ARTIGOS ORIGINAIS
JOSE ALFREDO DOS REIS JUNIOR-TSBCP
A T. NIGRO
JOAQUIM SIMÕES NETO-ASBCP
ODORINO HIDEYOSHI KAGOHARA-TSBCP
FLAVIO ANTONIO QUILICI-TSBCP
JOSE ALFREDO DOS REIS NETO-TSBCP
RESUMO: Com o desenvolvimento da tecnologia, a cirurgia vídeo-laparoscópica ganhou notoriedade no meio cirúrgico, porém ainda permanecem óbices, tais como a anastomose do reto médio. O objetivo deste estudo foi comparar dois tipos de fechamento de coto retal por vídeo-laparoscopia, fechamento com pontos simples realizado manualmente versus fechamento com grampeador linear mecânico, na anastomose colo-retal. Para isso, foram submetidos vinte suínos, em estudo randomizado (9 com fechamento manual e 11 com fechamento mecânico do coto retal), à retocolectomia e reconstrução do transito mecanicamente. As suturas foram avaliadas aos sete dias do pós-operatório, com atenção ao estudo macro e microscópico das anastomoses e das complicações a elas atribuíveis. A análise deste estudo permitiu concluir que existe similaridade entre as duas técnicas empregadas para o fechamento do coto retal por vídeo-laparoscopia em suínos.
Unitermos: Cólon, intestino grosso, anastomose, cirurgia laparoscópica, suínos, cólon/ cirurgia, videolaparoscopia
INTRODUÇÃO
O interesse pelo tratamento e diagnóstico
de doenças intra- abdominais com abertura diminuta
da cavidade peritoneal e, por conseguinte, com
mínima exposição das vísceras ao meio exterior, remonta
a 18061, porem coube a Jacobaeus
(1910)2 introduzir este procedimento no uso clínico,
denominando-o "laparoscopia".
A utilização de dispositivos eletrônicos
para fotografia e cinema3,4 facilitou a introdução do
método endoscópico ao arsenal da terapêutica
cirúrgica, permitindo a realização da primeira
colecistectomia por
vídeo-laparoscopia5.
Os resultados favoráveis deste
método6,7,8,9,10,11 encorajaram a transpor esta via de acesso para
a Coloproctologia, tendo sido realizadas
ressecções colônicas com resultados
positivos12,13,14. Ficou demonstrado também que o maior óbice
desta modalidade consistia na realização das
anastomoses
intestinais15,16,17.
Baseados nessas dificuldades encontradas, quanto ao fechamento da ampola retal na
anastomose colo-retal abaixo da reflexão peritoneal,
resolvemos avaliar a possibilidade de efetuar este
procedimento com sutura manual videolaparoscópica.
OBJETIVO
Comparar a sutura manual com a mecânica
no fechamento do coto retal por via vídeo-laparoscópica.
PACIENTES E MÉTODO
Foram utilizados 20 suínos, Sus scrofa
domesticus, machos, jovens, aparentemente sadios, com
peso corporal variando de 17 a 19 kg, que foram locados
em gaiolas individuais, com luz ambiente e água potável
à vontade.
A distribuição dos animais em dois
grupos, denominados respectivamente A e B, foi
aleatória, diferindo somente quanto à técnica empregada:
A) Sutura manual do coto retal.
B) Sutura mecânica do coto retal.
Os animais ficaram alojados nas
dependências do Laboratório de Bases de Técnica Operatória
do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade
de Ciências Médicas da Pontifícia Universidade
Católica de Campinas (PUC-CAMPINAS) e mantidos
em gaiolas individuais com luz ambiente e
condições sanitárias adequadas.
No pré-operatório os animais do
experimento receberam dieta líquida por 12 horas e, a
seguir, permaneceram em jejum por mais 12 horas,
perfazendo 24 horas de preparo.
