ARTIGOS ORIGINAIS
Vera Lúcia Conceição de Gouveia Santos
SANTOS VLCG, SILVA AM. Qualidade de vida em pessoas com incontinência anal.
Rev bras Coloproct, 2002;22(2):98-108
RESUMO: O estudo teve como objetivo avaliar a qualidade de vida (QV) de 41 pessoas portadoras de Incontinência Anal, utilizando-se a Escala de Qualidade de Vida de Flanagan. A maioria dos indivíduos é do sexo feminino (63,4%); com idade igual ou superior a 49 anos (68,3%); da raça branca (73,2%) e com sintomas há mais de um ano (83%), com baixa mas com tendências positivas para a satisfação com a própria vida (escore total de 5,31 e DP = 0,14). Constataram-se associações estatísticas significativas (p<0,05) positivas da idade com os maiores escores de QV e negativas entre o índice de incontinência anal e três das cinco dimensões da escala.
Unitermos: qualidade de vida, incontinência anal, escala de qualidade de vida de Flanagan
A perda do controle voluntário da
evacuação é uma das condições que geram maiores
transtornos para a qualidade de vida. A incapacidade de
contenção fecal, ou seja, a perda involuntária de fezes e gases
ou a impossibilidade de eliminar as fezes e/ou gases
em local e momento adequados é denominada
de Incontinência Anal (IA) (1-5). Apesar de constituir
uma doença que não ameaça a vida, é um
dilema multifatorial que atinge o indivíduo física
e psicologicamente, resultando em seu isolamento progressivo e alterações da imagem corporal,
auto-estima e identidade
(1,3,4,5,6,7,8).
Devido ao constrangimento e
conseqüente relutância dos pacientes em procurar auxílio
médico, a IA é condição sub-relatada
(1,3,9,10). Muitos doentes não procuram profissionais especializados, devido
a sentimentos de repulsa, humilhação e
vergonha. Preferem, assim, manter o sintoma em
segredo, acreditando que nada poderá ser feito. O
preconceito e a ignorância, porém, não se limitam aos
leigos, profissionais da área de saúde podem também
refletir sentimentos e atitudes negativos. A falta de
preparo dos que deveriam prestar assistência constitui
outra barreira para os poucos doentes que procuram orientação especializada
(10).
A IA é uma condição que continua a
apresentar aspectos controversos que vão desde a sua
definição, incidência, classificação e, sobretudo, tratamento
(3).
Estimativas feitas em vários países
indicam haver, na população geral, número expressivo
de indivíduos com IA, especialmente naqueles com
idade superior a 60 anos (11-12) .
Embora a prevalência exata da IA permaneça desconhecida, ela é estimada
em índices que vão de 0,5% a 5% da população
geral (3). Waldrop; Doughty
(5) e Jensen (1) mencionam alguns estudos realizados nos EUA que sugerem
prevalência em torno de 2,3% no país, entre adultos da
população geral, podendo atingir 50% em pacientes
idosos institucionalizados.
No Brasil, o estudo do tema é ainda
bastante incipiente, encontrando-se estatísticas isoladas.
Lopes (12), em estudo junto à população idosa atendida
no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo, identificou
prevalência de 10,9%. Amaral (13)
, desta vez junto a pacientes diabéticos atendidos no mesmo hospital,
demonstrou que 18,9% dessa população possuía
IA.
Fatores como motilidade intestinal e consistência das fezes, capacidade e
complacência retais, sensibilidade do reto e do canal anal e
função do aparelho esfincteriano
(6) relacionam-se às causas de IA. Estas, portanto, são múltiplas e vão
desde alterações congênitas a lesões de causa adquirida
como pós-traumatismo ano-reto-perineal, pós-operatório
de cirurgias ginecológicas, gerais ou proctológicas, e
pós-parto, sobretudo em mulheres com período
expulsivo prolongado. A IA pode ainda ser decorrente de
esforços evacuatórios ou alterações neurogênicas
conseqüentes ao processo de envelhecimento e às doenças
sistêmicas, principalmente o diabetes mellitus, ou a
seqüelas infecciosas (1,
2,3,4,7,13,14,15,16,17). Da
etiopatogenia depreende-se, então, que a IA é fenômeno
complexo que depende da integridade anatômica da região
pélvica e perineal e de suas relações com o sistema
nervoso central e periférico (3) , bem como de fatores como
sexo e idade (3,6,7,12,18,19).
Do ponto de vista terapêutico, pode ser
clínico e/ou cirúrgico, de acordo com a etiologia,
condições clínicas dos pacientes, faixa etária e grupo social
e intelectual.
