ARTIGOS ORIGINAIS
MARISTELA GOMES DE ALMEIDA - TSBCP
ANTÔNIO CARLOS BARAVIERA - TSBCP
ANNA PAULA ROCHA MALHEIROS
DETLEV MAURI BELLANDI
RAFAEL MACHADO CURY
MAURO HENRIQUE DE SÁ ADAMI MILMAN
DESIDÉRIO ROBERTO KISS - TSBCP
ALMEIDA, MG; BARAVIEIRA, AC; MALHEIROS, APR; BELLANDI, DM; CURY, RM; MILMAN, MHSA; KISS, DR -
Polipectomias Endoscópicas - Estudo Histopatológico e Complicações.
Rev bras Coloproct, 2003;23(2):100-104
RESUMO : Objetivos: Avaliar em estudo retrospectivo, 2277 videocolonoscopias realizadas no Serviço de Coloproctologia do
Hospital Prof. Edmundo Vasconcelos, relacionando o procedimento de polipectomia endoscópica com as características do
pólipo encontrado, afecções coloproctológicas concomitantes e complicações relacionadas à polipectomia. Pacientes e métodos: De um
total de 2277 videocolonoscopias, realizadas no período de abril de 1996 a agosto de 2002, evidenciaram-se 542 pólipos em 379
destes exames, nos quais foram realizadas polipectomias endoscópicas e enviado material para análise histopatológica. Resultados
e conclusões: Histologicamente, os pólipos eram neoplásicos em 236 casos (43,50%) e não neoplásicos em 306 casos (56,50%).
Dos pólipos neoplásicos, pelo menos 29 pólipos tinham algum grau de atipia (12,30%), sendo que 4 deles apresentavam atipia
intensa (2,40%), ou seja, foram classificados como carcinomas in situ. As complicações após a polipectomia foram raras e ocorreram em
5 pacientes, representadas pela ocorrência da síndrome pós- polipectomia em 2 casos (0,52%) e hemorragia digestiva baixa em 3
casos (0,79%). Não houve nenhum caso de perfuração intestinal neste estudo. Conclui-se, portanto, que todos os pólipos
encontrados devem ser retirados durante o exame videocolonoscópico, devido ao alto risco de malignização, e que a polipectomia endoscópica
é um método seguro, factível e eficaz demonstrado pelos baixos índices de complicações.
Unitermos: pólipos, videocolonoscopia, polipectomia
INTRODUÇÃO
Desde 1970, quando Nakasaga realizou a primeira colonoscopia conseguindo atingir o ceco1,
esta vem se estabelecendo como método diagnóstico
e terapêutico das afecções colônicas, em especial
nas lesões polipóides e neoplásicas.
Conceitua-se pólipo como uma
estrutura tecidual que se projeta acima da superfície mucosa
do trato digestivo, de forma regular e circunscrita.
Pode aparecer como lesão plana ou ligeiramente
elevada, séssil, subpediculada ou pediculada ,de acordo com
a implantação na mucosa.
Sabendo que as lesões polipóides podem
ser precursoras de neoplasias, os pólipos
adenomatosos destacam-se por apresentarem potencial de
malignização ao redor de 10%, de acordo com a
seqüência adenoma-carcinoma2. Portanto, todos os pólipos
devem ser removidos ao serem identificados na
videocolonoscopia, independente do tamanho da lesão
ou de seu aspecto macroscópico3.
Histologicamente, os pólipos podem ser
neoplásicos (adenomas e estromas malignos) ou
não neoplásicos (hamartomas, inflamatórios,
hiperplásicos e estromas não-malígnos). Os pólipos
adenomatosos dividem-se em: tubulares, túbulo-vilosos e vilosos,
tendo os adenomas vilosos índice de malignização de
até 40% dos casos4.
O epitélio, se comprometido, pode
mostrar atipia leve, moderada ou intensa, esta última
denominada carcinoma in situ.
A polipectomia pode ser curativa, mas
quando houver invasão tecidual ou o pedículo estiver
comprometido, o tratamento deve ser complementado
por ressecção cirúrgica. Posteriormente à polipectomia,
o paciente deve ser acompanhado com seguimento videocolonoscópico, devido à possibilidade de
recidiva ou novas lesões5.
O objetivo deste estudo é avaliar o
procedimento de polipectomia videocolonoscópica,
realizado no Hospital Professor Edmundo Vasconcelos,
relacionando com sexo e idade dos pacientes, tamanho,
localização, morfologia e histologia dos pólipos,
patologias coloproctológicas associadas e complicações
do procedimento.
