ARTIGOS ORIGINAIS
QUALIDADE DE VIDA DE PACIENTES COM CÂNCER COLORRETAL EM USO DE SUPLEMENTAÇÃO DIETÉTICA COM FUNGOS AGARICUS SYLVATICUS APÓS SEIS MESES DE SEGMENTO: ENSAIO CLÍNICO ALEATORIZADO E PLACEBO-CONTROLADO
Quality of Life of Patients with Colorectal Cancer on Dietary Supplementation with Agaricus Sylvaticus Fungus: After Six Months of Segment: Randomized and Placebo-Controlled Clinical Trial
Renata Costa Fortes1; Viviane La corte Recôva2; JAndresa Lima Melo2; Maria Rita Carvalho Garbi Novaes3
1Universidade de Brasília (DF)/ Faculdade de Ciências e Educação Sena Aires (GO), 2 Faculdade de Medicina da Escola Superior em Ciências da Saúde do Distrito Federal/ ESCS/ FEPECS (DF) 3Universidade de Brasília (DF)/ Faculdade de Medicina da Escola Superior em Ciências da Saúde do Distrito Federal ESCS/ FEPECS (DF).
RESUMO: Introdução: O câncer gastrointestinal compromete a qualidade de vida devido às alterações fisiológicas, metabólicas e psicológicas. Fungos medicinais podem melhorar a qualidade de vida de pacientes com câncer. Objetivo: Avaliar os efeitos da suplementação dietética com fungos Agaricus sylvaticus na qualidade de vida de pacientes com câncer colorretal em fase pós-operatória. Metodologia: Ensaio clínico randomizado, duplo-cego, placebo-controlado, realizado no Hospital de Base do Distrito Federal. Amostra constituída por 56 pacientes (24 homens e 32 mulheres), estádios I, II e III, separados em grupos placebo e Agaricus sylvaticus (30mg/kg/dia), e acompanhados por um período de seis meses. Para avaliar os indicadores da qualidade de vida foram utilizados um formulário-padrão e uma anamnese dirigida-padrão. Os resultados foram analisados de forma qualitativa e descritiva, utilizando os programas Microsoft Excel 2003 e Epi Info 2004. Resultados: Após seis meses de tratamento, observou-se, no grupo Agaricus sylvaticus, aumento da adesão à prática de atividade física, melhora da disposição e do humor, redução das queixas de dores e das alterações do sono como insônia e noites mal dormidas comparado com o grupo placebo. Conclusão: Os resultados sugerem que a suplementação dietética com Agaricus sylvaticus pode melhorar a qualidade de vida de pacientes no pós-operatório de câncer colorretal.
Descritores: Fungos Agaricus sylvaticus, qualidade de vida, câncer colorretal, alterações metabólicas, alterações fisiológicas.
INTRODUÇÃO
A qualidade de vida é definida pela
Organização Mundial de Saúde como "a percepção do
indivíduo de sua posição na vida, no contexto da
cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em
relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e
preocupações"1.
O câncer é capaz de alterar
significativamente a qualidade de vida dos pacientes através da
manifestação de diversas alterações de humor,
motoras, somáticas, sociais, cognitivas, dentre
outras2.
Substâncias bioativas com propriedades farmacológicas como glucanas,
proteoglucanas, lectinas, ergosterol e arginina têm sido identificadas
e isoladas em numerosas espécies de fungos
medicinais3,4.
Os fungos também apresentam importante valor nutricional devido ao elevado conteúdo de
fibras, proteínas de alto valor biológico, ácidos
graxos insaturados, além de quantidades apreciáveis de
vitaminas e minerais3-6.
Evidências científicas têm demonstrado
que fungos Agaricaceae podem aumentar a sobrevida
e melhorar a qualidade de vida com o mínimo de
efeitos adversos em pacientes com neoplasias
malignas3,5-8.
O objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos da suplementação dietética com fungos
Agaricus sylvaticus em pacientes no pós-operatório de
câncer colorretal, após seis meses de tratamento, a
respeito dos indicadores da qualidade de vida -
sedentarismo, tabagismo, etilismo, distúrbios do sono, alterações
na disposição e no humor e presença de dores - que
acometem principalmente os pacientes com câncer.