O tratamento clínico consiste na instituição
de medidas dietéticas, medicamentosas, exercícios
para treinamento do esfíncter anal e do
esvaziamento intestinal que inclui o biofeedback, com boas
respostas na reeducação esfincteriana
(4,7,8,11,13,17,20,21,22,23,24). Já
o tratamento cirúrgico, atualmente, envolve desde
as esfincteroplastias à transposição muscular, sendo
o músculo grácil o mais utilizado, além do uso de
próteses ou esfíncteres anais artificiais
(3,4,7,8,17,25,26,27,28,29).
O tratamento da IA é sempre penoso para
o paciente, pois, além de constituir um
processo demorado para a obtenção de bons resultados,
é altamente dispendioso, o que leva muitos
indivíduos ao desejo de serem rapidamente operados, o
que também envolve indicações e resultados
ainda limitados. Desse modo, ressalta-se que,
independentemente da causa, as conseqüências de IA,
incluindo os aspectos diagnósticos e terapêuticos,
englobam acentuado desconforto social, físico e psicológico
para o indivíduo, interferindo sobremaneira na sua
qualidade de vida.
Embora esse aspecto também seja
enfatizado nos estudos sobre IA, especialmente aqueles
ligados aos efeitos do tratamento, é escassa a literatura
referente ao tema da qualidade de vida dessa clientela.
Como construto complexo, polissêmico, multidimensional e intrinsecamente subjetivo,
a qualidade de vida (QV) possui diferentes conceitos
e definições que incluem, principalmente, concepções
de satisfação, felicidade e bem-estar
(30-33). Com bases transculturais, a Organização Mundial de Saúde
(OMS) define QV como a percepção do indivíduo de
sua posição na vida no contexto da cultura e sistema
de valores nos quais ele vive e em relação aos
seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações
(34-35).
As características postas para o construto têm
levado os autores a buscarem sua concretude através
do estabelecimento de diversos domínios ou
dimensões que, posteriormente, acabam pôr traduzir-se em
formas objetivas de avaliação ou de medida. Assim,
nos últimos anos tem-se observado grande preocupação
dos pesquisadores em desenvolver instrumentos de
medida da QV a maioria originária dos E.U.A e Inglaterra,
com variadas formas de aplicação, extensão e ênfase
do conteúdo, mediante os objetivos e objetos
de investigação.
Na área de IA, Rockwood et al
(36), apontando a inexistência de estudos validados para a
avaliação da QV dessa clientela, desenvolveram e testaram
as propriedades de medida do Fecal Incontinence
Quality of Life Scale (FIQL.)
A importância da IA e suas repercussões
na QV da clientela para os profissionais de
saúde, especificamente para a Estomaterapia, associada
à ausência de estudos nacionais nessa área,
levaram-nos à realização deste estudo, objetivando analisar a
QV de pessoas portadoras de Incontinência Anal e verificar
as associações existentes entre os escores de QV e
os dados demográficos e clínicos dessa clientela.
Casuística e método
O estudo foi desenvolvido no Serviço
de Fisiologia Anorretal do Ambulatório de
Coloproctologia de um Hospital governamental de
ensino da cidade de São Paulo. Dos 202 pacientes com
IA, cadastrados no serviço à época da coleta de dados,
41 (20,1%) participaram do estudo. A amostragem
foi aleatória e de conveniência, ou seja, incluiu todos
os pacientes presentes no ambulatório nos dias de
coleta de dados, desde que preenchessem os
seguintes requisitos: ter IA, com ou sem tratamento clínico
e/ou cirúrgico prévio; ter idade igual ou superior a 18
anos; ter capacidade para comunicação verbal e
consentir em participar do estudo.
A coleta de dados foi iniciada após a
aprovação da Comissão de Ética da Escola de Enfermagem
da Universidade de São Paulo e autorização
dos responsáveis pelo Serviço. Para a sua realização,
cada paciente era contatado antes ou logo após o término
da consulta médica e, depois de esclarecido acerca
dos objetivos da pesquisa, solicitava-se a assinatura
do termo de consentimento ao aceitar a participação.
A coleta de dados, realizada em sala privada, foi
feita através de consulta dos dados demográficos e
clínicos em prontuário e de entrevista individual,
independentemente do grau de escolaridade do
cliente. Utilizou-se, para tanto, de um formulário contendo
duas partes: a primeira para obtenção dos dados
sócio-demográficos (idade, sexo, raça, escolaridade,
estado civil, procedência, ocupação e renda familiar) e
clínicos da clientela (causas e tempo de IA, Índice de
IA, existência e tipo de tratamento prévio); e a
segunda, com os dados sobre a QV , levantados através da
Escala de QV de Flanagan (EQVF)(38) e de uma
questão aberta relacionada ao significado de QV para o cliente.
O Índice de Incontinência Anal (IIA)
empregado neste estudo e também utilizado no serviço foi
proposto por Jorge; Wexner (8) e envolve não só as
características e freqüência das perdas anais como o uso de proteção
e as limitações conseqüentes à IA. É uma escala que
varia de zero a vinte, onde zero corresponde à
continência perfeita e vinte à incontinência total. Ela
permite classificar a IA em leve (0 a 7), intermediária (8 a 13)
e grave (14 a 20). As causas de IA foram
categorizadas conforme Sobrado (37).
