TRIBUNA LIVRE: COMO EU FAÇO


FERNANDO CORDEIRO - TSBCP
FÁBIO GUILHERME C.M. CAMPOS - TSBCP
FLÁVIO ANTONIO QUILICI - TSBCP
FLÁVIO FERREIRA DINIZ - TSBCP
HÉLIO MOREIRA - TSBCP
JAYME VITAL DOS SANTOS SOUZA - TSBCP
JOÃO GOMES NETINHO - TSBCP
LUÍS CLÁUDIO PANDINI - TSBCP
MARIA CRISTINA SARTOR - TSBCP
MAURO DE SOUZA LEITE PINHO - TSBCP
OLIVAL DE OLIVEIRA JÚNIOR - TSBCP
PAULO A.F.P. CORRÊA - TSBCP
PAULO CÉSAR LOPES JIQUIRIÇÁ - TSBCP
CORDEIRO C, CAMPOS FGCM, QUILICI FA, DINIZ FF, MOREIRA H, SOUZA JVS, NETINHO JG, PANDINI LC, SARTOR MC, PINHO MSL, OLIVEIRA JÚNIOR O, CORRÊA PAFP, JIQUIRIÇÁ PCL. - Tribuna livre: Como eu faço. Rev bras Coloproct, 2001; 21(2): 109-114.

Como sempre, gostaríamos de agradecer aos nossos colegas a participação nesta seção, pois, sem eles, ela não existiria. Lembramos sempre que o nosso objetivo é favorecer a participação de todos, permitindo assim que emitam suas opiniões livremente.
    Além destes agradecimentos, gostaríamos de lembrar aos colegas que esta é uma TRIBUNA LIVRE e não há necessidade de convites para que sua opinião seja discutida. Enquanto houver distintos posicionamentos dos apresentados, o tema será mantido ou retornará à discussão, porém não serão publicados os textos considerados contestatórios.
    Gostaríamos ainda de solicitar aos colegas que queiram participar, que enviem sugestões de novos temas ou perguntas, bem como suas condutas nos casos discutidos.
    Àqueles interessados em colaborar, manteremos sempre um canal aberto pelo fax 019.32543839 ou E.mail: fernandocordeiro@globo.com

Nesta edição discutiremos o tema: "Hemorroidectomias: análise crítica", com a colaboração de membros da nossa Sociedade:

Dr. Fábio Guilherme C.M.Campos (São Paulo/SP)
Dr. Flávio Antonio Quilici (Campinas/SP)
Dr. Flavio Ferreira Diniz (Porto Alegre/RS)
Dr. Hélio Moreira (Goiânia/GO)
Dr. Jayme Vital dos Santos Souza (Salvador/BA)
Dr. João Gomes Netinho (São José do Rio Preto/SP)
Dr. Luis Claudio Pandini (Araçatuba/SP)
Dra. Maria Cristina Sartor (Curitiba/PR)
Dr. Mauro de Souza Leite Pinho (Joinville/SC)
Dr. Olival de Oliveira Júnior (Curitiba/PR)
Dr. Paulo A.F.P. Corrêa (São Paulo/SP)
Dr. Paulo César Lopes Jiquiriçá (Rio de Janeiro/RJ)

1. O que você acha mais importante, hoje, no tratamento da Doença Hemorroidária, a técnica operatória ou realizá-la ambulatorialmente?
Dr. Fábio Guilherme C.M. Campos
- Sem dúvida nenhuma, a técnica operatória, pois sua adequada execução é que traz os resultados desejados no pós-operatório imediato e tardio. Aliás, raramente realizo cirurgias orificiais ambulatoriais, embora sejam exeqüíveis. Mesmo que por uma só noite, o paciente se sente mais seguro no hospital, podendo ter fácil acesso a medicações analgésicas e ao médico. Só realizo exérese de pequenos trombos anais ambulatorialmente.

Dr. Flávio Antonio Quilici _ Para o tratamento da doença hemorroidária a escolha da técnica operatória é tão importante quanto poder efetuá-la ambulatorialmente. Enquanto o resultado final do tratamento da doença hemorroidária depende da escolha da técnica de acordo com sua classificação (interna, externa ou mista), o baixo custo operacional para sua realização, a rapidez de sua execução e sua rápida recuperação do enfermo são também muito importantes e característicos do tratamento ambulatorial.