MATERIAIS E MÉTODOS
Metodologia do estudo
O estudo foi conduzido mediante um ensaio clínico randomizado, duplo-cego,
placebo-controlado, com alocação aleatória dos pacientes nos grupos
de estudo. Foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito
Federal, sob o protocolo no 051/2004. O termo de
consentimento livre e esclarecido foi obtido dos pacientes,
cuja participação foi voluntária. O trabalho foi
desenvolvido no Ambulatório de Proctologia do Hospital de Base
do Distrito Federal, Brasil, no período de novembro de
2004 a julho de 2006.
Amostra
A amostra foi constituída por 56 pacientes
(24 homens e 32 mulheres) com câncer colorretal,
estádios I (n = 12), II (n = 16) e III
(n = 28), separados em dois grupos: placebo e suplementado com
fungo Agaricus sylvaticus.
Os pacientes foram selecionados de acordo com os seguintes critérios de inclusão: portadores
de câncer colorretal em fase pós-operatória, de três
meses a dois anos de intervenção cirúrgica, idade
superior a vinte anos; e de exclusão: gestantes,
lactantes, acamados, deficientes físicos, pacientes em uso de
terapia alternativa, portadores de outras doenças
crônicas não-transmissíveis e em processo de metástase.
Extrato com fungos Agaricus sylvaticus
O fungo Agaricus sylvaticus, cujo nome
popular é Cogumelo do Sol, foi obtido de um
produtor, credenciado pela Empresa Brasileira de
Agropecuária - Embrapa, da região de Tapiraí, interior do Estado
de São Paulo. O extrato do fungo foi obtido por
imersão do material desidratado em água quente por 30
minutos, liquidificado, peneirado e seco em dissecador.
A análise da composição do Agaricus sylvaticus foi realizada pelo Japan Food Research
Laboratories Center e revelou a presença de carboidratos
(18,51g/100g), lipídeos (0,04g/100g), ergosterol
(624mg/100g), proteínas (4,99g/100g), aminoácidos
(arginina-1,14%; lisina-1,23%; histidina-0,51%,
fenilalanina-0,92%, tirosina-0,67%, leucina-1,43%, metionina-0,32%,
valina-1,03%, alanina-1,28%, glicina-0,94%,
prolina-0,95%, ácido glutâmico-3,93%, serina-0,96%,
treonina-0,96%, ácido aspártico-1,81%, triptofano-0,32%,
cisteína-0,25%) e micronutrientes em quantidades-traço.
O extrato seco foi transformado em comprimidos, seguindo procedimento farmacotécnico. A
dosagem do fungo administrada aos pacientes do
grupo suplementado foi equivalente a 30mg/kg/dia,
fracionada em duas tomadas diárias. Ao grupo de pacientes
que recebeu o placebo, foram administrados os
comprimidos nas mesmas quantidades, com os mesmos excipientes e valor calórico, porém sem o extrato
do Agaricus sylvaticus. Todos os pacientes ingeriram
seis comprimidos por dia (três pela manhã e três à
tarde, nos intervalos entre as refeições) durante um
período de seis meses.
Evolução clínica
O período de acompanhamento dos
pacientes foi de seis meses, sendo que nos três primeiros
meses foram realizadas consultas quinzenais para a
avaliação clínica e, nos últimos três meses, as consultas
passaram a ser a cada 30 dias.
Os pacientes permaneceram com dieta habitual, embora durante o tratamento tenham
recebido orientações gerais sobre como manter uma
alimentação saudável. Após seis meses de
acompanhamento, na alta hospitalar, foi indicada dieta individualizada
para todos os pacientes e os mesmos foram
encaminhados a outros profissionais da área de saúde, quando
necessário.
Todos os pacientes foram contactados pelos pesquisadores, semanalmente, via telefone, para
esclarecimentos de dúvidas, verificação do uso
adequado do cogumelo segundo as orientações e confirmação
do agendamento, garantindo maior adesão ao
tratamento e controle sobre a continuidade do estudo.
Foram considerados desistentes os pacientes que compareceram somente às primeiras consultas
e os que não vieram às consultas durante o período
de seis meses. Aqueles que faleceram antes do final
do tratamento não foram incluídos na amostragem.
Avaliação de alguns indicadores da
qualidade de vida
Utilizou-se um formulário-padrão e
uma anamnese dirigida-padrão para avaliar alguns
indicadores da qualidade de vida. O formulário foi
aplicado no primeiro dia da consulta e, nas consultas
posteriores, aplicou-se a anamnese dirigida. Toda a coleta
de dados foi realizada por pesquisadores previamente
treinados.
