ARTIGOS ORIGINAIS
Sidney Roberto Nadal - TSBCP
Carmen Ruth Manzione - TSBCP
Sérgio Henrique Couto Horta - TSBCP
Edenilson Eduardo Calore
NADAL SR, MANZIONE CR, HORTA SHC, CALORE EE. Sistematização do Atendimento dos Portadores de Infecção Perianal
pelo Papilomavirus Humano (HPV). Rev bras
Coloproct, 2004;24(4):322-328.
RESUMO: O condiloma acuminado anogenital foi a doença sexualmente transmissível mais diagnosticada no Brasil durante o período de 1998 a 2001. Sua incidência vem aumentando nos últimos anos, associada ao AIDS. O diagnóstico na maioria das vezes é clínico e o diagnóstico de certeza é dado pela presença do vírus nos tecidos. Muitos doentes são resistentes ao tratamento e apresentam elevada incidência de recidivas. Pode haver associação com displasias e neoplasias, principalmente em imunodeprimidos, o que ocorre em cerca de 30% dos casos. É também descrita a possibilidade de progressão para carcinoma invasivo. Nosso objetivo é apresentar algoritmo de tratamento e seguimento de portadores de infecção perianal pelo HPV para redução das recidivas e controle da evolução para carcinoma invasivo. As verrugas regrediram totalmente em 37,2% e diminuíram em tamanho e número em 43,1% dos casos com o tratamento tópico. Essa diminuição facilitou a operação e a recuperação do doente. O tratamento foi inútil em outros 19,6%. As taxas de recidiva atingiram 51% em até seis meses. O tratamento das lesões recidivadas foi semelhante ao do pré-operatório. O tratamento clínico tópico não teve efeito em 42% dos pacientes, que necessitaram de reintervenção cirúrgica. O exame histológico mostrou NIA de baixo grau em 81,44% e NIA de alto grau de malignização em 18,56% dos doentes. No seguimento, não observamos evolução para carcinoma invasivo. Realizamos a anuscopia com ampliação de imagens após a cicatrização das verrugas perianais e na ausência de lesões clínicas e a cada seis meses até que três resultados negativos consecutivos. Notamos lesão subclínica em um quarto dos doentes. Em caso de recidiva, voltamos ao protocolo inicial. Drogas imunoterápicas podem ser usadas na doença crônica e recidivante. A experiência adquirida no manejo de doentes portadores de condilomas acuminados perianais permitiu a aplicação do presente algoritmo de tratamento.
Unitermos: Infecção pelo HPV, condiloma acuminado, neoplasia intraepitelial anal.
INTRODUÇÃO
O condiloma acuminado anogenital é
causado pelo Papilomavírus humano
(HPV),1-3 agente que tem tropismo pelas células da camada basal dos
epitélios. Foi a doença sexualmente transmissível
mais diagnosticada no Brasil, tanto em homens
(39,6%) como em mulheres (21%), durante o período de
1998 a 2001. Sua incidência vem aumentando nos
últimos anos, associada ao
AIDS,3-7 variando de 15,7 a 62%, na literatura
especializada.8-11 A afecção aparece
em qualquer idade, sendo mais comuns entre os
jovens,12 provavelmente quando a atividade sexual é maior.
O diagnóstico na maioria das vezes é
clínico. Apresentam aspecto macroscópico
característico constituído por lesões papilares, geralmente
múltiplas, que podem coalescer formando grandes
tumores vegetantes.13 Microscopicamente, têm bordas
bem definidas, constituídas por epitélio
escamoso pluriestratificado, acantótico, com alongamento
de cones epiteliais, que por vezes se dispõem
sobre pedúnculo de tecido fibroconjuntivo.
Caracteristicamente, a hiperplasia da camada basal é mínima
ou inexistente e o número de mitoses é normal. A
camada malpighiana apresenta maturação ordenada.
Outras vezes, observam-se células epiteliais de
citoplasma volumoso, claro e com núcleos irregulares, ou por
vezes picnóticos, denominadas
coilócitos.14 Nas lesões
planas, a acantose pode ser mínima ou inexistente,
dificultando o diagnóstico que nessas situações é feito pela
presença de coilócitos no epitélio de revestimento. O
diagnóstico de certeza é dado pela presença do vírus nos tecidos.
