 | 8 | 5 | 5 | 3 |
Mucosa | ausente (n) | 12 | 3 | 4 | 7 | 7 | 10 |
Celularidade | média | 5,1 | 9,07 | 8,25 | 8,58 | 7,16 | 6,84 |
dp | 0,3 | 2,21 | 1,71 | 1,78 | 1,64 | 1,72 | |
LTB4 (ng/g) | média | 58,3 | 341,4 | 192,3 | 41,4 | 171,5 | 83,9 |
dp | 58,2 | 361,5 | 202,5 | 86,0 | 176,0 | 133,2 | |
LTC4 (ng/g) | média | 16,2 | 40,5 | 32,2 | 99,9 | 18,8 | 23,6 |
dp | 9,6 | 27,0 | 23,0 | 226,6 | 11,9 | 24,5 | |
PGE2 (pg/g) | média | 1626,7 | 7660,6 | 2553,7 | 3138,4 | 2148,6 | 2235,8 |
dp | 1378,2 | 8067,4 | 2584,8 | 3186,5 | 1423,4 | 1681,5 | |
TXB2 (pg/g) | média | 807,5 | 6416,4 | 1578,7 | 902,5 | 940,8 | 709,4 |
dp | 460,4 | 10235,3 | 1676,0 | 475,5 | 657,2 | 254,0 | |
DP = desvio padrão |
Tabela 4: Análise Estatistica e Valores de p em cada variável.
Variáveis | Análises Estatística | Valor do p |
Fezes | CC < CS; LW-3; M; MW-3 | p = 0,0002 * |
CS>L | ||
L < LW-3 | ||
Relação Ingestão/Peso | CC < MW-3 | p = 0,00000l * |
CS > CC, L, LW-3, M | ||
MW-3 > CC, L, LW-3, M | ||
A1terações Inflamatórias | CC > CS, LW-3, MW-3 | p = 0,0009 * |
CS < L, LW-3, M, MW-3 | ||
L > MW-3 | ||
Celularidade dos Macrófagos | CC > CS, M, MW-3 | p = 0,00003 * |
CS < L, LW-3, M, MW-3 | ||
Ulceras à histologia | CC > CS, MW-3 | p = 0,001 * |
CS < L, LW-3, M | ||
Leucotrieno B4 | CC > CS | p = 0,0017 * |
LW-3, MW-3 | ||
Leucotrieno C4 | Sem diferença | p = 0,3375 |
Prostaglandina E2 | CC > CS, M, MW-3 | p = 0,0049 * |
Tromboxane B2 | CC > CS, MW-3 | p = 0,0138 * |
DISCUSSÃO
Modelos experimentais de colite têm sido largamente
utilizados para estudar a patogênese e tratamento das Dll
(Sartor, 1997). A colite induzida por enema de ácido acético em
animais de pequeno porte é método simples, barato e
reproduzível (MacPherson; Pfeifer, 1978; Moraes, 1987; 1989),
apresentando siImilaridades com Dll em humanos quanto a
aspectos histológicos e metabólicos relacionados ao ácido
araquidônico (Lowe et al, 1993; Sharon; Stenson, 1985).
No presente estudo, os grupos não tratados (CS e
CC) apresentaram diferenças em quase todas as variáveis
estudadas, indicando que a inflamação induzida pelo
ácido acético foi efetiva diferenciando claramente ambos
grupos.
Dados da literatura indicam que o controle de
sintomas relativos às DII pela provisão de AGn-3 em algumas
séries clínicas (AImallah et al., 1998; Grimminger et al.,
1993a; McCaIl et al., 1989; Salomon et aI., 1990) seja
resultado da diminuição da inflamação intestinal e melhora da
perfusão associada com o óleo de peixe (pomposeIli et aI. ,
1990; Pscheidl et al., 1992; Pscheidl; Bõke-Prõls, 1997).
Redução na ingestão alimentar, diarréia e perda de
peso são sintomas comuns em pacientes com Dll e são
facilmente mensurados em animais mantidos em gaiolas
metabólicas. O grupo L foi o único grupo tratado com EL
em que o número de ratos com fezes normais foi menor que
o grupo CC, indicando que EL contendo apenas TCL
não exerce efeito anti-inflamatório na mucosa. Por outro
lado, os resultados observados no grupo LW-3 indicam que
a suplementação com AGn-3 melhora a função
intestinal quanto à diarréia.
