ARTIGOS ORIGINAIS
PERFIL DA DOENÇA DE CROHN FISTULIZANTE EM ATIVIDADE EM DOIS SERVIÇOS UNIVERSITÁRIOS EM SALVADOR - BAHIA
1ADRIANA CONCEIÇÃO DE MELLO ANDRADE, 1GENOILE OLIVEIRA SANTANA, 1RAQUEL ROCHA SANTOS, 1JORGE CARVALHO GUEDES, 1LUIZ GUILHERME COSTA LYRA
1Universidade Federal da Bahia, Brasil
RESUMO: Na Doença de Crohn (DC) os pacientes podem desenvolver fístulas, com uma freqüência que aumenta com a evolução.Este grupo de pacientes apresenta alterações peculiares, com manifestação variável a depender de características como o tipo de fístula e local de envolvimento.São poucas as descrições desta forma de doença em nosso meio. Objetivo: Descrever características da população de pacientes com Doença de Crohn fistulizante (DCF) em dois serviços universitários, ressaltando suas variáveis clínicas e demográficas e a qualidade de vida destes pacientes. Desenho do estudo: Série de casos. Pacientes e Métodos: Os pacientes foram avaliados entre dezembro de 2002 a dezembro de 2003, incluindo-se neste período todos os pacientes com DCF em atividade, nos dois ambulatórios de referência para Doença Inflamatória Intestinal (DII).A coleta de dados foi realizada através de entrevista, incluindo características sócio-demográficas, descrição da DC e das fístulas, e análise da qualidade de vida através do questionário Short-Form 36 (SF-36). Resultados: Foram avaliados 20 pacientes, com média de idade de 38,5±14,4 (variando de 18-72) anos.A maioria (13/65%) dos pacientes foi do sexo feminino.O tipo mais comum de fístula foi perianal (10/50%) e a localização mais freqüente da DC foi na região íleo-colônica (10/50%).Houve envolvimento retal em 13 (65%) pacientes. Na análise da qualidade de vida, os melhores resultados foram em capacidade funcional (79,6) e aspectos sociais (70).Os piores escores foram em aspectos emocional (51,7) e físico (56,3). Conclusões: Na população analisada, a doença mostrou-se mais freqüente em adultos jovens e mulheres. Fístula perianal foi mais freqüente, mostrando uma associação com doença íleo-cecal e acometimento retal. A DCF demonstrou afetar de forma significativa a qualidade de vida dos pacientes, especialmente em aspectos físicos e emocionais, apontando para a necessidade de acompanhamento especializado, envolvendo uma abordagem multi-disciplinar.
Descritores: Doença de Crohn, Fístula, Doença Inflamatória Intestinal.
INTRODUÇÃO
A DCF apresenta alterações peculiares,
com manifestação variável a depender de
características, como o tipo de fístula e local de envolvimento
da doença no cólon. A diversidade de apresentação
na forma fistulizante leva ao interesse para estudar
esta população, ressaltando a escassez de dados em
nossa população, descrevendo as características deste
grupo de pacientes, visto que este tipo de estudo se torna
uma etapa necessária para estudos posteriores mais
aprofundados nestes doentes.
O interesse na análise da qualidade de
vida tem se tornado crescente, especialmente a partir
da década de 70 em doenças crônicas como a DC.Por
sua característica recorrente, com episódios
agudos intercalados com períodos de remissão, e pela
faixa etária de pacientes adultos jovens,
habitualmente envolvida na DC, esta doença tem um grande
impacto na qualidade de vida dos pacientes. É um quadro
com baixos índices de mortalidade, porém com
morbidade acentuada, por afetar as pessoas em uma faixa
etária bastante produtiva, algumas ainda em estruturação
de suas características físicas, psicológicas e sociais.
Este interesse tem como objetivo principal poder
detectar estas alterações e incluir no tratamento destes
pacientes uma abordagem ampla, envolvendo inclusive
aspectos psico-sociais.
PACIENTES E MÉTODOS
Após aprovação pelo comitê de ética
em pesquisa, foram estudados 20 pacientes
provenientes dos ambulatórios de Gastro-hepatologia do
Hospital Universitário Professor Edgard Santos (HUPES)
e Hospital Central Roberto Santos (HCRS).
Critérios de inclusão:
1. Pacientes com DCF em atividade, definida como fístula com drenagem de secreção purulenta
à expressão suave do orifício fistuloso externo,
como descrito no consenso mais recente, publicado em
2002 (Sandborn et al.).