O preparo antimicrobiano intestinal, em
todos os animais, foi realizado com hidroxi-2, metil-2,
nitro-5, imidazol (metronidazol) em frasco de 100 ml
de solução a 0.5% (500 mg), por via endovenosa, na
dose de 22,5 mg para cada quilograma de peso
corporal durante a indução anestésica, e cefalotina sódica
na dose de 100 mg para cada quilograma de peso
corporal no pré operatório ( 6 horas antes da cirurgia), na
indução anestésica e no pós operatório (6 horas após o
ato operatório).
No pré anestésico os animais
receberam midazolan (dormonid) via intramuscular, na dose
de 2,5 mg por quilograma de peso e cloridrato de
cetamina (ketalar) via intramuscular na dose de 8,0 mg
por quilograma de peso.
Os animais foram induzidos a anestesia,
após 15 minutos da medicação pré anestésica, com
tiopental sódico a 2,5% (thionembutal) via endovenosa, na
dose de 10 a 12 mg por quilograma de peso.
Foram submetidos a anestesia geral com
citrato de fentanila (fentanil), via intravenosa, na dose de
0,012 mg para cada quilograma de peso, e o
relaxamento muscular com cloreto de alcurônio (alloferine),
via intravenosa, na dose de 1,1 mg para cada
quilograma de peso, com entubação oro-traqueal e
respiração assistida pelo aparelho Takaoka, modelo 660.
Durante o ato operatório, foi
administrada solução glicofisiológica ( glicose 5% e cloreto de
sódio a 0,9% ) por perfusão intravenosa contínua, 2
gramas de vitamina C, 2ml de complexo B e com
adição suplementar de anestésico quando necessário.
Na reanimação anestésica foi utilizado cloridrato
de nalorfina (nalorfine), via intravenosa, na dose total
de 0,4 mg e neostigmina (prostigmine), via
intravenosa, na dose de 0,1 mg para cada quilograma de peso.
Técnica operatória
Os animais anestesiados foram colocados
em decúbito dorsal horizontal sobre a mesa cirúrgica,
em canalete, e imobilizados por meio de fixação de
todos os membros, com especial atenção para os
posteriores, mantidos fletidos para melhor exposição do canal anal.
Não foi realizada a tricotomia nestes animais.
Realizou-se a anti-sepsia com solução
de povidine, observando-se cuidadosamente todos os preceitos da técnica asséptica.
· Tempos técnicos comuns aos dois
grupos estudados:
1°) Realização do pneumoperitônio pela técnica
de punção, através da agulha de Veress, no
quadrante superior esquerdo, 1 cm acima da cicatriz
umbilical, utilizando gás carbônico com fluxo inicial de 1
litro por minuto e manutenção da pressão
intra-abdominal em 10 milímetros de mercúrio;
2°) Introdução do primeiro trocarte (10 mm)
em quadrante superior direito a 2 cm da cicatriz
umbilical na linha mamilar;
3°) Visibilização da cavidade abdominal e
introdução dos demais trocartes, segundo o esquema:
segundo trocarte (10 mm) é locado na região da punção
do pneumoperitônio; terceiro trocarte (12 mm) é posto
no quadrante inferior direito 4 cm abaixo do
primeiro trocarte na linha mamilar e o quarto trocarte (12
mm) em quadrante inferior esquerdo, 4 cm abaixo do segundo trocarte e 2 cm lateral à linha
mamilar esquerda (Figura-1);
Figura 1 _ Posicionamento dos trocartes. |
4°)Fixação da bexiga urinária à parede
abdominal anterior por ponto transfixante e realização de
punção da mesma com aspiração do seu
conteúdo18;
5°)Liberação do reto por via abdominal com
incisão do mesorreto, a cerca de 5 cm acima do
promontório, e dissecção com tesoura do mesorreto posterior,
em direção caudal, até 1 cm abaixo da reflexão
peritoneal do reto. Identificação da artéria retal cranial e de
seus ramos terminais. Realização da clipagem e de
secção destes ramos terminais.