A anorexia é considerada uma característica da
resposta metabólica à elevação de citocinas pró-inflamatórias
em ratos com colite (Grimble, 1998), e atualmente se
reconhece que enquanto os AGn-3 reduzem esta resposta,
os AGn-6 apresentam efeito oposto (Alexander,
1998; Meydani, 1996). Além disso, tem sido proposto que,
em situações de trauma, sépsis e inflamação, os TCM
promovem economia protéica mais efetiva do que TCL devido
à sua oxidação rápida e completa, permitindo que
os aminoácidos sejam usados na síntese protéica e não
como fonte calórica (Jiang et al, 1993).
Esses dados nos levam a inferir que os ratos MW-3
preservaram a relação ingestão/peso devido a menor anorexia
e catabolismo protéico neste grupo, fato que enfatiza
os beneficios potenciais desta formulação contendo
TCM/TCL suplementada com óleo de peixe na colite aguda.
Do mesmo modo, a observação de menos alterações
inflamatórias à laparotomia nos grupos que receberam AGn-3
(LW-3 e MW-3) sugere que essas EL reduzem as conseqüências e
a intensidade do processo inflamatório intestinal. Inui et aI
(1996a; 1996b) também observaram menor espessamento da
parede intestinal de ratos com colite por INES tratados por 7 dias
com NPT associada a EL rica em AGn-3.
Na avaliação histológica constatou-se que os ratos
tratados com TCMn'CL + óleo de peixe (MW-3)
apresentaram menor formação de úlceras, não ocorrendo o
mesmo no grupo LW-3. Tal fato encontra respaldo no fato de
que as propriedades fisico-químicas dos TCM fazem das
misturas TCM/TCL (1: 1) uma opção melhor em
terapia nutricional (Carpentier et al., 1997), uma vez que são
rapidamente depuradas, melhoram as funções imunológicas
e têm efeitos imunomoduladores sobre células
inflamatórias (Richelle et al., 1997; Smirniotis et al., 1998).
A preservação da estrutura morfológica e as
vantagens das EL com AGn-3 também foram demonstradas em
estudos esperimentais em colite por TNBS (Inui et al,
1996b; Shoda et al, 1995), colite induzida por DSS (Marotta et
al, 1995) e em estudo multicêntrico, randomizado e
controlado em que pacientes com colite ulcerativa foram
tratados com EP A por 8 meses (Stenson et al, 1992).
Macrófagos (Me) intestinais desempenham
importante papel nos processos inflamatórios da mucosa
intestinal (Rogler et al, 1997). No presente trabalho, o
recrutamento de M0 foi representado por escores de inflamação,
atribuindo-se valores maiores a alterações que
expressassem maior gravidade do fenômeno. Critérios de escores
têm sido utilizados para estimar a magnitude de inflamação
intestinal (Grisham et al., 1994; Vilaseca et al., 1990).
Na presente investigação, os escores dos grupos M
e MW-3 foram os únicos menores que do grupo CC,
indicando que as EL com TCMn'CL determinaram
processo inflamatório menos intenso, com menor recrutamento
de M0. Dados da literatura indicam que fórmulas ricas
em TCL n-6 têm efeitos imuno-supressores, determinando
inibição das funções de células inflamatórias e
imunológicas (Cukier et al, 1997; Gelas et al, 1998). Isto pode afetar
a síntese de eicosanóides e citocinas, resultando em
maior dano tecidual quando comparadas a emulsões que
contenham misturas de TCMn'CL, uma vez que os TCM
não influem na síntese de eicosanóides e radicais livres de
oxigênio (UIrich et al, 1996). Além disso, a maior
proporção de AGn-3 no grupo MW-3 pode modificar a síntese
de mediadores da inflamação, estimulando mecanismos
de defesa celular e resultando em menos quimiotaxia e
aderência celular (Grimm et aI, 1998; Morlion et al,
1996; 1997).
A suplementação com AGn-3 cria uma competição
entre EP A e AA como precursores da síntese de
eicosanóides. Esta competição favorece a síntese de PG e LT das
séries 3 e 5, respectivamente, em detrimento de PG e TX
da série 2 e LT da série 4 (Schmidt; Dyerberg, 1994).
Na presente investigação, a provisão de AGn-3 reduziu as
concentrações de L TB4 na mucosa em comparação com
os outros grupos. Entretanto, não se encontrou diferença
quanto aos valores teciduais de L TC4 entre os grupos.
LTB4 constituem potentes mediadores de várias
funções dos PMN, modulando o recrutamento de
leucócitos, amplificando a reação inflamatória, a
permeabilidade vascular e o edema presente na mucosa (Samuelsson,
1983). Macrófagos são importante fonte dos eicosanóides
PGE2, PGF 2a, PGI2 (Bailey, 1985) em resposta ao estímulo
inflamatório e as PGE da série 2 promovem
vasodilatação no leito mesentérico (Samuelsson, 1983).