Dr.Flavio Ferreira Diniz - Atualmente podemos realizar com segurança a hemorroidectomia em caráter ambulatorial. O que precisa ser decidido em cada caso é se o paciente sente-se confiante e tranqüilo para realizar o procedimento desta maneira. Alguns de meus pacientes preferem submeter-se a hemorroidectomia e pernoitar no hospital. Outros preferem permanecer mais um dia. Acho que não podemos tratar todos os casos exatamente do mesmo modo. Quanto à técnica cirúrgica, acho que o importante e atual ainda é manter os princípios básicos utilizados em cirurgia anorretal. Se utiliza-se a técnica aberta, fechada ou semi-fechada vai mais da preferência de cada um.

Dr. Hélio Moreira _ Acredito que a possibilidade de se realizar a cirurgia da doença hemorroidária em regime ambulatorial foi um grande avanço. Se consultarmos a literatura especializada, iremos verificar que em passado não muito distante, todos os Serviços adotavam o expediente de internar os pacientes por períodos prolongados de tempo, muitas vezes, aguardando a sua primeira exoneração intestinal.
    Hoje em dia é praticamente universal a conduta de se fazer este procedimento em regime ambulatorial, com o paciente permanecendo internado não mais que vinte e quatro horas. No entanto, esta mudança de conduta não pressupõe que a técnica operatória não continue sendo o fator mais importante a ser considerado, quando se analisa o resultado final do tratamento.

Dr. Jayme Vital dos Santos Souza _ Sem dúvida, a técnica bem executada é fundamental para o sucesso do tratamento. Sempre que possível, prefiro a cirurgia ambulatorial.

Dr. João Gomes Netinho _ Tanto a técnica operatória quanto o tratamento ambulatorial tem o seu espaço. Acredito que isso depende de alguns fatores, como o cirurgião, a estrutura ambulatorial da clínica ou consultório e por fim, da própria doença hemorroidária. As hemorróidas internas admitem procedimentos sem a aplicação de anestésicos e por isso podem perfeitamente ser tratadas em qualquer consultório ou clínica. Já as grandes hemorróidas, as de 3o.e 4o.graus, em que a hemorroidectomia é o procedimento mais indicado, se forem realizadas a nível ambulatorial é necessário que haja toda uma estrutura, que, aliás, é uma exigência legal. Caso contrário devem ser realizadas no hospital.

Dr. Luis Claudio Pandini _ Os dois aspectos são importantes. As várias técnicas cirúrgicas são comprovadamente satisfatórias na cura da doença hemorroidária, o que se deve é realizar a técnica escolhida de maneira regrada respeitando a anatomia do canal anal. Quanto a realizar a hemorroidectomia ambulatorialmente é uma forma bastante atraente, segura, confortável e econômica para o paciente, especialmente com utilização de drogas anestésicas de eliminação rápida. Esta tem sido nossa rotina desde 1998, salvo em algumas situações especiais de pacientes portadores de patologias que requeiram um tempo de observação maior.

Dra. Maria Cristina Sartor - A técnica operatória. É o respeito aos princípios básicos das ressecções das hemorróidas, como pontes mucosas adequadas e boa hemostasia, que garantirão o sucesso da operação. O resultado plástico final também tem sido cada vez mais buscado pelos pacientes, evitando-se os plicomas residuais grandes, que causam desconforto e dificuldade de higiene, tal como a doença inicial. Isso vale para todas as modalidades técnicas das hemorroidectomias. Quanto ao procedimento ser ambulatorial ou não, depende do tipo e tamanho das hemorróidas e da existência de estrutura adequada para tal, visto que os riscos cirúrgicos são exatamente os mesmos. Além disso, nem todos os pacientes sentem-se seguros ou têm psiquismo para tolerar as dificuldades pós-operatórias habituais, especialmente a dor e, principalmente, os portadores de hemorróidas muito volumosas. Estes deverão fazê-lo sob regime de internamento.

Dr. Mauro de Souza Leite Pinho _ Ambos são importantes. Se a pergunta refere-se à possibilidade de modificar a técnica operatória em função de uma opção pelo procedimento ambulatorial, a resposta é não. Os fatores primordiais para a opção pela cirurgia ambulatorial devem ser a doença e o doente, não o procedimento.

