ARTIGOS ORIGINAIS
RESUMO: As opções terapêuticas disponíveis para o tratamento das doenças inflamatórias intestinais, doença de Crohn (DC) e colite ulcerativa (CU) promovem remissão das crises, mas não a cura da doença. Entre as mais conhecidas estão a sulfassalazina, o ácido 5-aminosalicílico (5-ASA), os corticosteróides e os agentes imunossupressores e imunorreguladores (azatioprina, mercaptopurina, methotrexate e ciclosporina) Muitos estudos estão sendo realizados em busca de novos tratamentos, entre eles: citocinas e anticitocinas (IL-1, IL-2, IL-10, IL-11, IL-12, IL-18), interferon-alfa e gama (IFN-á e IFN-ã), supressores do TNF-á (talidomida, extrato polifenol de chá verde), vitamina D, antioxidantes, antibióticos, nicotina e óleo de peixe. Neste artigo faz-se uma revisão destas terapias.
Unitermos: doenças intestinais inflamatórias, Doença de Crohn, colite ulcerativa
INTRODUÇÃO
As doenças inflamatórias intestinais (DII),
termo que compreende, principalmente, doença de
Crohn (DC) e retocolite ulcerativa inespecífica (RU), são
um problema de saúde pública em muitos países. A
incidência de DII varia dentro de regiões diferentes.
Por exemplo: na Ásia e na América do Sul as taxas de
incidência da RU e da DC são de 0,5 e 0,08 por
100.000 habitantes, respectivamente. Já nos EUA a
incidência é de 11 por 100.000 habitantes para RU e 7
para 100.000 habitantes para DC7. A idade de início da
doença está entre os 15 e os 30 anos, tendo um
segundo pico entre os 60 e os 80 anos. Não há
predominância de sexo, mas uma possível associação com
certas síndromes genéticas. Suas etiologias permanecem
mal definidas40. Sugere-se que as DII decorram de
anormalidades imunológicas celulares, ou seja, da
reatividade anormal dos linfócitos T da mucosa
gastrointestinal a uma microflora normal não
patogênica, porém a patogênese permanece
desconhecida28. As DII caracterizam-se por inflamação intestinal crônica
não infecciosa e manifestam-se clinicamente por
diarréia, dor abdominal, perda ponderal e náuseas. A
mortalidade é baixa e geralmente acontece nos primeiros
anos da doença. Isto ocorre quando há alterações
nutricionais, podendo causar desidratação e anemia, que
aumentam a morbidade gerada pelas crises de
diarréia40. Nas doenças de longa duração a mortalidade está
associada ao risco de câncer de cólon.
A Doença de Crohn caracteriza-se por
um envolvimento transmural e descontínuo dos
intestinos, podendo atingir todo o tubo digestivo. Sua
incidência nas últimas décadas vem aumentando. É mais
comum na raça branca, iniciando-se mais freqüentemente
entre os 20 e os 30 anos. Tem um componente
genético hereditário importante e prevalência maior em
indivíduos HLA-2 +, bem como nos HLA-B27+ quando
associada à espondilite anquilosante. A etiologia é
desconhecida, conquanto se estudem, além das
causas imunes, possíveis causas infecciosas. Observa-se,
com freqüência, piora ou início da DC associada a
crises emocionais. A apresentação clínica da doença varia
de acordo com a extensão, a intensidade e as
complicações presentes. Acomete, com maior freqüência, o
íleo terminal e o cólon, iniciando-se tipicamente com
crises de diarréia, febre, dor abdominal e
emagrecimento. Na evolução, podem surgir complicações
locais, nutricionais e sistêmicas. A doença se agrava e as
crises tornam-se mais freqüentes, gerando
comprometimento do estado geral e piora da qualidade de vida
do indivíduo25,29.
A Retocolite ulcerativa consiste em uma
inflamação idiopática que envolve a mucosa do cólon e
do reto, resultando em friabilidade difusa e erosões
com sangramento. Pode, em 40 a 50% dos pacientes, ser
limitada ao reto ou ao retossigmóide. Em 30 a 40%
dos doentes vai além do sigmóide, não atingindo o cólon
em toda a sua extensão e numa minoria, não mais do
que 20%, atinge todo o cólon. Os principais sintomas
são: diarréia, enterorragia, tenesmo, eliminação de muco
e dor abdominal tipo cólica. A doença é caracterizada
por períodos de recidiva sintomática e remissões e os
sintomas, em geral, permanecem por semanas e até
meses. Além disso, há intensa correlação da gravidade com
a extensão da doença. Existem manifestações
extra-intestinais em aproximadamente 25% dos doentes,
incluindo o eritema nodoso, a epiesclerite e a artrite
não-deformante oligoarticular, entre
outras25.
Apesar de menores avanços na terapia da
RU em relação a DC, têm-se tentado melhorias com o
uso de salicilatos e imunorreguladores. As tentativas
terapêuticas não convencionais incluem nicotina,
probióticos, dietas e heparina. Novas tentativas, a partir
de estudos em animais, incluem inibição do fator
nuclear B e do fator de necrose tumoral alfa
(TNFá)1.
TRATAMENTO
O tratamento deve começar pelo
diagnóstico preciso. Este depende do conjunto da história
clínica, dos achados de exame físico, endoscópico,
radiológico e histológico, assim como dos exames laboratoriais.
