ATUALIZAÇÃO
Renato Araujo Bonardi - TSBCP
Abstrato
Estudos anteriores têm relacionado cirurgiões
com grande volume de ressecções colônicas com
melhores resultados. Outros estudos mostraram que o
volume hospitalar pode também ser associado a bons
resultados, porém os autores não relacionaram o volume
hospitalar com o volume individual de cada cirurgião. Este
estudo analisa se o volume do hospital pode ser um indicativo
de melhor resultado do cirurgião.
Os dados do Estado de Maryland foram analisados
no período de 1992 a 1996. Os autores realizaram
uma análise cruzada dos pacientes adultos submetidos
a ressecção colorretal por carcinoma. Foram divididos
os cirurgiões de acordo com o seu numero de
ressecções colorretais (baixo < 5 casos; médio de 5 a 10; alto >
10) e o volume hospitalar das mesmas ressecções (baixo
< 40 casos; médio 40 a 70; alto > 70). As
variáveis estudadas incluiram o tipo de ressecção,
estadiamento do carcinoma, doenças associadas, ressecções
de emergência e a distribuição dos pacientes. Os
resultados hospitalares foram analisados com relação à
mortalidade no hospital, período de internamento e custos.
Em 50 hospitais, 812 cirurgiões realizaram
9739 ressecções. A maioria dos cirurgiões (81%) e dos
hospitais (58%) se classificaram no grupo de baixos volumes.
De fato, 373 cirurgiões (46%) tiveram uma média
de uma ou menos ressecções anuais. Neste grupo,
661 cirurgiões (81%) operaram 3461 pacientes (36%) com
uma média de 1,8 ressecções por ano. Os 113 cirurgiões
(14%) no grupo de volume médio realizaram 3626
ressecções colorrretais com uma média de 7 casos por ano. Trinta
e oito cirurgiões (5%) realizaram 2646 ressecções (27%)
com uma média de 14 casos por ano.
Dos 50 hospitais, 29 eram de baixo volume; 14
de volume médio e 7 de grande volume, onde foram
realizadas 32%, 36% e 32% das ressecções, respectivamente.
A média anual de ressecções foi de 21,5; 50; e 89,9 para
os hospitais com volume baixo, médio e alto,
respectivamente. Após o ajuste com os cirurgiões, os
resultados mostraram que os cirurgiões com grande volume
de ressecções estavam associados aos melhores
resultados. O grupo dos cirurgiões de grande volume de
ressecções colorretais se correlacionou com uma redução de 36%
da mortalidade hospitalar, quando comparados ao grupo
de ressecções de pequeno volume. O volume hospitalar
elevado também se correlacionou com os melhores
resultados dos cirurgiões, independente de sua categoria.
Quando cirurgiões de volume médio operaram em hospitais
de grande volume, alcançaram os mesmos resultados
dos cirurgiões de grande volume.
A maioria dos cirurgiões realiza poucas
ressecções colorretais por ano, porém a minoria realiza mais do
que 10 ressecções anualmente. Cirurgiões com volume
médio obtém excelentes resultados quando realizam suas
operações em hospitais de volume médio ou alto, não acontecendo
o mesmo em hospitais de pequeno volume.
Comentário
Existem vários fatores que contribuem para um
bom resultado, porém o cirurgião é fundamental,
independente do movimento do hospital. Este trabalho não
comprova que o hospital possa influenciar em melhores ou
piores resultados. Em geral, cirurgiões especialistas em
cirurgia colorretal, tendem a realizar suas cirurgias em
hospitais de grande volume, principalmente devido à
infraestrutura da instituição. Mais ainda, podemos afirmar que
um excelente cirurgião pode obter um excelente resultado
em uma instituição de qualquer movimento.
A literatura tem demonstrado que um paciente com
um infarto do miocárdio é melhor tratado por um
cardiologista; da mesma forma, um carcinoma gástrico ou
pancreático será melhor tratado por um cirurgião treinado nas
técnicas das ressecções apropriadas. É de se esperar que
alguém que realize uma ressecção colorretal frequentemente
terá melhores resultados, principalmente se foi
treinado adequadamente para isto.
Os resultados cirúrgicos devem refletir menor
morbilidade, mortalidade e maior curabilidade. A cirurgia para o
câncer retal requer ainda um maior treinamento e também um
maior volume para se alcançar os resultados desejados.
Cirurgiões que realizam ressecções de carcinoma retal só
ocasionalmente, apresentam piores resultados com relação a
morbilidade, mortalidade e recidiva local. Infelizmente, os resultados a
longo prazo dos pacientes submetidos a tratamento cirúrgico
de câncer retal por cirurgiões pouco treinados ou
menos experientes nunca foi publicado.
Como se faz um cirurgião competente? O
"American Board of Medical Specialties" (ABMS) descreve
um profissional médico competente, como tendo um
grande conhecimento médico, habilidade no trato com
os pacientes, comunicação interpessoal, exercício
profissional baseado no aprendizado, no aperfeiçoamento e
na sistematização. A manutenção da competência
se demonstra durante a carreira do cirurgião pela
evidência de aprendizado e aperfeiçoamento na sua
especialização. Para o cirurgião é realizar cirurgias de boa qualidade
em grande volume.
Quantos casos são necessários? Oitenta e um
por cento dos cirurgiões neste estudo realizaram 1,8
ressecções anuais. Dez, vinte ou trinta casos representam o
número necessário para se obter uma boa competência
em determinado procedimento? Este número pode
variar dependendo do tipo de treinamento e da
habilidade cirúrgica de cada um; entretanto, maior volume
representa melhor treinamento.
Atenção aos detalhes naturalmente leva aos
melhores resultados em cirurgia colorretal. Atenção à
seleção cuidadosa dos pacientes, à escolha da operação,
técnica cirúrgica aprimorada e acompanhamento ao paciente
são, sem dúvida alguma, de grande importância nos
resultados. Está bastante claro que o cirurgião é o fator
importante, não o volume do hospital. É provável, porém, que
hospitais de grande volume atraiam cirurgiões mais bem
treinados, levando a melhores resultados.
ATUALIZAÇÃO
Harmon JW, Tang DG, Gordon TA, Bowman HM, Choti MA, Kaufman HS, Bender JS, Ducan MD, Magnuson TH, Lillemoe
KD, Cameron JL. Hospital volume can serve as a surrogate for surgeon volume for achieving excellent outcomes in colorectal
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