Dr. Olival de Oliveira Júnior _ Para que o tratamento da doença hemorroidária tenha um excelente resultado, é necessária uma indicação cirúrgica precisa, um cirurgião experiente, uma técnica adequada e independe se é realizada em regime hospitalar ou ambulatorial. Em nossa experiência, o mais importante é uma técnica cirúrgica refinada, pouca "dilatação" esfincteriana no ato operatório, o mínimo de manipulação da pele; e, optamos por realizar o procedimento com o paciente internado.

Dr. Paulo A.F.P. Corrêa - Com a melhor informação da população leiga em relação a essa afecção, os cuidados mais atentos com a sua saúde e talvez um acesso mais fácil e precoce ao especialista, tenho recebido em meu consultório, mais freqüentemente, pacientes portadores das formas mais iniciais desta enfermidade. Assim sendo, a população que atendo tem como queixas mais habituais: o sangramento leve ou moderado e/ou o prolapso. Desta forma, o tratamento ambulatorial tem sido o mais empregado, com resultados extremamente favoráveis (> 80 % de bons ou ótimos), ficando a cirurgia restrita às falhas deste tratamento ou aos casos mais avançados (bem menos comuns em minha prática diária).  

Dr. Paulo César Lopes Jiquiriçá _ Certamente a realização ambulatorial.

2. Qual a técnica operatória de hemorroidectomia você utiliza mais freqüentemente? (aberta, fechada, semi-fechada ou PPH?).
Dr. Fábio Guilherme C.M.Campos
- Há muitos anos realizo a técnica fechada (Ferguson) na grande maioria dos casos. Tenho tido ótimos resultados em relação à dor, sangramento e cicatrização pós-operatórias. Eventualmente combino a técnica fechada à semi-fechada. Há 2 anos tenho utilizado o PPH em número crescente de casos, mas a indicação seletiva e o problema do custo têm limitado o número de pacientes que podem se beneficiar de seu uso.

Dr. Flávio Antonio Quilici _ A técnica de hemorroidectomia de minha preferência, tanto ambulatorial quanto hospitalar, é a técnica fechada (Ferguson).

Dr. Flavio Ferreira Diniz -. Desde 1990 somente utilizo a técnica fechada tipo Ferguson. Houve, no início, uma curva de aprendizado. Nesse período ocorreram muitas deiscências das feridas. Os resultados desta técnica semelhantes aos da técnica aberta, porém com menos desconforto para o paciente. O período de cuidados com feridas também é muito menor.

Dr. Hélio Moreira _ Utilizamos a técnica aberta, preconizada por Miles-Milligan & Morgan, herança da nossa passagem pelo Hospital São Marcos, de Londres, em 1972. É interessante lembrar que embora muitos colegas de muitos Serviços apregoem as possíveis vantagens da técnica fechada, provavelmente esta ainda não seja a mais utilizada no mundo. No Congresso da International Society of University Colon and Rectal Surgeons, realizado na cidade de Mälmoe (Suécia), no ano de 1998, durante as discussões de uma Mesa sobre Doença Hemorroidária, foi questionado o auditório sobre a preferência individual dos presentes (representantes de 52 países) e a maioria afirmava sua preferência pela técnica aberta, para desapontamento do colega americano que formulou a questão.

Dr. Jayme Vital dos Santos Souza _ Tenho utilizado com maior freqüência a anopexia mecânica (PPH). Quando não indicada, opto pela diatermia, aberta, sem ligadura.

Dr. João Gomes Netinho _ Nos últimos anos venho utilizando a técnica fechada tipo Ferguson. Eventualmente posso numa determinada cirurgia associar mais de uma técnica. Antes utilizava a técnica semi-fechada. Nunca operei a Milligan & Morgan, embora não tenha nada contra.

Dr. Luis Claudio Pandini _ Já utilizei várias técnicas operatórias, mas minha preferência [e pela técnica de Milligan & Morgan na maioria dos casos e em algumas situações utilizo a técnica semi-fechada. Minha experiência com PPH é pequena sendo que realizei em apenas 8 pacientes dentro de um protocolo juntamente com outros colegas.

Dra. Maria Cristina Sartor - Aberta

Dr. Mauro de Souza Leite Pinho _ Eu utilizo com maior freqüência à técnica de Milligan & Morgan com algumas variações eventuais como o fechamento parcial da pele.