6°)Coprostasia e lavagem do reto, por via
endoanal, com solução diluída de povidine em solução
fisiológica de cloreto de sódio a 0,9% até retorno claro
(na proporção de 500 ml de solução fisiológica de
cloreto de sódio a 0,9% para cada 25 ml de povidine);
7°) Realização do sorteio dos animais para a
introdução aleatória em um dos grupos, a saber: A ( secção
do reto e fechamento do coto retal distal com
instrumento de sutura manual, com pontos simples distantes
entre eles de 0,5 cm ); B ( secção do reto e fechamento
do coto retal distal com grampeador linear);
8°) Exteriorização do coto retal proximal pelo
quarto trocarte (localizado em quadrante inferior esquerdo)
e ressecção de 3 cm de intestino grosso.
9°) Realização da bolsa anastomótica em
colo descendente e colocação da ogiva do
grampeador circular neste segmento intestinal;
10°) Introdução do grampeador circular por via anal
e transfixação do coto retal;
11°) Realização da anastomose mecânica
término-terminal, utilizando-se grampeador circular
(PCEEA n° 21 Auto Suture Company) (Figura-2)
12°) Aspiração dos líquidos intracavitários, retirada
do pneumoperitônio e dos trocartes e fechamento
dos orifícios com algodão 00 e pele com nylon 000
em pontos separados.
Figura 2 - Transfixação do coto retal para a realização da anastomose nos animais do grupo B. |
· Tempos técnicos distintos de cada grupo:
1. Grupo A:
Delimitação do segmento de ampola retal a
ser seccionado, abaixo da reflexão peritoneal.
Colocação de pinça atraumática intestinal
para coprostase no reto distal e anodamento de fita
cardíaca proximal, mantendo-se entre as mesmas uma
distância mínima de 4 cm (Figura-3). Secção da ampola
retal com tesoura, mantendo-se uma distância similar
entre as extremidades retais.
Fechamento do coto retal distal
utilizando-se de porta agulha especial para aplicação de
pontos (Endostich Auto Suture Company) e fio de
polilático (90%) com poliglicólico (10%) dois zeros
(Polysorb*) com pontos separados interessando todas as
camadas da parede do coto retal caudal (Figuras 3 e 4).
Figura 3 - Fechamento do coto retal distal com pontos manuais. |
Figura 4 - Transfixação do coto retal pela haste do grampeador na linha de sutura nos animais do grupo A. |
2. Grupo B:
Introdução pelo terceiro trocarte (12 mm)
do aparelho grampeador linear (Endolinear 3.0), pinçamento do reto abaixo da reflexão peritoneal
e disparo do aparelho, que ao mesmo tempo secciona
e fecha ambos os seguimentos intestinais (Figura-5).
Figura 5 - Colocação de grampeador linear e anodamento com fita cardíaca delimitando o segmento a ser ressecado. |
Pós operatório
Os animais foram mantidos no Laboratório
de Técnica Cirúrgica da Pontifícia Universidade
Católica de Campinas, em gaiolas individuais, com
hidratação parenteral no pós-operatório imediato e introdução
de alimentação oral 24 horas após a cirurgia.
Receberam a seguir dieta de líquidos
no primeiro dia de pós-operatório e, depois, dieta
com ração para suíno.
Todos os animais foram avaliados clinicamente, pelo menos duas vezes ao dia, no
período pós-operatório até a data em que foram
sacrificados. Observou-se o comportamento do animal,
notadamente sua atividade física, sua alimentação, locomoção
e evacuações.
Os animais no 7° dia pós operatório
foram anestesiados com tiopental sódico
(thionembutal) sendo submetidos a laparotomia
pubo-umbilical mediana para verificação da cavidade abdominal
e retirada do reto e bexiga urinária (em
bloco), compreendendo a região anastomótica
realizada anteriormente. A seguir, foram mortos com uma
dose aumentada de anestésico.
Na verificação da cavidade
abdominal observou-se a presença de aderências nas regiões
dos trocartes, sinais de peritonite, aderências entre
órgãos abdominais, abscessos, fístulas e
deiscência anastomótica.