2. Para o diagnóstico da DC todos os
pacientes deveriam ter confirmação da doença de
forma endoscópica, radiológica e/ou histológica.
3. Pacientes com idade maior que 18 anos.
4. Assinatura do termo de consentimento informado.
Para melhor análise dos resultados todos
os pacientes que participaram do estudo estavam em regime de acompanhamento ambulatorial e a
entrevista foi realizada de forma padronizada e pelo
mesmo investigador em todos os casos.
O estudo é do tipo série de casos em
que simultaneamente são descritos dados da DC e
das fístulas, o índice de atividade da Doença de
Crohn (IADC) e a análise de qualidade de vida através
do escore padronizado SF-36 na população de
pacientes com DCF. Por ser um trabalho descritivo, de
natureza exploratória, há ênfase na descrição dos achados.
A população analisada foi de todos os
pacientes com DCF em atividade nestes ambulatórios, no
período do estudo (dezembro de 2002 a dezembro de
2003), com perda estimada em 10%, não sendo
realizado cálculo amostral e testes de inferência estatística
devido à análise de toda a população alvo.
As variáveis discretas são analisadas
em freqüências e nas variáveis contínuas são
descritas: média e mediana.Para a análise foi usado o
programa estatístico SPSS versão 9.0 para Windows.
RESULTADOS
Foram estudados 20 pacientes com DCF em atividade, ou seja, todos os pacientes
apresentavam fístula(s) em atividade no momento de realização
do questionário.
Demonstram-se na Tabela-1 as características
da população estudada. Dos 20 pacientes, a maioria
foi do sexo feminino (65%), de cor parda (70%),
com média de idade de 38,5 anos. Nove (45%)
pacientes possuíam nível médio de escolaridade. Apenas
01 paciente (5%) tinha história familiar de DII, e
em nenhum dos casos houve relato de ascendência judaica.
|
Sete pacientes (35%) relataram história
de abscesso perianal precedendo o surgimento da
fístula. (Figura-1).
Figura 1 - Abscesso precedendo a fístula perianal em paciente com Doença de Crohn fistulizante. |
Quinze (75%) dos pacientes encontravam-se em fase de remissão da doença e 05 (25%) em
atividade da doença, analisando-se o IADC. Com relação à
DC, o tempo médio de duração da doença foi de 9 anos
(1-19), com tempo médio de diagnóstico de 7,4 anos
(1-17). O aparecimento dos sintomas relativos à
fístula levando à suspeita de DC ocorreu em sete
(35%) pacientes.
Os locais mais freqüentes de localização
da DC foram íleo-colônica (25%), íleo-colônica
com envolvimento retal (25%) e retal isoladamente
(25%). Em 03 pacientes (15%) houve envolvimento do
cólon e do reto, e acometimento ileal e colônico
isoladamente ocorreu em 01 paciente cada.
Fístula perianal foi mais freqüente,
ocorrendo isoladamente em 09 pacientes (45%)
(Figura-2), seguida de fístula retovaginal em 05 pacientes
(25%), entérica interna em 03 casos (15%), entero-cutânea
em 02 pacientes (10%) e uma paciente apresentava simultaneamente fístula perianal e retovaginal (5%).
Figura 2 - Fístula perianal em paciente do sexo feminino com doença perianal extensa. |
Quatro pacientes (20%) eram portadores de colostomia no momento da entrevista.Dos 16
pacientes que não apresentavam estoma, 05 relatavam algum
grau de incontinência fecal. Analisando-se os 05
pacientes com incontinência fecal, houve envolvimento do
reto com doença ativa em 03 casos e 04
pacientes apresentavam fístula perianal.
Comparando-se a ocorrência de cirurgias
entre os grupos de pacientes de acordo com o tipo de
fístula, observamos que a maior frequência de cirurgia
ocorreu no grupo de pacientes com fístula retovaginal, do
qual quatro pacientes tinham cirurgias prévias,
como demonstrado na Tabela- 2.
|
A maioria dos pacientes (80%) estava em uso de imunossupressor, sendo a azatioprina usada
na totalidade dos casos. Antibióticos estavam
sendo usados em 40% dos pacientes; uso isolado de metronidazol em 07 (35%) dos pacientes
e metronidazol associado a ciprofloxacina em 01 paciente (5%). Sessenta e cinco por cento dos
pacientes estavam em uso atual de salicilatos, sendo 40%
em uso de sulfassalazina e 25% em uso de 5-ASA.Cinco pacientes (25%) usavam corticóide por via oral
no período de realização do estudo.
