VÍDEO-LAPAROSCOPIA COLO-RETAL - ENFOQUES ATUAIS & CONTROVÉRSIAS
CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS E RESULTADOS INICIAIS DAS COLECTOMIAS TOTAIS POR VÍDEO-LAPAROSCOPIA. EXISTEM VANTAGENS ?
Fábio Guilherme C. M. de Campos - TSBCP
Resumo: A realização de colectomias totais em pacientes com doenças inflamatórias intestinais e polipose adenomatosa familiar constitui procedimento avançado, de alta complexidade técnica, que requer adestramento adequado em cirurgia laparoscópica por parte do cirurgião. Apesar de factível, esta alternativa técnica ainda suscita muitas controvérsias quanto à segurança, discutindo-se quais seriam suas reais vantagens. Na última década, a experiência adquirida com proctocolectomias restorativas e íleo-reto anastomose em diversos centros sugere que os resultados obtidos em pacientes selecionados sejam comparáveis e, em alguns aspectos até melhores do que os observados em operações convencionais. Neste contexto, destacam-se fatores como trauma fisiológico mínimo, menor formação de aderências, hospitalização mais curta e melhor aspecto cosmético, embora o tempo operatório prolongado ainda seja uma desvantagem importante. Em pacientes jovens, com grande risco de reoperações ao longo da vida, os benefícios potenciais das ressecções laparoscópicas parecem ser mais evidentes. Entretanto, a indicação de colectomias totais ainda é restrita e deve se restringir apenas a pacientes selecionados e a equipes treinadas. Com a evolução e refinamento das técnicas laparoscópicas, a análise de um maior número de pacientes alocados em estudos controlados e randomizados poderá elucidar quais são e a real dimensão das vantagens do acesso laparoscópico em colectomias totais.
Unitermos: cirurgia laparoscópica colo-retal, colectomia, colite ulcerativa, doenças inflamatórias intestinais, polipose adenomatosa familiar.
INTRODUÇÃO
A experiência adquirida na última
década permitiu assistir a um grande aumento na indicação
de procedimentos laparoscópicos em cirurgia
colo-retal, graças ao desenvolvimento de materiais adequados e
à crescente habilidade técnica adquirida pelas
equipes ao longo do tempo. Esses fatores permitiram,
inclusive, realizar operações cada vez mais complexas,
com especial destaque para as proctocolectomias
restorativas e colectomias totais com íleo-reto anastomose.
As principais indicações dessas operações são
retocolite ulcerativa (RCUI), polipose adenomatosa familiar
(PAF), carcinomas (ou adenomas) colo-retais sincrônicos
e inércia colônica.
O objetivo da presente revisão foi destacar
as principais dificuldades técnicas na realização
de colectomias totais vídeo-assistidas, e discutir
as vantagens de realizar esses procedimentos por esta
via, com base em resultados reportados a curto e a
longo prazo.
Dificuldades técnicas
Do ponto de vista técnico, a realização
de colectomias totais (com íleo-reto anastomose)
ou proctocolectomias (com ileostomia terminal ou associada à confecção de bolsa ileal e anastomose
ao canal anal) requer quatro portas de entrada, na
maioria das vezes posicionadas em cada quadrante do
abdômen, além do trocárte periumbilical
40, conforme mostra a Figura-1.
Figura 1 - Portas de entrada (x) para realização de
colectomias totais. Linha tracejada = incisão auxiliar; M = monitores |
Durante a mobilização dos segmentos
colônicos, o afastamento das alças do intestino delgado
depende totalmente do fator gravidade, razão pela qual
são necessárias constantes mudanças de decúbito.
Esta mobilização pode se iniciar no sigmóide,
progredindo para o descendente, flexura esplênica, passando
ao cólon direito e deixando por último o cólon transverso.
Outros preferem fazer as ligaduras dos
principais pedículos colônicos previamente à liberação
das goteiras pariêto-cólicas, pois na medida em que
se mobiliza o cólon, este tende a se mover para o
centro do abdômen, misturando-se às alças do delgado
e dificultando a apresentação e visão do
campo operatório. Para contornar este problema, Milson et
al 26 preconizam deixar intacto o peritônio lateral
aos cólons direito e esquerdo até que esses segmentos
sejam completamente mobilizados medialmente e desvascularizados. Esta manobra permite que
o peritônio lateral sirva como um elemento de
retração do cólon, facilitando sua exposição e liberando
o assistente para ajudar na disecção.