Dr. Olival de Oliveira Júnior _ Gostaríamos de salientar que a hemorroidectomia quando bem realizada, de forma radical, independe de qual técnica cirúrgica foi utilizada, mas sim da destreza do cirurgião em realizá-la e que o cirurgião saiba, quando necessário, utilizar outras técnicas associadas. A técnica cirúrgica que mais utilizamos é a técnica de Buie, semi-fechada; onde além do resultado funcional excelente, é a que tem o melhor resultado estético em nossas mãos.

Dr. Paulo A.F.P.Corrêa - Como indico o tratamento cirúrgico apenas para os casos mais avançados: hemorróidas de terceiro grau volumosas, de quarto grau ou quando há uma "coroa externa" extremamente exuberante associada às de primeiro ou segundo graus, fonte de processos de trombose freqüentes ou às vezes com plicomas avantajados, prefiro ainda a técnica de Milligan & Morgan (aberta) e em alguns poucos casos a semi-fechada (quando há "sobra de mucosa" que me permita suturá-la sem causar estenose do ânus).

Dr. Paulo César Lopes Jiquiriçá _ Dificilmente utilizo uma técnica única para a cura cirúrgica. Associo a técnica fechada à velha Milligan & Morgan modificada, com raquetes menores. Dificilmente uso técnica semi-fechada: ou fecho ou deixo aberta e normalmente associo à esfincterotomia media-lateral. Gostaria de frisar que tenho indicado cada vez menos a cirurgia.

3. Você utiliza alguma técnica ambulatorial dita alternativa? (Infra-red, criohemorroidectomia, ligadura elástica ou esclerose?) Qual aquela que lhe parece ter melhores resultados?
Dr. Fábio Guilherme C.M.Campos
- A única técnica ambulatorial que utilizo de rotina é a ligadura elástica. Sua indicação em hemorróidas II grau ou de III grau (em que o paciente recusa o tratamento cirúrgico) tem se mostrado bastante eficaz a curto e médio prazos. Acredito que cuidados técnicos como evitar ligaduras próximas da linha pectínea e ligaduras isoladas de apenas um mamilo por sessão têm sido responsáveis por esses resultados.

Dr. Flávio Antonio Quilici _ No tratamento ambulatorial da doença hemorroidária, os melhores resultados acontecem quando utilizo: nos mamilos internos de I grau _ necrose por coagulação com nitrogênio líquido (à _196o C); nos internos de II grau- necrose pelo infrared; nos de III grau- isquemia pela ligadura elástica e nas hemorróidas mistas- hemorroidectomia fechada.

Dr. Flavio Ferreira Diniz - A maioria dos meus pacientes são tratados com métodos outros que não a hemorroidectomia formal. Atualmente a hemorroidectomia é indicada e realizada em somente 10% dos pacientes que vêm ao consultório com Doença Hemorroidária. O restante é tratado com ligadura elástica, escleroterapia ou Infrared. Uso a ligadura elástica sempre que possível, pois me parece mais efetiva a longo prazo. Quando o sintoma é sangramento e as hemorróidas internas são pequenas utilizo a escleroterapia ou o Infrared. Em algumas situações, onde há doença mais importante do plexo interno e pouca doença externa, utilizo um desses métodos descritos para tratamento da doença interna e realizo a remoção do componente externo sob anestesia local, em consultório. Os resultados são bons.

Dr. Hélio Moreira _ Praticamente já utilizamos todas estas técnicas mencionadas, com exceção do infrared. De todas elas, a única que continuo utilizando é a ligadura elástica, pois apresenta resultados mais consistentes. Por pertencer a um serviço universitário, vejo-me na obrigação de testar várias alternativas tecnológicas, porém, verifico que muitas (crioterapia, por exemplo) não resistiram o teste do tempo, foram modismos que passaram ou passarão.

Dr. Jayme Vital dos Santos Souza _ Utilizo freqüentemente a banda e a fotocoagulação. Acho inclusive, a associação das duas, um grande truque.

Dr. João Gomes Netinho _ Utilizo com freqüência a ligadura elástica, que considero excelente para as hemorróidas internas que sangram ou prolapsam. Já utilizei a criohemorroidectomia, mas abandonei principalmente devido à simplicidade e resultados da ligadura elástica. Infrared, não tenho experiência e a escleroterapia só excepcionalmente.