Quanto à EQVF, foi proposta e
desenvolvida por Flanagan (38), em 1978, estudando 3000 homens
e mulheres da população geral norte-americanos e
inclui 15 componentes ou domínios, enquadrados em
cinco dimensões:
Dimensão 1 (D1) - bem-estar físico e
material (conforto material e saúde);
Dimensão 2 (D2) - relações com outras
pessoas (pais, irmãos e outros parentes, ter e criar
filhos, relacionamento íntimo e amigos próximos);
Dimensão 3 (D3) - atividades
sociais, comunitárias e cívicas (ajuda voluntária e
participação em associações);
Dimensão 4 (D4) - desenvolvimento pessoal
e realização (aprendizagem, auto-conhecimento,
trabalho e comunicação criativa)
Dimensão 5 (D5) - recreação
(socialização, participação em recreação passiva e
ativa).
Constituída como instrumento genérico
de avaliação de QV, foi inicialmente traduzida e
utilizada em nosso meio por Hashimoto el al
(39) e Castro et al (40), em 1996 e 1998, respectivamente, em dois
estudos acerca da QV de ostomizados. Foi, porém, somente
a partir dos estudos de Cardoso e Gonçalves
(41); Gonçalves e col
(42) e Nassar e Gonçalves
(43), que se pôde considerar a escala como adaptada e validada
em nosso meio.
Para a mensuração da QV utilizando-se
a EQVF, o respondente deve pontuar cada
domínio, segundo uma escala do tipo Likert de 7 pontos,
que engloba qualificações que variam de muito
satisfeito (7) a muito insatisfeito (1), conforme proposto
por Cardoso e Gonçalves (41) . Embora os
pesquisadores possam trabalhar com escores sub-totais ou
sub-escores obtidos em cada dimensão ou mesmo domínio, a
EQVF prevê um escore único de QV, como somatória
simples dos escores resultantes nas 5 dimensões, e que
varia de 1 a 7, de acordo com o nível de satisfação
do sujeito.
Os resultados obtidos foram submetidos ao seguinte tratamento estatístico: Intervalos
de Confiança de 95% para a média e para a
proporção, para estimação dos valores médios das
variáveis qualitativas e das porcentagens reais de alguns
eventos de interesse, respectivamente; o Teste de
Normalidade de Kolmogorov _ Smirnov, para testar a hipótese
de normalidade das variáveis quantitativas do estudo;
o Coeficiente de Correlação Ordinal de Spearman
para a avaliação da correlação entre as
variáveis quantitativas; o Coeficiente de Correlação Linear
de Pearson para a avaliação da correlação ordinal
por ponto das variáveis respostas e as
variáveis qualitativas dicotomizadas; e o Teste de
Mann-Whitney, para a comparação entre as médias
de variáveis de populações independentes
(44-45). Para a avaliação da confiabilidade da EQVF,
utilizaram-se o Coeficiente Alfa de Cronbach e as
correlações ordinais entre as dimensões. Para este
estudo, adotaram-se valores de alfa a partir de 0,4
como indicativos de confiabilidade aceitável
(44). P value inferior a 0,05 foi considerado
estatisticamente significante.
Resultados
Considerando-se alguns fatores como o
caráter genérico da EQVF, a especificidade da
clientela portadora de IA e a recomendação de
alguns pesquisadores envolvidos com os estudos de
QV, procedeu-se à validação da EQVF para este
estudo, através da avaliação de sua consistência
interna mediante os Coeficientes Alfa de Cronbach,
cujos resultados estão na Tabela-1.
Tabela 1 - Coeficientes Alfa de Cronbach da EQVF e Dimensões. São Paulo, 2000.
Itens | Nº Itens | Coeficientes de |
Cronbach | ||
EQVF (dimensões) | 5 | 0.67 |
EQVF (domínios) | 15 | 0.76 |
Dimensão 1 | 2 | -0.23 |
Dimensão 2 | 4 | 0.64 |
Dimensão 3 | 2 | 0.47 |
Dimensão 4 | 4 | 0.58 |
Dimensão 5 | 3 | 0.59 |
Com exceção da Dimensão 1, que
inclui exatamente o domínio saúde, fundamental para
esta investigação, verifica-se que todos os
demais coeficientes são superiores a 0,4 e, portanto, com
nível aceitável de confiabilidade. Ao excluir-se a
Dimensão 1, os 13 domínios remanescentes produzem um alfa
de 0,88, enquanto as 4 dimensões restantes, um alfa
de 0,65, revelando discreta melhora e manutenção
dos coeficientes, respectivamente.