Os hábitos considerados como componentes do estilo de vida foram sedentarismo,
tabagismo, etilismo, alterações do sono, alterações na
disposição, humor e dor. Quanto ao sedentarismo, foram
considerados sedentários os pacientes que não
apresentavam algum tipo de atividade física, pelo menos uma vez
por semana por, no mínimo, 30 minutos. Em relação ao
tabagismo, os pacientes foram classificados como tabagistas, ex-tabagistas e não-tabagistas (nunca
fumaram). Quanto ao etilismo, foram caracterizados como etilistas e não-etilistas. Com relação às
alterações do sono, os pacientes foram avaliados de
acordo com a presença de insônia e noites mal dormidas.
Em relação à disposição, os pacientes foram
classificados em bem dispostos e cansados/fadigados. Todos os
pacientes foram avaliados, através de imagens
simbólicas, em feliz/satisfeito (J), nem feliz nem triste
(K), infeliz/insatisfeito (L) para classificação do
humor. Quanto à presença de queixas de dores, as
mesmas foram classificadas em cefaléia, dor retal, dor
abdominal, dor no local da cirurgia e outras.
Todos os indicadores de qualidade de vida foram avaliados em três momentos distintos: antes
do início do tratamento, com três meses e, após seis
meses, exceto para o humor cujos dados foram
analisados no início e final da pesquisa.
Análise estatística
Os pacientes foram separados em grupos placebo e
Agaricus sylvaticus para a comparação
dos resultados. Todos os dados coletados foram
analisados de forma qualitativa e descritiva, utilizando os
programas Microsoft Excel 2003 e Epi Info 2004
para Windows, versão 3.3.2.
RESULTADOS
Após seis meses de segmento, 56
pacientes com câncer colorretal concluíram o estudo, sendo
32 mulheres (57,1%) e 24 homens (42,9%), separados
em grupos placebo e Agaricus sylvaticus (tabela 1).
Os pacientes do grupo placebo (n = 28)
tinham idade média de 59,14 ± 12,95 anos. Com relação
ao gênero, 57,1% (n = 16) eram do sexo feminino, e
42,9% (n = 12) do sexo masculino.
Os pacientes do grupo que recebeu Agaricus
sylvaticus (n = 28) tinham idade média de 56,34
± 15,53 anos. Quanto ao gênero, 57,1%
(n = 16) eram do sexo feminino, e 42,9%
(n = 12) do sexo masculino.
Em relação à faixa etária, 46,43%
(n = 13) dos pacientes do grupo placebo possuíram idade superior
a 45 e inferior a 60 anos, 42,86% (n = 12)
apresentaram idade entre 60 e 80 anos e, apenas 10,71%
(n = 03) estiveram na faixa entre 30 e 45 anos, não
existindo indivíduos com menos de 30 anos (tabela 1). No
grupo suplementado, 46,43% (n = 13) dos pacientes
apresentaram faixa etária superior a 60 e inferior a 80
anos; 35,71% (n = 10), entre 45 e 60 anos; 10,71%
(n = 03), idade inferior a 30 anos e somente 7,14%
(n = 02) apresentaram idade entre 30 e 45 anos (tabela 1).
Quanto ao estadiamento, 50,00% (n = 14)
dos indivíduos de cada grupo pertenciam ao estádio III.
No estádio II, havia 35,71% (n = 10) de pacientes do
grupo placebo e 21,43% (n = 06) do grupo que recebeu
o Agaricus sylvaticus. No estádio I, 14,29%
(n = 04) pertenciam ao grupo placebo e, 28,57%
(n = 08) ao grupo suplementado (tabela 1).
Observou-se, em ambos os grupos, que 7,14% (n
= 02) dos pacientes eram tabagistas. No grupo placebo, 17,86%
(n = 05) eram ex-tabagistas e 75,00% (n
= 21) nunca fumaram. No grupo suplementado, 28,57%
(n = 08) eram ex-tabagistas e 64,29% (n
= 18) relataram nunca terem fumado (tabela 1).
Em relação ao etilismo, 17,86%
(n = 05) dos pacientes suplementados com
Agaricus sylvaticus relataram ingestão de bebidas alcoólicas, enquanto
no grupo placebo esse número alcançou 10,71%
(n = 03) (tabela 1).
Com relação à prática de atividade física,
7,14% (n = 02) dos pacientes de cada grupo a
praticavam (tabela 1). Após seis meses de tratamento,
observou-se aumento dos pacientes que aderiram à prática
de atividade física para 21,43% (n = 06) e 35,71%
(n = 10) nos grupos placebo e Agaricus
sylvaticus, respectivamente (tabela 2).