O resultado desta investigação permite distinguir
doença de Crohn de colite ulcerativa; entretanto, em
aproximadamente 10% dos pacientes, pelo menos
inicialmente, isto não é
possível30. Marcadores sorológicos que
incluem anticorpos citoplasmáticos antineutrófilos
estarão presentes em aproximadamente 70% dos portadores
de colite ulcerativa e anticorpos
anti-Saccharomyces cerevisiae em 50% dos portadores de doença
de Crohn33,35. Estes marcadores podem auxiliar no
diagnóstico daqueles doentes para os quais os critérios
habituais não foram suficientes.
O manejo da DII vai depender da gravidade, da extensão e do local envolvido. A dieta
elementar tem sido sugerida como tratamento inicial, porém
a adesão dos pacientes é baixa, além do que é de
alto custo, o que a torna inviável para a maioria dos
nossos doentes15,33. Um grande número de drogas que
atuam como antiinflamatórios gerais ou seletivos têm
sido empregados, porém consegue-se a remissão das
crises, mas não a cura da doença.
O tratamento consagrado da DC é
inicialmente clínico. Instituem-se medidas gerais como estas:
dieta leve, individualizada, rica em fibras e
sintomáticos para cólica e diarréia. As dietas enteral, parenteral
parcial ou total são indicadas na DC grave e/ou
complicada, principalmente com fístulas, podendo causar
remissão da inflamação aguda e melhora da
condição nutricional. Os antiinflamatórios mais utilizados na
fase aguda são os corticosteróides, podendo levar à
remissão da crise e, com menos eficiência, a
sulfassalazina. Estudos sobre a eficácia dessas drogas em
prevenir recidivas após ressecção intestinal são conflitantes;
no entanto o uso da sulfassalazina como droga de
primeira escolha pode reduzir o uso de corticosteróides,
quando necessários. O uso de imunossupressores,
especialmente a longo-prazo, é controverso. Segundo
pesquisa citada por Magalhães, um estudo realizado
na Inglaterra com 112 pacientes, acompanhados por
12 anos, não demonstrou nenhum benefício do uso
continuado de azatioprina. A azatioprina tem efeito na
fase aguda da DC somente em alguns casos, mas pode
prevenir a recidiva da doença. Estudos randomizados,
realizados independentemente, mostraram algum benefício dos imunossupressores em pacientes com
DC, sobretudo em reduzir a dependência dos
corticosteróides e no tratamento de pacientes com
fístulas". Metronidazol pode ser útil na DC em casos
selecionados, especialmente para os pacientes com
complicações perineais. Antibióticos de largo espectro
podem ser utilizados, se houver suspeita de
supercrescimento bacteriano ou abscesso e nas complicações
perineais. Desse modo, as opções terapêuticas convencionais
para a DII são limitadas tanto pela inabilidade em manter
a remissão clinica da doença, como pelos
efeitos colaterais8.
O tratamento cirúrgico é reservado para
as complicações da DC, ou quando sintomas graves
persistem, mesmo após tratamento intensivo com
drogas antiinflamatórias ou imunossupressoras.
A) Terapia convencional
O tratamento convencional compreende o uso do ácido 5-aminosalicílico e de corticosteróides.
a) Ácido 5-aminosalicílico
(5-ASA)
Tem boa atividade nos pacientes portadores de doença com atividade moderada de CU e de
DC. Estudos demonstraram que o 5-ASA é
funcionalmente ativo, bloqueando a produção de prostaglandinas
e leucotrienos, inibindo o peptídeo bacteriano capaz
de induzir a quimiotaxia dos neutrófilos e a secreção
de adenosina induzida, que retira os metabólicos
reativos do oxigênio e talvez inibindo a ativação do fator
nuclear K-beta30.
Nos últimos 15 anos uma variedade de
novos compostos de 5-aminosalicilatos têm sido
avaliados13,17,42. Em geral compostos de
5-aminosalicilatos podem ser selecionados com base na localização
da doença. Para pacientes com doença colônica
distal, supositórios ou enemas podem ser úteis.
Compostos orais com 5-ASA são apropriados para doença
colônica proximal. Estes incluem sulfasalazina, olsalazina e
mais recentemente a balsalazida. Formulações tópicas
podem ser usadas sozinhas ou em combinação com
formulações orais, quando a doença é limitada ao
cólon esquerdo. Formulações orais de liberação lenta ou
pH dependentes podem fornecer concentrações
terapêuticas para o cólon proximal ou íleo distal. Assim,
comprimidos, revestidos de eudragst, liberam a
mesalamina em pH acima de 7, no íleo ou no ceco (Asacol®).
Formulações com revestimento de etilcelulose
permitem a absorção de água. A água dissolve o 5-ASA que
se difunde para fora do comprimido e penetra na luz
intestinal. A olsalazina é constituída por 2 moléculas
de 5-ASA unidas por um elo azo que utiliza o
princípio da redutase bacteriana azo para fracionar a
molécula em dois componentes idênticos.
O tratamento de manutenção com 5-ASA
pode ser efetivo para manter a remissão da colite ulcerativa.
b) Corticosteróides
Corticosteróides têm sido empregados
quando o 5-ASA se mostra ineficiente. Eles
provavelmente agem pelas mesmas propriedades funcionais
relativas dos processos inflamatórios. Parecem controlar a
doença de uma maneira complexa, que pode incluir
a modulação de fosfolipase
A2, interleucina 1 (IL-1), fator alfa de necrose tumoral
(TNF-á), molécula-1 de aderência aos leucócitos endoteliais (ELAM-1) e
molécula-1 de aderência intercelular (ICAM-1) e a
lise dos linfócitos e dos eosinófilos. O uso tópico
de corticosteróides, como enemas de hidrocortisona,
podem ser usados como alternativa ao 5-ASA para
doentes com proctite ulcerativa ou colite ulcerativa
distal. Prednisona ou prednisolona oral são usadas com
moderação em colites severas, 60 a 80 mg/dia, sendo
a administração intravenosa reservada para
pacientes graves que requerem
hospitalização30. Cuidados
especiais devem ser tomados no uso prolongado de
corticosteróides, pois não é infreqüente o aparecimento de
hipertensão arterial, diabetes e osteoporose.
c) Agentes imunossupressores e imunorreguladores
Tem-se expandido o papel dos imunomoduladores no tratamento de pacientes com DII.
