ARTIGOS ORIGINAIS
William Gemio Jacobsen Teixeira
José Hyppólito da Silva _ RSBCP
Magaly Gemio Teixeira _ TSBCP
Maristela G. Almeida _ TSBCP
J.Elias Calache _ TSBCP
Angelita Habr-Gama _ TSBCP
TEIXEIRA GJT, SILVA JH, TEIXEIRA MG, ALMEIDA MG, CALACHE JE, HABR-GAMA A. - Manifestações extra-intestinais após tratamento cirúrgico da retocolite ulcerativa. - Rev bras Coloproct, 2001; 21(1): 9-18.
RESUMO: Considerando-se a freqüência e a gravidade das manifestações extra-intestinais (MEI) da retocolite ulcerativa (RCU), achamos oportuno relacionar a manutenção ou o aparecimento destas com as técnicas cirúrgicas empregadas com o objetivo de avaliar se a persistência de reto doente poderia ou não determinar sua ocorrência. Foram estudados 13 doentes submetidos a colectomia com anastomose íleo-retal (AIR), oito a proctocolectomia total com ileostomia definitiva (PCT) e 60 a retocolectomia total com anastomose íleo-anal com reservatório ileal (AIA). Os 81 doentes foram reavaliados para a identificação das manifestações extra-intestinais persistentes ou que se instalaram após a operação. Foram estudadas manifestações articulares, hepato-biliares, urológicas, oftalmológicas e dermatológicas. Uma vez identificados os doentes que apresentavam algum tipo de manifestação extra-intestinal, que persistiu ou apareceu após o tratamento cirúrgico, estudamos a correlação destas com:1.Extensão da mucosa retal remanescente nos casos de AIR e AIA;2.Presença de doença no segmento de mucosa retal remanescente;3.Quadros de "bolsite" nos casos de AIA;4.Falhas técnicas resultantes da operação, tais como, estenose da anastomose íleo - anal, tamanho inadequado do reservatório e sinais de suboclusão intestinal nos casos de AIA. Conclusões: 1.Os dados por nós obtidos demonstraram que não existe correlação entre a presença ou não de mucosa retal remanescente pós tratamento cirúrgico e a persistência ou manifestação de MEI no pós-operatório;2.Nos doentes submetidos a AIA, houve correlação entre MEI e bolsite. Este fato tem implicação prognóstica na escolha do tratamento cirúrgico mais adequado para cada doente.
Unitermos: retocolite ulcerativa, manifestações extra-intestinais, cirurgia, bolsite
A retocolite ulcerativa é doença importante por
atingir adultos jovens na fase mais produtiva de suas vidas,
tornando-os incapacitados para os estudos e trabalho e
afetando relacionamento social, familiar e sexual. Além
da sintomatologia intestinal, mais da metade dos doentes
apresentam manifestações extra-intestinais (MEI) que
eventualmente podem ser mais graves que a doença intestinal
e causar óbito. Algumas manifestações relacionam-se com
a gravidade da colite, enquanto outras seguem curso
independente 22. O tratamento clínico não cura a doença,
sendo ineficaz na maioria dos casos de acometimento
colônico universal. O tratamento cirúrgico torna-se a única
opção para estes doentes, sendo muitas vezes, indicado
também com o objetivo de diminuir a sintomatologia causada
pelas manifestações extra-intestinais. Três técnicas
permanecem como opções terapêuticas: proctocolectomia total
com ileostomia definitiva (PCT), colectomia total
com anastomose íleo-retal (AIR) e retocolectomia total com
preservação esfincteriana , reservatório ileal e
anastomose íleo-anal (AIA). Temos verificado que alguns
doentes mantêm ou apresentam manifestações extra-intestinais
pós tratamento cirúrgico.
Considerando-se a freqüência e a gravidade das
manifestações extra-intestinais, achamos oportuno relacionar a
manutenção ou o aparecimento destas com as técnicas
cirúrgicas empregadas, com o objetivo de avaliar se a
persistência de reto doente poderia ou não determinar sua ocorrência.
PACIENTES E MÉTODOS
Foram submetidos a tratamento cirúrgico 111
doentes atendidos no ambulatório de Doenças Inflamatórias da
Disciplina de Colo-Proctologia da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo no período de setembro
de 1984 a dezembro de 1998. A idade média dos
doentes operados foi de 28,8 anos. Sessenta e quatro doentes
eram do sexo feminino e 47 masculinos . Quanto à cor, 98
eram brancos, nove pardos, três pretos e um amarelo.
Treze doentes foram submetidos a colectomia com anastomose íleo-retal (AIR), oito a proctocolectomia
total com ileostomia definitiva (PCT) e 60 a retocolectomia
total com anastomose íleo-anal com reservatório ileal
(AIA) . Foram excluídos do presente estudo 30 doentes dos
quais 29 por terem sido submetidos a outros tipos de
operação ou ainda aguardarem o fechamento da ileostomia
pós- AIA e um por óbito no pós-operatório imediato de
AIA. Os dados concernentes ao período pré-operatório,
tempo de evolução da doença antes da operação e indicação
cirúrgica, já se encontravam disponíveis, uma vez que
foram coletados em caráter prospectivo, pelo interesse
da Disciplina na avaliação dos resultados pós-operatórios.