O cólon transverso é o segmento
cuja mobilização é a mais trabalhosa, devendo-se
esperar dificuldades adicionais durante esta etapa.
Sua constante tração é de primordial importância
durante a dissecção, e a secção prévia do ligamento
gastro-cólico e da flexura esplênica facilita o acesso à
artéria cólica média. Especialmente neste tempo
operatório, o emprego de novas fontes de energia para
dissecção e controle vascular torna esta etapa mais
segura, reduzindo o sangramento e mantendo o campo operatório limpo.
Embora seja possível a realização de
proctocolectomias totais com exérese da peça por via
endo-retal, a maioria das ressecções laparoscópicas emprega
a técnica assistida, em que se faz uma incisão
auxiliar para retirada da peça e eventualmente para fazer a
anastomose. Este fato gera uma grande discussão se
a confecção desta incisão não poria a perder as
vantagens esperadas do acesso laparoscópico.
Após ampla mobilização (com ou
sem desvascularização) do cólon (e/ou do reto),
realiza-se incisão pela qual o cólon é exteriorizado,
completa-se a desvascularização dos segmentos e a dissecção
retal, seccionam-se os limites proximais e distais da peça
e confecciona-se anastomose íleo-retal ou
bolsa-anal. Entretanto, a tração excessiva do mesentério
durante as manobras de desvascularização extracorpórea
possa acarretar íleo pós-operatório prolongado. Por
este motivo recomenda-se fazer
desvascularização intracorpórea, apesar do maior custo e tempo
operatório 40 .
Quanto ao local onde fazer essas
incisões auxiliares, recomenda-se que elas sejam medianas
trans ou infra-umbilicais 9, 27, ou ainda
transversais suprapúbicas tipo Pfannenstiel
14. Além do efeito cosmético, essas incisões preservam os flancos
do abdômen para a eventual exteriorização de
estomas intestinais 24 . Uma vantagem adicional da
incisão mediana é possibilitar reintervenções
pós-operatórias e futuras ressecções laparoscópicas nas recidivas.
Por outro lado, aqueles que defendem a incisão
de Pfannenstiel acreditam que ela também
proporciona menor dor e menos complicações (infecção e
hérnia) em comparação às incisões medianas ou transversais.
Resultados das colectomias totais
O tratamento cirúrgico da RCUI e da PAF
visa extirpar a doença e preservar a continência
8, 16. As opções técnicas são representadas por colectomia
total (CT) com anastomose íleo-retal, proctocolectomia
total (PCT) com ileostomia terminal e PCT com bolsa ileal.
A PCT com bolsa ileal representou um dos maiores avanços no tratamento da RCUI. Apesar
dos altos índices de complicações pós-operatórias, é
o procedimento eletivo mais freqüentemente indicado
no tratamento da RCUI e, eventualmente, na colite
de Crohn. O diagnóstico de colite indeterminada não
contra-indica sua realização
16 .
Quando comparadas às ressecções
segmentares, as CT resultam em maior tempo operatório
e morbidade, dado que reflete a extensão e
complexidade do procedimento. Este envolve ressecções
simultâneas de vários segmentos, confecção de anastomoses
íleo-retais ou reservatórios ileais (às vezes associados
à derivação intestinal temporária), além da
condição clínica específica de pacientes que
tomaram corticosteróides por longo período.
A polêmica sobre a realização de CT ou PCT
por via laparoscópica também se relaciona à avaliação
de seus reais benefícios. Embora relatos iniciais
tenham apontado maior tempo operatório, morbidade e íleo
21, 36, 40 , o desenvolvimento técnico das equipes
propiciou obter resultados comparáveis à laparotomia;
com algumas vantagens adicionais 12 .
Na Tabela-2 é apresentado um sumário
das publicações que versam sobre o
tratamento laparoscópico da RCUI.