Foi verificado o índice de estenose, e
o parâmetro para esse exame foi a medida, em centímetros, do diâmetro intestinal ao nível
da anastomose, comparada com a dos segmentos
vizinhos, sendo denominado índice de
estenose19,20 e calculado pela seguinte fórmula:
índice de estenose = 100*
{1-[2A/(B+C)]}
onde: A = diâmetro ao nível da sutura;
B e C = diâmetros intestinais, respectivamente 2 cm acima e
2 cm abaixo da anastomose.
As peças retiradas foram examinadas na
linha de sutura, com a finalidade de se evidenciar,
macroscopicamente, a sua integridade ou a presença de
bloqueio epiplóico, de deiscência, de trajeto fistuloso e
de abscesso.
Foi introduzido gás CO2, com
pressão constante de 15 mm de mercúrio, no lúmen da
peça retirada, que estava submersa em soro fisiológico,
para a detecção de fístulas.
Após esse teste de insuflação, as peças
foram abertas longitudinalmente e examinadas de acordo
com os critérios estabelecidos para a observação
macroscópica. Assim o aspecto da mucosa foi
classificado como normal, quando não se notassem alterações
e, alterada, quando ocorresse hiperemia, necrose, hemorragia, ulcerações, abscessos e fístulas ao
nível da linha de sutura.
Para o exame microscópico da anastomose
foi retirado um fragmento de 1 cm de largura, estando
a linha de sutura situada na parte mediana do espécimen.
No exame histológico os fragmentos intestinais
obtidos das zonas das anastomoses foram fixados em
solução de Bouin ( formol a 40% 250 ml, ácido pícrico 750
ml, ácido acético 5 ml) e, após a remoção dos grampos
de sutura, foram feitos cortes de 5 micra de
espessura, que foram corados pela solução de
hematoxilina-eosina, com a finalidade de se avaliar a evolução
do processo cicatricial na linha de sutura e a espessura
da parede.
Os critérios adotados na quantificação
dos resultados histopatológicos, eventualmente
presentes, foram os seguintes:
1°) Na reação inflamatória exsudativa, indicador
da fase aguda, foram observadas as alterações
como edema, congestão vascular e afluxo de neutrófilo
e assim quantificadas:
(-) ausente; (+) presente.
2°) Na reação inflamatória crônica, indicador da
fase reparativa, as alterações estudadas foram a fibrose
e o infiltrado mononuclear e assim quantificadas:
(-) ausente; (+) presente.
3°) Foi também observada a presença de
ulcerações e de reação granulomatosa e assim quantificadas:
(-) ausente; (+) presente
Análise estatística
Para análise dos resultados foram aplicados
os seguintes testes:
1)- Teste exato de FISHER com a finalidade de
estudar a presença ou ausência das características
estudadas entre o grupo A e o grupo B.
2)- Teste de MANN-WHITNEY para confrontar o grupo A com o grupo B para o índice de estenose.
Fixou-se em 0,05 ou 5% (a £ 0,05) o nível de
rejeição da hipótese de nulidade.
RESULTADOS
Os resultados obtidos podem ser analisados
nas tabelas que seguem.
Porcos submetidas a
vídeo-laparoscopia segundo achados macroscópicos após a morte:
Porcos submetidos a
vídeolaparoscopia segundo os achados microscópicos:
DISCUSSÃO
A anastomose colorretal mecânica, em
cirurgia vídeolaparoscopica, é um método operatório
consagrado e obrigatório, porém apresenta dificuldades
para a sua realização quando localizada no reto médio,
fato este relacionado com a confecção da bolsa do coto retal.
O avanço da tecnologia permitiu o
desenvolvimento de aparelhos de sutura mecânica
linear, próprios para a endocirurgia, que vieram sanear
estas dificuldades.
No entanto, a mobilização destes
aparelhos dentro da pelve é difícil, devido ao seu tamanho e
à falta de articulação de seus ramos.
A feitura de suturas manuais por
vídeolaparoscopia é factível e apresenta bons
resultados21.
A escolha do suíno deve-se à
semelhança anatômica do colo esquerdo e reto com o do
ser humano, e à possibilidade de
ressecabilidade18.