Os 81 doentes foram reavaliados para a
identificação das manifestações extra-intestinais persistentes ou que
se instalaram após a operação. Os doentes que
apresentavam queixas articulares foram inquiridos sobre os seguintes
aspectos: dor, localização, caráter migratório ou não,
relação com a sintomatologia intestinal, presença de edema,
rubor e deformidade. Foram incluídos os doentes cujos
testes para artrite reumatóide persistiam negativos.
O estudo das manifestações hepato-biliares foi
realizado através de exames laboratoriais para avaliação da
função hepática e ultrassonografia do abdôme. Os
doentes, que apresentavam alterações no anátomo-patológico
de fragmento tecidual obtido através de biópsia hepática
intra-operatória, não foram submetidos a nova biópsia.
A colangiopancreatografia endoscópica retrógrada foi
realizada apenas nos doentes com suspeita clínica de
colangite esclerosante.
O estudo das manifestações urológicas foi realizado
através de exames laboratoriais e ultrassonografia dos rins
e vias urinárias.
Todos os doentes foram submetidos a exame
oftalmológico especializado.
As alterações dermatológicas foram pesquisadas e,
se necessário, biopsiadas para esclarecimento diagnóstico.
O estado nutricional dos doentes foi avaliado ,
utilizando-se medidas antropométricas.
Os doentes que foram submetidos a anastomose
íleo-retal e íleo-anal foram submetidos a exame
endoscópico para avaliação da extensão e características da mucosa
remanescente.
Os critérios adotados para caracterização do
processo inflamatório do reservatório ileal- "bolsite" foram
clínicos, endoscópicos e histológicos. Os clínicos incluiram
aumento do número de evacuações por dia acima do normal
para o pós-operatório, sangramento, urgência e febre. Os
critérios endoscópicos foram os seguintes: edema,
granulosidade, friabilidade, perda do padrão vascular, exsudato mucoso
e ulceração. Os critérios histológicos foram : infiltração
de leucócitos polimorfonucleares associada ou não a
abscessos de cripta e ulceração.
Uma vez identificados os doentes que
apresentavam algum tipo de manifestação extra-intestinal, que
persistiu ou apareceu após o tratamento cirúrgico, estudamos a
correlação destas com:
1.Extensão da mucosa retal remanescente nos casos
de AIR e AIA;
2.Presença de doença no segmento de mucosa retal
remanescente;
3.Quadros de "bolsite" nos casos de AIA;
4.Falhas técnicas resultantes da operação, tais
como, estenose da anastomose íleo - anal, tamanho
inadequado do reservatório e sinais de suboclusão intestinal nos
casos de AIA.
O estudo estatístico foi feito através dos testes
Qui-Quadrado, Fischer e Mc Nemar.
RESULTADOS
O tempo médio decorrido entre o início dos sintomas
e a indicação da operação foi de 6,79 anos. O tempo
médio entre o início da sintomatologia e a indicação de PCT
foi de 9,25 anos, de AIR foi de 8,08 e para AIA foi
6,23 anos.
O tratamento cirúrgico foi indicado eletivamente em
73 doentes e em caráter de urgência em oito. As
indicações para tratamento cirúrgico eletivo figuram na tabela I e
as que motivaram tratamento de urgência na tabela II.
Tabela I. Distribuição dos doentes segundo a indicação para tratamento cirúrgico eletivo.
Indicações | Número de doentes |
Intratabilidade | 68 |
MEI | 2 |
Retardo de crescimento | 2 |
Câncer | 1 |
Tabela II. Distribuição dos doentes segundo a indicação para tratamento cirúrgico de urgência.
Indicações | Número de doentes |
Megacólon Tóxico | 4 |
Megacólon Tóxico + Perfuração | 1 |
Hemorragia | 1 |
Hemorragia + Pioderma Gangrenoso | 1 |
Enterorragia | 1 |
Trinta e nove doentes (48,1%) não apresentavam
manifestações extra-intestinais no pré-operatório. Destes,
oito (20,5%) passaram a manifestá-las após o tratamento
cirúrgico. Vinte e cinco doentes (30,9%) mantiveram o
mesmo tipo de MEI no pós-operatório. Dezessete
doentes(20,9%) que apresentavam MEI no pré-operatório deixaram
de apresentá-las após tratamento cirúrgico.
Os resultados quanto à situação da MEI em relação
ao tratamento cirúrgico, nos oito doentes que foram
submetidos a proctocolectomia total e ileostomia definitiva
figuram na tabela III.
Tabela III. Distribuição dos doentes segundo as manifestações extra-intestinais antes e após proctocolectomia total e ileostomia definitiva.
Número de doentes |
|||
MEI | Pré PCT | Pós PCT | Pré e pós PCT |
Articular | 2 | 0 | 1 |
Urológicas | 0 | 1 | 0 |
Múltiplas | 0 | 1 | 2 |
Total | 2 | 2 | 3 |
Um doente não apresentou nenhuma MEI. |
Os oito doentes foram acompanhados por um tempo médio de 18,5 anos. Dos quatro doentes com
manifestação articular antes da PCT, dois apresentavam artrite
periférica, que desapareceu depois da operação e um
apresentava sacroileíte, que permaneceu e ulteriormente
associou-se a artrite periférica. Dois doentes apresentaram
artrite periférica após tratamento cirúrgico. Um doente
apresentava alteração das provas laboratoriais de função
hepática que persistiu após tratamento cirúrgico. Um doente
apresentou fibrose portal diagnosticada por biópsia hepática
intra-operatória. Após tratamento cirúrgico um doente
apresentou colecistopatia calculosa e outro, pólipo de vesícula.