Tabela 2 - Revisão das publicações sobre operações laparoscópicas no tratamento da
retocolite ulcerativa.
Autores | Número | Procedimento |
Tempo (minutos) |
Conversão (%) |
Morbidade (%) |
Internação
(dias) |
Peters et al, 1992 | 02 | PCT + I | NF | 0 | 0 | 6,5 |
Wexner et al, 1992 | 05 | PCT + B / CT | 230 | NF | 0 | 9,2 |
Schmitt et al, 1994 | 22 | PCT + B | 240 | 0 | 41 | 8,7 |
Rhodes et al, 1994 | 05 | PCT + B | 310 | 0 | 20# | 10 |
Tucker et al, 1995 | 11 | PCT + B | 327 | NF | NF | 6 |
Thibault et al, 1995 | 04 | PCT + I | 438 | 0 | 25 | 10 |
Lui et al, 1995 | 05 | PCT + B | 480 | 20 | 20 | 7 |
Reissman et al, 1996 | 30 | PCT / CT | 210 | 10 | 30 | 8,7 |
Santoro et al, 1999 | 05 | PCT + B | 360 | 0 | 20 | 12 |
Meijerink et al, 1997 | 13 | PCT + B | 300 | 0 | 30 | 13 |
Marcello et al, 2000 | 20 | PCT + B | 330 | 0 | 20 | 7 |
Pace et al, 2002 | 13 | PCT + B | 255 | 8 | 46 | 7 |
Ky et al, 2002 | 29 | PCT + B | 315 | 0 | 38 | 6 |
Em 1992, Peters 29 foi o primeiro a publicar
os resultados do tratamento laparoscópico em
doenças inflamatórias intestinais (DII). No mesmo ano,
Wexner et al 40 relataram pequena série comparativa onde
se constatou que o procedimento laparoscópico
requer tempo operatório 35% maior, determina íleo
pós-operatório mais prolongado (5,3 x 4,7 dias) e
maior tempo de hospitalização (9,2 x 8 dias). Os
autores ressaltaram, entretanto, que o maior tempo
operatório devia-se à curva de aprendizado, e o íleo prolongado
à tração exercida sobre o cólon exteriorizado através
de incisão Pfannenstiel antes da
desvascularização extracorpórea. Dados subseqüentes do mesmo
grupo também não revelaram redução do íleo e tempo
de hospitalização quando da publicação de sua
experiência maior em 22 pacientes
36 .
Outras séries com pequeno número de casos
21, 32, 38 também não observaram benefícios
quantitativos evidentes quanto à perda sangüínea, tempo
operatório e custo, embora tenham reconhecido que a
evolução pós-operatória é mais suave e menos dolorosa que
a observada após laparotomia.
Evolutivamente, sugeriu que as CT deveriam ser indicadas apenas em casos selecionados,
pois determinavam maior morbidade (30 x 10%) e
maior tempo de hospitalização (8,7 x 5,2 dias)
quando comparadas às ressecções íleo-colônicas
30, 39. Este mesmo grupo 31 avaliou os resultados de
100 colectomias laparoscópicas consecutivas
(incluindo todos os procedimentos), observando que o índice
de complicações estava diretamente relacionado
ao número de PCT ou CT realizadas: 50% nas
primeiras 18, 38% nas seguintes 13 e 20% nas últimas 5 CT.
No geral, 36 CT (28 com reservatório ileal, 6 com
anastomose íleo-retal e 2 com ileostomia terminal)
tiveram 42% de complicações, comparadas a 19%
nas ressecções segmentares e 12% em procedimentos
sem ressecção. Não houve diferença estatística entre
os grupos quanto ao íleo e tempo de hospitalização.
Em revisão da literatura, Sardinha e Wexner
35 concluíram que a realização de PCT restorativa
por VL associa-se a maior incidência de complicações
intra e pós-operatórias e maior tempo operatório
quando comparada à laparotomia. Apesar de alguns
trabalhos mostrarem que a curva de aprendizado acaba
por minorar essas desvantagens 34, essas críticas
constituem a razão pela qual a indicação deste procedimento
ainda é restrita e seletiva (Campos, 2003). No Brasil, CT
e PCT representaram apenas 5,1% dos procedimentos realizados (53 CT com íleo-reto anastomose e
31 proctocolectomias) em série que reuniu a
experiência nacional em cirurgia colo-retal
6 .
