ARTIGOS ORIGINAIS
Maria de Lourdes Pessole Biondo-Simões-FSBCP
Fernando Hintz Greca-TSBCP
Sérgio Ossamu Ioshii
Eduardo Wei Kin Chin
Letícia Yurie Kimura
RESUMO: A anastomose íleo-retal é uma das opções cirúrgicas para o tratamento das doenças inflamatórias intestinais. O objetivo deste estudo é acompanhar a evolução das anastomoses íleo-cólicas realizadas em situação de doença inflamatória residual em nível experimental. Utilizaram-se 60 ratos machos, divididos em 2 lotes de 30 animais, que compuseram os grupos C (controle) e E (experimento). Os ratos do grupo E tiveram a doença inflamatória do cólon induzida com ácido acético a 10% através de enemas retais, enquanto que os animais do grupo C tiveram o cólon lavado com solução salina isotônica a 0,9% pelo mesmo método. No 5.º dia após a indução da doença inflamatória, todos os animais foram submetidos à colectomia subtotal, seguida de anastomose íleo-cólica, tomando-se o cuidado de deixar doença residual no grupo E. Realizaram-se aferições no 3.º, 7.º e 14.º dia do pós-operatório. Anotaram-se as alterações da cavidade, a presença de aderências e ressecou-se a porção que continha a anastomose. Após a medida da pressão de ruptura, encaminhou-se a peça para estudo histopatológico investigando-se a reação inflamatória e a fibroplasia. Observou-se peritonite difusa somente nos animais que morreram antes do dia da aferição. O percentual de mortalidade no grupo C foi de 6,67% e no grupo E de 30%, sendo que a proporção de mortalidade E:C foi de 4,48:1 (p= 0,0205). As anastomoses evoluíram de forma semelhante nos 2 grupos quanto às aderências perianastomóticas e comportamento histológico; contudo a capacidade de suportar pressão foi menor no grupo E no 7.º dia. Conclui-se que a grande complicação das anastomoses íleo-cólicas realizadas em situação de doença inflamatória residual é o número de deiscências com óbito.
Unitermos: cicatrização de feridas, cólon, colite ulcerativa
INTRODUÇÃO
Doença inflamatória intestinal
idiopática crônica inclui a colite ulcerativa e a doença de
Crohn. Ambas são doenças crônicas e recorrentes: a
primeira caracteriza-se por inflamação difusa somente da
mucosa do cólon, enquanto a última é caracterizada
por inflamação transmural irregular, envolvendo
qualquer segmento do trato gastrointestinal. A colite
ulcerativa tem incidência anual nos Estados Unidos de 1 a 3
casos por 100 mil habitantes. Já a da doença de Crohn é de
4 a 6 casos por 100 mil habitantes 11.
Atualmente, há numerosas opções
cirúrgicas para o tratamento das doenças inflamatórias
intestinais. A proctocolectomia é o único tratamento que
promove a cura da doença, porém condena o paciente à
ileostomia definitiva. A anastomose íleo-retal é uma alternativa
e vem sendo utilizada para o tratamento de uma série
de doenças, incluindo as doenças inflamatórias do intestino,
como a doença de Crohn e a colite ulcerativa, a
polipose colônica familial, o carcinoma do cólon e a doença
de Hodgkin do cólon 4, 14, 29. Algumas indicações para
este tipo de cirurgia, na colite ulcerativa, incluem o
tratamento medicamentoso refratário, a displasia, a malignidade e
a cronicidade da doença 14, 20. A doença residual no reto
é facilmente acompanhada e permite que o paciente
evacue pela via natural.
A finalidade deste estudo é avaliar a
evolução e as possíveis complicações da anastomose
íleo-cólica associada com doença inflamatória intestinal.
MÉTODOS
Este estudo seguiu as normas de pesquisa
com animais, preconizadas pelo Colégio Brasileiro
de Experimentação Animal, instituição filiada
ao International Council for Laboratory Animal
Science. Utilizaram-se 60 ratos machos
(Rattus norvegicus albinus, Rodentia mammalia) da
linhagem Wistar-TECPAR, com idade variável entre 130 e
135 dias, sendo a média de idade de 132 dias e peso
entre 270 e 345,6 gramas, com média igual a 306,8 gramas.
