OPINIÕES E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Júlio César M Santos Júnior - TSBCP
Santos Júnior JCM - Tratamento Cirúrgico do Câncer Obstrutivo do Instestino Grosso.
Rev. bras Coloproct,
2002;22(1):43-54.
Resumo: A obstrução intestinal associada ao câncer do intestino grosso é problema grave para o paciente e um desafio para
o cirurgião, porque está associada a altos índices de morbidade e mortalidade, principalmente quando consideramos as faixas
etárias mais avançadas. No entanto, as operações propostas para a resolução desse problema têm sido cada vez mais radicais, embora o
uso de cada uma das técnicas descritas esteja envolto em controvertidas discussões.
A colostomia primária, em procedimentos estagiados; a operação de Hartmann, as operações em um único estágio como
as colectomias totais ou subtotais, as ressecções segmentares com ou sem a lavagem intra-operatória do cólon, todas envolvem,
na maioria das vezes, um paciente gravemente enfermo e dão resultados insatisfatórios. São tantas as variáveis que dificilmente
é possível comparar estudos de centros diferentes. O papel do tratamento cirúrgico do câncer obstrutivo do intestino grosso
necessita avaliação cuidadosa, com controle criterioso das variáveis para que possamos obter conclusões idôneas. Apesar dos inúmeros
dados disponíveis na literatura médica pertinente, o tratamento do cancer obstrutivo do intestino grosso é feito de maneira empírica o
que pode ser observado pela grande variação de métodos e resultados oriundos de diferentes
centros28. As comparações não são
possíveis e isso impõe a necessidade de estudos prospectivos casualizados que definam casuísticas e metodologias bem estruturadas.
Unitermos: Adenocarcinoma, intestino grosso, cancer, obstrução intestinal, tratamento cirúrgico
No último Congresso Brasileiro de
Coloproctologia fomos designados para participar e
falar no Curso Pré-Congresso sobre "Câncer Obstrutivo
do Intestino Grosso". Como a importância do tema
excede o que foi possível ser debatido naquele Curso,
optamos por desenvolvê-lo nessa seção.
O caráter especial dessa complicação está vinculado
a três aspectos principais:
1. à incidência do câncer como causa de obstrução
em pacientes idosos,
2. à suposta gravidade da lesão maligna e ao
péssimo prognóstico quando a sua expressão máxima é
a obstrução, e
3. às controvérsias existentes quanto à melhor tática
a ser desenvolvida por ocasião do tratamento.
A mais comum causa de obstrução
intestinal no paciente idoso é, sem dúvida, o câncer - 60%
das obstruções intestinais nessa faixa etária devem se
ao câncer do intestino grosso1 _ porém não há
nada sugestivo que isso se deva à peculiaridade do
tumor relacionado à idade do paciente.
A sugestão de que o paciente, em
qualquer idade, com o carcinoma obstrutivo seja portador de
uma forma mais maligna da doença, com
comportamento mais agressivo e de pior prognóstico está alicerçada
na observação de alguns
autores2,3, mas carece de comprovação científica definitiva. Soa como a
sugestão do comportamento pior que teria o adenocarcinoma
do intestino grosso incidente no paciente
jovem4 e como a sugestão do pior prognóstico que teria o
paciente transfundido5, relacionando as futuras
conseqüências do ato da transfusão ao sangue recebido e não às
causas determinantes da maior ou menor necessidade
da transfusão6.
Independente desses dois primeiros
aspectos, há, ainda, as opiniões controvertidas a respeito
do melhor tipo de tratamento inicial, principalmente
no tocante à escolha do método cirúrgico: se definitivo
ou estagiado, já que alguns autores apontam um
maior índice de complicações quando se opta pela
anastomose primária2,3,7, exceto quando essa é feita entre o íleo
e cólon transverso2, o que não é real; ou quando
a obstrução não é total ou quando é possível um
adequado preparo dos cólons no
trans-operatório2,8.
Sob o ponto de vista da tática a ser
escolhida, discute-se, ainda, a propriedade de um
procedimento simples _ a colostomia _ ou a operação em três,
em dois ou em um único estágio, sempre com ênfase
de que a escolha estaria na dependência de fatores,
tais como complicações associadas, a idade e o estado
geral de saúde do paciente, na ocasião do
tratamento7,8.
O procedimento em três estágios, por
ficar vinculado a um maior número de
colostomia permanente, por falta de conclusão do tratamento,
tem sido considerado como
desfavorável9. Mas, não é só
isso; os altos índices de morbi-mortalidade resultantes
de estudos retrospectivos de grupos de pacientes
operados por causa do câncer obstrutivo do intestino grosso
são semelhantes quando se comparam as
diferentes modalidades cirúrgicas de tratamento,
observando-se vocações favoráveis à resolução do problema e de
sua causa num único ato
operatório10.
A maior preocupação na definição do melhor
tipo de operação, quando se trata do câncer obstrutivo,
esbarra quase sempre na anastomose cuja complicação
mais temível, pelas graves conseqüências, é a deiscência.
Essa, por sua vez, tem maior ou menor incidência
relacionada a uma quantidade muito grande de fatores, dentre os
quais tem sido destacado o preparo mecânico do intestino,
a idade e o estado geral de saúde do paciente; a
infecção associada _ principalmente no local _ e a presença
de distensão e de edema da parede dos
intestinos7, para não mencionar outros, dentre os quais poderiam ser
incluídos a habilidade do cirurgião, o horário da operação e
as condições de seu desenvolvimento.
A deiscência da anastomose, de fato, é
o denominador comum, na maioria das vezes, dos
altos índices de morbidade e mortalidade que se associam
às operações sobre o intestino grosso, seja
nos procedimentos eletivos, seja no tratamento, em
caráter de urgência, do câncer
obstrutivo9.
