ARTIGOS ORIGINAIS
Renato Araújo Bonardi - TSBCP
Bonardi RA. Atualização- Análise prospectiva da qualidade de vida após reversão de ileostomia em alça desfuncionalizante. Rev Bras Coloproct, 2002;22(2):113-114.
ABSTRATO
A confecção de uma ileostomia em
alça, temporária, para evitar complicações de um
eventual vazamento da anastomose, tem sido usada freqüentemente na operação do câncer do reto
distal com a técnica do duplo grampeamento. A
presença deste estoma e a sua subsequente reversão pode
estar associada a uma morbilidade significativa.
Existem evidências de que uma ileostomia é melhor do que
uma colostomia com relação às suas complicações.
Ainda não é conhecido se a qualidade de
vida dos pacientes submetidos a operação para
preservação do esfincter anal com a confecção de uma
ileostomia temporária, pode se alterar após o fechamento
do estoma. Este trabalho descreve um estudo
prospectivo da qualidade de vida destes pacientes
tentando determinar o impacto do fechamento do estoma.
O objetivo é medir as alterações da
qualidade de vida após a reversão do estoma dos
pacientes submetidos a ressecção curativa para câncer do
reto distal.
Vinte pacientes consecutivos submetidos a reversão de uma ileostomia em alça após a
operação para o tratamento do câncer do reto distal
com preservação do esfincter participaram do estudo.
Todos responderam a três questionários sobre qualidade
de vida ( EORTC [European Organization for the
Research and Treatment of Cancer]; QLQ-C30; QLQ-CR38
r SF-36). Os questionários foram respondidos antes
da reversão do estoma, no momento da alta hospitalar,
3 e 6 meses após o fechamento da ileostomia.
A reversão da ileostomia resultou de
uma melhora da qualidade de vida global, funções físicas
e sociais. A diarreia pós-operatória bem como
a freqüência evacuatória melhoraram em 6 meses,
porém um terço dos pacientes apresentaram uma
incontinência fecal leve que não melhorou com o tempo.
As alterações emocionais, saúde mental,
perspectivas futuras, percepção da imagem corporal e percepção
de saúde geral não se alteraram após a reversão do
estoma. Houve uma correlação negativa entre os
problemas relacionados a defecação, qualidade de vida global
e imagem corporal.
COMENTÁRIOS
Neste trabalho muito interessante, os
autores fazem uma análise da qualidade de vida dos
pacientes submetidos a operação para a preservação do
esfincter com ileostomia protetora após o seu fechamento.
A tentativa de evitar uma colostomia definitiva geralmente é interpretada como uma medida de
bons resultados. O impacto de um estoma temporário
nas funções sociais já tem sido objeto de estudo. Porém
a qualidade de vida após a sua reversão ainda
é desconhecida.
Os pacientes referiram uma melhora global
da qualidade de vida após a reversão do seu
estoma, conforme análise dos questionários, após 3 e 6
meses da operação. As funções físicas também
melhoraram significativamente conforme resposta aos
questionários (QLQ _C30 e SF-36) demonstrando que a
ileostomia impunha certas restrições nas atividades físicas
e sociais dos pacientes.
Com relação à função sexual as respostas
aos questionários foi muito baixa e de difícil
análise, principalmente no caso das mulheres. Acreditam
os autores que a maior parte dos pacientes que
não respondeu a esta parte dos questionários não
fosse sexualmente ativa já no pré-operatório, porém a
saúde sexual destes doentes merece uma análise
mais aprofundada e específica.
Não observaram os autores melhora nas
funções emocionais dos doentes, fato que foi relacionado já
à melhora desta área após a ressecção do tumor
retal.
Muito surpreendente foi a não melhora
da percepção da imagem corporal. Estudos anteriores
têm demonstrado alterações psicológicas em pacientes
com estomas temporários ou definitivos.
Mais da metade dos pacientes apresentaram diarréia no pós-operatório que melhorou com o
tempo; porém incontinência fecal foi observada em um
terço dos pacientes que não melhorou após 6 meses,
com urgência e freqüência evacuatória tanto diurna
quanto noturna.
Este estudo apresenta certas
limitações devido ao número relativamente pequeno de
pacientes e porque o aspecto sexual não pode ser bem
avaliado; porém mostra um subgrupo de doentes que
apresenta problemas de evacuação importantes que
possam diminuir a sua qualidade de vida. Nesta linha,
mais trabalhos de avaliação devem ser conduzidos
para melhor avaliar individualmente os pacientes que
irão se beneficiar com um estoma temporário
ou definitivo.