O critério para a escolha do sétimo dia do
pós operatório para a avaliação da anastomose deve-se
ao fato da mesma ainda estar na fase aguda da cicatrização.
Utilizou-se somente a restrição de
alimentos sólidos nas primeiras 12 horas e em seguida
jejum absoluto, por ter-se optado pela realização da
limpeza mecânica do conteúdo colo-retal no intra
operatório, com solução diluída de povidine e
proteção antimicrobiana para a profilaxia da infecção.
Esta profilaxia, em associação com os
preceitos da técnica operatória asséptica adotados,
contribuíram significativamente para os resultados obtidos
nos grupos estudados.
O ato operatório transcorreu sem
intercorrências na grande maioria dos animais, porém, nos
de número 5, 7 e 10 do grupo A houve extravasamento
de urina na cavidade abdominal ao aplicarem-se
pontos para fixar a bexiga urinária. No animal de número
16 do grupo B encontrou-se dificuldade para a
retirada do grampeador circular. No animal de número 8
do grupo B houve um sangramento, ramo terminal da artéria retal cranial, que foi controlado por
clipagem. No animal de número 17 do grupo A, o fechamento
do coto retal foi considerado incompleto, durante
a manobra da realização da anastomose
termino-terminal mecânica, o que exigiu a complementação da
sutura pela aplicação de mais um ponto.
A maior dificuldade encontrada com os grampeadores circulares foi na passagem pela
pelve estreita dos suínos jovens, onde somente
os grampeadores PCEEA n° 21 passaram sem
ocasionar um trauma maior.
Na anastomose colorretal por videolaparoscopia há a necessidade da utilização
dos grampeadores circulares, com fechamento prévio
da ampola retal por grampeadores lineares, sendo este
ato operatório de fácil
execução15,16,17.
Na realização do fechamento da ampola
retal, por sutura manual, por vídeolaparoscopia existe
a necessidade de maior adestramento na feitura dos
nós intra-cavitários, fato que retarda o ato operatório.
O tempo operatório, embora não tenha
sido analisado separadamente, permitiu verificar
maior rapidez na feitura do fechamento do coto retal, com
a utilização da sutura mecânica.
A evolução no pós-operatório foi
satisfatória, não ocorrendo óbitos e não foram
observadas diferenças estatísticas significantes, quanto ao
tempo de inicio da realimentação, da deambulação e
das evacuações.
Ocorreu baixa incidência de
morbidade, porém, no animal de n°15 do grupo A, observou-se
a presença de uma hérnia incisional no trocarte de
fossa ilíaca esquerda.
Na avaliação da cavidade peritoneal não
se observou presença de peritonite (Tabela-1),
aderências nas regiões dos portais ou de abscesso pélvico.
Aliás, tal fato confirma os dados da literatura
sobre aderências22.
Tabela 1 - Presença de peritonite abdominal
Grupo | Presente | Ausente | Total | % presente |
A | 0 | 9 | 9 | 0,00% |
B | 0 | 11 | 11 | 0,00% |
Total | 0 | 20 | 20 | 0,00% |
Encontrou-se, em 50% dos animais, sem diferenças estatísticas entre os dois grupos,
presença de aderência entre a região anastomótica e a
bexiga urinária.
O teste de insuflação gasosa não
permitiu verificar presença de extravasamento de gás por
trajeto fistuloso (Tabela-2), mesmo no animal de número
10, grupo A, que apresentava fístula anastomótica.
Neste animal o trajeto fistuloso estava bloqueado
por aderências entre a anastomose e a bexiga urinária.
Em outros dois suínos, número 7 (grupo A) e número
12 (grupo B) a fístula também esteve presente, porém
só perceptível no exame microscópico.
Tabela 2 - Presença de escape de gás pela linha de sutura
Grupo | Presente | Ausente | Total | % presente |
A | 0 | 9 | 9 | 0,00% |
B | 0 | 11 | 11 | 0,00% |
Total | 0 | 20 | 20 | 0,00% |
Os relatos de Moritz et al. (1991) e de
Griffen et al. (1990 e 1992), relatam presença de
fístulas anastomóticas demonstradas por exames
radiológicos ou clínicos em 2,8 e 3,3%, respectivamente, e
quando comparados a grupos com sutura
termino-terminal direta, Moritz et al. (1991) relatam 8,6% de
fístulas clínicas. Não encontrou-se nenhum
trabalho semelhante, em suínos, ao que foi realizado
neste experimento.
