ARTIGOS ORIGINAIS
ALTERAÇÃO CONGÊNITA DE FIXAÇÃO DO SEGMENTO CECO-ASCENDENTE DÁ SINTOMAS IGUAIS AOS DA SÍNDROME DO CÓLON IRRITÁVEL
Júlio César Monteiro Santos Jr. 1
1 Instituto de Medicina, Guaratinguetá, SP, Brasil
RESUMO: Objetivo: Uma variação anatômica do ceco-ascendente (CID-10 Q43,3) pode ser a causa dos sintomas referidos
pela maioria, se não pela totalidade dos pacientes definidos como portadores da SÍNDROME DE CÓLON IRRITÁVEL nas formas
com constipação predominante, diarréia predominante ou dos que têm constipação e diarréia, associados. O objetivo desse estudo
foi avaliar o resultado da CECOPEXIA como método de tratamento de pacientes com SÍNDROME DO CÓLON IRRITÁVEL.
Pacientes e Métodos: De março de 1994 a outubro de 2005, 80 pacientes (71 mulheres e 9 homens.) com idade de 37,5 anos
(variando 3 a 72) atendidos em Clinicas Privadas receberam o diagnóstico clínico de ceco móvel; 65 pacientes (81,3%) vinham
sendo acompanhados e medicados como se fossem doentes com
síndrome DE CÓLON irritável. Quinze tinham outras
doenças: 4(5%) eram tratados por desordens ginecológicas, 3 (3,8%) por doença intestinal inflamatória, 2 (2,5%) por colecistopatia
calculosa, 2 (2,5%) por doença diverticular, e os 4 restantes (5%), por causa de apendicite, megacolon, giardíase e dor abdominal não específica.
Todos os pacientes desta série foram programados para cecopexia. Cinqüenta e nove foram operados, 6 aguardam
oportunidade para a operação e 15 recusaram o tratamento cirúrgico.
Resultados: Os 59 pacientes operados (cecopexia) estão sendo seguidos desde 2 até 138 meses (média de 25 meses) e estão
assintomáticos. Os pacientes não operados estão, da mesma forma, sendo acompanhados desde 4 até 128 meses (média de 25 meses); esses
apresentam os mesmos sintomas que motivaram a primeira consulta.
Conclusão: Nós temos proposto a investigação topográfica do ceco-ascendente para todos os pacientes com diagnóstico de
síndrome de intestino irritável, bem como para aqueles em que a síndrome do cólon irritável não foi usada como a doença que explicaria
ou seria a causa para os sintomas e sinais crônicos associados, tais como: desconforto abdominal, dor abdominal, distensão,
plenitude, cólica, constipação, constipação e diarréia, diarréia e dispareunia. Os pacientes com a síndrome do cólon irritável ou aqueles com
as referidas queixas e com ceco móvel foram operados e ficaram curados.
Descritores: síndrome do cólon irritável, síndrome do ceco móvel, plenitude abdominal, cólica abdominal, constipação, diarréia, torção do ceco, dispareunia, cecopexia.
Introdução
Perturbações de funções gastrintestinais
tais como atividade secretória, sensibilidade visceral
e motilidade têm sido associadas a alterações do
eixo cérebro-intestino1,2. Isto implica na participação
do vários neurotransmissores como serotonina
(5-hidroxitriptamine ou 5-HT), acetilcolina, substância
P, peptídeo intestinais vasoativos (o VIP), e a
calcitonina gene- peptídeo relacionado
(CGRP)3. Entre esses, a serotonina, pelo importante papel que desempenha
na motilidade e hipersensibilidade4 visceral, tem
sido destacada como o agente primário no mecanismo
de desenvolvimento dos sintomas na síndrome de
intestino irritável (SCI)5-9 Contudo, e ainda que
novos conhecimentos sobre fisiopatologia de SCI
venham sendo adquiridos, o diagnóstico e o tratamento
dessa doença têm sido um grande desafio, sobretudo
devido à falta de um marcador que defina o diagnóstico e
pela inexistência de opções de tratamento
efetivo10,11. Além isto, a SCI é uma desordem de alta prevalência
que afeta de forma significativa o trabalho, o estilo de
vida e o convívio social das
pessoas12. Essa doença é subestimada, mal conhecida e mal quantificada.