Até o final dos anos 90, admitia-se que
a realização de CT ou PCT restorativas por VL
não apresentava benefícios imediatos em relação à
via convencional, a não ser o melhor efeito cosmético
3, 11, 15, 36, 40 . Entretanto, a experiência acumulada em
cirurgia colo-retal e os avanços em técnica operatória
e instrumental propiciaram mudanças parciais
neste panorama.
Neste período, publicaram-se resultados animadores em pacientes jovens com
polipose adenomatosa familiar tratados por CT e
íleo-reto anastomose 26 . Em seguida, Santoro et al
34 reportaram 5 PCT restorativas por acesso totalmente
laparoscópico com controle vascular intracorpóreo, sem
conversão. Cada segmento colônico era
previamente desvascularizado na origem antes da liberação
do mesocólon e seus ligamentos. O tempo
operatório médio foi de 364 minutos, diminuindo ao longo
da experiência. Não houve complicações e a dor
parietal foi considerada mínima.
Desde então, outras séries pequenas e
estudos comparativos vêm, cada vez mais, confirmando
a segurança e os benefícios da realização de
colectomias mais extensas por VL.
Em elegante estudo comparativo pareado, Marcello
et al 22 relataram vantagens relacionadas ao retorno
das funções intestinais e tempo de hospitalização em
40 pacientes com polipose e RCUI tratados por PCT restorativa laparoscópica vs convencional.
Araki et al 1 também publicaram
suas impresssões sobre 11 pacientes submetidos a
PCT restorativa aberta comparados com outros 21 por
VL. Nesse grupo de pacientes, os autores
observaram evacuação (1,7 vs 5,4 dias) e consistência sólida
das fezes mais precoces (24,3 vs 87,3 dias). Perda sangüínea e tempo operatório foram semelhantes
entre os dois grupos. Entretanto, a morbidade foi de 45%
no grupo operado por via aberta e 33% por
laparoscopia. Os autores detacaram ainda os efeitos cosméticos
da VL.
Em outro estudo comparativo não
randomizado, Hashimoto et al 17 constataram tempo operatório de
81 minutos mais longo em PCT restorativa por VL
que, por outro lado, associou-se a menor tempo de internação, menos dor e melhor resultado
cosmético. Os autores ressaltam que a PCT laparoscópica
com bolsa ileal em J pode ser amplamente indicada
em pacientes com polipose familiar e em pacientes selecionados com colite ulcerativa.
Comparando 2 grupos com características clínicas semelhantes, Seshadri et al
37 também encontraram tempo operatório mais longo em 37 CT
e PCT laparoscópicas (270 vs 178 minutos), mas o
tempo de internação foi menor (6 vs 9 days; p =
0.001). Embora o índice total de complicações não
tenha apresentado diferença estatística (25% vs 44%; p
= 0.137), houve menos complicações de incisão (0%
vs 19%; p = 0.015), pulmonares e complicações
tardias (20% vs 64%; p = 0.002) no grupo laparoscópico.
Pace et al 28 revisaram sua experiência em
13 bolsas ileais em RCUI, em que apenas um
paciente (8%) necessitou conversão devido a aderências.
O tempo operatório variou de 200 a 398 minutos
(média de 255). Após um período de seguimento médio de
24 meses, dados relativos à qualidade de vida
social, emocional e física foram classificados
como satisfatórios a excelentes, e não diferiram de
estudos em pacientes operados por via convencional.
Mais recentemente, Ky et al 20 foram
os primeiros uma relatar grande série de 32 PCT
vídeo-laparoscópicas (29 RCUI e 3 PAF) em um só
tempo, sem ileostomia de proteção. A maioria dos
pacientes era constituída por jovens ativos, com média etária
de 32 anos (16 a 29). Houve apenas 2 complicações
intra-operatórias, 11 pós-operatórias e 3 reoperações
(1 ileostomia temporária, 1 lise de aderências e
1 drenagem da bolsa). Desta forma, os autores
acreditam que o papel desta via de acesso no tratamento da
RCUI provavelmente vai se expandir em futuro próximo.