Os escores para análise de qualidade de vida
foram obtidos utilizando o questionário SF-36,
como demonstrado na Tabela- 3.
|
Analisando-se a média de valores obtidos
entre os escores, observamos que os melhores
resultados foram em capacidade funcional (79,6) e
aspectos sociais (70), enquanto aspecto emocional (51,7)
e aspectos físicos apresentaram resultados
inferiores. Houve ocorrência de resultados limite no nível
inferior (0) nas classes aspectos físicos, dor e
aspecto emocional. Apenas na classe de estado geral de
saúde não foi obtido o escore máximo (100), porém o
maior valor encontrado (97) foi próximo do limite máximo.
DISCUSSÃO
A necessidade de descrever a população
de pacientes com Doença Inflamatória Intestinal já
é demonstrada em vários estudos realizados ao longo dos
anos, em todo o mundo desde a primeira descrição desta
doença. O delineamento do perfil desta população nos
serviços estudados é importante como base para novos estudos.
De acordo com estudo prévio realizado
por Santana et al. (2003) na população de pacientes
com DII nos serviços estudados, dos 62 pacientes
estudados com Doença de Crohn, 45,2%
apresentavam predominantemente a forma fistulizante,
ressaltando que neste estudo foram incluídos pacientes com
doença ativa e sem atividade da doença. No presente
estudo, para melhor homogeneidade na análise dos dados
da população estudada, incluímos apenas os pacientes
com doença ativa, pela possibilidade de interferência
nos parâmetros analisados em pacientes a depender
da presença de atividade ou não da doença. Schwartz
et al. (2002) descrevem a ocorrência de fístula em
acima de 35% dos pacientes com DC, em estudo de
coorte realizado em uma população de Minnesota,
enquanto estudo semelhante realizado na Suécia mostra
uma frequência de fístulas de 23% na população
de pacientes com DC (Hellers et al.,1980). A maior freqüência de DCF na população estudada pode
ser explicada por se tratar de centros de referência
para DII, atraindo pacientes com complicações,
como fístulas e abscessos, decorrentes da forma
fistulizante da doença.
Encontramos neste estudo uma frequência maior de pacientes do sexo feminino (65%).
Estudos prévios mostram resultados variados quanto
à predominância de sexo. No grupo de pacientes
com DII de onde retiramos a população deste estudo,
66,7% dos pacientes eram do sexo feminino (Santana et
al., 2003), resultados semelhantes ao que encontramos
na população de DCF. Alguns estudos na população
de pacientes com DCF mostram maior freqüência no
sexo feminino, como descrito por Schwartz et al. (2002)
e Makowiec (1995), contudo existem estudos descrevendo resultados contrários como descrito
por Scott & Northover (1996), em que 58% da
população era do sexo masculino. Os estudos não são
uniformes quanto à predominância de sexo, mas
considera-se como uma doença de distribuição
relativamente homogênea entre os sexos.
A média de idade encontrada foi de 38,5
anos, ressaltando que 70% dos pacientes apresentaram
a doença com idade menor que 40 anos. A população
de adulto jovem é a mais acometida pela DC como já
foi estabelecido em vários estudos. Os pacientes
deste estudo são semelhantes aos de outros trabalhos;
Scott & Northover (1996), em um grupo de pacientes
com mais de 18 anos portadores de DC perineal, encontraram uma média de idade de 37 anos.
Estudos realizados em países europeus e
norte-americanos demonstram uma predominância
da população caucasiana em pacientes com DC.
Chama-nos a atenção a frequência de 70% dos pacientes
com cor parda, porém este dado mostra-se claro pela
mistura de raças no nosso país, especialmente na
Bahia, confirmando assim a miscigenação da
população. Nenhum dos pacientes relatava ascendência judaica
e em apenas um caso houve história familiar de
DII (colite ulcerativa). Características como estas
são importantes para análise em outros estudos,
inclusive envolvendo pesquisa em genética e mostram
as peculiaridades inerentes aos grupos envolvendo
fatores como hereditariedade e miscigenação.
Encontrou-se a localização mais comum
da doença na região íleo-colônica; em 65% dos
pacientes houve envolvimento retal.Em estudo de
coorte realizado com 59 pacientes, Schwartz et al.
(2002) mostram resultados semelhantes de acometimento
em região íleo-colônica, com 59% dos
pacientes apresentando doença nesta localização e 22%
de pacientes com envolvimento da região
colônica, semelhantes aos nossos resultados de 20%.
Porém, apresentamos freqüência menor de
doença exclusivamente ileal (5%) quando comparamos com
o resultado de 19% encontrado no estudo de coorte.