Técnicas especiais como
imunohistoquímica, captura híbrida, hibridização
in situ e reação em
cadeia da polimerase (PCR), podem evidenciar o HPV em
até 75% dos casos. Porisso, a ausência do vírus por
esses métodos não permite descartar o diagnóstico
de condiloma viral.15
Apresentam características especiais em imunodeprimidos. São mais agressivos e difíceis
de controlar, embora os tipos virais sejam os mesmos
da população em geral.16 Têm crescimento
rápido,8,17 podendo alcançar tamanho extraordinário e invadir
a mucosa.8 São resistentes ao tratamento
medicamentoso tópico8,11 e apresentam alta incidência de
recidivas.11,18 Em doentes HIV-positivos, a associação com
displasias, atualmente conhecidas como neoplasias
intraepiteliais anais (NIA), e neoplasias ocorrem em cerca de
30% dos doentes.1,2,4,5,17,19-21 É também descrita
a possibilidade de progressão de carcinoma "in situ"
para invasivo2 e a maioria ocorreria na zona de transição
do canal anal.22
Existem diversas modalidades de tratamento incluindo medicações tópicas, criocirurgia,
excisão cirúrgica e
fulguração.8,23 Dentre as medicações de
uso tópico, o ácido tricloroacético (ATA) é eficaz em
lesões de mucosa, porém tem limitações em pele
queratinizada, onde a aplicação provoca ardor
intenso.23 O 5-fluorouracil (5-FU), apesar da eficácia, causa desconforto,
inflamação e, por ser teratogênico, deve ser evitado em
gestantes.23 O uso da podofilina é padronizado e seguro, todavia,
não deve ser aplicado em mucosas, pois pode ser tóxico,
se absorvido, nem utilizado em gestantes, pelo
efeito teratogênico.23 Em doentes imunodeprimidos
com verrugas grandes e multicêntricas o tratamento
tópico geralmente falha e a fulguração é o tratamento de
escolha por minimizar a perda
tecidual.24 A ablação
cirúrgica (eletrocoagulação, excisão, laserterapia) controla a
doença, porém, tratamento local ou nenhum tratamento pode
ser indicado.24
Os artigos da literatura revista apresentaram conclusões conflitantes a respeito da efetividade
do tratamento dos condilomas perianais com
substâncias tópicas. Enquanto essas são inicialmente indicadas
por alguns autores,8,16 a ablação cirúrgica é considerada
como a terapia de escolha por outros.1,18,25
De qualquer forma, a maior preocupação é evitar as recidivas e
o aparecimento de neoplasias. Nosso objetivo é
apresentar algoritmo de tratamento e seguimento de portadores
de infecção perianal pelo HPV (Quadro-1)
para redução das recidivas e controle da evolução para
carcinoma invasivo.
Quadro 1 |
MÉTODO
Embora o aspecto macroscópico dos condilomas acuminados perianais seja típico,
optamos por ressecar uma das lesões para
confirmação histológica e avaliar a presença de atipias.
Examinamos também a área genital e a orofaringe para
detectar doença à distância.
O tratamento consiste, inicialmente, de aplicações semanais de podofilina a 25%, em
vaselina sólida, nas lesões da margem anal e de
ácido tricloroacético (ATA) a 95% nos
condilomas localizados acima da linha pectínea. Utilizamos
esse esquema em todos os doentes, mesmo naqueles
com verrugas volumosas e com indicação de
tratamento cirúrgico. Avaliamos os doentes após a
quarta aplicação. As verrugas remanescentes são tratadas
com ressecção e/ou eletrofulguração. Todo o tecido
retirado é enviado para exame histológico.
O seguimento é mensal e até o sexto mês,
após erradicação das verrugas, período após o qual
a freqüência de recidivas é pequena. Fazemos
anuscopia com magnificação de imagem (AMI) nos doentes
sem lesões visíveis logo ao término do tratamento
tópico ou da cicatrização das feridas operatórias e no
sexto mês. Não havendo recidiva após esse período,
os retornos são trimestrais até dois anos. Repetimos a
AMI a cada seis meses. Cauterizamos as lesões
subclínicas encontradas, sob anestesia local. Após esse
período, nas lesões de baixo grau e sem evidência de lesão
o acompanhamento não é mais necessário. Nas
lesões de alto grau, na ausência de lesões visíveis,
repetimos a AMI anualmente pelo risco de aparecimento
de carcinoma invasivo.
Em caso de recidiva, voltamos ao protocolo inicial. Drogas imunoterápicas podem ser usadas
na doença crônica e recidivante.