Em outro estudo prospectivo recente, 59 pacientes com RCUI e PAF foram
operados consecutivamente por grupo da Alemanha
19 . Realizou-se mobilização laparoscópica em 54 pacientes
(91,2%). Em 5 pacientes com alto índice de massa
corpórea, houve mudança da tática operatória, sendo
dois pacientes convertidos por excessivo tempo
operatório e 3 submetidos a laparotomia mediana
adicional. Complicações maiores ocorreram em 18,6% e
9 pacientes requereram ileostomias secundárias.
Os autores concluem que a realização de PCT
restorativa por VL apresenta maior chance de falha em
pacientes obesos e não reduz a necessidade de realizar
ileostomia de proteção.
A experiência no tratamento das DII em
situação emergencial é ainda limitada. Dunker et al
10 relataram o tratamento de 42 pacientes consecutivos com
colite aguda, tratados por colectomia e ileostomia
terminal, 10 dos quais foram operados por VL, sem
conversão. Esses pacientes apresentaram maior tempo
operatório (217 vs 150 minutos; p<0,001), menor tempo
de hospitalização (14,6 vs 18 dias; p = 0,05) e igual
índice similar de complicações aos operados por via aberta.
Em outro estudo, Marcello et al 23
compararam pacientes com DII aguda não fulminante que
foram submetidos à CT, ileostomia terminal e fístula
mucosa por VL (19) ou convencional (29). O grupo laparoscópico apresentou igual perda sangüínea
(100 vs 150 ml), maior tempo operatório (210 vs
120 minutos), recuperação mais precoce das
funções intestinais (1 vs 2 dias) e menor hospitalização (4 vs
6 dias). Complicações ocorreram em 16% vs 24%
dos pacientes.
Numa revisão de 18 pacientes com colite fulminante não controlável clinicamente, Bell et al
2 reportaram complicações pós-operatórias em
6 pacientes (33%), que permaneceram hospitalizados
em média por 5 dias. Dezessete pacientes
foram subseqüentemente submetidos a proctectomia
e confecção de bolsa ileal. Esses autores ressaltam
que, embora a morbidade esteja relacionada às
condições clínicas no momento do ato operatório, o
acesso laparoscópico tem a potencialidade de reduzir o
tempo de internação e facilitar a construção da bolsa
pélvica, sendo uma excelente alternativa ao
tratamento convencional. Contudo, há aqueles que defendem
a idéia de que pacientes com colite aguda com
distensão ou toxicidade não devem ser tratados por
via laparoscópica 20 .
Na área de cirurgia pediátrica, a VL
vem gradativamente ganhando mais adeptos no
tratamento de estenoses por doença inflamatória
33 . A realização de PCT com bolsa por VL é hoje considerada
um procedimento ideal em crianças e
adolescentes portadores de RCUI 13.
Numa tentativa de contornar as dificuldades técnicas da PCT laparoscópica, sugere-se acesso
por mini-laparotomia. Embora os dados para
comparação deste acesso com a VL ainda sejam limitados,
acredita-se que a mini-laparotomia provê a mesma
recuperação em tempo operatório menor, recomendando-se
esta técnica para cirurgiões com menor experiência
em vídeo-cirurgia 5 .
Por todos os dados aqui discutidos, entende-se porque a indicação de CT vídeo-laparoscópicas
ainda é bastante restrita. Diante dessa controvérsia, o
bom senso do cirurgião e a seleção adequada dos
pacientes deverão ser os principais guias na indicação
deste procedimento complexo.
considerações Finais
Virtualmente, todos os procedimentos empregados em pacientes com DII podem ser
feitos por VL, desde a confecção de estomas até
as proctocolectomias restorativas. Entretanto, a
simples capacidade de se realizar um procedimento por
meio de uma determinada técnica não indica que
sua aplicação seja correta. A questão é estabelecer
quais pacientes serão beneficiados, assim como a
relação custo-efetividade desta via de acesso.