Um doente apresentou insuficiência renal crônica antes do
tratamento cirúrgico e foi submetido a nefrectomia
direita. Um doente desenvolveu cálculo ureteral pós PCT.
Não foram diagnosticadas outras MEI neste grupo.
Os resultados quanto à situação da MEI, em
relação ao tratamento cirúrgico, nos 13 doentes que foram
submetidos a colectomia com anastomose íleo-retal
figuram na tabela IV. Dos 13 doentes submetidos a
AIR, com seguimento médio de 9,1 anos, pudemos
constatar que o comprimento médio do reto remanescente foi de
12,5 cm. Nove doentes apresentavam reto doente e
destes, cinco recebiam tratamento medicamentoso.
Quatro doentes apresentavam reto de aspecto
macroscopicamente normal à retossigmoidoscopia e não
recebiam medicamentos.
Tabela IV. Distribuição dos doentes segundo as manifestações extra-intestinais antes e após colectomia com anastomose íleo-retal.
Número de doentes |
|||
MEI | Pré AIR | Pós AIR | Pré e pós AIR |
Articular | 0 | 1 | 3 |
Dermatológicas | 1 | 0 | 0 |
Múltiplas | 1 | 0 | 2 |
Total | 2 | 1 | 5 |
Teste de Mc Nemar p=1,00. Não houve diferença estatística entre os grupos analisados. |
Cinco doentes não apresentaram nenhuma MEI.
Seis doentes apresentavam artrite periférica,
associada em um a espondilite anquilosante. A sintomatologia
axial persistiu pós-tratamento cirúrgico. A artrite periférica
persistiu em três doentes, desapareceu em dois e
instalou-se em um. Um doente apresentava colangite esclerosante
que persistiu pós tratamento cirúrgico. Dois doentes
apresentaram episódios de eritema nodoso antes da operação e
que não tornaram a se manifestar após tratamento
cirúrgico. Um doente apresentava pioderma gangrenoso que
persistiu após a operação. Três doentes apresentavam quadro
de desnutrição grave resolvido após tratamento
cirúrgico. Neste grupo de doentes não detectamos
manifestações urológicas e oftalmológicas.
A presença de mucosa com doença em atividade
no grupo submetido a AIR (nove doentes) associou-se a
MEI antes da operação em um doente, persistência em três
e com aparecimento ulterior a operação em um e
ausência de qualquer MEI em quatro (44,4%). No grupo com
mucosa retal remanescente aparentemente normal (quatro
doentes), dois doentes (50%) mantiveram a manifestação
articular. Quanto às características da mucosa retal
remanescente e sua relação com a presença de MEI, os
dados figuram na tabela V.
Tabela V. Distribuição dos doentes submetidos a AIR em relação à presença ou não de MEI e presença ou não de doença na mucosa retal remanescente.
Presença de MEI |
||||
Reto | Pré | Pré+Pós | Pós | Nenhuma |
Doente | 1 | 1 | 3 | 4 |
Normal | 1 | 0 | 3 | 0 |
Qui-Quadrado 3.611, graus de liberdade:3, p=0.307. |
Não houve diferença estatística entre os grupos
analisados.
Os resultados quanto à situação da MEI em relação
ao tratamento cirúrgico, nos 60 doentes que foram
submetidos a retocolectomia total com preservação
esfincteriana, reservatório ileal e anastomose íleo-anal figuram na
tabela VI.
Tabela VI. Distribuição dos doentes segundo as manifestações extra-intestinais antes e após retocolectomia total com preservação esfincteriana, reservatório ileal e anastomose íleo-anal (AIA).
Número de doentes |
|||
MEI | Pré AIA | Pós AIA | Pré e pós AIA |
Articular | 10 | 3 | 4 |
Hepato-biliar | 0 | 0 | 3 |
Dermatológicas | 1 | 1 | 0 |
Urológicas | 0 | 0 | 1 |
Múltiplas | 2 | 1 | 8 |
Vinte e seis doentes não apresentaram nenhuma MEI. |
Dos 23 doentes que apresentavam manifestação
articular no pré-operatório, 22 eram do tipo periférico,
sendo associada a osteoporose em um doente e, em outro,
estava associada a manifestação do tipo axial, as quais
persistiram no pós-operatório. Quanto às manifestações
hepato-biliares, dois doentes apresentaram colecistopatia calculosa
diagnosticada antes do tratamento cirúrgico da
retocolite ulcerativa. Dos nove doentes que foram considerados
como portadores de manifestação hepática no pré -operatório
e que as mantiveram no pós-operatório, dois
apresentavam pericolangite, dois, fibrose portal, dois esteatose, um
cirrose associada a colangite, um alteração de provas de
função hepática e um hepatomegalia. Cinco doentes
apresentaram manifestação dermatológica exclusivamente no período
pré-operatório, caracterizada por pioderma gangrenoso em
três doentes, estando associada a lesões aftóides orais em um
e eritema nodoso em dois. Um doente desenvolveu
psoríase no pós-operatório. Dois doentes apresentavam
episódios de pioderma gangrenoso no período que antecedeu a
operação e continuaram a apresentá-los após a AIA. Um
doente apresentava eritema nodoso no período
pré-operatório e passou a apresentar pioderma gangrenoso após
AIA. Um doente apresentou retardo de crescimento que se
resolveu após AIA. Dois doentes com retardo de
crescimento permaneceram sem recuperar o porcentual de
crescimento pós AIA. Um doente apresentou conjuntivite e
outro trombose venosa profunda (TVP) antes da AIA e
outro disfunção erétil após AIA. Nove doentes
apresentavam desnutrição antes da AIA, com resolução do quadro
pós medidas clínicas adequadas e tratamento cirúrgico.
