ARTIGOS ORIGINAIS


ANÁLISE PROSPECTIVA DA QUALIDADE DE VIDA APÓS REVERSÃO DE ILEOSTOMIA EM ALÇA, DESFUNCIONALIZANTE

Renato Araújo Bonardi - TSBCP


Camilleri-Brennan J, Steele R.J.C. Prospective analysis of quality of life after reversal of a defunctioning loop ileostomy. Colorectal Disease 4(3);167-171,2002.

Bonardi RA. Atualização- Análise prospectiva da qualidade de vida após reversão de ileostomia em alça desfuncionalizante. Rev Bras Coloproct, 2002;22(2):113-114.

ABSTRATO
A confecção de uma ileostomia em alça, temporária, para evitar complicações de um eventual vazamento da anastomose, tem sido usada freqüentemente na operação do câncer do reto distal com a técnica do duplo grampeamento. A presença deste estoma e a sua subsequente reversão pode estar associada a uma morbilidade significativa. Existem evidências de que uma ileostomia é melhor do que uma colostomia com relação às suas complicações.
    Ainda não é conhecido se a qualidade de vida dos pacientes submetidos a operação para preservação do esfincter anal com a confecção de uma ileostomia temporária, pode se alterar após o fechamento do estoma. Este trabalho descreve um estudo prospectivo da qualidade de vida destes pacientes tentando determinar o impacto do fechamento do estoma.
    O objetivo é medir as alterações da qualidade de vida após a reversão do estoma dos pacientes submetidos a ressecção curativa para câncer do reto distal.
    Vinte pacientes consecutivos submetidos a reversão de uma ileostomia em alça após a operação para o tratamento do câncer do reto distal com preservação do esfincter participaram do estudo. Todos responderam a três questionários sobre qualidade de vida ( EORTC [European Organization for the Research and Treatment of Cancer]; QLQ-C30; QLQ-CR38 r SF-36). Os questionários foram respondidos antes da reversão do estoma, no momento da alta hospitalar, 3 e 6 meses após o fechamento da ileostomia.
    A reversão da ileostomia resultou de uma melhora da qualidade de vida global, funções físicas e sociais. A diarreia pós-operatória bem como a freqüência evacuatória melhoraram em 6 meses, porém um terço dos pacientes apresentaram uma incontinência fecal leve que não melhorou com o tempo. As alterações emocionais, saúde mental, perspectivas futuras, percepção da imagem corporal e percepção de saúde geral não se alteraram após a reversão do estoma. Houve uma correlação negativa entre os problemas relacionados a defecação, qualidade de vida global e imagem corporal.

COMENTÁRIOS
Neste trabalho muito interessante, os autores fazem uma análise da qualidade de vida dos pacientes submetidos a operação para a preservação do esfincter com ileostomia protetora após o seu fechamento. A tentativa de evitar uma colostomia definitiva geralmente é interpretada como uma medida de bons resultados. O impacto de um estoma temporário nas funções sociais já tem sido objeto de estudo. Porém a qualidade de vida após a sua reversão ainda é desconhecida.
    Os pacientes referiram uma melhora global da qualidade de vida após a reversão do seu estoma, conforme análise dos questionários, após 3 e 6 meses da operação. As funções físicas também melhoraram significativamente conforme resposta aos questionários (QLQ _C30 e SF-36) demonstrando que a ileostomia impunha certas restrições nas atividades físicas e sociais dos pacientes.
    Com relação à função sexual as respostas aos questionários foi muito baixa e de difícil análise, principalmente no caso das mulheres. Acreditam os autores que a maior parte dos pacientes que não respondeu a esta parte dos questionários não fosse sexualmente ativa já no pré-operatório, porém a saúde sexual destes doentes merece uma análise mais aprofundada e específica.
    Não observaram os autores melhora nas funções emocionais dos doentes, fato que foi relacionado já à melhora desta área após a ressecção do tumor retal.
    Muito surpreendente foi a não melhora da percepção da imagem corporal. Estudos anteriores têm demonstrado alterações psicológicas em pacientes com estomas temporários ou definitivos.
    Mais da metade dos pacientes apresentaram diarréia no pós-operatório que melhorou com o tempo; porém incontinência fecal foi observada em um terço dos pacientes que não melhorou após 6 meses, com urgência e freqüência evacuatória tanto diurna quanto noturna.
    Este estudo apresenta certas limitações devido ao número relativamente pequeno de pacientes e porque o aspecto sexual não pode ser bem avaliado; porém mostra um subgrupo de doentes que apresenta problemas de evacuação importantes que possam diminuir a sua qualidade de vida. Nesta linha, mais trabalhos de avaliação devem ser conduzidos para melhor avaliar individualmente os pacientes que irão se beneficiar com um estoma temporário ou definitivo.