Dividiu-se aleatoriamente a amostra em 2 grupos
de 30 ratos, constituindo os grupos controle e
experimento, sendo denominados de C e E.
Submetidos à anestesia inalatória com
éter etílico, os ratos do grupo E tiveram a
doença inflamatória do cólon induzida conforme o
método descrito por Mac PHERSON e PFFEIFER
23 e já padronizado entre nós por
MORAES 24, 25 que utilizam o ácido acético a 10% através de enemas retais.
Utilizando-se o mesmo método, os animais
do grupo C tiveram o cólon lavado com solução
salina isotônica a 0,9% ao invés de ácido acético.
Seis horas antes da intervenção
cirúrgica, injetou-se pela veia dorsal do pênis, 20 mg/Kg de
peso de uma solução azul de EVANS na concentração de
25 mg/ml para se poder, durante o ato cirúrgico,
delimitar com exatidão as áreas de doença inflamatória.
No 5.o dia após a indução da doença
inflamatória, sob anestesia inalatória, por incisão mediana, de 4,0
cm, realizou-se a exposição da área cecal, com ligadura
dos ramos da artéria íleo-cólica e da artéria cólica direita
com fio de categute simples 6-0. Passou-se à secção
transversa do íleo terminal, distando aproximadamente 5 mm
da prega íleo-cecal, mobilizando-se o ceco, o
cólon ascendente e o cólon transverso, que no rato não chega
a ser transverso, mas apenas uma reflexão da
porção ascendente para a descendente, por divisão do
mesentério até o ponto onde o cólon e o intestino delgado
cruzam, um com o outro, na raiz do mesentério. Fez-se a
ligadura da artéria cólica média, podendo-se, em
seguida, mobilizar o cólon esquerdo e realizar a ligadura
dos vasos. Procedeu-se à secção do cólon, deixando o
limite distal entre 1 e 1,5 cm da reflexão peritoneal,
tomando-se o cuidado de deixar doença residual nos animais
do grupo experimento. Desta forma, possibilitou-se
uma colectomia parcial, pois se retirou o ceco, o
cólon ascendente, o cólon transverso e parte do
cólon descendente.
Fez-se a reconstrução do trânsito intestinal
com anastomose término-terminal, com um único plano
de sutura, extramucoso, com 8 pontos feitos com
fio monofilamentar de náilon 6-0, fechados, todos, com
4 seminós. As anastomoses eram feitas com agulha
de anastomose vascular, de 1,3 cm e com ajuda de
lupa cirúrgica.
Seguiu-se a laparorrafia em 2 planos de
sutura em chuleio contínuo, o primeiro,
peritônio-músculo-aponevrótico; e o segundo, o da pele, utilizando-se
fio monofilamentar de náilon 4-0.
Realizou-se a eutanásia, com dose
inalatória letal de éter etílico, de dez animais de cada grupo
no 3.º, 7.º e
14.º dia do pós-operatório, de modo que
a aferição de cada grupo forneceu os subgrupos C.3,
C.7, C.14, E.3, E.7 e E.14.
Ressecava-se a parede abdominal ventral e expunha-se a cavidade peritoneal,
possibilitando-se avaliar a existência ou não de líquido difuso ou
septado na cavidade peritoneal, configurando a presença
de peritonite ou abscesso, a existência de aderências e
a integridade das anastomoses.
Observou-se a presença de complicações
da ferida operatória (infecção e deiscência),
obstrução intestinal e complicações da anastomose
(abscesso intra-abdominal, deiscência da anastomose e
estenose da anastomose).
Aderências foram classificadas segundo
os índices 0, 1, 2, 3 e 4, conforme estivessem ausentes
ou presentes, seguindo-se o esquema abaixo:
- grau 0: ausentes;
- grau I: presentes, comprometendo 1/4 da
circunferência anastomótica;
- grau II: presentes, comprometendo 2/4 da
circunferência anastomótica;
- grau III: presentes, comprometendo 3/4 da
circunferência anastomótica e
- grau IV: presentes, comprometendo 4/4 da
circunferência anastomótica
Quando aderências estavam presentes, relacionaram-se os órgãos envolvidos.