Níveis séricos e teciduais elevados de LT (B4, C4),
PG (E2, F2a, F1) e TX (B2) foram encontrados em
pacientes com Dll e em modelos de colite experimental, onde a
concentração desses mediadores pode estar até cinqüenta
vezes aumentada em relação a controles (Lauritsen et al,
1984; 1986; Sharon; Stenson, 1984).
Demonstrou-se que os AGn-3 reduzem os
níveis teciduais de L TB4 em pacientes com Dll (Grimmiger
et al, 1993a; Inui et al, 1996a; Stenson et al, 1992) e
em animais de laboratório (Guarner et al, 1992; Nieto et
aI, 1998). Guarner et aI (1992) encontraram níveis
reduzidos de PGF1, PGE2, TXB2, LTB4 e LTC4 e aumento
de PGE3 e L TC5 em ratos com colite por TNBS
alimentados com óleo de peixe. No estudo aqui apresentado,
somente os grupos M e MW-3 apresentaram baixos
níveis de PGE2 em comparação ao grupo CC.
Os efeitos da dimensão da cadeia de triglicérides
na produção de PGE2 se refletem na diferença entre os
grupos MW-3 ou M em comparação a CC, diferença
não encontrada entre LW-3 e CC, fato que se deve
provavelmente à presença de TCM nos grupos MW-3 e M e
à maior razão n-3/n-6 no grupo MW-3.
Redução na concentração plasmática de TXB2
também foi observada com a provisão entera1
(Campbell et aI, 1997) ou parentera1 (Yeh et al, 1997) de AGn-3.
Em nosso trabalho, observou-se esta aIteração apenas no
grupo MW-3.
Nas Dll, aIguns estudos iniciais sobre a
suplementação oraI com AGn-3 por longos períodos obteve
resultados contraditórios quanto à efetividade e remissão
prolongada (Aslan; Triadafilopoulos, 1992; Greenfield et aI,
1993, Loeschke et al, 1996; Lorenz-Meyer et al, 1996). Ao
mesmo tempo, estudos experimentais relataram melhora
do padrão histológico, manutenção da permeabilidade
intestinal e redução tecidua1 de mediadores derivados do
ácido araquidônico (Guarner et al, 1992; Marotta et aI,
1995; Nieto et aI, 1998; Shoda et aI, 1995).
Por outro lado, admite-se que a administração
parenteral resulta em incorporação mais rápida (Grimminger et
al, 1993a; 1993b), sugerindo que a infusão endovenosa
permita um efeito farmacológico mais imediato que venha
de encontro às necessidades metabólicas em diferentes
situações cIínicas (Hayashi et aI, 1999; Morlion et al,
1997; Tashiro et al, 1998a). Esta vantagem levanta a
possibilidade de se obter uma modulação mais efetiva com a
via parenteral no manuseio da inflamação aguda, mesmo
em tratamentos de curta duração.
Ikehata et al (1992) reportaram aumento da relação
Lm5/LTB4 após infusão de 0,6 gramas de EPA por 2
semanas. Grimrninger et al (1993a) relataram redução da atividade
de coIite ulcerativa em mulher de 36 anos após 9 dias de
tratamento com EL endovenosa (200 -300 ml/dia)
contendo 4,2 g EPA e 4,2 g de DHA durante surto agudo.
Trabalhos experimentais reportaram ganho de peso, melhora
histológica, aumento da relação
EPA/AA e supressão da produção de
L TB4 em ratos com colite por TNBS tratados com NPT
rica em ácido alpha-linolênico como fonte de AGn-3 (Inui et
al, 1996a; 1996b ). Os efeitos moduladores podem variar
na dependência do balanceamento entre as proporções de
AG n-3/n-6 (Grimm et al, 1994; 1995; Hayashi et aI.,
1999). Em pacientes submetidos a grande operações abdominais
e nos internados em terapia intensiva, demonstrou-se que
a relação 1:2 entre n-3/n-6 determinou a maior relação
LTC5/LTC4 (Grimm et al, 1998; Morlion et al, 1997). Hoje
se reconhece que proporções de 1:2 até 1:4 estão associadas
a vantagens farmacológicas mais evidentes e menor
efeito imuno-supressivo (Fürst, 1994; Kinsella et al, 1990).