A Tabela-2 mostra que as correlações
ordinais são positivas e estatisticamente significantes entre
as dimensões 1 e 4; 2 e 3; 2 e 4 e 2 e 5; 3 e 5 e 4 e
5, quando se esperaria que todas estivessem correlacionadas entre si. Novamente, é a Dimensão
1 que exibe menor número de correlações com as
demais dimensões, ratificando os resultados anteriores
(Tabela-1). Todos os resultados mostram que a escala,
embora restrita, tem sua confiabilidade aceitável para
a população alvo do estudo.
Tabela 2 - Correlações Ordinais entre as dimensões de EQVF. São Paulo, 2000.
D 1 | D 2 | D 3 | D 4 | D 5 | |
D 1 | 1,0 | 0,26 | 0,18 | 0,35* | 0,20 |
D 2 | 1,0 | 0,53* | 0,43* | 0,26* | |
D 3 | 1,0 | 0,12 | 0,36* | ||
D 4 | 1,0 | 0,29* | |||
D 5 | 1,0 | ||||
(*) correlação estatisticamente significativa (p<0,05) |
Os demais resultados são apresentados sob
a forma de tabelas, com dados absolutos e
relativos, médias e Desvios - Padrão e referem-se
às características sócio-demográficas e clínicas da amostra
e análise da QV da clientela.
Os dados da Tabela 3 mostram que, dos 41 portadores de IA, 26 (63,41%) eram do sexo
feminino; a idade variou de 18 a 80 anos, com média de
53,85 anos (DP=17,70 anos), predominando a faixa
etária de 49 anos e mais (68, 30%); e 30 (73,17%)
pertenciam à raça branca. A maioria dos pacientes era
procedente da Grande São Paulo (26 ou 63,41%); 36
(87,80%) tinham escolaridade inferior à fundamental e
22 (53,65%) tinham companheiro. A renda mensal familiar foi de R$725,43 (DP = 534,35), sendo de
2,8 (DP= 1,31) o número de dependentes.
Tabela 3 - Características sócio-demográficas da amostra. São Paulo, 2000.
Características Sócio-Demográficas | n | % |
SEXO | ||
Feminino | 26 | 63,41 |
Masculino | 15 | 36,59 |
FAIXA ETÁRIA | ||
18 a 32 anos | 6 | 14,63 |
33 a 48 anos | 7 | 17,07 |
49 a 63 anos | 15 | 36,58 |
64 anos e mais | 13 | 31,72 |
(Variação: 18 a 80 anos/ Média = 53,85 DP=17,70) | ||
RAÇA | ||
Branca | 30 | 73,17 |
Negra | 9 | 21,95 |
Amarela | 2 | 4,88 |
PROCEDÊNCIA | ||
Grande São Paulo | 26 | 63,41 |
Interior de São Paulo | 13 | 31,71 |
Fora do Estado de São Paulo | 2 | 4,48 |
SITUAÇÃO CONJUGAL | ||
Com companheiro | 22 | 53,65 |
Sem companheiro | 19 | 46,35 |
ESCOLARIDADE | ||
Menor que o ensino fundamental | 36 | 87,8 |
Maior que o ensino fundamental | 5 | 12,2 |
SITUAÇÃO FINANCEIRA | Médias (R$) | DP |
Renda mensal familiar (0 a 2000,00) | 725,43 | ± 534,34 |
Número de dependentes (1 a 5) | 2,8 | ± 1,31 |
Renda mensal per capita (0 a 900,00) | 299,43 | ± 212,58 |
Clinicamente, a clientela apresentou-se homogeneamente distribuída entre os três tipos de
IA, com leve predomínio da IA grave (36,58%); e
média do IIA de 11,2 (DP=5,63). Quanto ao tempo
de sintomatologia, predominaram os períodos
mais longos, acima de 5 anos (19 ou 46,4%); e todos
já haviam se submetido a tratamento prévio, a
maioria (23 ou 56,09%) do tipo clínico e mais de ¼ (11
ou 26,83%) a outras formas de tratamento (clínico
e cirúrgico). Vinte e cinco (61%) pacientes tiveram
o trauma/infecção como causa de IA, principalmente
o obstétrico, ou seja, após partos normais (19
mulheres). Testes estatísticos demostraram que a
correlação bisserial por ponto negativa entre IA e sexo
é estatisticamente significante (p<0,001), ou seja,
altos valores de IA tenderam a concentrar-se nos pacientes
do sexo feminino.
Aplicando-se os testes dos intervalos de confiança de 95% para o estabelecimento do perfil
da população alvo, obtiveram-se como resultados:
21,19% a 51,97% de homens; idade média entre 48,26 e
59,44 anos; 59,01% a 87,33% de brancos; 37,73% a
69,59% de pacientes com companheiro; 1,73% a 22,65%
de sujeitos com escolaridade superior à fundamental;
2,39 a 3,21 dependentes; e renda média familiar de
R$556,78 a 894,41.