PACIENTES E MÉTODOS
Estudaram-se retrospectivamente 2277 videocolonoscopias realizadas no Hospital
Professor Edmundo Vasconcelos, no período de abril de 1996
a agosto de 2002. Do total, foram selecionados 379
exames onde se detectou a presença de pólipo no
cólon ou reto.
O preparo do cólon foi feito com bisacodil
na véspera e solução de manitol a 20% no dia do
exame. Naqueles doentes com quadro clínico sugestivo de
suboclusão intestinal, o preparo foi feito com
enteroclisma via retal com solução glicerinada. Os exames
foram realizados, em sua maioria, sob sedação anestésica
com supervisão de um anestesiologista. O
colonoscópio usado em todos os procedimentos foi
Olympus CF-100,Olympus Optical Co Ltda, Tóquio -
Japão.
Os pólipos sésseis menores que 5mm
foram removidos com pinça de hot
biopsy e os maiores que 5mm ou pediculados foram removidos por alça
de polipectomia. Aqueles que puderam ser
recuperados, foram enviados para estudo anátomo-patológico
no mesmo Serviço.
Os pólipos que apresentavam
características macroscópicas sugestivas de malignidade, ou seja,
eram sangrantes ao toque do aparelho, tinham superfície
irregular, aspecto de infiltração da parede intestinal ou
eram de grande tamanho estreitando a luz intestinal,
foram apenas biopsiados para definição histológica.
RESULTADOS
Das 2277 videocolonoscopias realizadas,
379 apresentaram pólipos (16,64 %), correspondendo a
um total de 542 pólipos (1,43 pólipos por paciente).
Entre os pacientes que tinham pólipo, 199 eram do
sexo masculino (52,50%) e 180 do sexo feminino
(47,50%). A média de idade foi de 57,5 anos (variando de 13 a
99 anos) apresentando distribuição etária de acordo
com a Tabela-1.
Tabela 1 - Distribuição de pólipos por faixa etária
Idade (anos) | Percentual (%) |
Abaixo de 30 | 3,50 |
30 a 50 | 35,30 |
51-70 | 45,60 |
Acima de 70 | 15,60 |
As indicações mais freqüentes para a
realização do exame foram sangramento retal em 97
pacientes (25,60%) e dor abdominal em 76 pacientes (20,00%).
Em 414 casos, os pólipos eram menores
ou iguais a 5mm de diâmetro (76,40%), em 112 o
diâmetro variava entre 6mm e 2cm (20,60%) e em 16 casos
eram maiores que 2cm de diâmetro (3,00%) (Tabela-2).
Tabela 2 - Distribuição de pólipos segundo o tamanho
Tamanho do pólipo | N° | Percentual (%) |
Até 5mm | 414 | 76,40 |
6 a 20mm | 112 | 20,60 |
Maior que 20mm | 16 | 3,00 |
Os pólipos foram classificados como
sésseis em 83,20% dos casos (451 pólipos) e pediculados
em 15,10% (82 pólipos)(Tabela-3).
Tabela 3 - Distribuição dos pólipos segundo a morfologia
Morfologia | N° | Percentual (%) |
Séssil | 451 | 83,20 |
Pediculado | 82 | 15,10 |
Os pólipos foram encontrados com maior
freqüência no reto (44,3%) e sigmóide (24,0%) e a
distribuição completa está representada na Tabela-4.
Tabela 4 - Distribuição dos pólipos por segmentos colônicos
Local | Reto | Sigmóide | Descendente | Transverso | Ascendente | Ceco | Total |
N° | 240 | 130 | 30 | 82 | 21 | 39 | 542 |
% | 44,3 | 24,0 | 5,5 | 15,1 | 3,9 | 7,2 | 100 |
Histologicamente, os pólipos eram
neoplásicos em 236 casos (43,50%) e não neoplásicos em 306
casos (56,50%), sendo a distribuição histológica
representada na Tabela-5.