O que, em geral, sempre foi preconizado é
a ressecção e anastomose primária, quando a lesão
está localizada no cólon direito; o procedimento de
Hartmann para as doenças obstrutivas não neoplásicas que
se situam mais distalmente e a colostomia proximal,
em alça, quando a obstrução for causada por
câncer11. No entanto, nas últimas três décadas, as operações em
um único estágio têm sido as mais
indicadas10, principalmente porque há estudos com resultados
que não diferem, em termos de complicações, dos que
são observados nas operações eletivas da mesma
doença, quando não associada à
obstrução10,12.
Lee e col.12, baseados em dados de
trabalhos retrospectivos, concluíram que o tratamento
cirúrgico do câncer obstrutivo do intestino grosso, seja
em decorrência de lesões do lado direito ou de lesões
do lado esquerdo, não dá resultados ruins
significativamente diferentes, entre si, o que, segundo os autores,
significa que as ocorrências desfavoráveis estariam associadas
a outros fatores, como, por exemplo, a
instabilidade hemodinâmica do paciente e as condições
desfavoráveis do próprio intestino que, então, contra-indicariam
a anastomose primária.
Com essas colocações,
procuraremos desenvolver um raciocínio baseado em
nossa experiência, mas para o qual, evidentemente,
vamos buscar subsídios na literatura médica.
CANCER DO INTESTINO GROSSO - Generalidades
O câncer colorretal é a segunda mais
comum doença maligna de crescimento "interno",
superado apenas pelo carcinoma do pulmão, mas tem
sua incidência aumentada sensivelmente nas últimas
duas décadas. Nas estimativas feitas nos USA
estão registrados cerca de 155.000 casos novos / ano,
com 60.900 mortes, conseqüentes. Uma metade das
lesões se localiza no reto, a outra nos outros segmentos
do intestino grosso com incidência que predomina na
6º. e 7º. décadas da vida.
Seu aparecimento e evolução dependem
de vários fatores, com alguns dos quais há relação
direta, numa seqüência inexorável entre "fator" _ câncer.
Por exemplo, há suficientes evidências para crer que
a maioria, senão todos os carcinomas do
intestino grosso, se desenvolvem de um pólipo, numa
seqüência conhecida como pólipo-câncer. Fatores
genéticos, doenças intestinais inflamatórias, fatores
dietéticos, fatores físicos, idade, entre outros, são os
mais comumente lembrados nos estudos do
aparecimento do câncer do intestino grosso.
A história natural dessa doença e
sua manifestação clínica são bem conhecidas de
maneira que o diagnóstico dificilmente escapa à argúcia
do médico. O exame direto, por qualquer meio, mostra
a acessibilidade da lesão ou do seu precursor,
em qualquer ponto que ela se encontre no intestino
grosso. Assim, o retardo no diagnóstico só ocorre por
má informação ou displicência do paciente ou
por negligência do médico.
O modo clínico mais comum de
apresentação, na dependência da localização do tumor, de certa
forma avançado, é a alteração do hábito intestinal
(75%), seguido da obstrução (18%) ou da perfuração (7%).
Embora o câncer do intestino grosso seja
a causa mais freqüente de obstrução no paciente
idoso, não significa que, quando consideramos todas
as idades, haja, por essa razão, uma preferência
de fenômenos obstrutivos nos mais velhos.
Em nossa casuística, trinta e três por cento
dos pacientes com obstrução cólica por câncer tinham
idade inferior a 50 anos (média de 32 anos). No grupo
de pacientes jovens, 80% deles tinham idade entre 24
e 35 anos _ 60% com idade igual ou menor que 29
anos13.
O tratamento eletivo do câncer do
intestino grosso é cirúrgico, não exclusivamente, podendo
estar associado às terapêuticas adjuvantes como
a radioterapia, a quimioterapia ou com a associação
de ambas, em vários modos de serem combinados
e aplicados.
Câncer obstrutivo do intestino grosso
Em determinadas circunstâncias que
correspondem a 25% de todos os casos, o paciente com
câncer do intestino grosso recebe um tratamento não
planejado, em caráter de urgência ou emergência, seja por
causa de obstrução (18% dos casos) seja por causa
de perfuração e peritonite (7% dos casos).
Nessas situações, dentre outras complicações,
a morte pode ter incidência de 20% ou mais,
aumentando quando a operação é paliativa, podendo atingir valor
tão alto quanto 70% na dependência da idade e do
estado geral de desnutrição do paciente, em geral
seriamente comprometido por causa da eventual
disseminação abdominal do
câncer14,15 e, também, porque a
solução tem um tratamento em caráter de
emergência16-18.
Segundo Scott e col.19, o que mais
sobressai desses casos, além da faixa etária dos pacientes, é
o fato deles serem mais doentes que os admitidos
para tratamento eletivo, razão porque os
esforços empreendidos para diminuir a morbi-mortalidade,
nesse grupo, são
infrutíferos19.
Quando o estudo foi dirigido
especificamente para uma determinada idade, por exemplo,
para pacientes acima de 75 anos, o que se observou foi
que quase 50% das intervenções foram feitas em caráter
de emergência com mortalidade de
32,7%20.
Por outro lado, não é incomum que
os atendimentos de emergências fiquem a cargo
de médicos plantonistas _ clínicos e cirurgiões gerais
_ nem sempre experientes e afeitos aos problemas especiais representados pelas obstruções malignas
do intestino grosso.