Dr. Luis Claudio Pandini _ Utilizo com muita freqüência a ligadura elástica que é a minha preferência e onde tenho os melhores resultados. Não utilizo crioterapia ou esclerose.

Dra. Maria Cristina Sartor - Ligadura elástica. É bastante conveniente e resolutiva para aqueles pacientes cujo componente sintomático principal deve-se às hemorróidas internas, tanto as que sangram, quanto as que prolabam. Tem bons resultados também nos prolapsos mucosos pequenos, especialmente indivíduos que tenham algum fator de risco que desaconselhe a operação convencional. Além disso é bastante rápido e pode ser feito por ocasião da consulta inicial.

Dr. Mauro de Souza Leite Pinho _ A ligadura elástica é meu procedimento de primeira escolha no tratamento da doença hemorroidária, sendo utilizada em cerca de 80% dos casos. Apenas não a utilizo nos casos em que o envolvimento da linha pectínea seja uma contrainidicação. Caso existam plicomas não envolvidos na linha pectínea, usualmente opto pela ligadura elástica, deixando os plicomas, uma vez que estes são freqüentemente pouco sintomáticos. Quanto à coagulação por infravermelho, utilizo-a raramente devido aos seus resultados pouco satisfatórios em minhas mãos.

Dr. Olival de Oliveira Júnior _ Dentre as técnicas de procedimento ambulatorial, sem anestesia: utilizamos a ligadura elástica, com muito critério na indicação para que tenhamos os melhores resultados. Cabe mencionar que muitas vezes quando, eventualmente, fazemos a ligadura elástica muito próxima à linha pectínea, mesmo que não a comprometa diretamente, os doentes têm dor, puxo e tenesmo. Nestes casos utilizamos analgésicos comuns.

Dr. Paulo A.F.P. Corrêa _ A técnica que emprego é a da ligadura elástica. Costumo fazer apenas uma ligadura por sessão, com intervalo de 10 a 15 dias entre as sessões. Prescrevo um analgésico e antiespamódico (dipirona + hioscina) de rotina nos primeiros dias após o tratamento (uma vez que acredito ser o espasmo do esfíncter interno o maior responsável pelo desconforto após este método) e oriento os cuidados alimentares (uma dieta rica em fibras, evitando-se alimentos irritantes ou muito ácidos) e de higiene anal (só com água, sem se utilizar de papel ou sabonete).

Dr. Paulo César Lopes Jiquiriçá _ Utilizo a ligadura elástica com bons resultados há muitos anos, deixando a esclerose para casos selecionados e em gestantes. Estou terminando um trabalho com levantamento em 10 anos de escleroterapia em gestantes (pacientes que em função do quadro de dificuldade de retorno venoso, apresentam flebectasias de I/II grau) e acredito que os resultados são animadores. Não utilizo a crioterapia, sendo que meus resultados com o infrared não foram convincentes até momento.

4. A técnica com o PPH tem a sua melhor indicação na doença hemorroidária de 2o.Grau. Utilizando a ligadura elástica, o custo e os resultados não seriam melhores?
Dr. Fábio Guilherme C.M.Campos
- Acredito que a melhor indicação do PPH são as hemorróidas internas de III e IV graus. Se pensarmos em custo imediato (em provavelmente em riscos operatórios imediatos), a ligadura elástica é mais vantajosa. Entretanto, se considerarmos as possibilidades de tratamento em um só tempo, as prováveis incidências de recidivas e de controle sintomatológico definitivo, acredito que a experiência em maior número de casos destacarão o papel do PPH. Eu acredito que esta técnica, quando bem indicada e executada, apresenta resultados muito bons; entretanto, casos isolados de complicações importantes com sangramento e infecção devem alertar o cirurgião para os riscos inerentes do método.

Dr. Flávio Antonio Quilici _ A melhor indicação para a hemorroidectomia por grampeamento (PPH) é na doença hemorroidária interna de III grau (com grande prolapso), sem ou com mínimo componente externo. Não tenho dúvidas de que a ligadura elástica, para os mamilos internos de III grau, apresenta bons resultados a um custo muito menor.

Dr. Flavio Ferreira Diniz - Ainda é cedo para termos uma idéia precisa dos resultados a médio e longo prazo com a utilização do PPH. Por outro lado a utilização da ligadura elástica já comprovou sua eficácia no tratamento da Doença Hemorroidária do plexo interno. Também a comparação dos custos tende para a ligadura elástica. Como muitos outros métodos de tratamento da Doença Hemorroidária utilizados no passado e atualmente abandonados, o tempo mostrará se o PPH veio ou não para ficar.