As CT (com ou sem proctectomia) são procedimentos laparoscópicos com
grande complexidade e dificuldade técnicas. Apesar
dos resultados hoje serem mais encorajadores do que
há 10 anos, ainda não se demonstraram vantagens
claras e reprodutivas. Neste contexto, devem ser
realizadas apenas em centros com grande volume de doentes
e experiência técnica reconhecida. Entretanto, não
se pode negar que, em pacientes jovens e motivados,
o melhor aspecto cosmético provavelmente é
uma importante vantagem do acesso laparoscópico
4 .
A rapidez do desenvolvimento tecnológico
atual permite prever que as técnicas e o
instrumental laparoscópico continuarão a evoluir. Atualmente
há melhores instrumentos de apreensão,
melhores laparoscópios que propiciam melhor visualização
e novas fontes de energia para dissecção e
hemostasia (ainda que um pouco lentas).
Uma perspectiva interessante é a utilização
de dispositivo recentemente desenvolvido para manipulação assistida com a mão
18 . O Lap disk permite a manutenção do pneumoperitônio, propicia
maior segurança na manipulação de mesentério inflamado
e sua apresentação, facilita a dissecação pélvica e
a construção de anastomoses baixas, podendo
compensar, desta forma, a falta de grampeadores articulados
e compactos para secção do reto distal na pelve.
Assim, a adequada interpretação dos
resultados das colectomias totais deve, no futuro, avaliar
estudos prospectivos randomizados com maior número
de pacientes e equipes experientes que utilizem
instrumental apropriado.
Summary: In patients with inflammatory bowel disease and familial adenomatous polyposis, total colectomy is considered an advanced procedure with high technical complexity that requires proper training in laparoscopic surgery. Although laparoscopic total proctocolectomy in the hands of skilled laparoscopic surgeons is a feasible alternative approach, it still raises many controversies concerning its safety and actual advantages. During the last decade, the experience with restorative proctocolectomies and ileorectal anastomosis progressively acquired in many centers have suggested that the results obtained in selected patients are comparable and, in some aspects even better than those observed in conventional operations. In this context, factors such as minimal physiologic trauma, less adhesion formation, shorter hospitalization and better cosmesis are put against the prolonged operative time that remains an important disadvantage. In young patients with higher risk of reoperations during lifetime, the potential benefits of laparoscopic resections seem to be more evident. Meanwhile, the indication of total colectomies is still limited and should be confined to selected patients and well trained surgeons. With the evolution and refinement of laparoscopic techniques, the analysis of a greater number of patients allocated in randomized controlled trials may elucidate what are and the advantage's dimension of laparoscopic access for total colectomies.
Key words: laparoscopic colorectal surgery, colectomy, ulcerative colitis, inflammatory bowel disease, familial adenomatous polyposis.
Referências Bibliográficas
1. Araki Y, Ishibashi N, Ogata Y, Shirouzu K, Isomoto H.
The usefulness of restorative laparoscopic-assisted total
colectomy for ulcerative colitis. Kurume Med
J 2001; 48 (2): 99-103.
2. Bell RL, Seymour NE. Laparoscopic treatment of
fulminant ulcerative colitis. Surg Endosc 2002; 16 (12): 1778-82.
3. Bemelman WA, van Hogezand RA, Meijerink WJ,
Griffioen G, Ringers J. Laparoscopic-assisted bowel resections in
inflammatory bowel disease: state of the art. Neth J
Med 1998; 53 (6): S39-46.
4. Bemelman WA, Dunker MS, Slors JF, Gouma
DJ. Laparoscopic surgery for inflammatory bowel disease:
current concepts. Scand J Gastroenterol 2002; 236: 54-9.
5. Brown SR, Eu KW, Seow-Choen F. Consecutive series
of laparoscopic-assisted vs. minilaparotomy
restorative proctocolectomies. Dis Colon
Rectum 2001; 44'(3): 397-400.
6. Campos FG e colaboradores.Cirurgia Laparoscópica
Colo-Retal _ Resultados do Inquérito Nacional Brasileiro -
2001. Rev bras Coloproct 2001; 21: 135 _ 143.
7. Campos FG. Complications and conversions in
laparoscopic colorectal surgery: results of a multicenter Brazilian trial.