Diagnóstico
Via de regra, o diagnóstico de
obstrução intestinal _ aguda ou subaguda- é fácil. Os sinais
e sintomas _ pouca alteração da sensibilidade
abdominal, distensão, dor em cólica, parada da eliminação de
gases e fezes, possivelmente acompanhados de
vômitos; timpanismo, ruídos hiper-ativos com timbres
metálicos - são conhecidos e permitem, inclusive, deduzindo
pelo raciocínio, determinar o local da obstrução. Além
disso, contando apenas com dados da história clínica e
do exame físico, é bem provável que o médico
possa concluir que a obstrução seja devida ao câncer
do intestino grosso.
Métodos complementares de diagnóstico
O diagnóstico pode ser auxiliado por
alguns métodos complementares, dentre os quais
são destacados os seguintes:
1. Exame proctológico
O exame proctológico deve estar incluído
todas as vezes que se investiga a causa de abdômen
agudo, mormente quando se trata da obstrução. O exame
digital pode permitir a sensação de um reto com
compressão abaulada e eventualmente poder-se-á tocar
diretamente a lesão ou a sua impressão extra-retal, seja como
massa que trás para baixo a alça sigmóidea, seja
como implantes no fundo de saco retro vesical.
O exame proctossigmoidoscópico
poderá permitir a visão da área de estrangulamento ou
mesmo a própria lesão, se for o caso.
2. Exame radiológico simples do abdômen
Com o objetivo de apurar o diagnóstico
clínico, o exame radiológico simples do abdômen é
valoroso porque ele permite descobrir o local mais exato do
tumor. A interpretação da imagem radiológica do
"colograma" aéreo, cuja sombra se torna alargada próxima
ao crescimento tumoral é importante nesses casos. A
tomada em posição ortostática, por sua vez, pode revelar
níveis de interface hidro-aérea, que, de tão raro no
intestino grosso normal, são considerados como
patognomônicos nas situações de obstrução intestinal. O "desenho"
da coluna aérea e sua extensão distal apontam o local
da lesão. O intestino delgado pode ou não estar
participando desse evento na dependência da maior ou
menor competência da válvula
íleo-cecal21 ou nos casos em que o crescimento tumoral oclui a válvula ileal.
3. Exame radiológico contrastado
(enema opaco)
Essa investigação pode complementar
a anterior e é de grande utilidade quando a lesão é
do cólon esquerdo mais distal, localizando-se no
sigmóide. Temendo que a causa da obstrução possa
estar acompanhada pôr perfuração, recomenda-se que
o contraste não seja o bário, mas sim os
compostos iodados solúveis em
água22.
4. Tomografia computadorizada
O exame tomográfico tem sido útil
para diferenciar as obstruções benignas das malignas,
nas situações em que o fenômeno obstrutivo surge no
pós-operatório tardio de um procedimento cirúrgico
levado a efeito para o tratamento do câncer, mas o exame
fica limitado quando não há massas
intra-abdominais23.
Quando se trata especificamente de
lesões cólicas, o exame é útil inclusive para determinar
a extensão do tumor e a diferenciação deste com
lesões decorrentes da colite
isquêmica24, para identificar extensões regionais da lesão
maligna25 e para diferenciar o carcinoma dos espessamentos
inflamatórios26.
Quando se compara a tomografia com o exame radiológico simples ou a ultra-sonografia abdominal,
todos dispensáveis para o diagnóstico de obstrução intestinal,
a tomografia é de maior exatidão especialmente
na determinação do local da
obstrução27.Se esses
exames forem possíveis de serem obtidos, enquanto se procede
a reanimação do paciente para a intervenção cirúrgica
de emergência, serão, sem dúvida, de valor.
O interesse em ampliar a investigação com
esse tipo de documentação decorre da necessidade de
saber a causa da obstrução para o melhor planejamento
da terapêutica, pois quando a emergência é definida
pela presença do câncer do intestino grosso, o caso passa
a merecer considerações especiais, dadas as
dificuldades e os perigos inerentes.
Tratamento
Não há estudos bem planejados que
permitam conclusões idôneas a respeito da melhor forma
de tratamento do câncer obstrutivo do intestino
grosso. Na maioria das vezes, o procedimento é empírico
com variações que seguem a experiência de cada
cirurgião, em particular, razão das diferentes práticas e
dos resultados obtidos28,29.
O mais racional, na oportunidade em que o diagnóstico é firmado durante o ato operatório, é
optar pela resolução da obstrução, problema que motivou
a intervenção. Portanto, frente ao achado,
qualquer mudança de plano que envolva uma operação de
maior vulto, poderá ser intempestiva e, talvez, mal vinda.
Nem sempre a idade e as condições físicas do paciente,
na vigência da obstrução intestinal, são favoráveis.
Além disso, há consideráveis alterações locais a começar
pelo excessivo conteúdo fecal retido no interior dos
cólons, a distensão, o edema de parede, a má
circulação, ocasionando pequenos distúrbios isquêmicos
regionais e aumentando a translocação
bacteriana30; a friabilidade da alça e a doença, em si, que são fatores
desfavoráveis para uma intervenção segura que envolva
ressecções amplas e anastomoses intestinais. Por outro lado,
de considerável importância são as circunstâncias em
que, de modo geral, essas intervenções são feitas. Não é
raro que a operação comece no final do dia ou no início
do dia seguinte e se prolongue pela madrugada, então,
com todas as dificuldades inerentes.
Ainda, não menos relevante é que, quando
mencionamos esse tipo de problema num congresso de especialistas, costumamos nos esquecer que os que
nos ouvem não representam, em número, nada em
relação aos que realmente se envolvem com aquele tipo
de paciente. Ou, por outra, muito poucos dos que
estão participando serão aquele médico do
pronto-socorro que atenderá "o caso" da obstrução intestinal.
Procedimentos operatórios
a. Colostomia
A escolha do procedimento, item que
parece simples, está envolta em controvérsias.