A maioria dos doentes com SCI, nos Estados Unidos
da América e no Mundo, estão sem diagnóstico
9,11. Por outro lado, há várias pessoas que referem sintomas
de dor/desconforto abdominal,
distensão/plenitude abdominal, cólica abdominal, - com diarréia
e/ou constipação flutuantes, que receberam o
diagnostico clínico de SCI, mas que não sentem alívio com
os tratamentos clínicos atualmente disponíveis
e preconizados.
O objetivo deste relatório é mostrar
uma grande série desses pacientes, vistos
primeiramente como sendo doentes com SCI e assim tratados
sem êxito, mas que foram, como doentes com síndrome
do ceco móvel, curados cirurgicamente, com a cecopexia.
Pacientes e Métodos
Critérios de inclusão
Todos os pacientes vistos em duas
Clínicas Privadas (Ginecologia e Obstetrícia e Clínica
de ColoProctologia) que preencheram os critérios
para diagnóstico de SCI (Manning, Roma I ou II) ou com
o diagnóstico clínico de
SCI13,14 oriundos de outros consultórios médicos, ou pessoas sem um
diagnostico formal, mas queixando de dor abdominal de
etiologia desconhecida; com cólica, constipação, diarréia,
ou diarréia e/ou constipação flutuantes; distensão
ou plenitude abdominal, associados ou não à
dor abdominal durante relações sexuais, foram
incluído neste estudo.
De março 1994 a outubro 2005, 80
pacientes, 71 mulheres e 9 homens com idades de 3 a 72
anos (média de 37,5 ), a maioria deles (65
pacientes/81,3%) registrados como tendo SCI, foram
clinicamente investigados para o diagnóstico de síndrome do
ceco móvel e incluídos neste estudo. Sessenta e
três pacientes (78,8%) foram submetidos a
exames radiológicos contrastados do intestino
(trânsito intestinal ou enema opaco), com o propósito de
se verificar topografia do ceco (identificação do
ceco móvel) e confirmar o diagnóstico clínico. O
trânsito foi feito com a técnica seguinte: (Figuras-1 e 2)
Figura 1 - Tipo IV - Transito, paciente em posição ortostática |
Figura 2 - Tipo IV, paciente em decúbito dorsal |
1. Os pacientes foram orientados para ingerir
40 ml de uma refeição de bário (as crianças,
20 ml) ás 8 horas da manhã sem preparo prévio
ou alteração da alimentação habitual, seja
na véspera ou no dia do exame, nem antes e
nem depois da ingestão do contraste.
2. Radiografia abdominal, incluindo a pequena
bacia, foi tomada depois de 5 horas e 10 horas da refeição de bário, em duas posições:
a. Posição ortostática e
b. Decúbito dorsal com declive cefálico e pés elevados numa
inclinação de 15 graus.
Todas as imagens radiográficas foram
analisadas pelo mesmo médico que graduou a
mobilidade de ceco em tipo I, II, III e IV, de acordo com a
posição daquele segmento na pelve, como proposto por
Padrón e Ania15, modificados por Santos e
col.16,17, assim:
Tipo I - O ceco, quando o paciente está
em decúbito dorsal, é visto na situação anatômica
normal, mas cai em direção à pequena bacia, quando o
paciente está em pé.
Tipo II _ No decúbito dorsal, o ceco já
se encontra abaixo de sua situação anatômica normal
e tem uma descida evidente quando o paciente fica
em pé.
Tipo III - Com o paciente em pé, o ceco é
visto dentro da pelve, de onde não se move quando o
paciente é posto em posição de decúbito dorsal.