Dr. Hélio Moreira _ A pergunta, como foi formulada, obriga-me a dar uma resposta objetiva: não pode haver dúvida quanto à preferência pelo uso da ligadura elástica no caso da doença hemorroidária interna de 2o.grau. Esta preferência se deve ao fato de se tratar de conduta pouco invasiva, passível de ser utilizada em regime ambulatorial (consultório) e com baixa incidência de complicações.
    No entanto é necessário afirmar que a melhor indicação para o PPH, segundo a experiência de muitos autores, inclusive a nossa, não é para o tratamento da doença hemorroidária interna do 2o.grau.

Dr. Jayme Vital dos Santos Souza _ Permita discordar da pergunta. Na nossa opinião o PPH tem sua principal indicação para o III e IV graus.

Dr. João Gomes Netinho _ Sem dúvida. O PPH pode ser utilizado para as hemorróidas de 2o., 3o. e 4o. graus e para o prolapso de mucosa retal. As vantagens desse procedimento são: menor dor pós-operatória e baixo índice ou ausência de recidiva. No entanto, nas hemorróidas de 2o.grau, pelas razões citadas, a ligadura elástica é a indicação mais correta.

Dr. Luis Claudio Pandini _ Na minha opinião a indicação do PPH é na doença hemorroidária do terceiro e quarto grau com pouco componente externo. A experiência mundial mostra que o tratamento da doença hemorroidária do segundo grau com ligadura elástica é eficaz, segura, os resultados são muito bons e o custo é baixo. Portanto não vejo no momento atual que o PPH, com seu custo ainda elevado, deva ser utilizado de forma rotineira ou em substituição à ligadura elástica.

Dra. Maria Cristina Sartor - Tenho pouca experiência com o PPH. A técnica parece ter vantagens na doença hemorróidária com componente interno que apresente prolapso e/ou sangramento. Os pacientes com componente externo associado queixam-se dos plicomas, que permanecem em ambas as modalidades. Quanto ao custo, obviamente que a ligadura elástica se sobrepõe. Resta aguardarmos o tempo necessário de acompanhamento dos pacientes submetidos ao PPH para compararmos os resultados e a incidência de recidiva com a ligadura elástica.

Dr. Mauro de Souza Leite Pinho _ Não utilizo o PPH no tratamento da doença hemorroidária. Reservando o tratamento cirúrgico apenas para os casos no qual a dilatação dos coxins venosos seja volumosa abaixo da linha pectínea ou com grande componente cutâneo no próprio mamilo, acredito que muito poucos destes casos seriam resolvidos pelo processo alto de grampeamento, necessitando uma excisão complementar de pele. Além disto, seu custo me parece absolutamente injustificável para tal procedimento, em particular, ao considerarmos a grave situação do financiamento à saúde em nosso país.

Dr. Olival de Oliveira Júnior _ Particularmente acreditamos que a melhor indicação para o uso do PPH é naqueles pacientes com prolapso retal mucoso e não para hemorroidectomia. Nas hemorróidas de II grau, com excesso de mucosa, a aplicação da ligadura elástica tem ótimos resultados e com baixo custo. Nas hemorróidas de II grau, sem excesso de mucosa, preferimos a opção da cirurgia tradicional.

Dr. Paulo A.F.P.Corrêa - Acredito que a melhor indicação para o uso do PPH seja para as hemorróidas de terceiro grau volumosas, sem componente externo. Nestes casos dispomos de um coxim abundante e bastante móvel para o seu melhor emprego. Só o temos indicado nestes casos.

Dr. Paulo César Lopes Jiquiriçá _ O custo-benefício da ligadura, até o momento, justifica a escolha do método.

5. Comentários adicionais?
Dr. Fábio Guilherme C.M.Campos
- A experiência com grande número de casos de doença hemorroidária nos mostra que as respostas individuais de cada paciente são muito diferentes, mesmo quando se emprega exatamente a mesma técnica. É freqüente você operar um paciente e achar que a cirurgia foi ótima do ponto de vista técnico e o paciente ter dor e dificuldade de cicatrização maior do que outros pacientes em que o resultado "estético" e técnico da operação não foi tão bom. Como dizem os jogadores de futebol, o pós-operatório de uma hemorroidectomia é uma "caixinha de surpresas".