Tabela 5 - Tipos morfológicos dos pólipos relacionados com a presença de atipia
Tipo histológico | Número | Percentual | Com atipia |
Adenoma tubular | 192 | 35,5% | 14 |
Adenoma túbulo-viloso | 31 | 5,7% | 13 |
Adenoma viloso | 5 | 0,9% | 2 |
Inflamatório | 196 | 36,1% | - |
Hiperplásico | 93 | 17,1% | - |
Adenocarcinoma | 7 | 1,3% | - |
Lipoma | 3 | 0,6% | - |
Leiomioma | 3 | 0,6% | - |
Retenção | 4 | 0,7% | - |
Outros | 8 | 1,5% | - |
Total | 542 | 100,0% | 29 |
Dos 235 pólipos neoplásicos estudados,
192 pólipos (81,7%) eram adenomas tubulares. Destes,
4 apresentavam atipia discreta (2,0%), 5 atipia
moderada (2,6%) e 4 atipia intensa (2,0%) (carcinoma in
situ). Trinta e um pólipos neoplásicos eram adenomas
túbulo-vilosos (16,1%), sendo que 8 destes
apresentavam atipia discreta (25,8%) e 5 atipia moderada
(16,1%). Foram encontrados 5 adenomas vilosos (2,6%) e
dois deles apresentaram atipia, sendo um atipia
moderada (20%) e um atipia acentuada do epitélio (20%).
De todos os pólipos adenomatosos (228
pólipos), 29 apresentaram algum grau de atipia
(12,3%). Destes, 14 eram adenomas tubulares (48,3%), 13
eram adenomas túbulo-vilosos (44,8%) e 2 eram
adenomas vilosos (6,9%). Dos 28 pólipos que apresentaram
atipia, somente um adenoma tubular (4%) com menos
de 5mm, apresentou atipia. Vinte e quatro
apresentavam entre 6mm e 2cm de diâmetro (83%) e 3 eram
maiores que 2cm (11%). Dos pólipos neoplásicos retirados,
7 eram adenocarcinomas e apresentavam mais que 2cm de diâmetro sendo suas características descritas
na Tabela-6.
Tabela 6 - Características dos adenocarcinomas
Adeno-carcinoma | 1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 |
Sexo | Masculino | Masculino | Masculino | Masculino | Feminino | Feminino | Masculino |
Idade | 70 anos | 71 anos | 70 anos | 74 anos | 39 anos | 52 anos | 83 anos |
Tamanho | 2 cm | 2 cm | 3 cm | 2,5 cm | 3 cm | 3 cm | 8 mm |
Morfologia | Séssil | Séssil | Pediculado | Pediculado | Séssil | Séssil | Séssil |
Localização | Ceco | Ceco | Reto | Reto | Reto | Reto | Ceco |
Outros pólipos | - | 2 | 1 | 1 | - | - | 1 |
Complicações | - | - | - | - | - | - | - |
Indicação | PO neoplasia | Pós polipectomia | Sangramento anal | Dor Abdominal | Sangramento e mucorréia | Sangramento e mucorréia | Pós RT e QT de neo de cólon |
Observou-se que em 159 videocolonoscopias (41,9%) havia doença coloproctológica associada,
sendo a moléstia diverticular dos cólons a mais
frequente, presente em 105 pacientes (66%). Doença
hemorroidária ocorreu em 17 pacientes (10,7%) e
neoplasia colônica em 7 pacientes (4,40%).
Entre as complicações, observou-se
síndrome pós polipectomia em 2 casos (0,52%), tratados
com jejum oral e antibioticoterapia de amplo espectro
por 7 dias (amicacina e cefoxitina). Hemorragia
pós- polipectomia ocorreu em 3 casos (0,79%), sendo
necessária reposição sanguínea em um deles. Não
houve nenhum caso de perfuração.
DISCUSSÃO
A polipectomia endoscópica foi um dos
primeiros procedimentos terapêuticos que surgiram
após o advento da colonoscopia, possibilitando a
retirada de lesões pré- malígnas e permitindo a diminuição
do número de cirurgias colônicas por neoplasias6.
No presente estudo, não houve diferença
significativa da distribuição dos pólipos entre os
sexos, sendo em 52,5% no sexo masculino e 47,5% no
sexo feminino, à semelhança de Pierzchajlo
et al.(1997), que analizaram 751 polipectomias com 54% dos casos
no sexo feminino e 46% no sexo masculino, assim
como Linares et al. (1999) e Wexner et
al. (1998), que encontraram dados
semelhantes8,9,10.
Segundo Mettlin et al. (1986), ocorre
maior incidência de pólipos na faixa etária entre 51 e 70
anos, fato este também encontrado nesta casuística
(45,6% dos doentes).
A principal indicação para a
videocolonoscopia foi sangramento retal (25,6%), seguida por dor
abdominal (20,0%) e alteração do hábito intestinal
(16,3%), concordando com Watson et al
(1986)12.