Gordon31, citando Amsterdam e
col32 e White e col.33,
assinala que, na vigência do fenômeno obstrutivo causado
pelo câncer do intestino grosso, o tratamento
recomendável dependerá do local da lesão, bem como da crença
e experiência do cirurgião responsável, mas se a
condição de saúde do paciente puder ser estabilizada e se
houver evidências para possível resolução do
processo obstrutivo, o preparo do cólon para uma
intervenção eletiva seria o ideal.
Nesses comentários estariam os
pontos controversos citados, pois há, atualmente,
tendências para abordagens cirúrgicas mais agressivas sobre
as quais recaem as críticas que são, quase
sempre, decorrentes dos maus resultados obtidos.
O que tem sido aceito, em termos de
operação definitiva no tratamento do câncer obstrutivo
do intestino grosso, são as colectomias à direita,
estendidas até o cólon transverso, com anastomoses
íleo-cólicas primárias sem as costumeiras preocupações
que envolvem o tratamento do mesmo problema,
quando afeito ao cólon
esquerdo34. A aceitação e
recomendação desse procedimento vêm subsidiadas pela antiga
crença de que as anastomoses colo-cólicas em segmentos
do cólon esquerdo seriam menos seguras por ação
deletéria de "outros fatores", além dos conhecidos, presentes
e prejudiciais para a cicatrização de uma anastomose
em qualquer segmento do tubo digestivo. Dentre
esses "outros fatores", poderíamos destacar o conteúdo
fecal sólido do cólon esquerdo cujas características
são diferentes daquelas encontradas no conteúdo do
íleo terminal, o edema e a estase vascular no
segmento proximal à obstrução, ocasionando o fenômeno
da hipoxemia de estagnação.
Embora haja indicações de que as fezes
sólidas no interior do cólon, com trânsito preservado,
não interferem com o fenômeno biológico da
cicatrização, já que os resultados de estudos que têm
como referências os "índices de deiscência da
anastomose" e os de "infecção da ferida operatória", quando
o intestino não recebeu o preparo mecânico, são
melhores ou iguais aos obtidos entre os que são
preparados mecanicamente35-45, deve ser considerado que,
na vigência da obstrução, além da presença física de
um bolo fecal retido a montante, há as
alterações morfológicas e as de perfusão sangüínea da
parede intestinal decorrentes da distensão, da
excessiva atividade motora exercida para vencer a obstrução
e dos eventuais distúrbios hidro-eletrolíticos que
podem se associar aos fenômenos obstrutivos dos
intestinos, todos considerados como fatores capazes
de contribuírem para o insucesso.
Por outro lado, há estudos que insistem
em demonstrar que, salvo na presença da
instabilidade hemodinâmica ou das condições desfavoráveis
do intestino (hipoxia ou isquemia), o tratamento
cirúrgico do câncer do cólon esquerdo deve seguir as
mesmas orientações dadas para o tratamento do câncer do
cólon direito, já que a ressecção e a anastomose primária
do tumor do lado esquerdo não são mais arriscadas do
que o mesmo tipo de procedimento feito no tratamento
da obstrução do cólon
direito46.
Quando estamos considerando todas as salvaguardas possíveis para nossos pacientes, sejam
elas decorrentes do bom estado de saúde ou da
estabilidade hemodinâmica associada às condições favoráveis
do intestino, contra as situações "desfavoráveis",
estamos nos aproximando do que poderíamos chamar
de momento ideal para o desenvolvimento do
processo terapêutico, o que, para mim, significa usar de todos
os recursos para transformar uma situação de
emergência numa de caráter eletivo. Contudo, isso nem sempre
é possível, razão porque, certamente, enfrentaremos
um pós-operatório cuja turbulência será representada
por complicações, incluindo a morte do paciente,
que normalmente não fazem parte dos nossos
resultados quando se trata de uma operação eletiva, objetivando
a cura da mesma doença.
Por essas razões, no dizer de
Goligher47, tornou-se tradicional ensinar que o objetivo principal
dos cirurgiões deveria ser o de aliviar a obstrução, isto
é, tratar a complicação, deixando a terapêutica da
causa reservada para uma abordagem posterior. Dessa
forma, estaríamos diante de um procedimento que teria 3 ou
2 fases sucessivas de desenvolvimento, até a
resolução definitiva do problema.
Exceto para situações muito especiais, o
tipo de procedimento em 3 estágios foi abandonado,
há muito tempo. Aliás, até que isso ocorresse, o
terceiro procedimento que era o fechamento da
colostomia persistiu por causa do cuidado ou até pelo
excessivo zelo dos cirurgiões da década de 50. Isto é, não
era aceito que durante a segunda fase do
tratamento, destinada a ressecção do tumor, o ato fosse
aproveitado para incluir o fechamento da colostomia. Haveria
uma sutura na primeira metade do cólon transverso,
antigo local da colostomia, e uma anastomose em
qualquer local do segmento esquerdo do intestino grosso,
devida à reconstrução, após a retirada do segmento com
o tumor. Deveria haver motivos para isso, mas nós
não vamos comentar a questão.
Eliminar essa terceira fase foi motivo de preocupação e por isso recomendou-se que a
colostomia fosse construída o mais próximo possível da causa
da obstrução o que facilitaria sua excisão por ocasião
do tratamento do tumor. As propriedades desse tipo
de procedimento já foram discutidas
antes47.
Vindo de uma Escola em que a prudência
é uma das marcas características no ensinamento
do cirurgião, somos de opinião que, em
determinadas circunstâncias, a colostomia é procedimento muito
bem vindo para o médico e principalmente para o paciente.
O procedimento é simples, rápido e efetivo para
o propósito a que se destina, em caráter de urgência
e nem sempre exige a experiência de um
proctologista48.