RESULTADOS
O exame para pesquisar lesões à
distância revelou condilomas na cavidade oral em 16% dos
casos, no pênis de 24% dos homens e nos genitais
externos de 80% das mulheres. As aplicações de
podofilina foram eficazes em 48,9% dos casos e de ATA,
em 33,3%. Em 17,1% das vezes, as lesões da margem
anal sumiram, persistindo as do canal anal. As
verrugas regrediram totalmente em 37,2% e diminuíram
em tamanho e número em 43,1% de 105 doentes
estudados prospectivamente. Constatamos diminuição do
número e tamanho dos condilomas, o que
posteriormente facilitou a operação e a recuperação do doente.
O tratamento foi inútil em outros 19,6%.
Os doentes operados tiveram
cicatrização completa em até 90 dias. Durante o
acompanhamento ambulatorial observamos recidivas de 51% em até
seis meses. O tratamento das lesões recidivadas
foi semelhante ao do pré-operatório. O tratamento
clínico tópico não teve efeito em 42% dos pacientes,
que necessitaram de reintervenção cirúrgica. Todos
estavam nas fases mais avançadas da AIDS.
O exame anatomo-patológico das
peças cirúrgicas mostrou NIA de baixo grau (NIAB)
em 81,44% e NIA de alto grau de malignização
(NIAA) em 18,56% dos doentes. As incidências
foram semelhantes quando comparamos doentes com e
sem imunodepressão.
Temos realizado a anuscopia com
ampliação de imagens, empregando o colposcópio
convencional. Avaliamos o períneo, a pele perianal e o canal
anal, utilizando o ácido acético a 5% e complementando
com azul de toluidina, quando necessário. Indicamos
o exame após a cicatrização das verrugas perianais e
na ausência de lesões clínicas. Repetimos o exame a
cada seis meses até que três resultados consecutivos
sejam negativos. Cauterizamos, sob anestesia local, as
lesões encontradas. Não solicitamos exame histológico
para os doentes em seguimento, pois o achado não
modificará a conduta. Nas lesões extensas, optamos
pelo esquema de produtos tópicos.
No seguimento dos portadores de condilomas com NIAA não observamos recidivas com o
mesmo padrão de atipias nem evolução para
carcinoma invasivo.
Dos agentes imunoterápicos, tivemos
oportunidade de realizar estudo com IFN beta em
portadores de AIDS. O tratamento consistiu de 15 doses de
três milhões de unidades por via intramuscular em
dias alternados. O valor médio dos linfócitos T CD4+,
antes do início do esquema terapêutico, variou de 64 a 900
e a média global foi de 370 células/mm³. No 30º dia
após o término do tratamento, o número dessas
células diminuiu em três doentes (13%), manteve-se
estável em quatro (17,4%) e aumentou em 16
casos(69,6%). A média foi de 461 com extremos entre 44 e
944/mm³. Apesar do aumento de 24,6%, a análise estatística
não mostrou diferença significante.
No dia da última dose, os condilomas desapareceram em três (13%), reduziram em
número e volume em 14 (61%) e permaneceram
inalterados em seis doentes.(26%). Após 30 dias, oito
doentes (34,8%) estavam sem lesões visíveis, 13
(56,5%) apresentavam redução da massa condilomatosa
em mais de 50% do tamanho inicial e em dois (8,7%)
não houve resposta. O produto foi efetivo em 91,3%
dos doentes, sendo que as lesões desapareceram em
34,8% e diminuíram em 56,5% até o 30º dia após o
término do esquema terapêutico.
DISCUSSÃO
Devido à ação corrosiva do ATA, caso o
doente refira dor, aplicamos solução de bicarbonato de
sódio a 10% que confere pronto alívio. Metade dos
doentes em que usamos podofilina queixaram de ardor
perianal de intensidade fraca a moderada durante dois ou
três dias, somente após a primeira aplicação. Como
o produto tem ação exfoliativa, o sintoma é
esperado, sendo aliviado com pomadas de óxido de zinco
e vitaminas A e D.
Optamos pelo tratamento com tópicos em todos os casos, mesmo naqueles com indicação
de operação. A efetividade desse tratamento foi de
43%. Observamos que, além de diminuir o tamanho e
número das lesões, o período livre de recidivas
duplicou.26 Esse procedimento diminuiu a incidência de recidivas
de 76 para 51%, até o sexto mês
pós-tratamento.26 O seguimento é mensal e até o sexto mês,
após erradicação das verrugas, período após o qual
a freqüência de recidivas é menor. Fazemos AMI
nos doentes sem lesões visíveis logo ao término
do tratamento tópico ou da cicatrização das
feridas operatórias e no sexto mês. Temos notado que
25% dos doentes têm doença subclínica. Nos
condilomas com NIAA, na ausência de doença clínica, após os
dois anos de seguimento inicial, repetimos a AMI anualmente pelo risco de aparecimento de
carcinoma invasivo. Em nossa experiência, esse fato não
ocorreu em seguimento de até 12 anos.