Os dados referentes à relação entre persistência
ou aparecimento de MEI e extensão do reto
remanescente figuram na tabela VII.
Tabela VII. Distribuição dos doentes segundo a presença de MEI e a extensão do reto remanescente.
Extensão do reto remanescente |
|||
MEI | 0 | 0-2 cm | > 2 cm |
Antes (A) | 4 | 8 | 0 |
Depois(D) | 2 | 1 | 1 |
A+D | 5 | 9 | 1 |
Nenhuma | 2 | 22 | 5 |
Total | 13 | 40 | 7 |
Teste Qui-Quadrado= 7,826, graus de liberdade (g.I):6, p=0,2511 |
Não foram encontradas diferenças significantes
entre as proporções de doentes com ou sem MEI segundo
a extensão do reto remanescente.
Os dados referentes á relação entre MEI e presença
ou não de processo inflamatório no reto remanescente
figuram na tabela VIII.
Tabela VIII. Distribuição dos doentes com ou sem MEI e presença ou não de processo inflamatório no reto remanescente.
Extensão do reto remanescente |
|||
MEI | Ausente | doente | normal |
Antes | 4 | 1 | 8 |
Depois | 2 | 0 | 2 |
Antes+Depois | 5 | 3 | 8 |
Nenhuma | 2 | 4 | 21 |
Total | 13 | 8 | 39 |
Qui-Quadrado=7,826, graus de liberdade (g.I):6, p=0,2511 |
Não foram encontradas diferenças
significantes entre as proporções de doentes com ou sem MEI
segundo a presença de processo inflamatório por extensão no
reto remanescente.
Doze doentes apresentaram estenose da
anastomose íleo-anal. Destes, cinco apresentavam MEI antes da
AIA, com persistência em três e desaparecimento em dois.
Um doente desenvolveu manifestação articular pós AIA.
Os dados relativos a presença ou não de MEI entre os
doentes com e sem estenose da anastomose íleo-anal figuram
na tabela IX.
Tabela IX. Distribuição dos doentes submetidos a AIA com ou sem estenose da anastomose íleo-anal e presença ou não de MEI.
MEI | ||||
Estenose AIA | Antes | Depois | Antes e depois | Nenhuma |
Sim | 2 | 1 | 3 | 6 |
Não | 11 | 4 | 13 | 20 |
Teste Qui-Quadrado: Qui-Quadrado=0.343, graus de liberdade:3, p=0,952. Não houve diferença estatística significante entre os grupos analisados. |
Dos 60 doentes submetidos a AIA, 13 desenvolveram bolsite dos quais 12 apresentaram MEI, sendo
dois tipos diferentes em três doentes e três em dois,
quatro em um, sendo únicas em seis doentes, com média
de 1,7 MEI/doente. Quatro doentes apresentaram MEI
antes da AIA, caracterizada em três por artrite periférica
e em um por colelitíase. Dois doentes desenvolveram
artrite periférica após AIA. Seis doentes
apresentavam MEI antes da AIA e continuaram apresentando
MEI pós AIA. Cinco apresentaram artrite periférica e
um colangite. A artrite periférica estava associada
a osteoporose e esteatose hepática em um , que
também apresentou eritema nodoso antes da AIA, que não
se repetiu pós AIA; associou-se a retardo de
crescimento em um que apresentou antes da AIA,
pioderma gangrenoso; um apresentou eritema nodoso antes da
AIA e pioderma gangrenoso e disfunção erétil depois;
um apresentou conjuntivite depois da AIA.
A presença dos diversos tipos de MEI em relação
à presença de bolsite figura na tabela X.
A distribuição dos doentes com ou sem bolsite que
apresentaram ou não algum tipo de manifestação
extra-intestinal figura na tabela XI.
Tabela X. Distribuição dos doentes com bolsite segundo o tipo de MEI exclusiva no período pré AIA, pós AIA e em ambas as situações
Bolsite | Tipo de MEI | ||
Protocolo | pré AIA | pós AIA | Pré e pós AIA |
3 | |||
112 | EN | AP/OP/EH | |
221 | AP | ||
241 | CCC | ||
254 | AP | ||
255 | AP | ||
284 | CONJ | AP | |
328 | AP | ||
335 | AP | ||
412 | AP | ||
432 | PC | ||
491 | PG | AP/RC | |
494 | EN | PG/DE | AP |
Legenda: AP=artrite periférica;CCC=colecistite calculosa; CE=colangite esclerosante; CONJ= conjuntivite; DE= disfunção erétil; EH=esteatose hepática ; EN= eritema nodoso; OP= osteoporose; PG=pioderma gangrenoso. |
Tabela XI. Distribuição dos doentes com ou sem bolsite que apresentaram ou não algum tipo de manifestação extra-intestinal
MEI | |||
Bolsite | Com | Sem | Total |
Com | 12 | 1 | 13 |
Sem | 27 | 20 | 47 |
Total | 39 | 21 | 60 |
Teste de Fischer:p=0.023. Houve diferença estatística significante entre os doentes que apresentaram MEI com e sem bolsite. |
DISCUSSÃO
A retocolite ulcerativa tem despertado a atenção
em nosso meio, pela freqüência que parece estar em
ascensão como pode ser deduzido pelas casuísticas com
números significativamente maiores de doentes nos últimos
anos34, 35, 36, 37, 38. Sua importância relaciona-se ao fato de
atingir adultos jovens, prejudicando todas as suas atividades.