Em geral, no caso em questão, a colostomia
fica destinada para os pacientes mais gravemente comprometidos, não raramente com
moléstias sistêmicas associadas ao câncer e que agravam
seu estado de saúde, aumentado o risco de morte
e morbidade.
A mortalidade operatória, variável, pode ser
de 26% mesmo quando a opção é apenas a
derivação49. Em estudo retrospectivo da literatura, reunindo
dados de nove diferentes autores, publicados entre 1983
e 1992, num total de 474 pacientes incluídos, está
relatado que a mortalidade resultante da primeira
operação variou de 0 a 26% (média de 12,4%); na segunda
foi de 0 a 13% (média de 6,5%) com índice global
variando de 3 a 30%, média de
17%50. Quando o primeiro procedimento envolveu, também, a exérese do
tumor (operação de Hartmann) a morte, por ocasião
da primeira operação, variou de 2 a 18% (média de
8,6%), na segunda, foi de 6%, com índices globais
variando de 6 a 18% (média de 11,2%). Esses dados
refletem, certamente, a gravidade da situação e não o tipo
de "cirurgia" escolhida.
A tendência para a escolha de um
procedimento rápido e fácil envolve a idade avançada, o mau
estado de saúde do paciente, a existência de importantes
fatores de co-morbidades e a extensão do
câncer13 .
Ao estudar retrospectivamente 48 pacientes com câncer obstrutivo, verificamos que o
tratamento em dois estágios operatórios foi iniciado em
28 pacientes (58,3%), com idades de 26 a 81 anos
(média de 55,6 anos)13.
O primeiro estágio foi feito ou para o alívio
da obstrução com ou sem a retirada do tumor e o 2º.
estágio foi feito ou para a retirada do tumor ou para
a reconstrução do transito intestinal. (Tabela 1)
Tabela 1 - Tratamento cirúrgico, em dois estágios,
de 28 pacientes com câncer obstrutivo. Dados demográficos, local da lesão e
resultados.
Pacientes Sexo/Faixa etária/média |
Local de lesão |
Operações |
Complicações |
Da |
Ts |
|||||
CT | CE | S | R | OP1 | OP2 | COMP1 | COMP2 | |||
M2:F7 26-50;30a | 0 | 4 | 3 | 2 | Colos(3) | Ce(1) | Absc(2) | Dan (1) | 0 | 5m-10a |
Ctil (2) | CeA(2) | Abs (1) | ||||||||
Hart (4) | IRL (3) | Obst (1) | 3 vivos | |||||||
9 Pacientes | RA(2) | (33,3%) | ||||||||
Não (1) | 3,7 e | |||||||||
10 anos | ||||||||||
Sub-total -9 | 0 | 4 | 3 | 2 | 9 | 8 | 2 | 3 | 0 | |
M13:F6 54-81;68a | 1 | 1 | 7 | 10 | Colos | Ce(1) | Avc (1) | Carc (5) | 4m-5a | |
Hart (6) | CeA(2) | Absc (2) | Perit (4) | |||||||
Lx (1) | RA (3) | Fist (1) | Dpoc(1) | |||||||
Miles (1) | Pneu (1) | ICC (1) | 2 vivos | |||||||
Não | Perit (2) | Mehe(3) | (10,5%) | |||||||
IRA (1) | Cainv (2) | 4 e 5 | ||||||||
Sepse (1) | Cois (1) | anos | ||||||||
óbito (4) | ||||||||||
8 | 2 | 15 | ||||||||
pacientes | pacientes | pacientes | ||||||||
Sub-total | 1 | 1 | 7 | 10 | 19 | 7 | 15 comp | 3 | 17 comp | |
28 pacientes | ||||||||||
Total | 1 | 5 | 10 | 12 | 28 | 16 | 18 | 2 | 17 | |
CT = cólon transverso; CE= cólon esquerdo; S= sigmóide; R= reto; OP1 = 1ª. Operação; OP2 = 2ª. Operação; COMP1= complicação na 1ª. Op.; COMP2 = complicação na 2ª. Op.; Colos= colostomia; Ctil = colectomia total com ileostomia; Hart= Hartmann; Lx= laparotomia exploradora; AVC= acidente vascular cerebral; Carc= carcinomatose; Cois= colite isquêmica; Pneu= pneumonia; IRA= insuficiência renal aguda; Perit = peritonite; Cainv = câncer invasivo |
Nesse sub-grupo de pacientes, os mais
jovens (idade menor que 50 anos; média de 30 anos) eram
8 pessoas (28,6%) - 6 com idade inferior a 30 anos;
um com trinta e outro com 34 anos. Entre eles houve
2 abscessos intra-peritoneais como complicações no
pós-operatório da primeira operação. Todos, menos um
de 27 anos com carcinomatose peritoneal, receberam
o tratamento definitivo com duas (12,5%)
complicações no pós-operatório imediato da 2ª. operação
(uma deiscência de anastomose e uma obstrução
intestinal, ambas tratadas clinicamente). O paciente que
teve deiscência da anastomose morreu 8 anos depois,
aos 34 anos de idade. O outro, tinha metástase
hepática, morreu um ano depois. São três (37,5%)
sobreviventes (10, 7 e 3 anos após a operação); os outros 5
(62,5%) morreram por causa do câncer, entre 6
meses (carcinomatose peritoneal) e dois anos depois
de operados (metástase hepática).
Os mais idosos eram 20 pacientes (71,4%)
com idade de 50 a 81 anos (média de 66,7 anos).