Dr. Hélio Moreira _ Acho muito oportuna esta discussão sobre tema tão importante no nosso dia-a-dia e acredito mesmo que nossos Congressos deveriam reservar um espaço mais amplo para este desiderato. Tive oportunidade de participar do Congresso Norte-Nordeste de Coloproctologia, realizado em Alagoas, sob a presidência do colega, Dr.Mário Jorge Jucá, quando este assunto foi bem discutido em Mesa dirigida pelo Dr.Jayme Vital dos Santos Souza: debateu-se de maneira informal, interagindo com o auditório, com questionamentos aparentemente simplórios, porém, capazes de dissipar dúvidas. Todos nós aprendemos com aquela Mesa.

Dr. Jayme Vital dos Santos Souza _ Achamos que existem inúmeras possibilidades para o tratamento da doença hemorroidária. O importante é, adequar a técnica ao paciente!

Dr. Mauro de Souza Leite Pinho _ Sim. Preocupa-me o fato de que o simples lançamento por uma indústria de um aparelho de custo incompatível com a realidade e resultados ainda muito questionáveis desperte rapidamente tamanho interesse entre os cirurgiões em apresentar crescentes séries com o objetivo de confirmar a necessidade de sua utilização como procedimento de rotina em nosso país.

Dr. Olival de Oliveira Júnior _ Nos procedimentos orificiais, sejam hospitalares ou ambulatoriais, fazemos uso de antibiótico dando preferência para cefalosporina de segunda geração, imediatamente antes do procedimento; é sabido que existe risco, razoável, de bacteremia transitória nestes atos cirúrgicos.

Dr. Paulo A.F.P.Corrêa - É muito importante quando recebemos nossos pacientes pela primeira vez no consultório, que façamos uma boa anamnese destes, para bem compreendermos o "desconforto" que lhes traz esta afecção. Muitas vezes apenas uma boa orientação dietética e ou de cuidados de higiene pode resolver de forma plenamente satisfatória esse "desconforto", sem a necessidade de se acrescentar qualquer outro método terapêutico complementar.
    Também é importante de se lembrar que os sinais e sintomas presentes nesta enfermidade podem ser oriundos de outras afecções de maior gravidade (o câncer, por exemplo), principalmente nas populações de "risco". Assim sendo quando não totalmente convencidos de ser esta a única fonte para tais manifestações, devemos complementar nossa investigação propedêutica com exames de imagem mais avançados (principalmente a colonoscopia ou o enema opaco).
    Uma vez optado por uma das medidas terapêuticas discutidas acima, nesta sessão, é importante que se esclareça todas as suas eventuais complicações ou insucessos, de forma que o paciente possa aceitá-la ou não, optando talvez por outro dos métodos atualmente disponíveis.
    Um paciente bem orientado e bem esclarecido, habitualmente é um paciente satisfeito e que contribui de forma efetiva para a erradicação de sua moléstia.

Dr. Paulo César Lopes Jiquiriçá _ Nos últimos anos, tenho operado apenas 20% dos meus clientes. Comparativamente, seria uma redução de aproximadamente 40%, número considerável para o total de atendimentos. Tenho obtido excelentes resultados com a associação de orientação higieno-dietética, medicação manipulada com base ortomolecular e homeopática e com os procedimentos de ligadura elástica e esclerose.

Esta rodada de perguntas e respostas encerra esta seção da TRIBUNA LIVRE: COMO EU FAÇO. Agradecemos novamente a inestimável colaboração dos colegas que prontamente responderam à nossa solicitação e tornaram possível a realização de mais uma tribuna.
   
Este tema é amplo e nossa intenção é a de dar um rápido enfoque do tratamento da enfermidade em vários locais alcançados por nossa Sociedade.
   
Se você tem alguma opinião divergente ou gostaria de completar aquilo que foi aqui referido, escreva-nos.
   
Gostaríamos de ter sua participação efetiva independente de sua titulação dentro da sociedade e mais uma vez agradecer àqueles que de maneira tão rápida, gentil e extremamente conscisa colaboraram para manter acesa conosco a chama desta TRIBUNA.

Novamente, o nosso fax é: 019.32543839 e E.mail: fernandocordeiro@globo.com.

Participe.

Fernando Cordeiro