Feitas essas observações, retiraram-se 4,0
cm de intestino com a anastomose. Submeteu-se este segmento ao teste manométrico e anotou-se a
pressão de ruptura e o local onde esta ocorreu. Abriu-se
a peça cirúrgica pela borda antimesenterial,
através de incisão longitudinal e inspecionou-se o
aspecto interno da área de anastomose. Avaliou-se
a integridade da mucosa e a intensidade de reepitelização. Foram consideradas
áreas reepitelizadas maiores e menores do que 50%
da extensão da anastomose. Observou-se ainda
a presença de esporão interno, caracterizado
pelo espessamento da parede intestinal ao nível
da anastomose que invade a luz e áreas de necrose.
As peças, distendidas em papel de filtro
e fixadas em formalina a 10%, foram encaminhadas para estudo histopatológico. Os cortes, de
5 micrômetros, corados por
hematoxilina-eosina, permitiram avaliar o processo inflamatório;
os corados pelo tricrômico de Mallory, a ordenação
do colágeno; e os corados pelo Sirius red, a
concentração e a maturidade do colágeno.
O processo inflamatório foi
avaliado levando-se em conta o predomínio dos tipos
celulares em: agudo, crônico e agudo-crônico e
quantificado como ausente ou presente. Nesta última
condição, foi classificado como discreto, moderado ou intenso.
Analisaram-se os cortes histológicos
corados pelo Sirius red por meio de microscópio óptico
da marca Olimpus, em aumento de 200 x,
utilizando-se fonte de luz polarizada. As fibras colágenas
mais espessas e fortemente birrefringentes
apresentam-se coradas de vermelho-alaranjado (colágeno I) e
as fibras mais finas e dispersas, fracamente birrefringentes, apresentam-se coradas de tons
verdes (colágeno III)19. As imagens, captadas por
uma câmera, foram enviadas a um monitor, congeladas
e digitalizadas por uma placa digitalizadora e analisadas através do aplicativo Optimas 6.0
para Windows (Bioscan Incorporated Institute) em computador do tipo Pentium. Calculou-se
a porcentagem da área lida, ocupada por colágeno I
e por colágeno III. Procedeu-se à leitura em 3
campos, na linha da anastomose, que correspondiam
à mucosa, à submucosa e à muscular, obtendo-se
uma média. O somatório destas porcentagens forneceu
a área total ocupada por colágeno.
Trataram-se os resultados obtidos, para comparação das médias da manometria e da
concentração do colágeno, pelo teste t, quando os resultados
eram paramétricos, e pelo teste de Mann-Whitney, quando
não o eram. Para as tabelas 2 x 2 utilizou-se o teste do
Qui-quadrado; e o exato de Fisher, quando estavam
presentes restrições para o uso do primeiro. Fixou-se p = 0,05
ou 5% como nível de rejeição da hipótese de nulidade.
RESULTADOS
No dia do ato operatório, nenhum dos
animais apresentava sinais de peritonite. As mortes ocorreram
após a operação. No grupo controle (C), ocorreram 2
óbitos, no quarto dia do pós-operatório; no grupo
experimento (E), 9 mortes; 6 ocorreram no segundo dia do
pós-operatório e 3 no terceiro do pós-operatório. À
necropsia, todos apresentavam deiscência da anastomose
com peritonite (Figura 1).
Figura 1
- Comparação da mortalidade nos dois grupos.
Observou-se a presença de aderências em
todas as anastomoses, mais intensas no grupo
experimento, porém sem diferenças significantes.
A perda de peso no período compreendido
entre a indução da doença inflamatória e o dia da
colectomia, no grupo experimento, foi de 1,36g a 15,35g, com
média de 8,32g e desvio padrão de 1,03g. O grupo
controle ganhou de zero a 4,05g de peso, com média de
2,03g, com desvio padrão de 4,12g.
Registraram-se pressões de 65 a 100 mmHg
para o grupo C3, e de 70 a 90 mmHg para o grupo E3,
com médias de 75 e 75,7 mmHg, respectivamente.
A pressão de ruptura no
7.º dia variou de 140 a 180 mmHg no grupo controle, e de 115 a 180 mmHg
no grupo experimento, com médias de 161,0 e
134,16, respectivamente.
Já no 14.º dia, a pressão de ruptura variou
entre de 160 a 210 mmHg no grupo C, com média de
177,2 mmHg, e no grupo E entre 160 a 220 mmHg, com
média de 178,1 mmHg.