Tabela 4 - Dados clínicos da amostra. São Paulo, 2000.
VARIÁVEIS CLÍNICAS | n | % |
CAUSAS DA IA | ||
Traumas/ Infecção | 25 | 61,00 |
Mal formação congênita | 6 | 14,65 |
Câncer | 5 | 12,19 |
Sem causas definidas | 5 | 12,19 |
CLASSIFICAÇÃO DA I A | ||
Leve | 13 | 31,71 |
Intermediária | 13 | 31,71 |
Grave | 15 | 36,58 |
TEMPO DE SINTOMAS | ||
Até 1 ano | 7 | 17,0 |
1 a 5 anos | 15 | 36,6 |
Maior 5 anos | 19 | 46,4 |
TRATAMENTO PRÉVIO | ||
Clínico | 23 | 56,09 |
Clínico/ Cirúrgico | 11 | 26,83 |
Cirúrgico | 7 | 17,08 |
média | DP | |
ÍNDICE DE INCONTINÊNCIA ANAL | 11,7 | ± 5,63 |
Para facilitar a discussão dos escores e sub-escores de QV através da EQVF (Tabela 5), optou-se pela apresentação de médias* das médias segundo os níveis de satisfação da clientela. Esta abordagem estatística é lícita ao basear-se no Teorema do Limite Central, no qual para um número de observações maior que 30, a distribuição das médias de uma variável tende a seguir uma normal.
Tabela 5 - Escores total e parciais da QV, segundo a EQVF. São Paulo, 2000.
Dimensões | Número | Média | DP | Média* | DP* |
de domínios | |||||
D1 | 2 | 9,36 | 2,66 | 4,68 | 0,21 |
D2 | 4 | 23,12 | 4,96 | 5,78 | 0,19 |
D3 | 2 | 11,54 | 3,29 | 5,77 | 0,26 |
D4 | 4 | 19,39 | 5,40 | 4,84 | 0,21 |
D5 | 2 | 16,27 | 4,05 | 5,42 | 0,21 |
EQVF total | 15 | 79,68 | 13,82 | 5,31 | 0,14 |
Análise da QV da clientela
Verifica-se, então, que o escore médio
total obtido junto aos 41 portadores de IA para a EQVF
foi de 5,31 (DP = 0,14) com valores médios similares
para 3 das 5 dimensões, ou seja, D2, D3 e D5 com
5,78 (DP= 0,19); 5,77 (DP = 0,26) e 5,42
(DP=0,21), respectivamente. Todos enquadram-se na
categoria pouco satisfeitos com maior ou menor proximidade
ou tendência para a satisfação. Já, para Bem-estar físico
e material (D1) e Desenvolvimento pessoal e
realização (D4), a clientela mostrou indiferença tendendo à
pouca satisfação na avaliação da QV, com escores médios
de 4,68 (DP=0,21) e 4,84 (DP=0,21), respectivamente.
Aplicando-se o teste de regressão
múltipla, constatou-se que os valores médios obtidos para a
D2 (relação com outras pessoas) explicam 61,17%
de variação total obtida; seguindo-se a ela, D4
(19,05%), D5 (12,36%), D3 (4,27%) e, finalmente, D1
(3,15%). Por outro lado, o teste de correlação ordinal do
escore total da EQVF com os sub-escores das
dimensões apontou que, embora todas as dimensões
estejam correlacionadas positivamente com a QV total, são
as Dimensões 4 e 5 (desenvolvimento pessoal e
realização e recreação), respectivamente, as que
obtiveram maiores índices de correlação.
À pergunta sobre o significado de QV
para cada paciente, as 99 respostas obtidas foram categorizadas conforme as dimensões da EQVF
(71 respostas ou 71,7%) além de Qualificativos (20
ou 20,2%) e Espiritualidade (7 ou 7,1%). Enquanto
os Qualificativos incluíram respostas como viver bem,
ser feliz e ter paz; a Espiritualidade, englobou
respostas como ter fé e acreditar em Deus. A Tabela 6 mostra
o predomínio das respostas enquadradas na D1, ou
seja, relacionadas ao conforto material e à saúde;
seguindo-se aquelas referentes às relações com outras
pessoas ou D2 (22 ou 22,2%) e aos Qualitativos (20 ou 20,2%).
Tabela 6 - Significados de QV para os portadores de IA. São Paulo, 2000.
Categorias | n | % |
D1 | 44 | 44.5 |
D2 | 22 | 22.2 |
D4 | 3 | 3.0 |
D5 | 2 | 2.0 |
Qualitativos | 20 | 20.2 |
Espiritualidade | 7 | 7.1 |
Outros | 1 | 1.0 |
Total | 99 | 100 |
Os dados da Tabela 7 mostram a existência de correlações estatisticamente significantes e de moderada intensidade, positiva entre o escore total de QV e a idade (r= 0,44 e p = 0,002) e negativa com a IA, sugerindo que escores maiores de QV tendem a estar associados com idade mais avançada e menores índices de IA.