Quinze pacientes (79%) tinham 17 problemas
associados, considerados agravantes, tais como:
carcinomatose peritoneal (5), metástase hepática (3),
insuficiência cardíaca congestiva (1), sinais clínicos de
peritonite (4), câncer invasivo (2), doença pulmonar
obstrutiva crônica (1) e colite isquêmica (1). Entre esses
pacientes mais idosos, houve 4 óbitos (20,%) no
pós-operatório imediato da primeira operação. Todos eles
associados aos estados críticos de saúde dos pacientes _
dois tinham peritonite, diagnosticada no
pré-operatório; outro aspirou e evolui com pneumonia grave e o
último evoluiu com sepse devida à colite isquêmica
associada ao fenômeno obstrutivo. Desse subgrupo, 11(55%)
não concluíram o tratamento e entre eles estão incluídos
os 4 óbitos. Os 7 restantes, com idade de 60 a 81 anos
_ média de 70 anos _ não foram submetidos ao
segundo ato operatório porque 4 morreram nos primeiros
6 meses após o tratamento cirúrgico inicial (um tinha
82 anos; outro, aos 60 anos, morreu de pneumonia, 4
meses depois da operação; o terceiro e o quarto
tinham carcinomatose peritoneal e morreram 5 meses após
a "cirurgia"). Dentre os outros três que sobreviveram
até 2 anos, um não foi operado porque sofreu
acidente vascular cerebral e morreu dois anos depois, com 69
anos de idade; o segundo morreu aos 75 anos e o terceiro
aos 78 anos, ambos por causas não relacionadas ao tumor.
Então, dos 20 idosos, apenas 9 pacientes
(45%) com idade de 50 a 78 anos (média de 62,7 anos)
foram para o segundo estágio do tratamento que constou
de uma colectomia esquerda, duas colectomias
esquerdas ampliadas, cinco retossigmoidectomias anteriores
e uma amputação abdômino-perineal à Miles.
Dentre esses pacientes, três tinham câncer avançado (dois
com implantes peritoniais e um com metástase
hepática).Os dois com implantes peritoniais viveram 6 meses após
a segunda operação e o paciente que tinha
mestástase hepática, viveu 5 anos. Os restantes, um foi
seguido até 15 anos depois, quando completou 65 anos;
outro até 5 anos, com 68 anos e o terceiro, com 61 anos,
está sendo acompanhado há 5 anos. Esses três
foram considerados como "curados".
Desses dados, que tivemos a oportunidade
de vivenciar, e de outros já citados, o que
podemos depreender é que os fatores que determinam o
sucesso no tratamento independem da modalidade da
abordagem que, em geral, é determinada pela experiência de
quem opera, pela idade e estado geral de saúde do
paciente. No grupo que estudamos a operação estagiada
foi reservada para os mais doentes que nem sempre
foram os mais velhos, como veremos adiante.
Os pacientes jovens receberão e suportarão
um tratamento mais agressivo, o que não ocorrerá com
os idosos, exceto se eles forem excepcionalmente fortes.
b. Cecostomia
A cecostomia foi difundida como um
método derivativo, no arsenal dos procedimentos, para
auxiliar no tratamento do câncer obstrutivo do intestino
grosso. Não cumpre a função de maneira adequada e, em
geral, associa-se a elevados índices de complicações,
razão porque ficou como uma última
alternativa47 e, depois, foi abandonada.
c. Operação de Hartmann
Essa técnica é feita com a extirpação do
tumor na primeira etapa, deixando a continuidade
intestinal para ser estabelecida num segundo ato operatório.
O procedimento é mais complexo e demorado do que
a simples derivação e exige a habilidade de
um coloproctologista. Trata-se de um procedimento preferido por um grande número de cirurgiões.
A mortalidade na primeira intervenção é
variável, podendo estar ao redor de 10 %, em algumas séries
ou ser de 30%, em outras51-53.
Kronborg54 comparou a colostomia,
como procedimento de emergência nos casos de
obstrução, com a ressecção imediata. A mortalidade de 14%
foi semelhante nos dois grupos, mas a morbidade foi
menor entre os que foram tratados apenas com a
colostomia. Por outro lado, o número de pacientes que
sobreviveram sem colostomia permanente (91,4%),
foi significativamente maior entre os que, no
primeiro estágio do tratamento, foram apenas derivados do
que os que foram submetidos a ressecção (72%).
d. Colectomias imediatas
Atentos aos aspectos históricos que
evoluíram da colostomia, como solução temporária,
para abordagens mais agressivas, observamos que
diferentes tentativas foram feitas não só para diminuir
etapas, como também para eliminar complicações e
oferecer maior conforto e economia para o paciente, para
a instituição e para a comunidade.
Os índices de morte e morbidade
decorrentes do tratamento do câncer obstrutivo e os fatores
sociais a eles atrelados, sem dúvida, pressionaram
para alternativas como, por exemplo, a de estender
a ressecção. Contudo, o que tem se tornado evidente
é que as complicações permanecem as mesmas com
os mesmos potenciais de gravidade, havendo
sugestões de que menor índice de insucesso poderia ser
obtido quando, por medidas clínicas, a operação pôde
ser retardada, não só para favorecer um menor número
de intervenções como para diminuir a
mortalidade55, numa evidência de que o desfavorável não foi o
procedimento escolhido, mas o paciente no qual ele foi executado.
Os resultados das colectomias imediatas
são bons, para casos selecionados.
No grupo de 48 pacientes, que mencionamos
acima13, operados em caráter de urgência por causa
de obstrução neoplásica do intestino grosso,
os procedimentos definitivos, num único ato, foram
feitos em 20 deles (41,6%) (Tabela 2).
Tabela 2 - Tratamento cirúrgico de 20 pacientes com câncer obstrutivo do intestino grosso em um
único procedimento operatório. Dados demográficos, local da lesão e resultados.
