ATUALIZAÇÃO
Renato Araújo Bonardi - TSBCP
ANDREW CATANZARO, AMITABH CHAK, HARRY REYNOLDS. Colon Polyps Surveillance. Clinics in Colon and
Rectal Surgery 15;131-138:2002.
BONARDI RA. Vigilância para pólipos colônicos. Rev bras Coloproct, 2002; 22(3):193-195
ABSTRATO
O câncer colorretal é a segunda causa
principal de morte nos Estados Unidos.
O rastreamento e a vigilância para o
câncer colorretal estão se tornando bastante freqüentes e
com isto diminuindo a incidência desta neoplasia na
última década.
A ressecção endoscópica dos
pólipos adenomatosos tem demonstrado que reduz de
maneira significativa a incidência do câncer colorretal.
O acompanhamento dos pacientes após a remoção
de pólipos adenomatosos é imperativo, uma vez
que muitos destes pacientes ainda vão apresentar um
risco significante de desenvolver o câncer colorretal.
Para os pacientes com adenomas encontrados em uma primeira colonoscopia, o exame deve ser repetido
pelo menos em 3 anos. A idade do paciente, o número
de pólipos, o tamanho dos pólipos, a história familiar, e
a histologia dos pólipos são fatores importantes
para definir o intervalo da vigilância. Nos pacientes
com vários pólipos, pólipos grandes ou pólipos malignos,
o intervalo da vigilância deverá ser inferior a 3 anos.
Os programas de vigilância devem ser
individualizados, adaptados às condições clínicas do paciente e o
risco do desenvolvimento do câncer colorretal.
O quadro abaixo resume o intervalo
necessário para a vigilância.
Colonoscopia | 1º intervalo | 2º intervalo |
Adenomas | 3 anos | 3 ou 5 anos se não existirem pólipos |
Exame incompleto ou vários pólipos | 1 ano | 3 anos se o exame for completo |
Pólipos grandes e sésseis | ressecção completa repetir em 3 _ 6 meses |
pólipos residuais considerar cirurgia se completamente ressecados repetir a colonoscopia em 3 anos |
Pólipos malignos | seguimento em 3 _ 6 meses Cirurgia nos casos de coincidência da margem de ressecção, tumores indiferenciados ou invasão angiolinfática |
se completamente ressecados, seguimento em 3 anos. Se ressecados incompletamente, considerar cirurgia |
Estas recomendações não se aplicam para
os pacientes com doença inflamatória intestinal, para
os portadores de polipose familiar hereditária ou
síndromes de câncer colorretal hereditário não
polipoide.
Comentários
Os autores foram felizes em tentar
estabelecer parâmetros mais concretos para a vigilância
dos pacientes portadores de pólipos do cólon com
prevenção do câncer colorretal, porém gostaríamos de fazer
alguns comentários com relação à situação atual do
seguimento destes pacientes.
A colonoscopia de há muito é considerada
o padrão ouro na investigação dos pacientes
portadores de lesões do cólon de qualquer natureza,
especialmente daqueles portadores de pólipos
considerados precursores das neoplasias malignas. Para tanto tem
sido amplamente utilizada na detecção precoce do
carcinoma colorretal e na terapêutica dos pólipos. Com relação
a estes, que é o motivo desta apresentação,
destacamos as diversas modalidades morfológicas, desde
lesões pediculadas facilmente diagnosticáveis até
aquelas planas, não polipoides, que exigem do
endoscopista uma maior atenção, garantindo ao paciente o
tratamento imediato com a sua ressecção. Vem daí a
grande questão: como devem ser acompanhados os
pacientes submetidos a polipectomias prévias?
Quais seriam portanto os objetivos da colonoscopia? Detecção precoce do
carcinoma colorretal, diagnóstico e tratamento das
lesões precursoras como os pólipos. Em pacientes com
história familiar, ou sinais ou sintomas positivos
com colonoscopia negativa, devemos admitir que
lesões planas não observadas podem estar presentes
nos exames negativos. Rex (1997) demonstrou
claramente que com uma colonoscopia bem feita, os
pólipos grandes são diagnosticados em 100% das vezes,
porém em se tratando de pólipos de tamanho muito
pequeno existe uma perda diagnóstica de 27%, ou seja um
risco muito grande de não diagnosticarmos um precursor
do carcinoma colorretal ou mesmo um pequeno
carcinoma precoce.