Estes agentes são geralmente úteis para pacientes nos
quais a dose de corticosteróide não pode ser diminuída
ou descontinuada. Estas drogas, da mesma forma que
os corticosteróides, expõem os doentes ao risco de
infecção oportunista.
1 - Azatioprina e seu metabótico ativo 6-mercaptopurina têm sido usados como
agentes imunossupressores para pacientes com DII,
apesar dos riscos aumentados para
linfoma22. Estudos clínicos têm demonstrado que estes agentes são
eficientes para manter a remissão, mas não são
efetivos no controle dos casos agudos. Entre os
efeitos colaterais relata-se a supressão medular,
devendo-se, portanto, monitorar rigorosamente a
contagem dos leucócitos. O mecanismo de ação desta
droga permanece desconhecido, mas pode incluir a
supressão da geração específica de células T. É
uma droga análoga da purina, que inibe
competitivamente a biossíntese dos nucleotídeos da purina,
mas seu mecanismo de ação não é totalmente
conhecido. Apresenta dois tipos de efeitos colaterais:
"alérgicos" (não dose dependente): pancreatite,
hepatite, febre, rash, náuseas, diarréia e mal-estar; e
"não alérgicos" (presumidamente dose
dependente): leucopenia e algumas formas de hepatite. Fraser
et al (2002) avaliaram a eficácia da azatioprina
no tratamento da DII. Colheram informações dos
pacientes atendidos na clínica Oxford IBD de
1968 até 1999. Foram excluídos os pacientes com
tempo de acompanhamento menor do que 12 meses, com início de tratamento com azatioprina em
outro serviço ou que receberam azatioprina
primariamente para tratamento de outras doenças. O
paciente com remissão foi definido como sendo
aquele que não precisou de corticoesteróide oral
por, no mínimo, 3 meses e o paciente com recidiva
como aquele que precisou de corticoesteróide oral ou
procedimento cirúrgico. De 2205 pacientes
revisados, 622 foram tratados com azatioprina. Destes
272 tinham diagnóstico de DC, 4 de colite indeterminada e 346 de colite ulcerativa. A
duração média da série inicial de tratamento foi de
634 dias, e houve remissão completa em 45% dos
paciente com DC e 58% com CU. Para os 424 pacientes que foram tratados por mais seis meses,
a remissão foi ainda maior: 64% e 87%,
respectivamente. Consideraram como fatores que
favoreceram a remissão os seguintes: a DI ser
colite ulcerativa, neutropenia e maior volume
celular médio. Dos 324 pacientes que tiveram
remissão, 250 a mantiveram durante o tempo de
tratamento. Dos 222 pacientes que pararam de tomar azatioprina, enquanto ainda estavam em
remissão, observaram que: 63% mantiveram a remissão,
após 12 meses; 44%, após 24 meses; 34%, após
36 meses; 28%, após 48 meses; e 25%, após 60
meses. Concluíram que a azatioprina é um
tratamento efetivo para DC e CU e que sua eficácia é
razoavelmente bem sustentada por no mínimo cinco
anos com toxicidade mínima, sem óbitos por sepsis
devido à neutropenia10.
2 - Methotrexate, antagonista do ácido fólico, tem sido usado para a doença de Crohn, mostrando-se menos útil para a colite ulcerativa. O mecanismo de ação parece ser a inibição da IL-1 através do mimetismo molecular com diidrofolato redutase. Fraser et al (2002) reviram 70 pacientes, 48 com DC e 22 com CU. A duração média do tratamento foi de 17 semanas e a dose média usada foi de 20mg/semana. A remissão aconteceu em 34 dos 55 pacientes que completaram 3 meses de tratamento (62%). Após parada do tratamento de 1 ano, apenas 12% dos pacientes mostravam-se assintomáticos11.
3 - Ciclosporina: pode ser efetiva no tratamento de colites ulcerativas severas, em pacientes hospitalizados que necessitam de proctocolectomia. Este agente age, provavelmente, pelo bloqueio da ativação dos linfócitos. O mecanismo de ação parece ser a transcrição inibida de interleucina-2 e de seu receptor nos linfócitos T auxiliares e a produção de fatores que ativam as células B e de gama-interferon pela células T auxiliares. Altas doses podem alcançar o controle da doença. É indicada quando a terapia com altas doses de corticosteróides não alcançou resultado. Ciclosporina é usualmente administrada por 7 a 10 dias, por via intravenosa na dose de 4mg/kg/dia e depois por via oral5,20,27. Os efeitos adversos associados à ciclosporina incluem hipertensão, nefrotoxicidade, tremores, hiperplasia gengival, hirsutismo, disfunção hepática (rara) e crises convulsivas.
d) Novos esteróides
A budesonida possui 100 vezes mais afinidade pelos receptores esteróides do que a
hidrocortisona. Tem sido usada sob a forma de enemas com bons
resultados para o tratamento de colite distal, com
doses de 2mg/100ml de enema, 2 vezes ao
dia23.
Terapias em fase experimental
Dieta
Apesar das dietas ricas em fibras serem
recomendação consagrada para pacientes com doença
de Crohn não complicada, existem informações
contraditórias a respeito. Entre as recomendações
dietéticas, aquela à qual comumente se atribui importância
para portadores de DII, é a redução do consumo de
produtos derivados de leite9.