A doença é incapacitante devido ao número aumentado
de evacuações com sangue e muco, às vezes,
acompanhada de incontinência anal, dores abdominais, naúseas, mal
estar, anorexia e perda de peso. Em mais da metade
dos casos, associa-se a manifestações extra-intestinais.
Classicamente admite-se que algumas manifestações
extra-intestinais relacionam-se com a gravidade da colite,
enquanto outras seguem curso
independente21 .
O tratamento clínico não cura a doença, sendo
ineficaz na maioria dos casos de retocolite universal. As
indicações para tratamento cirúrgico são a intratabilidade clínica,
retardo do crescimento, manifestações extra-intestinais e
associação com câncer
13. A intratabilidade clínica é a
indicação mais freqüente, o que verificamos em
nossa casuística, representando 92,96 % das indicações eletivas.
Quando há retardo do crescimento, a indicação
cirúrgica deve ser feita antes que o fechamento epifisário
ocorra, para que a criança recupere o desenvolvimento. Nesta
série, dois doentes foram operados com esta indicação,
sendo que em um não houve recuperação do
crescimento. Um terceiro doente também apresentava retardo de
crescimento, mas a indicação principal para o tratamento
cirúrgico nesse caso foi a intratabilidade clínica. No entanto,
este doente também não recuperou o crescimento. Estes
dois casos chamam a atenção para a importância de se
estudar nestes doentes, outras causas de falência do
desenvolvimento. A indicação do tratamento cirúrgico com a
finalidade de recuperar o crescimento, gera grande
expectativa que pode não se confirmar no pós operatório,
causando desapontamento no doente e seus familiares.
As manifestações extra-intestinais colaboram para
reforçar a indicação de tratamento cirúrgico, mas
raramente constituem-se em motivo exclusivo. Algumas
manifestações extra-intestinais como, por exemplo, artralgias,
têm relação direta com a sintomatologia intestinal e seu
tratamento pode ser desapontador, trazendo muito
sofrimento ao doente1. Nestas circunstâncias, sua presença
corrobora a indicação cirúrgica, uma vez que, ressecado o
intestino doente, esta manifestação tenderia a desaparecer.
Em dois doentes, o principal motivo para indicação da
operação foi quadro de pioderma gangrenoso irresponsivo
ao tratamento medicamentoso. Este tipo de manifestação
justifica a indicação cirúrgica até mesmo em caráter de
urgência, uma vez que, se não interrompido a tempo,
determina óbito por sepse.
A presença ou mesmo a suspeita de câncer é outra
indicação para tratamento cirúrgico eletivo.
O tempo médio entre o início da sintomatologia e
a indicação do tratamento cirúrgico variou segundo o tipo
de operação realizada, sendo mais curto nos casos em que
foi realizada AIA, mais longo para PCT e os casos de
AIR ficaram em situação intermediária. Os doentes
operados antes de 1980, data em que foram descritas as
técnicas para AIA, dispunham para seu tratamento de duas
opções: PCT e AIR. A PCT oferece as seguintes vantagens: cura
a doença colônica, elimina as manifestações
extra-intestinais que se relacionam com a permanência do cólon e elimina
o risco não desprezível do aparecimento de câncer no
cólon, nos portadores de retocolite ulcerativa de longa duração
18. A indicação de PCT desagradava ao cirurgião e
principalmente ao doente, pelo inconveniente representado
pela ileostomia em doente jovem. Por esta razão, era
natural que se insistisse no tratamento clínico.
A anastomose íleo-retal (AIR) só é realizada nos
doentes em que o acometimento retal, embora presente,
seja discreto, o reto mantenha sua distensibilidade e a
continência anal esteja preservada 7,
14 . Também está indicada em doentes de alto risco, muito idosos ou quando há
carcinoma no cólon, com prognóstico de vida
limitado26 . Além da restrição para sua indicação, a permanência do reto
doente implicava na manutenção do tratamento
medicamentoso, com seguimento clínico criterioso, uma vez que o reto
doente permanecia exposto ao risco de câncer. Além
disto, 50% dos doentes acabavam tendo que ser submetidos
a ressecção do reto remanescente e feitura de ileostomia
terminal definitiva por progressão da doença no reto.
Esta técnica operatória era indicada com maior freqüência
que a PCT, porém apenas após grande insistência no
tratamento clínico pelos inconvenientes já referidos.
A retocolectomia total com anastomose íleo-anal e
reservatório ileal (AIA) consiste na colectomia total,
sepultamento do reto ao nível dos músculos elevadores do
ânus, confecção de reservatório ileal, seguida de anastomose
íleo-anal. As vantagens deste procedimento são:
resultado funcional satisfatório, elimina a doença intestinal e o
risco de câncer, mantem a continência anal e preserva a
imagem corporal15, 16 . Todas estas vantagens têm feito com que
as indicações para tratamento cirúrgico da retocolite
ulcerativa universal tenham se tornado mais
frequentes10, 12 , encurtando o tempo decorrido entre o início da sintomatologia
e a indicação do tratamento cirúrgico.