O aumento da eficácia da detecção
traz benefício ao paciente?
Por unanimidade diríamos que sim!
Como mencionamos acima, Lembert demonstrou que carcinoma colorretal diagnosticado 3 anos após
uma colonoscopia representa uma lesão perdida,
não observada, corroborando com o que escreveu
Rex, mostrando uma margem de erro de 27% nas lesões
de pequeno porte. Atualmente já podemos com
segurança observar as atipias de criptas ("pit pattern"), lesões
em que pese mostrem alterações da mucosa, em
várias situações não apresentam progressão para lesões
mais graves. Nas displasias de baixo grau, questiona-se
a sua progressão para alto grau e dai para neoplasias.
Nas de alto grau, não invariavelmente, irão progredir
para carcinoma. Importante esta diferenciação
principalmente nos pacientes muito idosos com
co-morbidades várias, discute-se a validade de tratamentos de
lesões que têm um potencial de desenvolver um
carcinoma porém sem nenhuma certeza.
O avanço tecnológico tem sido muito
rápido com novas técnicas se desenvolvendo e se
divulgando de maneira exponencial. Os conhecimentos da
biologia molecular facilitam o entendimento das
lesões chamadas de esporádicas e das
verdadeiramente hereditárias, ditando uma necessidade
de acompanhamento preciso e seguro. Novas sondas
de avaliação tissular onde, sem a necessidade de
obtenção de tecido para biópsia, mas já durante o
exame endoscópico pode-se diagnosticar as alterações
das criptas, ajudando no diagnóstico e na necessidade
de obtenção de tecido para estudo
histológico especializado. Diagnóstico mais preciso dos
diferentes tumores, diferenciando o tratamento e melhorando
o prognóstico. A melhor qualidade da magnificação
da imagem levando ao uso constante da chamada
biópsia virtual. Todas estas noções já estão incutidas
nas mentes dos endoscopistas que procuram cada vez
mais atingir todo o seu objetivo com um único exame.
Não existem estudos prospectivos para
indicar qual o melhor intervalo para o seguimento de
um paciente submetido a polipectomia. Somente
análises retrospectivas tentam mostrar qual deve ser o
intervalo necessário para se proceder a um exame
endoscópico sem por em risco o paciente. Blumberg (2000)
analisou um grupo de pacientes submetidos a
polipectomia endoscópica e que tiveram sua colonoscopia
repetida em 4 anos; observou que 40% dos pacientes
já apresentaram novos pólipos. Concluiu que
devemos identificar os subgrupos de menor ou maior
risco; nestes últimos a colonoscopia deve ser inferior a
4 anos. Citarda (2001) analisando 1693 pacientes
com adenomas, com um seguimento médio de 10,5
anos, observou 6 cânceres enquanto o esperado para
esta série seria de 17.7; confirmando desta forma
o benefício da colonoscopia e da polipectomia.
Porém o intervalo ideal para a vigilância não foi
definido. Kronborg (2002) definiu muito bem que
não existem programas ideais para vigilância de
pacientes submetidos a polipectomia prévia. A identificação
dos chamados grupos de risco, nos quais o paciente
possa ser enquadrado, passa a ser de suma importância,
com a história familiar conhecida, testes genéticos
apurados que irão nortear o profissional médico a
estabelecer um programa ideal para o seu paciente ou grupo
de pacientes. Atualmente quando estamos vivendo
ainda uma turbulência no sentido de novos
conhecimentos talvez seja melhor "pecar por excesso" com
um seguimento mais freqüente. Além dos pacientes,
é importante a orientação segura dos seus familiares
nas diversas situações. Desta forma, como
não conseguimos ter um programa ideal, podemos
ousar afirmar que:
" O melhor següimento é aquele que oferece a maior segurança para o paciente".
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