Detectou-se que pacientes com DC ingerem mais carboidratos refinados e ácidos graxos e
menor quantidade de frutas e vegetais26. Além disso, a
DC tem sido descrita com maior freqüência nos países
desenvolvidos, nos quais é maior o consumo de
alimentos industrializados e maior nas áreas urbanas do
que nas rurais25-6. Estudo realizado na Irlanda concluiu
que pacientes com DC submetidos à dieta reduzida
em micropartículas, como aditivos químicos
não-nutrientes e contaminantes do solo, apresentaram
significante redução da atividade da doença e da necessidade
de corticosteroides, quando comparados àqueles
submetidos à dieta comum26.
Estudo multicêntrico prospectivo, realizado
na Inglaterra, para testar o efeito da dieta, durante dois
anos, com 372 pacientes portadores de doença de Crohn
ativa ou com atividade inflamatória leve, não detectou
diferença significante na evolução dos pacientes que
receberam dieta branda com permissão de ingesta de
açúcar, com a dos que usaram dieta de fibra, sem
açúcar25.
Citocinas e Anticitocinas
As citocinas são agentes pleiotrópicos
com efeitos pró-inflamatórios e imunossupressores
poderosos. De modo geral, há quatro meios principais
para reduzir os efeitos de uma citocina:
1.º bloqueio da produção => ciclosporina e
tacrolimos interferem na transcrição do gene da IL-2;
2.º inibição do processo intracelular que produz a
proteína ativa => peptídeos metilcetonas que inibem a
enzima de conversão da IL-1ß/acido hidroxâmico, inibindo
a liberação proteolítica de
TNF-á ligado a célula;
3.º neutralização da citocina na circulação =>
anticorpos; receptores solúveis; e
4.º bloqueio de receptor => anticorpos; receptores
antagônicos.
Interleucina 1
Citocina pró-inflamatória que existe em
três formas: IL-1a, IL-1ß (biologicamente ativas) e
IL-1ra (para o receptor antagonista da IL-1 - dois tipos
de receptor: IL-1RI e RII - que não têm atividades
biológicas). Em estudos com animais a administração
de IL-1ra reduziu a inflamação intestinal em animais
com colite e diminuiu a mortalidade por choque séptico.
Proteina antagonista do receptor da Interleucina-1 (IL-1ra)
Recentes avanços da terapia gênica
humana criaram grande interesse na tentativa oral de
transferência genética para induzir a produção e a
secreção de peptídeos e proteínas naturais pelas células
intestinais. Estudo de Henderson, no qual o IL-1ra
mostrou potencial efeito terapêutico na DII, serviu como
proteína modelo para a liberação gastrointestinal.
Demonstrou a síntese e a liberação,
in vivo, de uma proteína terapêutica, com o uso de células intestinais
epiteliais, indicando que essa tentativa de terapia gênica
pode ser útil não somente no tratamento da DII, mas
pode ter um considerável potencial para terapia oral de
liberação
protéica18.
Interleucina 2 (IL-2)
Há relato de dois pacientes com DC com
remissão por 4 e 9 anos após terapia com IL-2. Ao
sofrerem reativação sintomática da doença, receberam
altas doses de IL-2, mas houve necessidade de
intervenção
cirúrgica38.
Interleucina 10 (IL-10)
A IL-10 é secretada por muitas células,
incluindo as células T helper (Th),
monócitos/macrófagos, células dendríticas, células B e queratinócitos.
Essa citocina suprime a inflamação por vários
mecanismos imunológicos, incluindo a redução da expressão
de HLA classe II, redução da secreção de IL-2 pelas
células T e diminuição de outras citocinas como fator
de necrose tumoral e interleucina 8 (IL-8) pela
ativação de monócitos e macrófagos.
A deficiência do gene da IL-10, em ratos,
propicia o desenvolvimento de inflamação transmural
do intestino, relembrando a doença de Crohn. Este
tipo de inflamação é agravado pela presença de
bactérias na luz intestinal e pode ser prevenida com a
administração de IL-10.
Sabe-se que ratos deficientes em IL-10
desenvolvem enterocolite crônica. Vários modelos, nos
quais se administrou IL-10 a ratos, demonstraram o
efeito preventivo dessa interleucina na inflamação; no
entanto não alcançaram efeito terapêutico sobre a
inflamação instalada. Se esta conclusão se confirmar
por outros estudos, poderemos concluir que a IL-10
poderá ser usada na prevenção das recidivas da DII
ativa19.
Segundo Steidler et al (2000), os testes
clínicos para tratamento de DII com IL-10 têm-se
mostrado promissores. Através de experimentos com ratos,
a bactéria Lactococos lactis, desenvolvida
geneticamente, mostrou-se eficaz como um novo método de
secreção de IL-10. A bactéria Gram
positiva L. lactis, principalmente usada para produzir alimentos
fermentados, não é invasiva nem patogênica. A
administração intragástrica desta nova bactéria, promovendo a
secreção de IL-10, causou redução de 50% da ocorrência
de colite em ratos induzidos com dextran sulfato de
sódio e preveniu o inicio de colite em ratos tratados com
IL-10. Esse método pode ser potencialmente útil
como alternativa da terapêutica sistêmica da
DII40.