Paciente | Local das lesões |
Da |
Operações |
COMP |
Tseg |
||||
Sexo/faixa etária/média | CA | CT | CE | S | R | (n) | (n) | ||
M2:F4 (24-46; 33 a) | 0 | 2 | 1 | 3 | 0 | Carc (1) | CDA (1) | 4m a 14a | |
Média 3a | |||||||||
CeA (2) | 1 obito | ||||||||
CTR N(1) | com 1 ano | ||||||||
6 pacientes | RA (2) | ||||||||
Sub-total | 0 | 2 | 1 | 3 | 0 | 1 | 6 | ||
M8:F6 (53-86; 68 a) | 4 | 1 | 2 | 5 | 2 | ICC (3) | CD (4) | Absc | 2m a 3a |
HAS (1) | Ce (1) | Inf ferida | 3 óbitos | ||||||
14 pacientes | ABSC (1) | CST (2) | em 3 anos | ||||||
HP (1) | CTR (1) | ||||||||
Metahe (1) | RA (6) | 2 pacientes | |||||||
(6 pacientes) | |||||||||
Sub-total | 4 | 1 | 2 | 5 | 2 | 7 | 14 | ||
Total | 4 | 3 | 3 | 8 | 2 | 8 | 20 | 2 | |
ICC= insuficiência cardíaca congestiva; HP= hipertensão pulmonar; HAS= hipertensão arterial sistêmica; Metahe= metastase hepática; CD=colectomia direita; CDA= CD ampliada; Ce=colectomia esquerda; CeA=colectomia esquerda ampliada RA=retossigmoidectomia; CST=colectomia subtotal; Ctr=colectomia transverso; Carc=carcinomatose; CE=colon esquerdo; CA= colon ascendente;CT= cólon transverso S= sigmóide; R= reto. |
Nesse sub-grupo, seis pacientes (30%)
tinham idade inferior a 47 anos, variando de 24 a 46 anos,
com média de 33,4 anos. Entre os outros de maior
idade (média de 68 anos), havia uma variação de 53 a 86
anos.
Não houve morte operatória nesse
sub-grupo, nem entre os jovens, nem entre os idosos. Um
paciente morreu, em casa, no final do primeiro mês após
a operação, de causa desconhecida. Outro, que
tinha carcinomatose peritoneal constatada por ocasião
do tratamento da obstrução, morreu 6 meses depois.
Entre os pacientes mais jovens, exceto em
um com carcinomatose, não havia doenças associadas,
mas entre os mais idosos, 6 pacientes (30%) tinham
7 problemas concomitantes. Um tinha um abscesso localizado por causa de perfuração do tumor do
cólon ascendente; outros três, grau leve de
insuficiência cardíaca congestiva; um com hipertensão
arterial sistêmica, em outro, hipertensão pulmonar e em
outro, metástase hepática.
Os procedimentos executados foram 5 colectomias à direita (uma associada à
colecistectomia por causa de aderência da lesão ao fundo da
vesícula); 3 colectomias à esquerda, 2 colectomias subtotais,
duas colectomias segmentares no cólon transverso, 7
retossigmoidectomias anteriores e uma sigmoidectomia.
Os cólons de quatro pacientes foram
mecanicamente preparados, por meio do uso do tubo de
Muir56, no intra-operatório; nos demais, a operação foi feita sem
o preparo mecânico. Houve duas complicações
(10%) cirúrgicas _ uma infecção de parede e um
abscesso intra-abdominal.
O tempo de seguimento variou de 0,1 até
14 anos (média de 3 anos) com 4 óbitos precoces, a
partir da data do tratamento, três dos quais por causa
do câncer. Entre os outros, um paciente de 86 anos
morreu dois anos depois, aos 88 anos de idade. Um de 69
anos, tinha hipertensão pulmonar e ICC, morreu 3
anos depois, aos 72 anos. Uma paciente de 82 anos,
com ICC, viveu um ano após a operação; outra morreu
14 anos depois de operada, outro 6 anos depois, aos
62 anos; outro 2 anos depois, aos 72 anos; outro 1
ano depois, aos 75 anos. Os outros 9 pacientes estão
sendo acompanhados por tempo que varia de 7 meses a 2 anos.
A colectomia segmentar tem sido
recomendada sem o preparo57,58, apenas com descompressão
intra-operatória do cólon, a exemplo do que
apresentou Naraynsingh58 que, ao estudar 58
pacientes consecutivos envolvidos em tratamento cirúrgico
por causa de obstrução, observou apenas uma
deiscência com abscesso pélvico, tratada cirurgicamente
com colostomia e drenagem, e nenhuma morte
relacionada ao ato operatório.
e. Colectomia subtotal
A colectomia subtotal foi solução
preconizada para excluir etapas e promover, de forma definitiva,
o tratamento do câncer obstrutivo com as
seguintes vantagens:
a. ausência do "estoma" e de todos os
problemas conseqüentes, inclusive os de ordem psicológica;
b. tratamento feito em um único estágio, numa
única internação e,
c. diminuição do tempo global de
permanência hospitalar que, além de eliminar aspectos mórbidos,
é relevante para o custo global do
tratamento, promovendo grande economia.
Seu uso foi baseado nos resultados obtidos
com o tratamento do câncer obstrutivo do cólon
direito, principalmente os localizados no ceco, ascendente
e primeira porção do cólon transverso já que, mesmo
sem o preparo, essas lesões podiam ser
facilmente manipuladas com resultados satisfatórios.