Surg Laparosc Endosc Percutan Tech 2003; 13 (3):173-9.
8. Campos FG, Habr-Gama A, Kiss DR, Atu FC, Katayama
F, Gama-Rodrigues J. Extracolonic manifestations of
familial adenomatous polyposis: incidence and impact on the
disease outcome. Arq Gastroenterol 2003; 40 (2): 92-8.
9. Canin-Endres J, Salky B, Gattorno F, Edye
M. Laparoscopically assisted intestinal resection in 88
patients with Crohn's disease. Surg Endosc 1999;13 (6): 595-9.
10. Dunker MS, Bemelman WA, Slors JF, van Hogezand
RA, Ringers J, Gouma DJ. Laparoscopic-assisted vs open
colectomy for severe acute colitis in patients with
inflammatory bowel disease (IBD): a retrospective study in 42 patients.
Surg Endosc 2000; 14 (10): 911-4.
11. Dunker MS, Bemelman WA, Slors JF, van Duijvendijk
P, Gouma DJ. Functional outcome, quality of life, body
image, and cosmesis in patients after laparoscopic-assisted and
conventional restorative proctocolectomy: a comparative
study. Dis Colon Rectum 2001; 44 (12): 1800-7.
12. Garbus JE, Potenti F, Wexner SD. Current controversies
in pouch surgery. South Med J 2003; 96 (1): 32-6.
13. Georgeson KE. Laparoscopic-assisted total colectomy
with pouch reconstruction. Semin Pediatr Surg 2002; 11 (4):
233-6.
14. Greene AK, Michetti P, Peppercorn MA, Hodin
RA. Laparoscopically assisted ileocolectomy for Crohn's
disease through a pfannenstiel incision. Am J Surg
2000; 180 (3): 238-40.
15. Gurland BH, Wexner SD. Laparoscopic surgery for
inflammatory bowel disease: results of the past decade.
Inflamm Bowel Dis 2002; 8 (1): 46-54.
16. Habr-Gama A. Retocolite Ulcerativa. In: PINOTTI, H.W.,
ed. Tratado de Clínica Cirúrgica do Aparelho Digestivo.
São Paulo, Atheneu, 1994; p. 1169 _ 84.
17. Hashimoto A, Funayama Y, Naito H, Fukushima K,
Shibata C, Naitoh T, Shibuya K, Koyama K, Takahashi K, Ogawa
H, Satoh S, Ueno T, Kitayama T, Matsuno S, Sasaki
I. Laparascope-assisted versus conventional
restorative proctocolectomy with rectal mucosectomy.
Surg Today 2001; 31(3): 210-4.
18. Ichihara T, Nagahata Y, Nomura H, Fukumoto S, Urakawa
T, Aoyama N, Kuroda Y. Laparoscopic lower anterior
resection is equivalent to laparotomy for lower rectal cancer at the
distal line of resection. Am J Surg 2000; 179 (2): 97-8.
19. Kienle P, Weitz J, Benner A, Herfarth C, Schmidt
J. Laparoscopically assisted colectomy and ileoanal pouch
procedure with and without protective ileostomy. Surg
Endosc 2003; 17 (5):716-20.
20. Ky AJ, Sonoda T, Milsom JW. One-stage
laparoscopic restorative proctocolectomy: an alternative to the
conventional approach? Dis Colon Rectum 2002; 45 (2):207-10.
21. Liu CD, Rolandelli R, Ashley SW, Evans B, Shin
M, McFadden DW. Laparoscopic surgery for inflammatory
bowel disease. Am Surg 1995; 61 (12): 1054-6.
22. Marcello PW, Milsom JW, Wong SK, Hammerhofer
KA, Goormastic M, Church JM, Fazio VW. Laparoscopic
restorative proctocolectomy: case-matched comparative study
with open restorative proctocolectomy. Dis Colon Rectum
2000; 43 (5): 604-8.
23. Marcello PW, Milsom JW, Wong SK et al. Laparoscopic
total colectomy for acute colitis. A case-control study.
