ATUALIZAÇÃO
Renato Araujo Bonardi - TSBCP
Abstrato
Nos pacientes com prolapso retal completo , a
retopexia abdominal com ou sem ressecção tem apresentado um
baixo índice de recidiva, porém é um procedimento cirúrgico
de grande porte para pacientes idosos, frágeis e com
expectativa de vida curta. Neste grupo, a ressecção perineal
deve ser a preferida, porém diferentes autores têm relatado
resultados variáveis.
Quatorze pacientes com prolapso retal completo,
para os quais a abordagem abdominal foi contraindicada,
tanto por idade avançada (acima de 80 anos) como por
associação a outras doenças, foram submetidos a
retossigmoi-dectomia perineal, sendo 7 com a confecção de
bolsa colônica e 7 com anastomose colo-anal
término-terminal. O grupo de pacientes que recebeu a bolsa colônica
apresentava uma idade média de 82 anos, sendo um do
sexo masculino e os demais do sexo feminino. No grupo
de anastomose convencional colo-anal a idade média foi
de 76 anos e todas as pacientes eram mulheres.
O período de hospitalização para o grupo com
bolsa colônica foi de 11,7 dias versus 8,9 dias para o
grupo com anastomose convencional colo-anal. Um paciente
com bolsa colônica desenvolveu um vazamento com sepse
local e necessitou de laparotomia, ressecção da
bolsa colônica e nova anastomose colo-anal, com ileostomia
de proteção, que foi posteriormente fechada
sem intercorrências . No grupo com bolsa colônica não
ocorreram recidivas, exceto por discreto prolapso mucoso.
No grupo convencional ocorreram 3 recidivas do
prolapso, que necessitaram de nova ressecção com retopexia.
Somente os pacientes do grupo de bolsa colônica
apresentaram bons resultados funcionais, com boa continência
para fezes líquidas e gases.
Estes resultados sugerem que a
retossigmoidectomia perineal com a construção de uma bolsa colônica
apresenta vantagens substanciais sobre a retossigmoidectomia
com anastomose convencional colo-anal em pacientes
idosos para os quais a retopexia com ressecção possa ser
uma contraindicação. A morbidade é baixa em ambos os
procedimentos, porém com índices de recidiva elevados
principalmente na anastomose colo-anal convencional e com
resultados funcionais não satisfatórios.
Comentários
O melhor procedimento para o tratamento cirúrgico
de pacientes idosos com prolapso retal completo ainda não
foi bem identificado. Muitos cirurgiões tem sido relutantes
em indicar a cirurgia abdominal devido a magnitude do
procedimento para pacientes muito idosos, porém a
literatura tem apresentado resultados convincentes de que
somente a idade avançada não é contraindicação absoluta para
maiores procedimentos. Por outro lado os
procedimentos perineais ainda que bem tolerados têm demonstrado
um alto índice de recidiva (3 pacientes em 7 com
anastomose colo-anal convencional), os resultados funcionais não
têm sido animadores com incontinência, escape noturno,
escoriações anais, uso de fraldas etc.
Os autores sugerem uma modalidade de confecção
de uma bolsa colônica nas ressecções perineais do
prolapso retal completo, garantindo tanto um melhor resultado
funcional quanto um aparente menor índice de recidivas,
ainda que foi descrito neste grupo de pacientes prolapso
mucoso que sabemos ser responsável por sintomas bastante
desagradáveis como anus úmido, incontinência,
escoriações anais e sangramento, não representando portanto a
cura completa para os sintomas dos pacientes.
Este não é um estudo randomizado e portanto
não estão descritos os critérios para a seleção dos
pacientes e sua inclusão em cada um dos grupos. Conforme
mencionamos acima, somente a idade dos pacientes não
representa uma contraindicação para os procedimentos
abdominais. Um dos pacientes do grupo de bolsa
colônica que apresentou vazamento, foi submetido a uma
cirurgia abdominal de grande porte para a ressecção da
sua bolsa, nova anastomose colo-anal, ileostomia
protetora e posterior fechamento da ileostomia. Isto indica que
a seleção dos pacientes não obedeceu a critérios
muito rigorosos.
Com relação aos resultados funcionais,
principalmente de continência, temos, no nosso serviço, realizado
os testes de avaliação manométrica destes pacientes. A
razão principal é documentar os pacientes com
capacidade de continência. Salientamos ainda que quando um
paciente idoso com prolapso retal completo apresenta
ainda uma incontinência acentuada, a cirurgia da retopexia
abdominal sem ressecção tem dado melhores
resultados. Reservamos a retopexia abdominal com ressecção
para aqueles pacientes com continência anal adequada.
O tempo de hospitalização para ambos os grupos
foi bastante prolongado para este tipo de cirurgia,
não correspondendo ao sistema de saúde de outros países.
Por fim esta é uma proposta válida para a
correção cirúrgica do prolapso retal completo em pacientes
idosos, porém ainda necessita de uma avaliação mais criteriosa
e de um número maior de pacientes para garantir um
resultado mais real.