ATUALIZAÇÃO


ULTRA-SONOGRAFIA ENDO-VAGINAL É UM EXAME CONFIÁVEL PARA A ANÁLISE SEM DISTORÇÕES DOS ESFINCTERES ANAIS

Renato Araújo Bonardi - TSBCP


Poen AC, Felt-Bersman RJF, Cuesta MA, Meuwissen SGM. Vaginal endosonography of the anal sphincter complex is important in the assessment of faecal incontinence and perianal sepsis. Br J Surg 85:359-363,1998.

Bonardi RA. Atualização-Ultra-sonografia Endo-Vaginal é um exame confiável para a análise sem distorções dos esfincteres anais. Rev bras Coloproct, 2002; 22 (1): 41-42.

ABSTRATO
A ultra-sonografia endorretal é um procedimento bem estabelecido para a avaliação de doenças anorretais, porém nem sempre é possível usar esta técnica em casos de dor ou estenose anal. Para pacientes femininas, uma alternativa pode ser a ultra-sonografia endovaginal. Poen e colaboradores avaliaram esta técnica em pacientes com incontinência fecal e sepsis perianal.
    Em uma única sessão, 36 mulheres com incontinência fecal e 20 com sepsis perianal, foram submetidas a ultra-sonografia endovaginal, seguidas imediatamente a ultra-sonografia endorretal. As pacientes do primeiro grupo tinham uma média de idade de 50 anos e as do segundo grupo, 39 anos. Os autores avaliaram a anatomia do assoalho pélvico e as medidas dos esfincteres anais nos dois métodos.
    A endossonografia endovaginal mostrou de maneira muito clara as imagens do assoalho pélvico. As lesões dos esfincteres anorretais foram bem determinadas com a ultra-sonografia endorretal em 27 das 36 pacientes com incontinência fecal. Em 7 daquelas 27, a ultra-sonografia endovaginal não pode demonstrar os esfincteres anais. A ultra-sonografia endovaginal mostrou lesões esfincterianas em 16 das 20 pacientes em que o exame foi possível; e em 6 destas pacientes ainda demonstrou a fibrose do septo retovaginal A ultra-sonografia endovaginal não demonstrou lesões no esfíncter externo em 4 pacientes, sendo que em duas destas este achado foi confirmado na cirurgia. A ultra-sonografia endovaginal ainda mostrou importantes informações em 6 das 20 pacientes com sepsis perianal. No total a ultra-sonografia endovaginal melhorou o diagnóstico em 14 das 56 pacientes (25%).
    A ultra-sonografia endovaginal pode revelar imagens claras, não distorcidas dos esfincteres anais. O uso desta técnica pode aumentar em 25% as condições diagnósticas de incontinência fecal e sepsis perianal em pacientes femininas.

Comentários
Este artigo, ainda que publicado em 1998, apresenta uma importante contribuição no diagnóstico das lesões esfincterianas anorretais em pacientes femininas. A ultra-sonografia endorretal representa hoje um importante método diagnóstico daquelas lesões. Há poucos anos os estudos eram baseados em eletromiografia, um método bastante doloroso, não definindo adequadamente a extensão das lesões nos esfincteres. Em mãos habilidosas a ultra-sonografia endorretal pode demonstrar imagens perfeitas dos esfincteres anais, da sua integridade ou das lesões tanto do esfincter interno como do externo, além de trajetos fistulosos complexos e cavidades abscedidas.
    Neste trabalho os autores mostraram um novo método de estudo do assoalho pélvico e do complexo esfincteriano anal com a ultra-sonografia endovaginal, comparando com a ultra-sonografia endorretal. Foi bem mencionado o fato de que em pacientes com dor anal ou estenose anal severa, a ultra-sonografia endorretal não pode ser realizada, e a ultra-sonografia endovaginal em pacientes femininas veio contribuir para a avaliação desta anatomia. Em pacientes do sexo masculino, a ultra-sonografia perineal externa foi bem demonstrada em nosso meio por Kleinubing e colaboradores como de avaliação de lesões perineais.
    Os achados mais importantes neste estudo são: podemos obter informações adicionais com a ultra-sonografia endovaginal; e que nas pacientes com lesões na linha média anterior a ultra-sonografia endorretal ainda é o melhor método de avaliação para selecionar as pacientes que necessitarão de reconstituição dos esfincteres anais.
    No caso de incontinência fecal um defeito em um ou ambos os esfincteres anais foi observado em 27 das 36 pacientes. Nestas 27 pacientes os esfincteres anais não puderam ser observados em 7 com a ultra-sonografia endovaginal. Fica claro portanto que a técnica endovaginal não pode substituir a ultra-sonografia endorretal. A ultra-sonografia endovaginal pode dar informações adicionais em 8 das 36 pacientes, principalmente com relação ao septo reto-vaginal.
    No caso de sepsis perianal a utilização da técnica endovaginal foi de menor valor, demonstrando alterações em 6 das 20 pacientes.
    A maior importância deste estudo é alertar da possibilidade de avaliação endovaginal em pacientes femininas, principalmente nos casos de doença de Crohn perianal com estenose severa que impede ou dificulta a técnica endorretal.