Dis Colon Rectum 2001; 44: 1441 _ 5.
24. Mathis CR, MacFadyen BV Jr. Laparoscopic colorectal
resection: a review of the current experience. Int Surg
1994; 79 (3): 221-5.
25. Meijerink WJ, Eijsbouts QA, Cuesta MA, van Hogezand
RA, Ringers J, Meuwissen SG, Griffioen G, Bemelman
WA. Laparoscopically assisted bowel surgery for
inflammatory bowel disease. The combined experiences of two
academic centers. Surg Endosc 1997; 13 (9): 882-6.
26. Milsom JW, Ludwig KA, Church JM, Garcia-Ruiz
A. Laparoscopic total abdominal colectomy with ileorectal
anastomosis for familial adenomatous polyposis.
Dis Colon Rectum 1997; 40 (6): 675-8.
27. Nogueras JJ, Wexner SD. Laparoscopic colon
resection. Perspectives in Colon and Rectal Surgery 1992; 5: 79-97.
28. Pace DE, Seshadri PA, Chiasson PM, Poulin EC,
Schlachta CM, Mamazza J. Early experience with laparoscopic
ileal pouch-anal anastomosis for ulcerative colitis.
Surg Laparosc Endosc Percutan Tech 2002; 12 (5): 337-41.
29. Peters WR. Laparoscopic total proctocolectomy with
creation of ileostomy for ulcerative colitis: report of two
cases. J Laparoendosc Surg 1992; 2 (3): 175-8.
30. Reissman P, Salky B, Pfeifer J, Edye M, Jagelman DG,
Wexner SD. Laparoscopic surgery in the management of
inflammatory bowel disease. Am J Surg 1996 ; 171: 47 _ 51.
31. Reissman P, Salky B, Pfeifer J, Edye M, Wexner
SD. Laparoscopic surgery in Crohn's disease: indications and
results. Surg Endosc 1996; 10: 1201 -4.
32. Rhodes M, Stitz RW. Laparoscopic subtotal colectomy.
Semin Colon Rectal Surg 1994; 5: 267 _ 270.
33. Rothenberg SS. Laparoscopic segmental intestinal
resection. Semin Pediatr Surg 2002; 11 (4): 211-6.
34. Santoro E, Carlini M, Carboni F, Feroce A. Laparoscopic
total proctocolectomy with ileal J pouch-anal
anastomosis. Hepatogastroenterology 1999; 46 (26): 894-9.
35. Sardinha TC; Wexner SD. Laparoscopy for
inflammatory bowel disease: pros and cons. World J Surg
1998; 22: 370 _ 74.
36. Schmitt SL, Cohen SM, Wexner SD, Nogueras JJ,
Jagelman DG. Does laparoscopic-assisted ileal pouch anal
anastomosis reduce the length of hospitalization?
Int J Colorectal Dis 1994; 9 (3): 134-7.
37. Seshadri PA, Poulin EC, Schlachta CM, Cadeddu
MO, Mamazza J. Does a laparoscopic approach to total
abdominal colectomy and proctocolectomy offer advantages?
Surg Endosc 2001; 15 (8): 837-42.
38. Thibault C, Poulin EC. Total laparoscopic
proctocolectomy and laparoscopy-assisted proctocolectomy for
inflammatory bowel disease: operative technique and preliminary
report. Surg Laparosc Endosc 1995; 5 (6): 472-6.
39. Tucker JG, Ambroze WL, Orangio GR, Duncan TD,
Mason EM, Lucas GW. Laparoscopically assisted bowel
surgery. Analysis of 114 cases. Surg Endosc 1995; 9 (3): 297-300.
40. Wexner SD, Johansen OB, Nogueras JJ, Jagelman
DG. Laparoscopic total abdominal colectomy. A prospective
trial. Dis Colon Rectum 1992; 35 (7): 651-5.
Endereço para correspondência:
Fábio Guilherme C. M. de Campos
Alameda Jaú, 1477 - apto. 111 A - Cerqueira César
01420-002 - São Paulo - SP
E-mail: fgmcampos@terra.com.br