Analisou-se o tipo de fístula em conjunto
com a localização da DC e observou-se que dos 10
pacientes com fístula perianal, apenas em um não havia
doença em reto. Fístulas perianais são mais comuns quando
a doença está localizada no intestino
grosso, especialmente no reto, sendo rara sua
ocorrência quando há doença apenas na região
íleo-cecal (Ambrose et al., 1984). Em estudo prospectivo,
Makowiec et al. (1995) estudaram 90 pacientes com doença perianal e relataram 61% de frequência
da doença com localização em reto. Acima de 1/3
dos pacientes com doença íleo-colônica pode
apresentar fístula entero-entérica ou entero-cutânea; em
pacientes com doença isolada do delgado ou cólon, fístulas
são encontradas em cerca de 16% dos pacientes
(Young-Fadok et al., 1997). Em nosso estudo, todos os
pacientes com fístula entero-entérica apresentavam doença
em região íleo-colônica, localização esta da
doença também em um paciente com fístula
entero-cutânea, sendo que o outro paciente com este tipo de
fístula tinha doença em região ileal, confirmando a
frequência aumentada de doença em região íleo-colônica
nos pacientes com fístulas entéricas.
Nosso objetivo, ao avaliar o IADC neste grupo de pacientes, foi descrever a atividade inflamatória
em pacientes com DCF, e uma vez que a maioria dos pacientes (75%) encontrava-se em fase de
remissão, apesar da fístula em atividade, observamos a
pequena influência da presença de fístula no IADC.
Das 21 fístulas encontradas em 20
pacientes, o tipo mais comum foi a perianal, que ocorreu em
10 pacientes, resultado semelhante ao encontrado
por Schwartz et al. (2002), com freqüência de 55%
dos pacientes com fístulas perianais. Contudo
encontrou-se resultado divergente representado pela
baixa ocorrência de fístula entero-entérica (10%)
se compararmos ao resultado de 24% relatado no
estudo de coorte. A menor freqüência de fístulas
entero-entéricas neste estudo pode ser explicada porque
nem todos os pacientes realizaram estudo radiológico
de rotina, uma vez que muitos são assintomáticos.
Fístulas retovaginais ocorrem em cerca de
9% das pacientes com DC (Lichtenstein, 2000;
Schwartz et al., 2002). Neste estudo, ressalta-se a alta
freqüência de fístula retovaginal (30%), resultados superiores
à maioria dos estudos em DCF. Este resultado pode
ser explicado por se tratar de estudo realizado em ambulatório de referência para DII, além do fato
deste estudo ser uma série de casos. Um estudo realizado
a longo prazo como estudo de coorte, poderá
elucidar se esta alteração é de uma característica peculiar a
esta população, ou seria um viés de seleção por se tratar
de ambulatório especializado.
O período médio de duração da DC é
variável em alguns estudos, com valores de 3 a 8 anos
a depender do estudo (Makowiec, 1995;
Ochsenkühn, 2002). Encontramos um período de duração média
da doença de 9 anos, porém com período médio
de diagnóstico de 7,4 anos. No caso da DCF, o período
é menor, com período médio de diagnóstico de 5,7
anos. Os sintomas decorrentes da atividade fistulizante
são mais perceptíveis e o diagnóstico torna-se
mais provável, especialmente em pacientes já portadores
da DC, levando à suspeição da forma fistulizante
da doença, o que poderia justificar um período menor
no diagnóstico da forma fistulizante.
Trinta e cinco por cento dos pacientes haviam realizado algum procedimento cirúrgico
em decorrência da DC, totalizando catorze
procedimentos cirúrgicos, com maior frequência de cirurgias
nas pacientes com fístula retovaginal. McKee &
Kelnan (1996) em estudo com 415 pacientes portadores de
DC perianal observaram que, dos 8 pacientes com
fístula retovaginal, 4 haviam realizado estoma, sendo este
o tipo de cirurgia mais freqüente também nesta
série. Em estudo prospectivo envolvendo pacientes com
DC, Michelassi et al. (2000) descrevem a ocorrência
de fístula retovaginal em 29,5% das pacientes,
com necessidade de cirurgia em 17 das 23 pacientes
que apresentavam como complicação unicamente a
fístula retovaginal. Em nosso estudo, dos 11 pacientes
com fístula perianal, 3 haviam realizado fistulotomia,
observando-se contudo que um paciente com
fístula entérica já havia realizado fistulotomia por
fístula perianal prévia sem atividade no momento
da entrevista. O maior índice de cirurgias prévias no
grupo de pacientes com fístula retovaginal,
comparando-se a pacientes com fístula perianal confirma os
relatos que mostram que pacientes com fístulas
retovaginais raramente curam com o tratamento clínico isolado,
ao contrário de fístulas perianais que podem
apresentar menor grau de complexidade e melhor resposta
ao tratamento medicamentoso (Schraut, 2002).
