ATUALIZAÇÃO
Renato Araújo Bonardi - TSBCP
BONARDI RA. Anopexia circular mecânica para doença hemorroidária: resultados. Rev bras Coloproct, 2002; 22(4):264-265
ABSTRATO
Existe atualmente uma controvérsia
muito grande a respeito da melhor técnica para o
tratamento cirúrgico das hemorróidas, principalmente com
o desenvolvimento de uma nova alternativa que
não simplificou tal situação. Baseados nas opiniões
em publicações recentes, podemos distinguir três
pontos de vista desta controvérsia, todos bastante
defendidos por especialistas da área: 1. A ligadura
elástica raramente representa a cura cirúrgica completa
das hemorróidas; 2. A técnica convencional de
Milligan-Morgan é um procedimento seguro e eficiente; 3.
e finalmente o grupo que não se satisfaz com as
técnicas habituais e procura novas alternativas, como a
anopexia circular mecânica. Entretanto ainda não
existem evidências científicas que possam comprovar
a superioridade desta técnica em relação às
demais, dificultando determinar se esta é ou não uma
escolha certa.
O propósito deste trabalho é proporcionar
uma visão geral dos resultados do estado atual da
anopexia circular mecânica.
Os autores fazem uma comparação
dos resultados de diversos grupos que publicaram
seus resultados com esta nova técnica. Enfatizam
as vantagens teóricas da hemorroidectomia
por grampeamento, como também é conhecida,
com relação a alguns fatores principalmente relaconados
à cirurgia considerada padrão ouro para o tratamento
das hemorróidas que é a técnica de Milligan-Morgan.
Uma análise crítica é apresentada, comparando os
dois procedimentos em termos de: 1. Dor
pós-operatória; 2. Tempo de cirurgia; 3. Hospitalização; 4.
Cuidados com a ferida; 5. Período de recuperação;
6. Complicações; 7. Continência anal; 8. Cura
dos sintomas; e 9. Custos.
Os resultados podem ser resumidos no
quadro abaixo:
Anopexia Mecânica | Hemorroidectomia Cirúrgica Convencional | |
Tempo operatório | < | > |
Tempo de anestesia | < | > |
Hospitalização | < | > |
Afastamento do trabalho | < | > |
Cuidados com a ferida | < | > |
Dor no pós-operatório | < | > |
Concluem os autores que a anopexia mecânica é provavelmente menos dolorosa do que a cirurgia convencional, porém quando comparada a técnicas alternativas como a ligadura elástica, ainda não se tem uma comprovação confiável, considerando-se os resultados a longo prazo.
Comentários
Este é um artigo bastante
pertinente, principalmente porque, tendo a maioria
dos coloproctologistas grande experiência com a
cirurgia convencional para o tratamento das hemorróidas e
já realizando a hemorroidectomia por grampeamento
com bons resultados, podemos entender que algumas considerações devem ser mencionadas para que
não se tenha uma idéia errônea a respeito desta
nova técnica.
Em primeiro lugar a indicação do uso
da hemorroidectomia por grampeamento a que vamos
nos referir como PPH, deve ser feita somente para
as hemorróidas com prolapso mucoso mais
acentuado, ou seja, com um componente interno exuberante.
Nos pacientes com plicomas exuberantes cujas queixas
são relacionadas a estas hemorróidas externas, o PPH
pode não apresentar o resultado esperado pelo
paciente. Outro detalhe importante é que a comparação
das técnicas baseadas no índice de satisfação dos
pacientes não é um processo muito confiável, uma vez que
não importa qual técnica utilizada, sendo bem
executada, não havendo complicações, os resultados
esperados devem ser alcançados e os pacientes livres dos
seus sintomas irão nos informar que estão
plenamente satisfeitos. Portanto, ao paciente não cabe saber
qual técnica foi utilizada, e o cirurgião torna-se de
suma importância para a indicação e execução
do procedimento. Podemos identificar várias
técnicas para o tratamento cirúrgico das hemorróidas:
1. Técnicas abertas (Milligan-Morgan; Buie); 2.
Semi-fechadas (Ruiz Moreno, Obando); 3. Fechadas (Fergusson); 4. Circunferenciais (Whitehead) e
5. Mecânicas (PPH). Todas, quando bem empregadas
e bem executadas, devem proporcionar os mesmos resultados.
Outros métodos comparativos, como
avaliação de dor, cicatrização, afastamento das atividades,
são de caráter muito subjetivo e não
representam verdadeiramente a supremacia de uma técnica
em relação à outra. Por exemplo, o afastamento
das atividades representa um fenômeno sócio-cultural
tanto na Europa quanto no Brasil.
Recentemente em nosso meio, Olival de Oliveira Jr. muito bem demonstrou que um
método comparativo entre diferentes técnicas
de hemorroidectomia cirúrgica foi a medida das
pressões anais no pós-operatório. Em um grupo de 120
pacientes divididos aleatoriamente em 3 grupos iguais e
submetidos a três diferentes técnicas de
hemorroidectomia que, segundo Corman (1998), são:
Milligan-Morgan, Buie e Fergusson. As medidas das pressões de
repouso e contração voluntária foram obtidas 7 dias antes
do procedimento cirúrgico e no pós-operatório nos
dias 7, 15, 30 e 60. Observou o autor que as pressões
anais tanto de repouso quanto de contração voluntária
sofrem uma diminuição no pós-operatório retornando
em períodos diferentes aos níveis pressóricos do
pré-operatório, indicando portanto que o fator
de incontinência muitas vezes experimentado por
alguns pacientes desaparece completamente ao final dos
60 dias, demonstrando que todas as técnicas
empregadas alcançaram um mesmo resultado satisfatório.
As complicações quando observadas
nas diversas técnicas podem ser bastante desastrosas,
como a fissura residual, a estenose, a recidiva das
hemorróidas e no caso do uso do PPH a fístula reto-vaginal.
Acreditamos portanto que a escolha e a realização do procedimento cirúrgico deve ser
feita de maneira criteriosa e por cirurgiões afeitos
aos procedimentos cirúrgicos relacionados ao anus e
canal anal.