Tabela 7 - Correlações Ordinais entre o QV e Variáveis Quantitativas. São Paulo, 2000.
Variável | n | Correlação | P Value |
Idade | 41 | 0.44* | 0.002 |
Renda Mensal Familiar | 41 | -0.04 | 0.397 |
N de dependentes | 41 | 0.00 | 0.499 |
Renda mensal percapita | 41 | -0.06 | 0.363 |
IIA | 41 | -0.36* | 0.009 |
* p <0,05 |
Tendo-se aplicado o mesmo teste para IA e
as mesmas variáveis qualitativas além dos sub-escores
das dimensões de EQVF, obtiveram-se
correlações negativas estatisticamente significantes com a
renda média familiar (r= -0,27); D1 (r= -0,40); D2
(r=-0,31) e D4 (r= -0,48), sugerindo que os índices mais
elevados de IA tendem a associar-se com menores rendas
e menores escores de bem-estar físico e
material (D1), relações com outras
pessoas (D2) e desenvolvimento pessoal e
realização (D4).
Ao serem agrupados os pacientes por sexo, raça, procedência e situação conjugal, os escores
de QV não mostraram diferenças
estatisticamente significantes.
Por outro lado, os testes estatísticos
empregados evidenciaram ainda que o escore médio de D3 entre
as mulheres foi significativamente maior do que o
dos homens (p= 0,033); e o escore médio da D2
dos pacientes com companheiro foi
significativamente maior do que o apresentado por aqueles
sem companheiro (p=0,011).
Discussão
Embora a QV da clientela portadora de IA
seja sempre mencionada pelos pesquisadores, seja
como objetivo ou como indicador de resultado da
assistência interdisciplinar prestada, a literatura científica
exibe escassos estudos diretamente voltados para a mensuração e/ou avaliação de qualidade de vida,
por métodos quantitativos ou qualitativos.
Até recentemente, as publicações,
especialmente da área médica, buscavam aprofundar
os conhecimentos acerca dos mecanismos de
continência que possibilitassem o aperfeiçoamento ou
desenvolvimento de técnicas cirúrgicas ou clínicas
a "substituir" as funções do aparelho esfincteriano
anal ou minimizar a sintomatologia das perdas fecais
não controladas. Além disso, aspectos relacionados
ao impacto emocional da IA e estratégias de
enfrentamento da clientela também vêm sendo estudados. No
entanto, somente nos últimos anos quando a questão
da qualidade de vida tem sido não só mais valorizada
como empregada como indicador em políticas de
saúde, surgiu como preocupação mais concreta também
na área da IA. Nesse sentido, foi somente em 2000
que Rockwood et al (36) propuseram um
instrumento específico de avaliação de QV das pessoas com
IA, com propriedades psicométricas de validade
e confiabilidade, já demonstradas. Visto que esta
única escala encontrada na literatura específica ainda
se encontra em processo de adaptação transcultural
para o Brasil, optamos, neste estudo, pelo emprego de
um instrumento genérico de avaliação de QV - a EQVF
- já adaptada e validada em nosso meio,
principalmente pela sua simplicidade e facilidade de aplicação.
Considerando-se que se trata de um instrumento genérico de avaliação de QV,
mostrou confiabilidade satisfatória (Coeficientes de
Cronbach de 0.47 a 0.76, na Tabela-1), exceto para a
Dimensão 1, bem _estar físico e material ( -0.23), que inclui
o domínio saúde, foco central nesta investigação,
corroborando a necessidade não só do emprego
de estudos de medida específicos como a
continuidade do processo de validação do EQVF, em nosso meio.
Do ponto de vista sócio-demográfico
(Tabela-3), os 41 pacientes que compuseram a amostra
deste estudo caracterizaram-se por serem, em sua
maioria, mulheres (63,41%), com idade média de 53,85
anos (DP= 17,70), predominando as faixas etárias de 49
a 63 anos (36,58%) e de 64 anos e mais (31,72%), similarmente aos achados de Jensen
(1), Sousa Jr et al (11), Lopes
(12), Rockwood et al (36) e Haggqvist
(46).
Clinicamente (Tabela 4), os traumas e infecções
(61%) foram as causas mais freqüentes da IA,
particularmente de origem obstétrica indo ao encontro dos estudos
de Habr-Gama(18) e
Haggqvist(46). Além disso, distribuíram-se quase homogeneamente entre os
três níveis de IA, leve (31,71%), intermediária (31,71%)
e grave (36,58%), embora com índice médio de IA
de 11,7 (DP=5,63), o que configura grau
intermediário de gravidade de IA. De qualquer modo,
estes apresentaram-se mais elevados entre as
mulheres comparativamente aos homens (p<0,001). Oitenta e
três por cento (34) das pessoas referiram apresentar
os sintomas há pelo menos um ano, das quais 46,4%
(19) há mais de 5 anos, todas já tendo realizado
tratamento prévio, a maioria (56,09%) do tipo clínico. Esses
fatores caracterizam a cronicidade da IA e a possibilidade
do maior comprometimento de sua QV.