Segundo Cordeiro, F (1995), é
importante salientar que a presença de uma fístula não
representa comprometimento clínico, mas sim a perda
de conteúdo intestinal para a cavidade livre, o que
fez com que em três animais (n° 7 e 10 do grupo A
e n°12 do grupo B), apesar de apresentarem
fístulas anastomóticas não evidenciassem
repercussão sistêmica, provavelmente devido a
aderências epliplóicas ou de órgãos vizinhos.
A presença de necrose macroscópica
da mucosa encontrada no animal de número
17, pertencente ao grupo A (Tabela-3), pode dever-se
ao fato da dificuldade na retirada do aparelho de
sutura mecânica circular (PCEEA n° 21). Nos demais
animais não se observou a presença de necrose
macroscópica na linha de sutura. No animal de número 14, do
grupo B, notou-se a presença de necrose no
estudo microscópico. Em ambos (animais de número 17 e
14) verificou-se hemorragia intersticial.
Tabela 3 - Presença de necrose observada à macroscopia na região anastomótica.
Grupo | Presente | Ausente | Total | % presente |
A | 0 | 9 | 9 | 0,00% |
B | 1 | 10 | 11 | 0,09% |
Total | 1 | 19 | 20 | 5,00% |
P=0,5500 |
Foi encontrada somente uma fístula anastomótica macroscópica (Tabela-4) no grupo A, animal n° 10, e nenhuma no grupo B, porém sem significância estatística.
Tabela 4 -Presença de fístula na região de anastomose
Grupo | Presente | Ausente | Total | % presente |
A | 1 | 8 | 9 | 11,11% |
B | 0 | 11 | 11 | 0,00% |
Total | 1 | 19 | 20 | 5,00% |
P=0,4500 |
O índice de estenose23 mostrou-se semelhante em ambos os grupos de anastomose (Tabela-5), coincidente aos dados da literatura24.
Tabela 5 - Porcos submetidos a vídeo-laparoscopia segundo o índice de estenose
Grupo A | Grupo B |
-4 | 15 |
1 | 12 |
3 | 0 |
20 | 9 |
13 | 5 |
19 | 16 |
-1 | 0 |
11 | 6 |
7 | 6 |
36 | |
12 | |
7,67 | 7,45 |
U calc = 47 | U crit = 23 |
Não foi observada, em nenhum dos
animais estudados, a presença de deiscência
anastomótica, resultado este em concordância com a
literatura15,16,17.
Nenhum autor, segundo pesquisa que fizemos na literatura, fez estudo histológico semelhante ao
que fizemos neste nosso trabalho.
A avaliação histológica, no sétimo dia de
pós-operatório, mostrou evolução cicatricial em ambos
os grupos, não sendo evidenciada diferença
estatística significante .
A presença de edema, congestão
vascular, afluxo de neutrófilos e ulcerações foram
semelhantes em ambos os grupos (Tabela-6).
Tabela 6 - Presença de edema encontrado na fase aguda do processo de cicatrização.
Grupo | Presente | Ausente | Total | % presente |
A | 4 | 5 | 9 | 44,44% |
B | 7 | 4 | 11 | 63,64% |
Total | 11 | 9 | 20 | 55,00% |
P=0,3424 |
O processo cicatricial da fase crônica também foi semelhante entre os dois grupos ( Tabelas 7 e 8), não havendo diferença estatística significante.
Tabela 7 - Presença de fibrose encontrada na fase crônica do processo de cicatrização.
Grupo | Presente | Ausente | Total | % presente |
A | 9 | 0 | 9 | 100% |
B | 11 | 0 | 11 | 100% |
Total | 20 | 0 | 20 | 100% |
Tabela 8 - Presença de reação granulomatosa encontrada na fase crônica do processo cicatricial.