Esta operação é complexa e associada a alta
incidência de morbidade. Uma das complicações mais
desconcertantes da AIA e´o aparecimento da bolsite. Esta inflamação
do reservatório ileal comporta-se clinicamente como a
RCU, obrigando aproximadamente 20% dos doentes a
retornarem ao uso das mesmas medicações que eram prescritas
no pré- operatório. Este fato pode parecer um
contrasenso, quando se considera que a maioria dos doentes é
operada justamente por intratabilidade clínica, ou seja, por falta
de resposta aos medicamentos conhecidos. Acredita-se que
a bolsite seja uma manifestação extra-colônica da RCU .
O fato desta operação ser realizada atualmente com
suturas mecânicas, que implicam necessariamente em deixar
um ou dois centímetros de mucosa doente, justificaria por
que alguns doentes persistem com manifestações
extra-intestinais, entre as quais a bolsite, ou as desenvolvem após
a operação, como resultado da evolução da doença no
reto remanescente.
As manifestações extra-intestinais ocorrem em até
65% dos doentes com doença inflamatória intestinal.
Causam maior morbidade que a própria doença inflamatória,
constituindo-se eventualmente, na causa de óbito destes
doentes, como ocorre com a cirrose hepática e a amiloidose
28. As manifestações extra-intestinais mais freqüentes são
as articulares, dermatológicas, hépato-biliares e as do
trato urinário 36. A constatação de que alguns doentes
persistem com a sintomatologia referente às manifestações
extra-intestinais ou que as desenvolvem no pós-operatório tardio
é motivo de preocupação no seguimento a longo prazo,
uma vez que contribui significativamente para a piora da
qualidade de vida dos doentes acometidos 1
.
As manifestações articulares são as mais
comuns37 . Caracterizam- se pelo acometimento de uma ou mais
articulações. A artrite periférica é migratória e de grandes
articulações. A articulação acometida apresenta- se quente,
dolorosa, edemaciada e os testes para artrite reumatóide são
negativos. A associação entre aparecimento da artralgia
e agudização da doença inflamatória intestinal é
classicamente aceita 11. A sacro-ileíte é geralmente assintomática ou
produz pouco desconforto. A espondilite anquilosante é rara
e mais freqüente em homens. Os sintomas caracterizam-
se por dor e limitação dos movimentos. Não há
sincronismo com a atividade da doença intestinal e, portanto,
a sintomatologia não se altera mesmo após colectomia total.
A prevalência da osteoporose está aumentada em
doentes com doença inflamatória intestinal, podendo ser
grave em doentes relativamente jovens. A patogênese da
perda óssea é provavelmente multifatorial. O uso de
corticóides deve se constituir em importante fator de contribuição
para seu aparecimento6 .
As complicações urológicas associam- se a doença
intestinal intensa e de longa duração. O próprio
tratamento cirúrgico da doença intestinal leva ao aparecimento
das complicações
urológicas5. Assim doentes com
ileostomia, sem hiperoxalúria, apresentam maior incidência de
cálculos. A falta do cálcio torna o oxalato mais disponível
para absorção. Os fatores mais frequentemente implicados
na litogênese são: desidratação, oligúria, menor absorção
de água, obstrução e/ou infecção do trato urinário,
excreção anormal de ácido úrico, urina ácida, alterações na
absorção e excreção de oxalatos, uso de
corticóides, hipercalciúria, repouso prolongado na cama, absorção
intestinal diminuída de sódio com concomitante
decréscimo no sódio urinário. O fator litogênico mais amplamente
aceito é o da hiperoxaliúria adquirida ou entérica. Esta
associa-se a disfunção ou ressecção do intestino delgado, má-
absorção, algumas doenças hepáticas ou absorção
aumentada do oxalato ingerido. Doentes com ileostomia perdem
grande quantidade de líquido intestinal alcalino e os rins
respondem secretando urina ácida e concentrada. Estes
fatos colaboram para o aparecimento de cálculos de ácido
úrico. A hiperuricemia nestes doentes predispõe à formação
de cálculos de cálcio. Foi demonstrado que o risco de
formar cálculos de ácido úrico é elevado tanto para os doentes
que permanecem com ileostomia terminal como para os
doentes submetidos a AIA, porém o risco de formar cálculos
de cálcio é menor nos doentes submetidos a AIA
5.
A manifestação dermatológica mais comum é o
eritema nodoso. Caracteriza- se por lesões nodulares,
múltiplas, dolorosas, hiperemiadas, localizadas preferencialmente
na face anterior dos membros inferiores. Correlaciona- se
com a exacerbação da doença intestinal e é mais freqüente
em mulheres 34. O pioderma gangrenoso é manifestação
grave, porém pouco comum. Inicia- se como acne, com
eliminação de secreção com aspecto purulento, mas
estéril, que rapidamente evolui para necrose ou gangrena da
porção central da lesão. A lesão típica caracteriza- se por
úlcera necrótica, dolorosa, com bordos elevados,
circundada por área violácea que se dilui em eritema distalmente
4. Ocorre em qualquer área do corpo. Correlaciona- se
mais frequentemente com envolvimento
colônico4 . Pela correlação com a exacerbação da doença e pela dificuldade
de controle, constitui-se em indicação para tratamento
cirúrgico da doença intestinal. No entanto, nesta série, um
doente submetido a AIR manteve o quadro de
pioderma gangrenoso bem como dois sumetidos a AIA obrigando
a tratamento clínico intensivo desta complicação. Outro
doente submetido a AIA que apresentava eritema nodoso
antes da operação, após a mesma passou a
apresentar pioderma gangrenoso. Um doente desenvolveu
psoríase. Outros autores já relataram a persistência ou
aparecimento de lesões dermatológicas após tratamento
cirúrgico24 .