Tipo IV - O ceco, no decúbito dorsal, está
na posição anatômica ou numa situação um pouco
acima; o ângulo hepático do cólon é visto próximo ao
último arco costal. Quando o paciente fica em pé, o ceco,
o cólon ascendente, o ângulo hepático e o
cólon transverso estão todos dentro da bacia.
As Figuras-1 e 2 são imagens que
exemplificam o ceco móvel tipo IV; as Figuras-3 e 4 são
de enema opaco e a Figura-5 ilustra o diagnóstico
clínico confirmado no ato operatório.
Figura 3 - enema opaco - ceco infra-hepático |
Figura 4 - báscula medial do ceco |
Em dezessete pacientes (21,3%), o
diagnóstico de ceco móvel foi exclusivamente clínico. Desse
grupo, 10 foram operados e a confirmação diagnóstica foi
feita no intra-operatório. (Figura-5).
Figura 5 - ceco-ascendente exposto por incisão de Pfannenstiel |
Independente de gradação da radiológica
do ceco móvel, todos os pacientes receberam o
mesmo tratamento cirúrgico.
Os pacientes, sob anestesia geral, foram submetidos a microlaparotomias; nas crianças foi
feita incisão de Davis' pequena; em mulheres adultas
ou homens, a incisão foi transversa
infra-umbilical (Pfannenstiel). A cecocolopexia foi feita como
descrito por Rogers18. Os pacientes adultos receberam
alta hospitalar 24 horas depois da operação; as
crianças, 48 horas.
Resultados
Antes do diagnóstico de SCM, 65
pacientes (81,2%) vinham sendo tratados de SCI; 4 (5%)
de desordens ginecológicas, 3 (3,8%) de doença
intestinal inflamatória, 2 (2,5%) de colecistopatia litiásica,
2 (2,5%) de doença diverticular, e os 4 restantes
(5%) por causa de apendicite, megacolon, giardíase e
dor abdominal inespecífica.
Todas as pacientes foram interrogadas sobre dor abdominal durante relações sexuais. Vinte e
uma pacientes (29,6%) não responderam; 50
responderam - 3 (6%) disseram "não ", e 47 (94%)
responderam "sim".
Os oitenta pacientes tiveram 260 sintomas. Os cinco mais importantes deles foram: dor, distensão
(ou inchaço), cólica, constipação e diarréia -
classificados em primeiro, segundo, terceiro e quarto
lugares, conforme o julgamento dos pacientes.
Trinta um pacientes (38,7%) tiveram quatro sintomas dos cinco mais freqüentes; 49
pacientes (61,3%) pelo menos três. (Tabela-1)
|
Sessenta e quatro pacientes (80%) reclamaram de constipação, 63 (78,7%) de distensão (ou
inchaço), 56 (70%) de cólica, 44 (55%) de dor, e 33
pacientes (41,2%) tiveram diarréia. (Tabelas-1 e 2)
|
Todos os pacientes desta série
informaram alívio dos sintomas com a defecação.
O tratamento cirúrgico foi proposto: 66 pacientes (82,5%) concordaram com a operação:
59 (73,7%) foram operados; 14 (17,5%) recusaram, e
7 pacientes (8,7%) estão esperando por um
momento oportuno.
Dentre os pacientes operados 54 são
mulheres (91,5%) e 5 são homens (8,5%), com idades que
variam de 3 a 70 anos (média=36,8; desvio padrão=11,7);
50 pacientes (84,7%) foram anteriormente tratados
por síndrome de intestino irritável; 2 (3,4%) por causa de
colecistopatia calculosa, 2 (3,4%) por
doença inflamatória pélvica, 2 por causa de giardíase
(3,4%), 2 outros (3,4%) por causa de colite e o
último(1,7%) como tendo apendicite crônica.