A extensão do segmento a ser extirpado
pode ser considerada como uma forma de substituir
a ausência do preparo mecânico ou o desconforto
de executá-lo no
intra-operatório59, mesmo usando dispositivos facilitadores como o tubo de
Muir56 ou qualquer outra forma de limpeza intestinal no
transcurso do ato
operatório60-62 ; diminui o risco do
câncer metacrônico e permite a retirada de eventual
tumor sincrônico; no entanto é tecnicamente difícil e
sacrifica um longo segmento de cólon com acréscimos
dos distúrbios funcionais
conseqüentes50. Nesse procedimento a mortalidade varia de 3 a 18%
com morbidade de até 21%63-69.
f. Colectomias após lavagem intra-operatória
do cólon
A limpeza intra-operatória do intestino
grosso, por qualquer meio, prolonga o ato cirúrgico até por
uma hora, pois, para ser bem feita, obriga a mobilização
dos ângulos hepático e esplênico do cólon. Esses
passos operatórios não são livres de riscos, mormente por
causa da distensão dos segmentos a montante da obstrução
e, por isso, exige-se que o cirurgião tenha experiência
em operações colorretais. A mortalidade pode variar de
3 até 17%70-73, a deiscência de anastomose de 5 a
10%74,75 e infecção da ferida operatória de 3 a
30%71,75,76.
Esse procedimento tem sido considerado seguro
por alguns autores que destacam a melhor qualidade de
vida oferecida ao paciente, sua baixa morbidade e mortalidade para recomendar o método como o
de escolha no tratamento do câncer obstrutivo do
intestino grosso77, mas tem sido contestado por
outros57,58.
Conclusão
Não há como comparar os diferentes
métodos descritos para o tratamento cirúrgico do
câncer obstrutivo do intestino grosso.
Kronborg54 comparou a colostomia com a ressecção imediata em casos
de obstrução em que não havia metástases. O
estudo envolveu 128 pacientes, 58 dos quais foram inicialmente tratados com colostomia e 56
com ressecção do tumor, sem reconstrução imediata
do trânsito intestinal. Foi observado que o
tempo operatório foi menor, houve menos
transfusão sanguínea e menos infecção no primeiro grupo.
A proporção de pacientes que concluíram o
tratamento (2º. estágio) foi maior no primeiro grupo (91,4%
vs 72%). O autor salienta, em suas conclusões, que
a colostomia primária deve ser tomada como
controle quando se pretende fazer avaliações prospectivas
em que a ressecção e a anastomoses são simultâneas.
Outro estudo - multicêntrico, prospectivo
e casualizado - foi feito para comparar a colectomia
total com a colectomia segmentar, precedida pela
limpeza mecânica intra-operatória dos
cólons72. Foram envolvidos 47 pacientes submetidos a
colectomia subtotal versus 44 que foram tratados com
colectomia segmentar após a limpeza intra-operatória dos cólons.
As taxas de mortalidade e
complicações operatórias não foram diferentes. Contudo o
resultado funcional da colectomia segmentar foi
considerado fator decisivo para a escolha do método,
salientando-se que a colectomia subtotal deveria ser
indicada somente nas situações em que fosse impossível
preparar o cólon no momento da operação.
A observação final é que vários são
os elementos que interferem na decisão da escolha
do método com destaque para o estado geral de saúde
do paciente, o prognóstico em relação ao câncer e
a habilidade do cirurgião na manipulação desse tipo
de complicação.
Há complicações associadas,
potencialmente letais, que devem definir o comportamento do
cirurgião, uma das razões porque a colostomia,
procedimento rápido e pouco traumatizante, deve fazer parte
dos preparativos que visam a reanimação do doente
para uma abordagem futura mais agressiva. Ela, de preferência, deve ser a arma na mão do cirurgião
menos afeito aos problemas das operações
coloproctológicas, porque pode ser feita em pacientes de todas as
faixas etárias, é menos cansativa e menos trabalhosa do
que quaisquer outros tipos de intervenções mais
complexas e demoradas, que envolvem amplas dissecções
e ressecções, por si só encerrando um enorme
risco vital67.
A colostomia primária deve permanecer em
um lugar de destaque no tratamento do câncer
obstrutivo do intestino grosso.
A operação de Hartmann não é fácil de
ser executada, principalmente quando proposta em
situação de emergência, deixa a desejar do ponto de
vista oncológico e é acompanhada de altos índices de
morbi-mortalidade.
Os outros dois tipos de intervenção,
a colectomia segmentar com ou sem lavagem intra-operatória e a colectomia total ou subtotal têm
morbidade e mortalidade semelhantes, mas não devem ser
destinadas para qualquer paciente. A seleção dos pacientes
para esses tipos de intervenções deve ser feita com critério
e fatores, tais como, o estado geral de saúde, idade,
grau do desenvolvimento do câncer e a habilidade do
cirurgião devem ser levados em consideração no momento
da indicação. A colectomia segmentar com ou sem
a lavagem intra-operatória, do ponto de vista do
resultado final tem vantagens sobre a colectomia subtotal ou total.
Summary: Malignant associated bowel obstruction remains a common and perplexing problem for patients with
advanced colorectal tumors and a surgical challenge because it has been associated with a high mortality and morbidity rate mainly in
the elderly. In spite of that, emergency surgery for colorectal cancer has become more aggressive and radical over past decade.
However, the operation of choice for acutely obstructed left-sided carcinoma is controversial. Colostomy, Hartmann procedure,
one-stage total/subtotal colectomy without diversion, segmental resection and primary anastomosis following intraoperative colonic
irrigation, and resection with primary anastomosis without mechanical bowel preparation were the most common alternative
emergency procedures involving always poor-risk patients.
"The role of surgery in malignance obstruction needs careful evaluation, using validated outcome measures of
included cases and results. There is still a wide range of postoperative morbidity and mortality, although again the definition of both
these surgical outcomes varied between many of papers. Currently, bowel obstruction is managed empirically, and there are
marked variations in clinical practice by different units. There needs to be a greater standardization of management so that
comparisons between different series can be
made"28.
Key words: colo-rectal cancer, large bowel obstruction, surgical management
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