Grupos | Presente | Ausente | Total | % presente |
A | 8 | 1 | 9 | 88,89% |
B | 10 | 1 | 11 | 90,91% |
Total | 18 | 2 | 20 | 90,00% |
P= 0,7105 |
A presença de fístula anastomótica microscópica se fez presente em três animais, sendo dois do grupo A ( n° 7 e n° 10 ) e um do grupo B (n° 12), porém sem diferença estatística significante (Tabela-9).
Tabela 9 - Presença de fístula na linha de sutura
Grupo | Presente | Ausente | Total | % presente |
A | 2 | 7 | 9 | 22,22% |
B | 1 | 10 | 11 | 9,09% |
Total | 3 | 17 | 20 | 15,00% |
P= 0,4210 |
Foi encontrada a presença de necrose em dois animais, um de cada grupo (grupo A, animal n°14 e grupo B, animal n°17) sem diferença estatística significante (Tabela-10).
Tabela 10 - Presença de necrose na linha de sutura
Grupo | Presente | Ausente | Total | % presente |
A | 1 | 8 | 9 | 11,11% |
B | 1 | 10 | 11 | 9,09% |
Total | 2 | 18 | 20 | 10,00% |
P = 0,7105 |
Os trabalhos de ressecções colônicas,
por vídeolaparoscopia em suínos, estudam somente
as anastomoses colorretais com o fechamento do coto
retal mecanicamente, não comparando com o
fechamento manual .15,16,17,22.
Apesar dos resultados obtidos não
serem estatisticamente significantes, o fechamento da
ampola retal em suínos, com sutura mecânica, apresenta
a vantagem da não abertura da alça intestinal dentro
da cavidade, diminuindo assim o risco de
contaminação da cavidade peritoneal, porém oferece a
desvantagem da feitura da mesma em pelves estreitas, onde
os grampeadores lineares encontram dificuldade
para serem posicionados. Este fato ocorre devido
ao tamanho e à falta de maleabilidade dos
grampeadores. Com o avanço da tecnologia, sem dúvida este
problema irá ser resolvido, porém, enquanto isto não ocorrer,
a realização do fechamento do coto retal com
sutura manual é uma opção tática tão eficaz quanto a
sutura mecânica.
CONCLUSÃO
Os resultados obtidos neste estudo
demonstram a similaridade, no sétimo dia de pós operatório,
do fechamento da ampola retal, tanto manualmente,
com pontos simples, como mecanicamente, com grampeadores lineares, na anastomose
colo-retal termino-terminal mecânica por vídeo-laparoscopia
em suínos.
SUMMARY: Though video-laparoscopic surgery has become widely known in the surgical field due to the development of technology, some obstacles still exist such as the anastomosis of the middle rectum.The aim of this trial is to compare two types of video-laparoscopic closure of the rectal stump in a colon-rectal anastomosis: manual sewing closure with interrupted stitches versus mechanical closure of the rectal stump.Twenty piglets were submitted to segmental colectomy and reconstruction of the transit with end-to-end stapler anastomosis of the rectum to the colon. The animals were randomly distributed into two groups: a) closure of the rectal stump with manual sewing; b) closure of the rectal stump with linear stapler.All the animals were evaluated on the 7th post-operative day with special attention given to the macro and microscopic study of the rectal closure and the anastomosis, as well as to the consequences attributed to them.The analysis of this study led us to the conclusion that there is a similarity between the two techniques used for the closure of the rectal stump using video-laparoscopy in piglets.
Key words: laparoscopic surgery, rectal stump, anastomosis
Referências Biliográficas
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Http://www.laparoscopy.com
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bei unterschung seroser hohlungen anzuwender. Munch.
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Endereço para correspondência:
Rua General Osório, 2273
13010-112 -Campinas (SP)
E-mail: drreisjunior@clinicareisneto.com.br
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Trabalho realizado na Escola Paulista de Medicina, Clinica Reis Neto e PUC-Campinas