A Figura 2 mostra a comparação das
médias das pressões nos 2 grupos estudados.
Figura 2 - Média da pressão de ruptura dos cólons dos dois grupos e nos três tempos (3.º dia p=0,8861; 7.º dia p=0,0188*; 14.º dia p=0,9236) |
Embora a média do conteúdo total de colágeno tenha sido maior no grupo controle nos 3 tempos, não o foi de forma significante, o mesmo acontecendo com o colágeno tipo I e III (Tabela 1 e Figura 3).
Tabela 1 _ Média do conteúdo de colágeno em cada grupo no
3.º, 7.º e
14.º dia
MÉDIA | GRUPO | Colágeno tipo I | Colágeno tipo III | Colágeno total |
3.º dia | C | 8,34 | 19,26 | 27,60 |
E | 3,49 | 17,13 | 20,63 | |
7.º dia | C | 8,91 | 20,30 | 29,21 |
E | 5,99 | 17,51 | 23,49 | |
14.º dia | C | 11,80 | 25,51 | 37,31 |
E | 9,36 | 23,97 | 33,33 | |
Teste de Mann-Whitney (U calculado > U crítico) |
Colágeno |
3º dia | 7º dia | 14º dia | |
Total | U calculado | 21 | 20 | 26 |
U crítico | 11 | 12 | 15 | |
Tipo I | U calculado | 17 | 31 | 26 |
U crítico | 11 | 12 | 15 | |
Tipo III | U calculado | 27 | 24 | 32 |
U crítico |
11 |
12 | 15 |
Figura 3 - Média do conteúdo de colágeno nas anastomoses dos dois grupos nos três tempos. |
As concentrações de colágeno total no
3.º, 7.º e
14.º dia não foram estatisticamente diferentes, pois o
U calculado foi sempre maior que o U crítico. Da
mesma maneira, ocorreu com o colágeno tipo I e III nos
3 tempos, sendo o U calculado maior que o U
crítico, não havendo diferença significante entre os grupos.
No 3.º dia, houve predomínio da
reação inflamatória aguda nos 2 grupos, sendo
quantificada de moderada a intensa. Nos 7.º
e 14.º dia, na maioria dos animais dos 2 grupos a reação inflamatória
aguda esteve ausente ou, se presente, era discreta.
A reação inflamatória crônica nos 3 tempos
de avaliação, nos 2 grupos, foi predominantemente
ausente ou discreta.
Em ambos os grupos, no 3.º dia, a fibrose
foi ausente ou discreta. Da mesma forma no
7.º dia no grupo controle. Já no grupo experimento, metade dos
animais ou não apresentaram fibrose; ou, se a
apresentaram, era discreta. Na outra metade, esteve presente
e quantificada de moderada a intensa; no entanto no
14.º dia de aferição, nos 2 grupos, predominou fibrose
de moderada a intensa.
A organização das fibras colágenas no
3.º e 14.º dia, nos 2 grupos, foi predominantemente
desorganizada. Já no 7.º dia, as fibras colágenas
apresentavam-se em organização na maioria dos animais dos
2 grupos (Tabela 2).
Tabela 2 - Valores de p obtidos pelo teste exato de Fisher nos 3 tempos de avaliação histopatológica.
3.º dia | 7.º dia | 14.º dia | |
RIA | 0,6250 | 0,7063 | 0,6077 |
RIC | # | 0,5454 | 0,6000 |
FIBROSE | 0,6250 | 0,0439* | 0,3923 |
OFC | 0,3035 | 0,6571 | 0,2308 |
RIA = reação inflamatória aguda; RIC = reação inflamatória crônica; OFC = ordenação das fibras colágenas; # = os valores são iguais e o cálculo é desnecessário; * = estatisticamente significante |
DISCUSSÃO
Considerando o direcionamento cirúrgico
de um envolvimento total do cólon e do reto por
doença inflamatória intestinal, o cirurgião encontra-se perante
difícil escolha entre uma proctocolectomia total
com ileostomia permanente ou preservação do reto com
íleo-reto anastomose. Esta última alternativa é sempre
mais bem aceita pelos doentes; porém, segundo a literatura,
está associada a significante índice de
morbi-mortalidade, pois a presença de doença
inflamatória intestinal resulta em altas taxas de
deiscência anastomótica com freqüente peritonite e
obstrução intestinal.