Matsumoto et al (2001) compararam a
severidade da DII em três grupos de ratos, para determinar
o efeito das bactérias produtoras de ácido
láctico (bifidobactéria e lactobacilos) na prevenção de DII
em ratos da raça SAMPI/Yit. Os 72 animais usados
foram divididos em grupos alimentados diariamente por
sonda gástrica com: solução salina, leite não fermentado
e um último com leite fermentado contendo
bactérias ácido láctico(LAB). Os animais foram sacrificados
na vigésima semana, quando os escores da DII dos
três grupos foram comparados através dos
seguintes parâmetros: histologia da doença, peso do tecido
ileal, atividade da mieloperoxidase, quantidade de IgG e
síntese de citocinas. Como resultado, verificaram
diminuição de todos os escores nos ratos alimentados
com leite fermentado, quando comparados aos outros
dois grupos. Notaram baixa na regulação da síntese de
TNF-á e interferon-gama (IFN-g) , ao contrário da
IL-10, cuja síntese foi supra-regulada em ratos
alimentados com leite fermentado. Sabe-se que a IL-10 é
importante na prevenção da inflamação mediada pelas
células T no trato gastrointestinal. Para eles a
administração diária do leite fermentado com bactérias ácido
láctico é benéfica no tratamento e na prevenção da
doença inflamatória intestinal e este efeito pode ser
modulado pela estabilização imunológica da mucosa por
essas bactérias. Além disso, elas reduzem a capacidade
de colonização por bactérias patogênicas em
decorrência da produção de ácido e diminuição do pH no
trato gastrointestinal28.
Estudos clínicos multicêntricos
demonstraram que a IL-10 não promoveu remissão significativa
ou melhora clínica, comparada ao grupo placebo,
quando administrada a pacientes com doença de Crohn
moderada ou refratária e a pacientes submetidos à
ressecção ileocolônica para prevenção da recorrência
pós-operação, analisada por via
endoscópica19.
Novas lesões da DC ocorrem mais
precocemente após ressecção e anastomose ileal ou
ileocolônica. Através de um estudo duplo-cego,
COLOMBEL et al (2001) avaliaram a segurança e a tolerância
da IL-10 (Tenovilâ) na DC em pacientes que se
submeteram à ressecção ileal ou ileocolônica curativa e à
anastomose primária ileal até 2 semanas após a
cirurgia. Vinte e dois pacientes foram medicados com
4pg/kg de Tenovilâ, via subcutânea, uma vez por dia; 21
pacientes com 8mg/kg duas vezes por semana e 22
pacientes com placebo, 1 vez ao dia ou 2 vezes por
semana. Realizaram ileocolonoscopia após 12 semanas de
tratamento e observaram, na maioria dos pacientes,
eventos adversos de severidade leve a moderada, com
igual distribuição entre os grupos. Foram avaliados por
via endoscópica 37 pacientes dos grupos medicados
com Tenovilâ e 21 do grupo placebo. Na
12a semana, 11 dos 21 pacientes (52%) do grupo placebo tiveram
lesões recorrentes, em comparação com 17 dos 37
pacientes (46%) do grupo usado com
Tenovilâ. Na endoscopia, a incidência de severidade foi similar
em ambos os grupos (9%). Concluíram que o
tratamento com Tenovilâ por 12 semanas consecutivas em
pacientes com DC depois da ressecção intestinal foi
seguro e bem tolerado; e contudo nenhuma evidência
de prevenção de recorrência endoscópica da DC
por Tenovilâ foi
observada6.
A IL-10 excerce ação antiinflamatória por
reprimir muitos efeitos biológicos do
interferon-gama (IFN-g) As concentrações plasmáticas de
IFN-g e neopterin (um derivado do pirazino-pirimidino,
principalmente produzido por monócitos e
macrófagos) estão aumentadas em pacientes com DC ativa
e correlacionam-se com a atividade clínica da
doença. Estudo duplo-cego em humanos observou os
efeitos da administração da IL-10 humana recombinante
na produção de IFN-g em pacientes com leucocitose.
Analisaram pacientes com DC crônica ativa que
receberam IL-10 humana recombinante por via
subcutânea (n=44) ou placebo (n=10) e pacientes com DC leve
a moderada, que foram tratados com IL-10 SC (n=52) ou placebo (n=16), diariamente, por 28 dias. A
formação de IFN-g foi estimulada por
lipopolissacarídeos ou fito-hemoaglutinina (PHA) e as concentrações
de neopterin e nitrito/nitrato foram mensuradas no
soro, enquanto as células vermelhas foram investigadas
antes da terapia, durante a terapia e depois da terapia
com IL-10. Como resultado, no primeiro grupo a dose
mais alta de IL-10 (20pg/kg) causou um aumento
significativo de neopterin no soro no
15o e 29o dia em comparação com os níveis do pré-tratamento. Nenhuma
mudança foi observada nos níveis de nitrito e nitrato.
Em pacientes com DC moderada, o tratamento com
20pg/kg de IL-10 resultou em aumento significativo
na indução de PHA produzindo IFN-g. Concluíram
que altas doses de IL-10 super-regula a produção de
IFN-g e de neopterin. Esse fenômeno pode ser
responsável pela falta de eficiência das altas doses de IL-10 no
tratamento da DC crônica ativa ou de leve a
moderada44.
Fumantes intermitentes e aqueles que
reiniciaram a prática do fumo, depois de um período de
abstinência, freqüentemente melhoraram da
sintomatologia da RU, sugerindo que a ação de fumar
tem importância. Na ausência de explicações
satisfatórias para esse fenômeno, é sugerido que a nicotina seja
um mediador no efeito benéfico da RU, talvez agindo
na manifestação neuromotora da inflamação aguda.