Entre os pacientes operados (54 mulheres e 5 homens), as queixas pré-operatórias mais
freqüentes, individualmente ordenadas por relevância, foram,
em primeiro lugar, dor (50%), cólica (22%),
distensões abdominais (14%), constipação (10%), e diarréia
(4%); em segundo lugar, distensão (62%), cólica (20%),
dor (8%), e diarréia (4%) e, em terceiro lugar,
constipação (36%), diarréia (28%), cólica (16%) distensão
(14%), e dor (6%). Trinta e sete pacientes (62%)
não mencionaram um quarto sintoma, mas
fizeram referência a constipação (24%), cólica (6%),
diarréia (6%) e dor (2%). (Tabelas-2 e 3)
|
Todas as 54 mulheres operadas devolveram o questionário sobre a dor abdominal durante as
relações sexuais. Onze pacientes (20,3%) não
responderam. As 43 que responderam (79,6%) - 3 (6,9%)
disseram "que não", e 40(93%) disseram "que sim".
Seguimento Pós-Operatório
Desde abril de 1994 até outubro de 2005,
todos os pacientes dessa série foram
seguidos ambulatorialmente, em média 21,9 meses (1 a
139 meses, dp= 25,9). Os pacientes operados
tiveram seguimento, em média, até de 22 meses (variando de
1 a 139 meses; sd=27). Os pacientes em espera e os
que recusaram o tratamento cirúrgico estão
sendo acompanhados, em média, há 25 meses (variando de
4 a 128; sd=21). Esses pacientes continuam com os mesmos sintomas que motivaram a inclusão
nesse estudo.
Entre os que foram operados, cinqüenta e quatro pacientes (91,5%) foram considerados
com saúde boa; cinco pacientes (8,5%) foram
considerados com saúde regular, porque eles ainda reclamam
da constipação intestinal (Tabela-4.), mas que
melhora com uso de policarbofila cálcica (1,3 g duas vezes
em dia) ou com plantago ovata (30 g duas vezes ao dia).
|
Discussão
As desordens gastrintestinais funcionais (DGF) são condições crônicas ou periódicas com
vários sintomas, mas sem uma causa estrutural ou
bioquímica conhecida19.
Não é objetivamente possível
comprovar qualquer condição patológica associada, nem
mesmo um marcador biológico que possa identificar
os pacientes com a doença que, apesar de tão comum,
é pouco conhecida em seus aspectos
fisiopatológicos11.
Uma desordem gastrintestinal funcional importante é a síndrome de cólon irritável (SCI),
definida como desconforto ou dor abdominal e que
tem pelo menos duas das três seguintes
características: alívio com a defecação, ataque associado com
mudança na freqüência das evacuações, ou associado com
a aparência das fezes, sem se fazer acompanhar
por qualquer anormalidade inflamatória, ou metabólica
ou estrutural.
O diagnóstico, quase que exclusivamente baseado na relação de sintomas relatados
pelos pacientes, tem sido considerado como um
diagnóstico de exclusão11. Os testes probabilísticos de
avaliação em DGF para pacientes com SCI não diferem daqueles
da população geral para doentes com colite,
câncer colo-retal, infecção gastrintestinal,
disfunção tireoidiana e intolerância a lactose, mas essas
doenças não ocorrem como desordens devidas ao abuso
sexual e físico20,21 e nem se associam a distúrbios
psicológicos22. Exames de sangue rotineiros,
dosagens bioquímicas e hormonais têm sido mencionados,
sem que se encontre um marcador bioquímico
alternativo. Porém, quando nós estudamos os nossos pacientes
com SCI por meio do trânsito intestinal
contrastado, objetivando observar alterações topográficas do
ceco, pudemos verificar que todos eles tinham ceco
móvel de grau variado. Essa afirmação é válida, inclusive
para a penúltima paciente desse grupo que, durante
a entrevista com um dos autores, contou
peculiaridades de sua história clínica que poucos pacientes
revelam. Ela, entre os 5 e 12 anos de idade, foi,
sistematicamente, vítima de abuso sexual, mediante sevícias,
perpetradas pelo avô. Esse fato enfeitava o quadro
clínico complementando o conjunto dos elementos
essenciais para o diagnóstico de SCI. Assim que ela era tratada
e bem informada a respeito da sua doença; não lhe
faltou a psicoterapia que lhe permitiu solução satisfatória
para os problemas relacionados ao sexo, menos para a
dor abdominal, a distensão, a constipação e
diarréia flutuante e nem para o desconforto no
hipogástrio sentido durante o coito. A operação tornou-a
livre desses sintomas.