AYLETT, em 1966, estudou uma série de
300 pacientes com colite ulcerativa, todos submetidos
à colectomia total, seguida de íleo-reto anastomose, encontrando 12,4% de deiscências parciais, 5%
de deiscências totais e 6% de mortalidade
2.
Em 1968, BAKER relatou 14,9% de
deiscências com 5% de mortalidade em 41 pacientes submetidos
à íleo-reto anastomose por colite ulcerativa
5.
Autores como BURMAN et al, em 1971, relataram 32% de deiscências em 25 pacientes
submetidos à anastomose íleo-retal por doença de Crohn
9.
FAZIO et al realizaram um estudo em 1975. Registraram 1,2% de deiscências
anastomóticas parciais e nenhuma deiscência total. Neste
mesmo estudo, obtiveram incidência de 1,9% de
mortalidade pós-operatória, sendo que nenhum caso
estava relacionado clinicamente com a anastomose
14.
No mesmo ano, GRUNER et al relacionaram anastomose íleo-retal com colite ulcerativa
e obtiveram 10% de deiscências parciais,
nenhuma deiscência total, com mortalidade de 7% numa
série de 57 pacientes 17.
Em 1985, OAKLEY et al estudaram as complicações e a qualidade de vida de 145
pacientes após anastomose íleo-retal por colite ulcerativa, encontrando 2% de deiscências parciais, 24%
de deiscências totais, sem mortalidade
26.
BACKER et al, em 1988, avaliaram a
evolução das íleo-reto anastomoses no tratamento da
colite ulcerativa em 59 doentes, e relataram 22%
de deiscências totais, porém sem casos de morte
4.
Um ano depois, PARC et al registraram 25% de deiscências totais em 197 pacientes
27.
Em 1990, LEIJONMARCH et al estudaram 60 pacientes também submetidos à anastomose
íleo-retal por colite ulcerativa. Relataram 2%
de deiscências parciais, 57% de deiscências totais e
4% de mortalidade 22.
KHUBCHANDANI et al revisaram 210 pacientes operados de doença inflamatória intestinal,
no período de setembro de 1959 a dezembro de
1986, Nestes, 110 (66%) realizaram íleo-reto anastomose.
Não houve nenhum caso de morte pós-operatória.
Ocorreram 6 deiscências em 53 anastomoses íleo-retais por
colite ulcerativa (12%), e 5 deiscências (8%) em 61 por
doença de Crohn. O índice total de deiscência foi de 10%
20.
Em 1991, CARTER et al estudaram 136 pacientes com colite ulcerativa tratados com
colectomia subtotal, divididos em grupo 1 (coto retal fechado
no tecido subcutâneo), 2 (fístula mucosa aberta) e 3
(bolsa de Hartmann intrapélvica). Não houve mortalidade.
No grupo 1, 4% desenvolveram complicações
sépticas pélvicas, comparados com 7% do grupo 2 e 12%
do grupo 3. A atividade persistente da doença
inflamatória no reto remanescente esteve presente em 47% do
grupo 3, contra 4% e 0% do grupo 2 e 1, respectivamente.
Como conclusão, afirmou-se que a exteriorização
do coto retal fechado seguido de colectomia subtotal
está associada a complicações sépticas pélvicas e
morbidade local mínima, que facilita a dissecção
pélvica subseqüente, e não está associado ao aumento
da atividade da doença no reto remanescente
10.
ANNIBALI et al, em 1993, afirmaram que pacientes submetidos à anastomose
término-terminal com grampeador abaixo da linha pectínea, apesar
de apresentarem pressão anal baixa e ausência do
reflexo inibitório reto-anal, tiveram resultados
funcionais melhores em termos de continência que
àqueles submetidos à anastomose acima da linha pectínea
1.
Um ano depois, AYLETT et al relataram uma taxa de mortalidade de 5.5% em 131 pacientes
com retocolite ulcerativa tratados com anastomose
íleo-retal, um índice que é menor que a incidência de câncer
(7%) 3.