Esta observação levou à avaliação da nicotina como
um potencial agente terapêutico. Segundo
Spurgeon (1999), pesquisadores canadenses estão tendo
sucesso com a produção de uma planta de tabaco que
possui um gene que expressa a citocina IL-10. Eles
esperam produzir citocina suficiente para desenvolver uma
vacina antiinflamatória via oral para a DII e para
outras doenças auto-imunes, já que produzir sinteticamente
a citocina para o tratamento oral teria um custo
muito elevado39.
Interleucina 11 (IL-11)
A IL-11 estimula a proliferação celular
em vários tecidos, até mesmo no intestinal. Protege as
células da mucosa em várias situações de dano
intestinal e tem efeito trófico sobre as vilosidades após
ressecção maciça do intestino. Possui sinergismo com
as interleucinas 3, 4, 7, 12, 13, SCF e
GM-SCF16.
Vários estudos demonstraram que a IL-11
protege a integridade da mucosa intestinal, em ratos.
Em estudos experimentais a IL-11 estimulou a
proliferação de células das criptas, reduziu a incidência de
sepse e aumentou a sobrevivência associada à proteção
da arquitetura celular intestinal em modelos murinos
submetidos à lesão por quimioterapia e
radioterapia15.
Estudos humanos randomizados, controlados com placebo, que avaliaram o uso de IL-11 em
pacientes com DC, sugeriram que a IL-11 pode ser útil
adjunto em várias condições associadas ao dano
gastrointestinal, como em pacientes submetidos à
radiação agressiva, grandes queimados, choque
endotóxico, enterocolite necrotizante infantil e outras formas
de dano intestinal isquêmico, na maximização da
adaptação intestinal em pacientes com síndrome do
intestino curto e na própria DII; no entanto são necessários
estudos clínicos adicionais para se testar a eficácia
desse tratamento14-5.
Talidomida
Dois estudos demonstraram que a talidomida reduz sintomas em pacientes com DC refratária à
terapia convencional, mas seu mecanismo de ação é
desconhecido. Um possível mecanismo seria o da
supressão do fator de necrose tumoral alfa
(TNF-á), considerado o agente central no processo inflamatório da DC e
encontrado em grande concentração sérica nos
portadores dessa doença. As funções do
TNF-á incluem: indução ao acúmulo de neutrofilos, formação de granuloma,
aumento da aderência de moléculas nas células
endoteliais, efeitos pró-coagulação e aumento da
permeabilidade intestinal; no entanto a ação da talidomida sobre
outras citocinas ainda não havia sido estudada.
Em estudo clinico experimental com o
objetivo de investigar a influência da talidomida na
produção de TNF-á, IL1, IL-6 e IL-12 em 10 pacientes
com DII, refratários à terapia convencional,
administraram 300mg de talidomida diariamente por 12
semanas. Observaram que a talidomida, além de diminuir os
níveis de TNF-á, também reduziu significativamente
a produção de IL-12 pelas células mononucleares da
lâmina própria intestinal2.
A IL-12 é uma citocina imunorreguladora
com envolvimento central na indução da resposta
imune celular. Recentemente, um estudo demostrou que
o anticorpo anti-IL-12 evitou a colite induzida em
animais, sugerindo que esta citocina também tenha
importante papel na patogênese da DII. A combinação
da inibição da TNF-á e da IL-12 pode explicar por que
a talidomida é mais efetiva que outros inibidores
seletivos de um único mecanismo inflamatório.
Apesar de a talidomida ser menos eficaz
que outras terapias recentes como o Infliximab,
análogos dessa droga, com atividade
anti-TNF-á aumentada, vêm sendo desenvolvidos, supondo-se que sejam menos
tóxicos e teratogênicos, e podendo vir a servir de
opção terapêutica no
futuro2.
Interferon-Alfa (IFN-á)
Tem sido uma das mais bem sucedidas citocinas terapêuticas na prática clinica:
infecções virais crônicas (hepatite B e C) e malignidades
hematológicas (leucemia, sarcoma de Kaposi, carcinoma
da célula renal e melanoma maligno). Seus efeitos
colaterais não são tão graves quanto os das IL-1 e IL-2.
O principal efeito colateral é a indução de uma
doença semelhante ao resfriado21.
Interleucina 18 (IL-18)
É uma nova citocina que exerce papel de
importante mediador das respostas de Th1. É
também importante regulador da inflamação, que pode
atuar em outras células e regular a atividade da IL-1. A
IL-18 é um potente amplificador da síntese de
IFN-ã pelas células T e NK. Recentemente, estudos
mostraram taxa aumentada de RNA da IL-18 e de sua proteína
em pacientes com DII. A IL-18 e a IL-12 possuem sinergismo e contra-regulação, aumentando
dramaticamente a produção de
IFN-ã e células T, em comparação do seu uso isolado. Quando administradas
juntas, são capazes de induzir DII em ratos.
Na tentativa de compreender a função da
IL-18 na DII, usou-se proteína de ligação a IL-18
(IL-18bp) para bloquear a IL-18 em colite induzida em
ratos pela administração de dextran sulfato de sódio por
7 dias na água potável ad
libitum, o que causou significante atenuação da colite, reduzindo a
inflamação celular (diminuição das células T infiltrativas e da
taxa de IFN-ã), com redução também da perda de peso,
do edema, da ulceração e da destruição das
criptas36.
1,25-Diidroxicolecalciferol
Foram identificados receptores para a
vitamina D nas células mononucleares do sangue periférico e
em células CD4+ Th, sugerindo a influência da vitamina
D no sistema imunológico. Em estudo in vitro,
evidenciou-se que a vitamina D ativa
(1,25-diidroxicolecalciferol) inibiu a produção de IL-2, IFN-gama, TNF-alfa e a
proliferação de células T helper tipo 1 (Th1)1.