As alterações hepáticas são importantes porque
podem levar o doente a óbito. Há associação com
doença de longa duração, atividade e tratamento com
esteróides e mesalazina29. A incidência de doença hepática
significativa identificada pela presença de anormalidades
bioquímicas de função hepática chega a
8,2%9. Alterações transitórias peri-operatórias nos testes de função hepática
são comuns e podem se relacionar com sepse
intra-abdominal9. Há pouca correlação entre anormalidades
bioquímicas e histológicas. Entre as lesões descritas estão:
infiltração gordurosa, pericolangite, colangite esclerosante,
cirrose, abscessos hepáticos e câncer da árvore biliar.
A infiltração gordurosa é achado comum em
biópsias e necrópsias, associando-se com doença intestinal
grave, desnutrição, anemia e toxemia. É transitória,
desaparece com a melhora clínica da doença intestinal e não
resulta em cirrose.
A pericolangite é inflamação que envolve todo
espaço portal e que pode se localizar na área juncional entre
o espaço portal e os lóbulos hepáticos ou pode se
estender nas áreas interlobulares entre os espaços portais. A
fibrose portal pode ser o resultado final do processo e ser causa
da fibrose, semelhante à cirrose pós-
necrótica31. Geralmente é benigna e segue curso clínico paralelo ao da doença
inflamatória intestinal.
A colangite esclerosante é complicação rara,
caracterizada por alteração difusa ou localizada no trato biliar
onde o duto biliar comum se encontra estenosado. Os
doentes apresentam febre, icterícia e leucocitose e resulta,
após cinco ou dez anos, em cirrose biliar secundária e morte
por insuficiência hepática. O diagnóstico é estabelecido
através de biópsia ou colangiopancreatografia retrógrada
endoscópica.
Deve-se ressaltar que muitos doentes são tratados
com alimentação parenteral prolongada que leva a
anormalidades da função hepática. Foi observado que doentes
com doença inflamatória intestinal mostram elevações
significativas da aminotransferase quando recebem
alimentação parenteral prolongada com dextrose e emulsões
gordurosas. Doentes com alguma anormalidade hepática
prévia representam um grupo particularmente susceptível
aos efeitos detrimentais da alimentação parenteral sobre o
fígado2.
Em nossa pesquisa, a incidência de alterações
hepáticas está seguramente sub avaliada, uma vez que não
submetemos todos os doentes a biópsias nem a
colangiopancreatografia endoscópica retrógrada de rotina.
Doentes submetidos a colectomia por retocolite
ulcerativa tem freqüência de colelitíase duas a três vezes maior que
a população em geral 3, 17, 20,
23. Em doentes colectomizados, a bile é litogênica com aumento do índice de saturação
de colesterol 17, 23 e ocorre diminuição do esvaziamento
com conseqüente estase 8. Apenas um doente
apresentou colelitíase.
Entre as várias manifestações oculares, tais
como, episclerite, conjuntivite, celulite orbitária, a mais temida
é a uveíte. Os sintomas consistem em dor, turvação da
visão, fotofobia, cefaléia, os olhos ficam hiperemiados e
o exame com lâmpada de fenda permite a identificação
de precipitados na córnea. Este tipo de manifestação foi
pouco freqüente no grupo de doentes por nós
acompanhado, apesar de todos os doentes terem sido submetidos a
exame de rotina, independente de queixa clínica.
A incidência de complicações trombo-embólicas é
baixa. Estudo em 7199 doentes com doença inflamatória
intestinal demonstrou que esta complicação foi de
1,3%33 , porém 23 dos 92 doentes (25%) faleceram em
decorrência desta complicação, o que chama a atenção para
sua importância. Sessenta e um doentes apresentaram
êmbolo pulmonar ou em veias periféricas profundas. Sete
destes doentes tinham história de episódios tromboembólicos
recorrentes associados à exacerbação da doença
inflamatória intestinal 33.A trombose arterial é raramente observada.
A causa da trombose na doença inflamatória intestinal é
desconhecida. Apenas um doente (1,2%) em nossa
casuística, apresentou TVP, antes do tratamento cirúrgico, com
boa evolução.
A colectomia total com reservatório ileal seguida
de anastomose íleo-anal representou grande avanço
técnico, tornando-se a operação de escolha para a maioria dos
doentes que necessita de tratamento cirúrgico. Além do
mais, há evidências de que o início precoce da retocolite
ulcerativa e a presença de manifestações extra-intestinais
constituem-se em fatores preditivos da ocorrência de processo
inflamatório no reservatório "bolsite" que apresenta as
mesmas características da retocolite
ulcerativa32. O esclarecimento das causas que colaboram para este quadro
clínico trará benefícios importantes para o manuseio destes
doentes.