O método do PCR, realizado em
lâminas obtidas de condilomas em blocos de parafina,
revelou que 69,2% deles foram causados por tipos
não oncogênicos (6, 11 e 53). Quando avaliamos o tipo
do HPV e o grau de NIA, observamos que tanto os
tipos oncogênicos como os não oncogênicos
foram responsáveis por NIAA. Os condilomas
recidivaram, até o sexto mês de pós-operatório, em 51% dos
doentes. A análise estatística dos dados revelou que nem o
grau de imunodepressão e nem os diferentes tipos
virais determinaram maior ou menor incidência de
recidiva dos condilomas. Entretanto, as verrugas com
NIAA apresentaram maior incidência de recidivas que as
com NIAB. Também, não observamos evolução
para carcinoma invasivo, o que talvez tenha ocorrido
pela eficácia do tratamento e seguimento
realizados, impedindo que as lesões progredissem. A presença
de NIAA e os estádios avançados de imunodepressão
são fatores de risco para a recidiva dos
condilomas acuminados perianais e não para sua evolução
para carcinoma invasivo.27
Apesar da introdução dos inibidores
da protease reduzir a incidência de displasias em
doentes HIV-positivos, o número de recidivas
continua semelhante27,28 por fatores que
desconhecemos. Revisando a literatura, encontramos índices
de reincidência entre 10 e 88%, dependendo do
tratamento
instituído.2,18,23,29-31 Entretanto, é difícil diferenciar
as recidivas verdadeiras dos casos de
reinfecção.2,31 Há os que associaram as recidivas à presença de
infecções latentes pelo HPV em epitélio aparentemente
normal.32 Daí, a importância do seguimento por longo prazo,
da AMI e da pesquisa de meios terapêuticos para
reduzir essa ocorrência. Acreditamos que ao eliminar
os condilomas não estamos erradicando a doença,
pois os vírus persistem em sua forma latente e as
verrugas poderão reaparecer.
Drogas imunoterápicas podem ser usadas. Obtivemos sucesso com interferon beta
intramuscular na doença crônica e recidivante, com
desaparecimento ou diminuição de mais que 50% das lesões em
91% dos casos.33 Os IFN estão sendo usados
como coadjuvantes no tratamento dessas
lesões, principalmente o IFN beta, que parece ser o
mais efetivo, mais barato e com menos efeitos
colaterais.34,35 Frega et
al.,36 utilizando IFN beta
intramuscular associado com timoestimulina, observaram
remissão dos condilomas em 36,8% e nenhum efeito em
36,8% das pacientes. Welander et al.37 erradicaram 44%
das lesões usando IFN alfa intralesional e não
tiveram recidivas até 19 semanas.
Outras substâncias imunomoduladoras podem ser usadas. Drogas imunomoduladoras e
antivirais, imiquimod e cidofovir, estão sendo testadas quanto
a sua efetividade, tanto como as vacinas terapêuticas
para o HPV.38
O cidofovir é um nucleosídeo análogo
da desoxicitidina com atividade antiviral contra
vários DNA vírus, incluindo herpes, pox e
papilomavírus.39,40 Sua aplicação tópica na forma de creme a 1%
em condilomas acuminados perianais mostrou eficácia
na maioria dos doentes HIV-positivos, determinando longos períodos livres de
recidiva.39,40 Os mesmos autores relataram reações de pele como inflamação
e erosão, sensação de queimação. Hiperpigmentação
pós-inflamatória e alopécia transitória foram
observados nos locais de aplicação do produto. Todavia,
não ocorreram efeitos colaterais sistêmicos.