Seriam estes fatos meras coincidências,
ou distorção de julgamento do observador envolvido
com o objeto de sua observação?
A segunda hipótese não deve ser desconsiderada; o "bias" é possível em todas
as investigações, mas nesses casos, improvável, pois
o observador apenas anota o que os pacientes
relatam. A primeira, por outro lado, é o que
estamos procurando. Coincidência ou não, falando
sobre síndrome do ceco móvel, nós estamos frente a
uma nova consideração sobre uma doença antiga,
comum e ordinariamente mal diagnosticada 23,24
que "imita" a síndrome do cólon irritável, inclusive na
sua incidência populacional, ou é a própria. De fato,
no meu discernimento, que surge deste estudo, a
maioria dos pacientes, se não todos, diagnosticados
como tendo SCI, não sofrem de SCI, mas da síndrome
de ceco móvel. Nessa situação, por enquanto,
a coincidência é apenas uma seqüência de causa
e efeito, isto é, o ceco móvel é a causa, até
então desconhecida, da síndrome do cólon irritável.
Tirol25 descreveu uma relação
interessante entre ceco móvel e dor abdominal durante as
relações sexuais que ele denominou de "dispareunia do
lado direito", mencionando que o sintoma estará
presente se houver, torção ceco-cólica crônica ou
periódica. Recentemente, o autor acentuou a dor, crônica
ou intermitente, e o desconforto abdominal
periódico, localizado no quadrante inferior direito do
abdômen, como uma característica clínica do ceco móvel.
Além disto, ele fez comentários sobre a alta e
significante incidência do problema, comprometendo de 20 a
30% da população, seus sintomas e sinais, o
fácil diagnóstico e tratamento cirúrgico, bem como
apelou para o maior interesse do médico no
reconhecimento da síndrome do ceco
móvel23-26. Todavia, esse autor não fez qualquer ilação entre o ceco móvel e
a síndrome do cólon irritável.
Nossos pacientes tinham todos os sintomas de perturbações gastrintestinais funcionais com
destaque para as reclamações de dor abdominal intermitente,
não necessariamente localizada no quadrante
inferior direito do abdômen; cólica, constipação, diarréia,
ou constipação seguida de diarréia; distensão
abdominal ou inchaço, e/ou dor abdominal durante
relações sexuais. A maioria deles foi vista e tratada como
tendo síndrome do cólon irritável. Eles foram vistos
e examinados por vários gastrenterologistas e
submetidos a uma multiplicidade de exames como
ultra-som abdominal, tomografia abdominal, enema
opaco, colonoscopia, exames ginecológicos, e assim
por diante, quase sempre sem que o doutor achasse qualquer anomalia.
Quase todos eles (65; 81,2%) por causa dos mencionados sintomas foram considerados como
tendo SCI, razão porque lhes foram administrados
brometo de pinaverium, mebeverine, cisaprida, tegaserode,
ou plantago ovata, ou brometo de
N-butilscopolamine, associados ou não ao clonazepam para suavizar
os sintomas intermitentes crônicos. Porém, quando
eles foram encaminhados para um diagnóstico
alternativo, no caso a SCM, a mudança na terapêutica _ de
clínica para cirúrgica - propiciou bons resultados com
a erradicação dos sintomas.