A vitamina D é um potente regulador do
sistema imunológico em geral e especificamente das
células T.
Cantorna et al. (2000) fizeram um trabalho
experimental que teve como objetivo testar se estado,
dose e quantidade da vitamina D influenciava, no
organismo, a taxa de prevalência da DII. Os ratos
transgênicos IL-10 KO, que espontaneamente desenvolvem DC
e seu grupo controle, ratos Wildtype, não IL-10
deficientes, foram divididos em grupos que receberam
dieta deficiente em vitamina D e dieta suficiente ou
dieta com suplemento de vitamina D ativa. O grupo
IL-10 KO deficiente desenvolveu diarréia e doença
severa mais rapidamente, levando à mortalidade, na
nona semana de vida, de 15 dos 26 ratos com dieta
deficiente, ou seja, 58% dos animais. Já no outro grupo
IL-18 KO com suplemento, os ratos não desenvolveram
diarréia, doença severa nem morreram. Este grupo
teve taxas de cálcio sérico mais elevadas e menor
inflamação intestinal do que aquele; no entanto não foram
encontradas diferenças significativas na taxa
de hemoglobina e no número de eritrócitos.
Concluiram que a vitamina D preveniu e amenizou os sintomas
da DII experimental em ratos4.
Antioxidantes
Estudo em humanos analisou a influência
de três antioxidantes (Butylated hydroxyanisol,
tetrahydropapaveroline e nordihydroguaiaretic acid) na
produção de FNT e de IL-1, IL-6 e IL-8 (medidos
pelo método ELISA) por células mononucleares
periféricas e comparou com biópsias de mucosas
colônicas inflamadas de portadores de DII. Observou-se
queda na produção de IL-1 e IL-6 pelas células
mononucleares periféricas em cerca de 50% do grupo controle.
Ainda assim, não houve queda de IL-1 e IL-8 nas peças
de biópsias, conquanto tenha havido inibição de IL-1
e, em certo grau, de FTN-á. Destaca-se que o
efeito inibidor de citocinas dos antioxidantes parece
mais pronunciado na RU que na DC32.
Antibióticos
Ensaios clínicos empíricos reconhecem a
utilidade de antibióticos para o tratamento de
pacientes com DC41. O mesmo não foi verificado em
pacientes com RU45. Metronidazol pode ser útil em pacientes
com DC que se apresentam com fístulas perianais,
porém altas doses são necessárias (750 mg, 3 vezes ao
dia). Claritromicina e ciprofloxacin são citados, mas
pouco se sabe de suas eficácias.
Extrato polifenol de chá verde (Green Tea
Polyphenol Extract)
Foi descrito que o extrato polifenol (EP)
reduz a produção do fator de necrose tumoral
(FNT-á) induzido por endotoxina e a letalidade em ratos e
inibe a resposta inflamatória. Estudo experimental
examinou a ação do EP sobre a atividade da DII em 8
ratos deficientes em IL-2 (IL-2 -/-), que foram
aleatoriamente submetidos à dieta comum e água (grupo controle)
ou dieta comum e água com EP (5g/L) por 6 semanas.
Em uma semana, houve importante redução da
produção de interferon-ã e
FNT-á, medidos nas culturas de cólon, e no sobrenadante das culturas de linfócitos
da lâmina própria dos intestinos dos ratos tratados
com EP. Em três semanas, o grupo tratado com EP
obteve colite menos intensa (menores escores histológicos
de colite e peso de cólon). Isso foi associado com
menores níveis plasmáticos de amilóide A, maior ganho
de peso e maior hematócrito. Os resultados sugerem
que o EP atenua a inflamação em ratos e sugere um
possível papel do EP do chá verde no tratamento de
doenças inflamatórias crônicas como as
DII46.
Outras terapias
O óleo de peixe tem ação
antiinflamatória, podendo reduzir a freqüência dos surtos de doença
em pacientes com DC e aumentando os intervalos. Um estudo duplo-cego, controlado com placebo, foi
realizado. Neste, doentes receberam 9 cápsulas que
continham 2,7g de n-3 ácido graxo ou 9 cápsulas de
placebo. Pacientes com DC em regressão que recebem óleo
de peixe apresentam maiores períodos de
remissão3.
Estudo randomizado controlado com placebo foi realizado com doentes portadores de DC, em
que foi empregado hormônio de crescimento
(somatotropina) durante 4 meses. Neste estudo utilizaram
5 mg por dia por via subcutânea na primeira semana
e após 1,5 mg por dia pela mesma via. Os
resultados sugeriram que o hormônio de crescimento poderá
ser útil no tratamento da DC; porém esta terapia tem
o inconveniente de promover cefaléias e
edema37.
Pesquisas têm demonstrado que o subtipo
gama do receptor ativado do peroxisomo (PPARs) reduz a
inflamação em modelos murinos de colites. Um
estudo para reconhecer a eficácia potencial do rosiglitazone
foi realizado com 15 voluntários, doentes portadores
de colite ulcerativa. Depois de 12 semanas de terapia,
4 pacientes (27%) tiveram remissão clínica e destes
apenas 3 remissão endoscópica, 4 pacientes
apresentaram melhora, sem remissão (27%), 2 foram
hospitalizados com piora e 1 precisou ser retirado do estudo por
complicações renais22. O rosiglitazone poderá vir a ser
útil; porém estudos multicêntricos e ensaios
randomizados precisam ser feitos antes de se chegar a uma conclusão.