No presente estudo, a proporção entre AG n-3 e
n-6 existente nas diferentes emulsões fornecidas aos grupos
foi de: 1:7,7 (grupo L), 1:7,0 (grupo M), 1:4,5 (grupo LW-3)
e 1: 3,0 (grupo MW-3). Nessas condições, não foi
surpresa observar que apenas as emulsões enriquecidas com óleo
de peixe tenham efetivamente modulado a inflamação
intestinal neste modelo experimental de colite aguda.
CONCLUSÕES
Nas condições da presente investigação
experimental, pode-se concluir que EL contendo TCL com razão
n-3/n-6 de 1:7,7 não modifica as manifestações clínicas e
inflamatórias da colite. Por outro lado, EL enriquecidas
com AGn-3 reduzem a diarréia, atenuam as
consequências morfológicas e diminuem as concentrações teciduais
de eicosanóides. Dessas emulsões, a associação de
TCM/TCL com óleo de peixe com razão n-3/n-6 de 1:3
determinou maior impacto benéfico nos resultados analisados.
Dessa maneira, o manuseio de inflamação intestinal
com nutrientes imunomoduladores apresenta perspectivas
interessantes e promissoras. Apesar disso, esta modalidade
terapêutica ainda necessita que novos estudos
prospectivos, randomizados e controlados que avaliem outras
variáveis como a dimensão da cadeia de triglicérides, a duração
do tratamento, diferentes proporções entre AGn-3 e n-6 e
a associação com outros nutrientes com
propriedades imunomoduladoras.
Até o momento, não há dados suficientes sobre sua
real eficácia, custos, riscos e efeitos colaterais, não se
tendo avaliado, também, a possibilidade de utilizar óleo de
peixe em todos pacientes com DII. Este trabalho e a revisão
da literatura pertinente sugerem que a provisão parenteral
de AGn-3 seria uma indicação melhor nas colites agudas
do que o suprimento enteral para impedir a reativação de
doença quiescente.
Parenteral Omega-3 Fatty Acids:
Impact on Experimental Acute Colitis
PURPOSE: Literature has been granted special
attention to the immunemodulator potential of lipid emulsions
(LE) with fish oil (FO) on inflammatory processes. This
work was undertaken to study the effects of LE enriched
with omega-3 fatty acids (n-3 F A) in experimental acute
colitis. METHODS: Seventy-four adult male Wistar
rats were randomized in six groups that had 10% acetic
acid-induced colitis (except CS). During seven days, control groups
CS (without colitis) and CC (with colitis) received
physiological solution and the others specific LE by a central
venous catheter (0,5 ml/hour). The n-3/n-6 F A ratio and
lipidic compositions were: group L -1:7,7 (LCT, n = 12), M-
1:7,0 (MCT and LCT, n = 12), LW-3 -1:4,5 (LCT plus FO, n
= 12) and MW-3 -1:3,0 (MCT and LCT plus FO, n =
13). Rats were evaluated to assess diarrhea,
ingestion/weight relation, abdominal and intestinal alterations,
macrophage cellularity and colonic concentrations of LTB4,
LTC4, Pge2 and TXB2. Results: M, MW-3 and LW-3
groups presented greater number of animaIs with normal
feces than CC group. MW -3 was the only LE treated
group which average dietary ingestion/body weight relation
didn't differ from CS and was superior to CC group. N-3
FA treated rats (LW-3 and MW-3) presented less
inflammatory abdominal alterations than CC rats. Mucosal ulcer
formation in MW-3 group was the only comparable to CS
group. Only CS, M and MW-3 rats presented smaller
cellularity than CC group. Comparing to CC group, were
found smaller averages of LTB4 in CS, LW-3 and MW-3
groups, of PGE2 in CS, M and MW-3 groups, and of TXB2
in CS and MW-3 groups. LTC4 averages were not
different. CONCLUSIONS: 1) LCT -containing LE with
n-3/n-6 ratio of 1: 7,7 don't modify clinical and
inflammatory colitis derived manifestations; 2) n-3FA enriched
LE reduce diarrhea, preserve ingestion/weight
relation, attenuate morphological consequences and
decrease colonic concentrations of inflammatory mediators;
3) MCT/LCT-containing LE with 1:3 n-3/n-6 ratio
impels greater impact on the reduction of clinical,
morphological and inflammatory colitis repercussions and on
decreasing colonic eicosanoids concentrations.
[Key words: Inflammatory Bowel Diseases, Ulcerative Colitis, Lipids, N-3 Polyunsaturated Fatty Acids, Inflammatory Mediators, Fat Emulsion.
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