Agentes da família da imidazoquinolina
como o imiquimod e o resiquimod, medicações
tópicas imunoterápicas e imunoestimulantes, atuam
pela indução da secreção de citocinas pelos monócitos
e macrófagos (interferon-alfa, interleucina-12 e fator
de necrose tumoral-alfa).41 A melhora da imunidade
local e a indução da imunidade celular controlam as
doenças provocadas por vírus, incluído o HPV. A eficácia
do imiquimod tem sido comprovada em verrugas
anogenitais.42
O intuito destes novos esquemas de tratamento não é apenas eliminar os condilomas, mas
diminuí-los em número e volume, facilitando a ressecção
cirúrgica, além de reduzir a taxa de
recidivas.23,38,43
Em nossa experiência com realização da
AMI, notamos a presença de lesão subclínica em um
quarto dos doentes que considerávamos livres de
lesões clínicas. Acreditamos que com esse esquema
estaremos retardando o aparecimento de doença
clínica. Orientamos que os doentes com verrugas genitais
sejam submetidos ao exame da região perianal para
detecção e tratamento de lesões subclínicas. Nesses
casos, realizaremos biópsias para diagnóstico de certeza.
Em estudo recente, Byars et al.44
encontraram o DNA do HPV em 12,2% das neoplasias anais,
todas "in situ", e 3,5% de lesões "in situ" (NIAa)
em portadores de lesões anais provocadas pelo
HPV. Observamos apenas um carcinoma invasivo em
1253 portadores de condilomas acuminados perianais,
num total de 0,07%. Até o ano de 1996, antes da
aprovação dos inibidores de protease para tratamento da
AIDS, tínhamos 26,4% de NIAA e posteriormente a essa
data, a incidência diminuiu para 3,6%, mostrando
a importância da imunidade sistêmica na gênese
dessas lesões.
Avaliando a literatura, notamos a existência
de alguns fatores de risco para o aparecimento do
câncer: a imunodepressão provocada pelo HIV, associação
com infecção pelo HPV, a presença dos linfócitos T
CD4+ abaixo de 100/mm³, a carga viral HIV elevada,
que sugere tratamento ineficaz ou ausente e denota imunodepressão iminente, e a presença
de displasias.20,45,46
Muito há ainda para descobrir em relação
à infecção anorretal pelo HPV. Talvez o mais
importante seja definir os mecanismos pelos quais o HPV leve
ao câncer e a forma de evitá-lo. Todavia,
aspectos relacionados ao diagnóstico e tratamento
ainda merecem estudos. Temos insistido fazê-los em
doentes HIV-positivos, pois a imunodepressão faz que
a evolução da infecção pelo HPV tenha rumos diferentes.
A experiência adquirida no manejo de
doentes portadores de condilomas acuminados
perianais permitiu a aplicação do presente algoritmo
de tratamento.
SUMMARY: Anogenital condylomata acuminata was the transmitted sexually disease most diagnosed in Brazil from 1998 to 2001. Its incidence is increasing in the last years, associated to AIDS epidemic. Macroscopic lesion is typical and diagnosis is confirmed by virus presence in contaminated tissues. Some patients have resistance to topical drugs and recurrence has elevated incidence. Association with displasia and neoplasia may occur in 30 percent of patients, mainly in immunosuppressed ones. The possibility of evolution to invasive carcinoma has been reported. The aim of this article is to present our treatment and follow-up algorithm for HPV anal infection, to reduce recurrence and avoid transformation to invasive carcinoma. Warts disappeared in 37.2 percent and decreased in number and size in 43.1 percent of patients with topics. This therapy was ineffective in 19.6 percent. Reduction of warts in number and size facilitated surgery and post-operative period. Recurrence index was 51 percent up to the sixth month. Treatment of the recurred lesions was the same. New topical treatment had no effects in 42 percent of patients that needed other surgical resection. Histological examination revealed low grade AIN in 88.44 percent and high grade AIN in 18.56 percent of patients. We did not note development of invasive carcinoma in the follow-up. We did image amplified anuscopy after treatment when clinical disease was absent, and each six months until three consecutive examinations were negative. We observed subclinical lesion in 25 percent of patients. When recurrences appeared, the same scheme was used. Immunotherapeutic drugs can be used in chronic and recurring disease. The experience acquired with patients with anal condylomata acuminata allowed us to apply the present treatment and follow-up algorithm.
Key words: HPV infection, anal condylomata acuminata, anal intraepithelial neoplasia.
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Endereço para correspondência:
Sidney Roberto Nadal
Rua Dr. Virgílio Carvalho Pinto, 381 _ apto. 23
05.415-030 - São Paulo (SP)
Fone fax: (11) 223-8099 e (11) 3337-4282
E-mail: srnadal@terra.com.br
Trabalho realizado no Instituto de Infectologia Emílio Ribas - São Paulo.
Recebido em 04/11/2004
Aceito para publicação em13/01/2005