A QV da clientela portadora de IA,
avaliada através da EQVF, revelou tendências positivas para
a satisfação, ao serem analisados os escores médios,
total de 5,31 e nas dimensões que variaram de 4,68 a
5,78 (Tabela 5). A idade mais avançada esteve
associada significativamente com os maiores índices de
QV, diferentemente do esperado em nossa sociedade,
onde o processo de envelhecimento, além de ser
representado como limitação física, psicológica e social,
envolve, de fato, uma série de restrições por demandas
não atendidas.
Dentre os resultados obtidos, deve-se
ressaltar que a Dimensão 1, ou seja, bem estar físico e
material mostrou o menor escore (4,68) seguido da
Dimensão 4, desenvolvimento pessoal e realização
(4,84), demonstrando indiferença que tende à pouca
satisfação. Esses dados podem ser, em parte, ratificados pela
maior concentração dos significados de QV para a
clientela (Tabela 6) na D1 (44 respostas ou 44,5%), isto
é, referentes à boa saúde e à estabilidade financeira
como fundamentais para uma boa QV. Relações com
outras pessoas (D2) e sentimentos positivos como
felicidade, humildade, amor e paz (Qualificativos) também
foram valorizados, com 22 (22,2%) e 20 (20,2%)
respostas, respectivamente (Tabela 6). D2 obteve ainda, não só
o maior escore médio dentre as dimensões (5,78),
como foi significativamente maior para os pacientes
com companheiro (p=0,011) e explicou 61,17% da
variação total encontrada para o EQVF. Esses achados
apontam para a relevância dessa dimensão para a QV
dos pacientes com IA marcadas, de um lado, pela necessidade de uma rede de suporte composta por
pais, parentes, amigos e companheiros, além
dos profissionais de saúde
(9,46) e, do outro lado, pelo isolamento também sexual e função das perdas
fecais (1,3,4,6,7,8).
As atividades sociais, comunitárias e
cívicas (D3), por sua vez, constituíram a dimensão
com segundo escore mais elevado e, embora
não mencionada como significado para a QV da
clientela, mostrou valores significativamente mais altos entre as
mulheres comparativamente aos homens, possivelmente pelas características femininas de maior
envolvimento "cuidativo", solidário e nas
atividades comunitárias (47-49).
Ao compararmos os resultados deste estudo acerca da QV com aqueles encontrados por
outros autores que utilizaram a EQVF, podemos constatar
a similaridade dos achados, apesar das diferentes populações estudadas. Assim, Gonçalves e col.
(42), investigando a QV de 75 idosos independentes
e freqüentadores de uma Universidade aberta da
terceira idade, constataram escores médios total de 5,51 e
parciais de 5,21; 5,58; 5,40; 5,51 e 5,67, respectivamente para D1 a D5. Já Castro et al
(40), em estudo sobre a QV de ostomizados na ótica de
pacientes e enfermeiros, obtiveram escores de 5,5; 5,0; 5,6;
5,6; 5,3 e 5,6, respectivamente para o total e para D1 a
D5, apontados pelos ostomizados.
Analisando-se esses resultados, podem-se inferir algumas diferenças relacionadas
principalmente às Dimensões 1 e 4, cujos valores mostraram-se
mais baixos em nosso estudo, mesmo quando se tratava
de uma clientela também portadora de IA, qual seja
de ostomizados.
Ao estabelecerem-se, por outro lado,
relações entre os aspectos clínicos da IA e a QV,
verificaram-se correlações ordinais negativas entre IA e a QV total
e algumas dimensões, sugerindo, conforme esperado,
que a maior gravidade de IA, ou seja, seus maiores
índices, estão associados a menores valores de EQVF total
e de bem estar físico e material (D1), relações com
outras pessoas (D2) e desenvolvimento pessoal e
realização (D4). Desse modo, apesar da inespecificidade
e confiabilidade restritas da EQVF para a
mensuração da QV de pessoas portadoras de IA,
particularmente no que tange à D1, os resultados anteriores
vêm confirmar a influência negativa da IA na QV
da clientela em importantes aspectos da vida como o
bem estar físico (D1), o relacionamento com os outros
(D2) e as perspectivas de realização pessoal (D4).