A percepção de que fumantes
apresentavam melhora das DII levou alguns pesquisadores a
estudarem os efeitos da nicotina, tanto com uso
transdérmico como por enemas. Os resultados levam a crer que
será possível a terapia com nicotina para o tratamento
da CU, porém estudos controlados precisam ser
realizados e os efeitos tóxicos desta substância precisam
ainda ser neutralizados12,34.
As novas opções terapêuticas já aprovadas por órgãos competentes
Infliximab
Anticorpos monoclonais (AM) são uma
recente e aparentemente promissora opção terapêutica
para a DII. São anticorpos específicos produzidos por
ratos imunizados e derivados de um único clone de
célula B, inicialmente produzido pela fusão de uma célula
B com uma célula linfomatosa. Para reduzir
eventuais efeitos alérgicos em humanos, esses AM foram
submetidos à tecnologia recombinante, tornando-se
menos imunogênicos8. O Infliximab
(Remicadeâ), um anticorpo IgGI quimérico humano-murino que se
liga a um TNF-á livre da membrana, está licenciado
para uso em doença de Crohn resistente ou complicada
com fistula. Um estudo multicêntrico, duplo-cego,
controlado com placebo, que forneceu uma única dose
intravenosa de Infliximab (5mg/kg) a pacientes já sob
tratamento convencional com doses estáveis de
corticóide ou azatioprina, demonstrou melhora
clinica, em quatro semanas, de 81% desses pacientes, e de
somente 20% nos que receberam placebo. Remissão
clínica ocorreu em 33% nos primeiros e em 4% no
grupo placebo. O Infliximab também foi capaz de
manter benefícios clínicos por 8 semanas depois de doses
repetidas (10mg/kg a cada 8 semanas), corroborados
por melhora endoscópica, histológica e imunológica.
Melhora substancial também foi descrita nos casos de
DC complicada com fistulas após três doses de
Infliximab, em relação ao controle. Apesar dos resultados
encorajadores, o uso de Infliximab pode acarretar:
anti-anticorpos (3-15%), reações alérgicas agudas às
infusões (5%), reação de hipersensibilidade retardada
com mialgia, artralgia, rash e febre (25%). Numa
reexposição à droga, após 2-4 anos, apareceram
doenças linfoproliferativas. Também se suspeita da relação
do Infliximab com lupus e tuberculose extrapulmonar.
CDP571, um anticorpo monoclonal IgG4
anti-TNF-á humanizado, também parece ser efetivo
em casos de moderados a graves da doença de Crohn.
Os melhores benefícios foram obtidos em casos mais
severos, freqüentemente com associação do
Infliximab como adjuvante no tratamento; no entanto os
custos permanecem elevados e ainda está por se esclarecer
o melhor protocolo para sua
utilização8.
Estudo muticêntrico (Israel, Europa e
E.U.A) com 355 pacientes concluiu que o uso prolongado
de Infliximab pode beneficiar portadores de DC.
Pacientes que responderam, em duas semanas, a uma dose
de 5mg/kg de Infliximab, receberam mais duas doses
da droga e então foram aleatoriamente divididos em
três grupos, que receberam doses repetidas de placebo,
de 5mg/kg de Infliximab, ou de 10mg/kg de Infliximab.
A remissão da doença, após um mês, foi duas vezes
maior nos que receberam Infliximab em relação ao
grupo placebo. Aqueles também sustentaram melhora
por muito mais tempo e demonstraram maior tendência
a descontinuar a terapia com corticosteróide. Além
disso, alcançaram bons resultados com o
retratamento quando necessário e a resposta foi mais
prolongada usando a dose de 10mg/kg, tanto no re-tratamento
quanto na terapia de
manutenção17.
Dois ensaios demonstraram a eficácia
do Infliximab em pacientes com doença de
Crohn30,42. No primeiro, aproximadamente dois terços dos
pacientes com DC, com moderada atividade e que receberam
uma única infusão do medicamento, tiveram redução do
seu escore. Destes, aproximadamente a metade deles
tiveram remissão clínica. No segundo estudo,
pacientes com doença perianal ou fístulas cutâneas receberam
3 infusões com bons resultados.
Embora o uso do infliximab se mostre
interessante para os doentes portadores de DC, seu uso
para os portadores de RU permanece incerto.
CONCLUSÃO
Consideráveis progressos têm sido feitos
na terapêutica das DII, contudo é preciso reconhecer
a fisiopatologia destas doenças para finalmente
poder alcançar o tratamento adequado.
SUMMARY: The therapeutic options to inflammatory bowel diseases, Crohn's disease (CD) and ulcerative colitis (UC), promote the remission of the crisis but not its cure. Between the best well-known therapies we find: sulfasalazine, 5-aminosalicylic acid (5-ASA), the corticosteroids, immunosuppressive and immunoregulatory agents (azathioprine, mercaptopurine, methotrexate, cyclosporine). Many studies are being made with new therapeutic agents such as: cytokines and anti-cytokines (IL-1, IL-2, IL-10, IL-11, IL-12, IL-18), interferon-alpha and gamma (IFN-á and IFN-ã), ), anti-therapy (thalidomide, green tea polyphenol extract), vitamin D, antibiotics and probiotics, nicotine and fish oil. In this paper we reviewed these therapeutic options.
Key words: inflammatory bowel diseases, Crohn's disease, ulcerative Colitis
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Endereço para correspondência:
Maria de Lourdes Pessole Biondo Simões
Rua Ari José Valle, 1987 - Santa Felicidade
82030-000 - Curitiba (PR)
Telefones: 0XX41.297.43.59 ou 9991.55.66
E-mail: biondo@avalon.sul.com.br
Trabalho realizado na Pontifícia Universidade Católica do Paraná.