Na literatura mundial existe grande
controvérsia quanto à retirada ou não de pólipos menores
que 5mm de diâmetro, justificada pelos baixos índices
de malignização dos
mesmos13,14. Weston e cols(1988) compilaram os dados de cinco estudos
previamente realizados sobre pólipos diminutos, verificando
incidência de 0,07% de carcinomas num total de
2861 pólipos estudados15. Entretanto, concluíram que,
independente do tamanho ou do aspecto da lesão
polipóide encontrada, todas elas deveriam ser retiradas e
analisadas histologicamente.
Concordante com a literatura, que
associa maior probabilidade de malignização quanto
maior for o tamanho do
pólipo9,18, a maioria dos pólipos
classificados como carcinoma, apresentaram tamanho entre 2cm ou mais de diâmetro. Entre os pólipos
com algum grau de atipia, a maioria estava acima de
1cm de diâmetro.
Histologicamente, os pólipos mais
prevalentes neste estudo, foram os pólipos inflamatórios
(36,1%) e os adenomas tubulares (35,5%), estando de
acordo com a literatura10,16,17. Encontraram-se 29 pólipos
com algum grau de atipia. Destes, 48,3% eram
adenomas tubulares, 44,8% eram adenomas túbulo-vilosos e
6,9% eram adenomas vilosos.
Alguns autores afirmam que pólipos
com displasia acentuada (carcinoma in situ) podem ser
retirados através de polipectomia com segurança,
sendo o procedimento considerado
curativo18,19,20. Neste estudo, em 4 casos, os pólipos apresentaram-se
como carcinoma in situ e foram retirados por
polipectomia, com exame histológico mostrando margens
cirúrgicas livres.
Grandes pólipos puderam ser retirados
inteiramente por polipectomias sem intercorrências,
demonstrando que o tamanho da lesão não impede o
procedimento21. Em apenas 7 casos, os pólipos foram
classificados como carcinoma invasivo (1,3%) e o
tipo histológico encontrado nestes foi
adenocarcinoma. Houve incidência mais baixa de carcinomas
polipóides em relação a outros
autores9,22, dado pode ser justificado pela não ressecção de lesões claramente
sugestivas de neoplasias, sendo as mesmas biopsiadas e
enviadas para estudo histológico.
Assim como a maioria dos trabalhos,
houve baixo índice de complicações, com sangramento
em apenas 0,79% dos pacientes, síndrome
pós-polipectomia em 0,52% dos pacientes, sem haver nenhum
caso de perfuração
colônica23,24,25.
CONCLUSÕES
A polipectomia realizada por
videocolonoscopia é um método seguro e eficaz, permitindo a
retirada da maioria dos pólipos encontrados durante o
exame, com baixa incidência de complicações,
evitando procedimentos cirúrgicos desnecessários.
Todos os pólipos devem ser retirados,
independente de seu tamanho ou de sua morfologia,
devido à possibilidade de lesões pré- malignas ou
malignas, as quais somente serão identificadas à
microscopia no exame histológico.
SUMMARY: Objectives: The aim of this retrospective study was to correlate endoscopic polypectomy with histologic polyps characteristics, size, location, associated bowel diseases and post polypectomy complications. Patients and methods: 2277 colonoscopies performed from April 1996 to August 2002 at the Endoscopy Ambulatory of Hospital Prof. Edmundo Vasconcelos were analyzed. 542 polyps were found in 379 exams. Endoscopic polypectomy were proceeded. The polyps were sent to histopatologic analysis. Results: Of the 542 removed polyps, 236 were adenomatous (43.50 percent) and 306 (56.50 percent) were others types. Twenty-nine adenomatous polyps (12.30 percent) presented some degree of dysplasia. Four adenomatous polyps had severe grade of dysplasia (2.40 percent) and were classified as in situ carcinoma. Only five complications were recorded. Two patients had post-polypectomy syndrome and three patients had bleeding. Conclusions: This study showed that all polyps must be removed during colonocopies due to the risk of malignization. Endoscopic polypectomy is a safe, feasible and effective method, with low occurence of complications.
Key words: polyps, colonoscopy, polypectomy
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Endereço para correspondência:
Maristela Gomes de Almeida
Rua Dr. Bacelar, 173 conj. 103
04026-000 - São Paulo (SP)
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E-mail: dramgalmeida@uol.com.br
Trabalho realizado no Serviço de Coloproctologia do Hospital
Professor Edmundo Vasconcelos.