Rockwood et al (36), em seu estudo acerca
da validação do Fecal Incontinence Quality of Life
Scale (FIQL) junto a 118 pacientes com IA, obtiveram
escores de 3,28 (DP=1,02) para estilo de vida; 2,84
(DP=1,23) para "coping" ; 3,68 (DP=1,02) para depressão/
auto-percepção e 2,87 (DP=1,13) para
constrangimento, numa variação possível de 1 a 5, onde 1 representa
a pior QV e 5, a melhor QV. Esses escores foram significativamente menores do que aqueles
obtidos pelas pessoas que compuseram o grupo
controle, respectivamente para os mesmos domínios.
Deve-se ressaltar nesses resultados, tanto a necessidade
de adequação de comportamentos que visem à
segurança do paciente, enquadrados na dimensão "coping",
como o constrangimento provocado pela presença das
perdas fecais, ambos com os menores valores (2,84 e
2,87, respectivamente).
Em outro estudo comparando a QV de portadores de IA, de doença hemorroidária, de
fissura anal e pessoas saudáveis através do
Gastrointestinal Quality of Life Index (GIQLI) _ também
inespecífico para a IA e não validado no Brasil _ Sailer et al
(50), constataram que os pacientes incontinentes
possuíam os mais baixos escores globais de QV,
demonstrando diferenças estatisticamente significantes com
os indivíduos dos demais grupos.
Embora de difícil comparação com
os resultados desses estudos internacionais, quer seja
pela especificidade dos instrumentos utilizados, quer
seja pela diversidade das dimensões adotadas pelos
autores, os dados desses estudos corroboram a
influência negativa de uma alteração crônica e marcante como
a IA, independentemente da causa, no que tange à
QV não só no seu aspecto de saúde física,
como, principalmente, nas esferas psicossociais,
manifestas pelas dificuldades nas relações e percepções
pessoais acerca de si mesmo.
Conclusões
O estudo acerca da QV de 41 pessoas portadoras de IA, utilizando-se um
instrumento genérico de avaliação da QV - EQVF -
possibilitou constatar escores que variaram da indiferença à
pouca satisfação com a QV, tendendo, no
entanto, positivamente para a satisfação. Bem-estar físico
(D1) e desenvolvimento pessoal e realização (D4)
obtiveram os menores escores dentre as 5 dimensões da EQVF;
e o IIA apresentou correlações
negativas, estatisticamente significantes, não só com o escore
total de QV como com as Dimensões 1, 2 e 4, ou seja,
bem estar físico e material, relações com outras pessoas
e desenvolvimento pessoal e realização,
respectivamente, ratificando a influência negativa da IA na QV
da clientela.
Dessa maneira, embora os resultados aqui obtidos não permitam sua generalização, não só
pela complexidade das características de
multidimensionalidade, polissemia e subjetividade
do construto QV, como pelas limitações deste
estudo relacionadas, principalmente, ao tamanho da
casuística, a inexistência de um grupo controle e a utilização
de instrumento de medida inespecífico e com
restrita confiabilidade para esta clientela, eles são
indicativos do comprometimento da QV diante da presença de IA.
A confirmação de algumas dimensões da
QV mais comprometidas do que outras, não só neste
estudo, como na escassa literatura internacional acerca do
tema, apontam, mais uma vez, para a necessidade de intervenções precoces, interdisciplinares,
especializadas e holísticas junto aos indivíduos portadores
de IA, particularmente no que se refere a aspectos de
auto-percepção, auto-imagem, auto-estima e,
conseqüentemente, do mundo de relações desses sujeitos.
Futuros estudos são mandatórios não
só aprofundando e ampliando a questão da QV
dos portadores de IA, através de instrumentos
específicos ou mesmo genéricos mais adequados, como dos
aspectos antes apontados quanto à imagem corporal e à
auto- estima. Além disso, é importante continuar o
processo de validação da própria EQVF, pela
simplicidade, rapidez e facilidade de aplicação, incluindo-se
avaliações estatísticas por intermédio de análise fatorial
que ratifiquem ou remodelem as dimensões existentes,
mais adequadas à população brasileira.
SUMMARY: The aim of this study was to evaluate the quality of life (QOL) of 41 people with fecal incontinence through Flanagan´s Quality of Life Scale. The majority of patients were female (63,4%), white (73,2%), ³49 years old (68,3%), with symptoms over a year (83%) and revealed low to moderate satisfaction with their own lives (median total score of 5.31 and SD = 0.14). Positive statistical correlations (p<0.05) were observed among age and better QOL scores and negative among Fecal Incontinence Index and three out of five dimensions. Although the results showed interesting aspects of self perceptions from FI patients about their QOL, they also point out the need for future investigations.
Key words: quality of life, fecal incontinence, Flanagan's Quality of Life Scale
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Endereço para correspondencia:
Av. Dr. Eneas de Carvalho
Aguíar, 419
Cerqueira Cesar
Cep. 05403-000, São Paulo - SP
Trabalho realizado no Serviço de Fisiologia Anoretal do Ambulatório de Coloproctologia do Hospital das Clínicas da USP.