SLORS et al, em 1995, concluíram que
a anastomose íleo-anal com reservatório ileal,
realizada com a técnica que, utilizando grampeador duplo,
foi considerada um risco de mucosa retal residual, devido
à transsecção combinada linear e grampeamento
circular, com formação de dobras na mucosa
retal bilateralmente; contudo a mucosa residual do reto
não influenciou os resultados clínicos do
acompanhamento desses pacientes 28.
Em 1998, BREEN et al investigaram
o resultado funcional de complicações perineais
após anastomose íleo-anal com reservatório ileal em
628 pacientes. 153 pacientes (24.4%) tiveram 171 complicações perineais. As complicações incluíram
66 (10.5%) estruturas anastomóticas; 28
(4.5%) deiscências anastomóticas; 36 (5.7%) fístulas;
41 (6.5%) episódios de sepse pélvica, e 18
(2.9%) pacientes com múltiplas complicações. Em 10%
dos pacientes houve falência da bolsa ileal
8.
A técnica cirúrgica ideal em casos de
doença inflamatória intestinal ainda é muito
discutida; entretanto a cirurgia pode ser combinada com
a construção da ileostomia de Kock, realizando
uma cirurgia em dois tempos 15, 21.
Entre as desvantagens de uma proctocolectomia total com ileostomia permanente estão:
(1) inaceitabilidade fisiológica; (2) complicações
do estoma, necessitando revisões cirúrgicas
subseqüentes; (3) disfunção sexual; (4) despesas pelos utensílios;
(5) feridas perineais incuráveis em alguns pacientes.
Portanto a preservação de uma
passagem natural, como na anastomose íleo-retal, tem
vantagens anatômicas, fisiológicas, bioquímicas,
psicológicas, estéticas e econômicas que arduamente necessitam
ser restabelecidas.
É interessante que, apesar da alta
incidência de deiscência e mesmo de morte, a
íleo-reto anastomose venha sendo utilizada no mundo
todo como alternativa para o tratamento da
doença inflamatória intestinal.
No presente estudo, realizado em
nível experimental, pode-se perceber que as
complicações graves que levam à peritonite e morte do
animal aconteceram 4,8 vezes mais nos animais em que
se realizou anastomose, deixando-se doença residual.
Quando, apesar da doença, deiscência
não aconteceu, o processo de cicatrização
desenvolveu-se de forma semelhante aos controles normais,
uma vez que a concentração e a ordenação do
colágeno se mostraram semelhantes em todos os tempos,
assim como o processo inflamatório ao nível
da anastomose.
CONCLUSÃO
A grande complicação das anastomoses
íleo-cólicas realizadas em situação de doença
inflamatória residual é o número de deiscências com óbito.
Quando deiscência não ocorre e o animal sobrevive,
a cicatrização se processa de forma normal.
SUMMARY: The ileorectal anastomosis is a surgical choice to the treatment of intestinal inflammatory diseases. The aim of this study is to avaliate the evolution of the ileocolic anastomosis realized in residual inflammatory disease. Sixty rats were divided in two groups that performed group C (control) and group E (experimental). The group E had the colonic inflammatory disease induced by acetic acid 10% through rectal enemas, while the group C made use of isotonic saline solution 0,9%. At 6th day after the induction of inflammatory disease, every animals underwent subtotal colectomy, following ileocolic anastomosis, taking care to quit residual disease in group E. Evaluations were performed at 3rd, 7th e 14th postoperative day. Alterations of abdominal cavity, presence of adherences were noted and the part of intestine with anastomosis was resected. After the rupture strength measure, the segment was conducted to histopathological study, observing inflammatory reaction and fibroplasia. There was diffuse peritonitis only in animals that died before the evaluation day. The mortality in group C was 6,67% and in group E 30%, the mortality relation E:C was 4,48:1 (p= 0,0205). The evolution of anastomosis was similar in both groups. However, the rupture strength measure was minor in group E at 7th day. The great complication of ileocolic anastomosis realized in situation of residual inflammatory disease is the number of leakages with deaths.
Key words: wound healing, colon, ulcerative colitis.
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Endereço para correspondência:
Maria de Lourdes Pessole Biondo-Simões
Rua Ari José Valle, 1987 - Santa Felicidade
CEP 82030-000, Curitiba - Paraná
E-mail: biondo@avalon.sul.com.br
Fone/fax 0XX.41.297.43.59
Trabalho realizado na Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).