O interesse no impacto causado por
doenças crônicas na qualidade de vida é crescente por
envolver aspectos que podem inclusive influenciar no
tratamento destes pacientes. Na busca pelo instrumento
mais adequado para avaliar a população de pacientes
com DCF, o questionário SF-36 foi escolhido por ser
de fácil aplicação e entendimento, além de já ter seu
uso validado para o Brasil (Ciconelli,1997).
Em estudo analisando a qualidade de vida em portadores de DII, Guthrie et al., (2002)
descrevem resultados semelhantes aos nossos na maioria
dos componentes, com diferenças significativas apenas
em estado geral de saúde e vitalidade,
observando-se resultados melhores nos pacientes com DCF. O
estudo de Pontes (1999) em pacientes com DII nos
permite melhor comparação por se tratar de estudo
realizado no Brasil cujos dados são comparados na Figura-3.
Figura 3 - Gráfico com escores comparativos entre pacientes com Doença de Crohn fistulizante e Doença Inflamatória intestinal de acordo com o SF-36. |
Estes dados mostram resultados semelhantes nos dois grupos com diferenças expressivas apenas
nos escores de aspectos sociais e emocionais com
maior comprometimento nos pacientes com DCF,
porém demonstrando de uma forma global que pacientes
com doenças crônicas apresentam restrições
especialmente psico-emocionais determinadas pela doença,
alterações não observadas em populações sadias, dados
estes confirmados no presente trabalho.
CONCLUSÕES
1. A DCF mostrou-se mais freqüente na
população adulto-jovem e em pacientes do sexo feminino.
2. O tipo mais comum de fístula foi perianal.
3. Nos pacientes com DCF, a localização
mais freqüente da DC foi a região íleo-colônica,
com envolvimento do reto na maioria dos pacientes.
4. A maioria dos pacientes com DCF em
atividade encontrava-se em fase de remissão da doença
de acordo ao IADC.
5. Os pacientes com DCF apresentaram menores escores nos componentes relativos a
aspectos físicos e aspecto emocional, demonstrando
o comprometimento físico e psicológico
na qualidade de vida destes pacientes, por conta
da DCF.
SUMMARY: Background: In the Crohn's disease (CD) the patients can develop fistulas with a frequency that increases with progression of the disease.This group of patients presents peculiar alterations, with variable manifestation to depend of characteristics as the fistula type and local of CD' localization.There is a few descriptions of this kind of disease in our country. Objective: To describe characteristics of the patients' population with Fistulizing Crohn's Disease (FCD) in two university services, standing out its clinical and demographic variables and the quality of life of these patient. Design: Series of cases. Methods: The patients were appraised from December, 2002 to December, 2003, being included in this period all the patients with FCD in activity, in the two reference health clinics for Inflammatory Bowel Disease (IBD). The collects of data were accomplished through interview, including partner-demographic characteristics, description of CD and of the fistulas, and analysis of the life quality through the questionnaire Short-Form 36 (SF-36). Results: 20 patients were appraised , with median age of 38,5±14,4 (varying of 18-72) years. The majority (13/65%) of the patients were female. The most common type of fistula was perianal (10/50%) and the most frequent location of CD was the ileocolonic area (10/50%). There was rectal involvement in 13 (65%) patients. In the analysis of the life quality, the best results were in functional capacity (79,6) and social aspects (70). The worst scores were in emotional (51,7) and physical aspects (56,3). Conclusions: In the analyzed population, the disease was shown more frequent in adult-youths and female. Perianal fistulas were more frequent, showing an association with ileo-cecal disease and rectal envolvement. FCD demonstrated to affect in a significant way the quality of patients' life, especially in physical aspects, giving evidence of the need of multi-discipline specialized accompaniment.
Key words: Crohn's Disease, Fistula, Inflammatory Bowel Disease
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Endereço para correspondência:
Adriana Conceição de Mello Andrade
Rua Colmar Americano da Costa, 199/504 _ Pituba.
E-mail: proctoamello@ig.com.br
Recebido em 08/07/2005
Aceito para publicação em 25/07/2005
Trabalho realizado pelo Hospital Professor Edgard Santos e Hospital Geral Roberto Santos.