A incidência de MEI não mostrou correlação
com estenose da anastomose íleoanal ou com a presença
de mucosa retal remanescente doente. O estudo
estatístico para a análise dos dados relacionados
à presença de MEI associada ou não a doença na mucosa retal
remanescente foi feito através do teste do Qui-Quadrado.
No entanto, este teste não seria o ideal pelo fato de
haver freqüências nulas e baixas. Se considerarmos a
presença de MEI em qualquer momento da evolução com
a ausência e utilizarmos o teste de Fischer, obteremos
o valor de p=0.228, o que também confirma a
inexistência de diferença significativa.
A bolsite é a principal complicação da AIA. O
quadro clínico mimetiza o da retocolite ulcerativa. A
incidência desta complicação aumenta com o tempo maior de
seguimento pós-operatório.
Uma das associações mais perturbadoras da
inflamação do reservatório é com o desenvolvimento de
manifestações extra- intestinais similares às observadas na
doença inflamatória intestinal. Podem ocorrer artrite, lesões
cutâneas e oculares22 . Observou-se que as manifestações
extra-intestinais estão associadas com maior probabilidade dos
doentes desenvolverem bolsite19, 27, 32. Penna et
al27 demonstraram que doentes com colangite esclerosante têm
risco maior de desenvolver bolsite, 46% versus 79%, em
prazo de 10 anos. A associação entre bolsite e
colangite esclerosante sugere ligação entre as duas
entidades27 . Em nossa casuística, 20% dos doentes desenvolveram
bolsite, dos quais 92,3% apresentaram MEI, o que corrobora
o achado de outros autores. No grupo de doentes que
não desenvolveu bolsite, 57,4% desenvolveram MEI. Os
achados foram estatisticamente significantes.
Para uma avaliação mais precisa do impacto das MEI
pós tratamento cirúrgico das DII, deveríamos
subdividi-las em dois grupos: as resultantes de transtornos
metabólicos, como por exemplo, a colelitíase e a nefrolitíase, e as
que teriam uma explicação imunológica para sua manifestação
, como por exemplo, as artropatias e
manifestações dermatológicas e hepáticas. Sob esta nova óptica,
veríamos que as MEI persistiram ou apareceram respectivamente
em 50 % dos doentes submetidos a PCT, 53,8% a AIR e
38,3% a AIA. Tradicionalmente as manifestações articulares
têm sido relacionadas à atividade da doença intestinal. Se
este fato fosse verdadeiro, nenhum doente submetido a
PCT deveria ter apresentado artralgia periférica no
pós-operatório, enquanto os doentes submetidos a AIR com
doença ativa no reto remanescente e com artralgia no
pré-operatório deveriam apresentar 100% de sintomatologia no pós
operatório. Nos casos de AIA , os valores deveriam ser
intermediários, uma vez que teoricamente a extensão de reto
remanescente é nula ou muito pequena.
Andreyev et al1 examinaram as características dos
sintomas articulares entre doentes submetidos a AIA e
verificaram que 45% melhoraram, enquanto 28%
desenvolveram artralgias após a operação. Outro estudo não
demonstrou diferença na prevalênçia dos sintomas articulares
entre doentes submetidos a AIA e PCT25.
Conclusões
1. Os dados por nós obtidos demonstraram que
não existe correlação entre a presença ou não de mucosa
retal remanescente pós tratamento cirúrgico e a persistência
ou não de MEI no pós-operatório;
2. Nos doentes submetidos a AIA, houve
correlação entre MEI e bolsite. Este fato tem implicação
prognóstica na escolha do tratamento cirúrgico mais adequado
para cada doente.
SUMMARY: The high frequency and severity of extra-intestinal manifestations (EIM) of ulcerative colitis (UC), we found opportune to study the relation between the maintenance or appearance of these with different surgical techniques. The aim of this study was to evaluate if the persistence of diseased rectum would determine or not the occurrence of EIM. 81 patients were studied, 13 submitted to colectomy with ileal-rectal anastomosis (IRA), eight submitted to total proctocolectomy with definitive ileostomy (PCT) and 60 to restorative proctocolectomy with ileal J pouch (IPAA). The patients were evaluated for identification of persistent extra-intestinal manifestations or appearing after the operation. The following EIM were studied: musculoskeletical, cutaneous, hepatobiliary, ocular, renal and growth failure. The patients with EIM after operation were studied to identify their correlation with: 1.Extension of rectum in cases of IRA and IPAA; 2. Presence of disease in the retained rectum; 3. Pouchitis in IPAA; 4. Surgical technique error motivating stenosis of ileoanal anastomosis, inadequate size of the reservoir and signs of intestinal subocclusion in cases of IPAA. Conclusions: 1. Data showed that does not exist any correlation between the presence or not of rectum after surgical treatment and the persistence or appearance of EIM after surgery; 2. There was correlation between EIM and pouchitis in the IPAA group. This fact has prognostic implication in the selection of the most appropriate surgical treatment for each individual patient.
KEY WORDS: ulcerative colitis, extra-intestinal manifestations, surgery, pouchitis
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Endereço para correspondência:
R.Pensilvânia 520 ap 201. Brooklin Novo. S.Paulo.
CEP 04564-001. S.Paulo.
Trabalho realizado no Ambulatório de Doenças Inflamatórias Intestinais da Disciplina de Colo-Proctologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.