Na maioria dos mais recentes trabalhos encontrados na literatura médica em que há
menção ao ceco móvel, se não em todos, excluindo os de
Tirol23-28, os autores apenas mencionam os aspectos
associados com a oclusão intestinal parcial. Esta pode ser
devida à báscula cecal, ou à torção parcial e
intermitente daquele segmento do intestino grosso, ou à
torção completa que pode culminar com obstrução do
cólon direito e necrose do ceco. Nesses casos, o
tratamento cirúrgico urgente proposto, em geral, termina com
a excisão de parte do cólon
direito18,29-39.
Não há descrita nenhuma relação entre
ceco móvel e desordens intestinais funcionais;
especialmente, não houve ainda menção à síndrome de cólon
irritável com o atual enfoque, embora
Tirol25 tenha descrito uma relação entre dispareunia e ceco móvel.
Nosso primordial objetivo com essas observações é estabelecer relação entre a
anomalia congênita - velha conhecida, mas pouco
reconhecida e mal diagnosticada - e a síndrome do cólon
irritável, com o sentido de chamar a atenção para o fato de
que a ênfase que tem sido dada a esta doença precisa
ser revista. Assim, certamente, a maioria dos
pacientes que são registrados como sofredores da síndrome
do cólon irritável serão beneficiados pela cecopexia.
Em suma, nós aconselhamos que todos os pacientes com SCI ou com sintomas obscuros de
dor abdominal intermitente, cólica, constipação,
diarréia ou constipação e diarréia flutuantes; com distensão
ou inchaço abdominal, dor abdominal durante
relações sexuais e aqueles nos quais os referidos
sintomas possam estar associados a distúrbios da esfera
sexual decorrentes ou não do estupro devem ser
investigados como pessoas doentes com ceco móvel e
que necessitam de cecopexia.
SUMMARY: Purpose: Mobile cecum is due to an embryological anatomic variation of the ascending colon and/or the cecum
because of failure of right colon fusion with lateral peritoneum. This study was designed to evaluate the outcome of cecopexy as
a treatment of patients with irritable bowel syndrome or of patients with intermittent abdominal complains of pain, colic,
distension, constipation and/or diarrhea.
Patients and Methods: From 1994 to 2005, 80 patients (71 women and 9 men _ median age, 37,5 _ ranged 3 to 72) seen in
private office had clinical diagnosis of mobile cecum; 65 patients (81,3%) had been seen as having irritable bowel syndrome. Fifteen
had others diseases: 4(5%) of gynecological disorders, 3(3,8%) of inflammatory bowel disease, 2 (2,5%) of cholelithiasis, 2 (2,5%)
of diverticular disease, and the 4 remainder (5%) because of appendicitis, megacolon, giardiasis, and unspecific abdominal pain.
All patients of this series were programmed for cecopexy. Fifty-nine were operated on, six were waiting for opportunity surgery,
and fifteen refused the surgical treatment and are on clinical follow-up in private office.
Results: All operated patients with fixed cecum followed from 3 to 139 months (median, 22) are well. The non-operated
patients followed from 4 to 128 months (median, 25) are with the same complaint.
Conclusion: We recommend that all patients with diagnosis of irritable bowel syndrome or with obscure cause for intermittent
right lower abdominal pain, distension, colic; constipation or diarrhea should be investigated as sick person probably with mobile
cecum needing cecopexy.
Key words: mobile cecum syndrome, irritable bowel syndrome, intermittent abdominal complaint, abdominal pain, colic, diarrhea, constipation, cecal volvulus.
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Endereço para correspondência:
INSTITUTO DE MEDICINA
Júlio César M Santos Jr.
Av. Min. Urbano Marcondes, 516
12515-230 - GUARATINGUETÁ (SP)
Trabalho realizado no Instituto de Medicina, Guaratinguetá, SP, Brasil
Recebido em 06/12/2005
Aceito para publicação em 15/12/2005