Ao longo do tratamento, averiguou-se diminuição da disposição, no grupo placebo, de 85,71%
(n = 24) para 78,57% (n = 22) e, 64,29%
(n = 18), após três e seis meses, respectivamente, com conseqüente
aumento do cansaço/fadiga (tabela 2). O contrário
foi observado no grupo suplementado, onde a taxa de
disposição aumentou de 67,86% (n
= 19) para 85,71% (n = 24) após três meses, mantendo esses valores ao
final do tratamento (tabela 2).
No grupo placebo, dos pacientes com idade entre 31 e 45 anos, 66,70%
(n = 02) apresentavam-se bem dispostos no início do tratamento, enquanto
91,70% (n = 11) também relataram boa disposição entre
os pacientes com faixa etária entre 46 e 60 anos e
entre 61 e 80 anos (figura 1). No grupo
suplementado, 66,70% (n = 02), dos pacientes com idade entre 20
e 30 anos relataram boa disposição no início do
tratamento, assim como 66,70% (n = 02) dos pacientes
entre 31 e 45 anos, 70,00% (n = 07) dos pacientes
com idade entre 46 e 60 anos e 66,70% (n = 08) dos
com idade entre 61 e 80 anos (figura 2).
Após três meses de acompanhamento, no
grupo placebo, dos pacientes com idade entre 31 e 45
anos, 50,00% (n = 01) relataram boa disposição, assim
como 61,50% (n = 08) dos pacientes com idade entre 46 e
60 anos e 100,00% (n = 12) daqueles com idade entre
61 e 80 anos (figura 1). No grupo Agaricus
sylvaticus, 66,70% (n = 02) dos pacientes com idade entre 20 e
30 anos referiram boa disposição no mesmo período
do tratamento, assim como 100,00% (n = 03) dos
pacientes com idade entre 31 e 45 anos, 70,00%
(n = 07) dos pacientes com idade entre 46 e 60 anos e 100,00%
(n = 12) dos pacientes com faixa etária entre 61 e
80 anos (figura 2).
Figura 1 - Disposição dos pacientes do grupo placebo durante todo o período de acompanhamento. |
Figura 2 - Disposição dos pacientes do grupo Agaricus
sylvaticus durante todo o período de acompanhamento. |
Figura 3 - Queixas de dores relatadas pelos pacientes nos diferentes grupos estudados. |
DISCUSSÃO
Avanços tecnológicos no diagnóstico e
tratamento precoces das neoplasias malignas têm
aumentado a sobrevida dos pacientes e,
conseqüentemente, maior ênfase tem sido dada a qualidade de vida
desta população9.
Na qualidade de vida, entre outros aspectos, está incluída a fadiga como falta de motivação. A
fadiga é altamente prevalente e é um sintoma debilitante
e crônico em pacientes com câncer, sendo
observada nesta população durante e após o
tratamento adjuvante9,10.
Pacientes oncológicos apresentam,
freqüente-mente, náuseas, vômitos, diarréia, diminuição de
apetite e perda de peso, acrescidos de outros
sintomas como dor e fadiga. Esses sintomas geralmente
influenciam no desenvolvimento das atividades
habituais como trabalhar, ter atividades de lazer, preparar
as refeições, disposição física para interagir na
sociedade, afetando significativamente os indicadores de
qualidade de vida11.
Em indivíduos saudáveis, a fadiga é
considerada um fator protetor, surgindo como resposta
regulatória de estresse físico ou psicológico. Porém, nos
pacientes com neoplasias malignas, a fadiga representa um
sintoma desagradável e limitante para a realização de
atividades diárias9.
Antes do início do tratamento, nos
grupos placebo e Agaricus sylvaticus deste estudo,
apenas 7,14% dos pacientes praticavam alguma atividade
física. Após seis meses, observou-se aumento da
prática de atividade física em ambos os grupos, porém
com maior percentual no grupo suplementado.
Observou-se, também, no grupo placebo,
redução da disposição (de 85,71% para 64,29%)
com conseqüente aumento do cansaço/fadiga (de
14,29% para 35,71%) durante todo o período de
acompanhamento. Resultados inversos foram encontrados no
grupo Agaricus sylvaticus com aumento da
disposição (de 67,86% para 85,71%) e redução do
cansaço/fadiga (de 32,14% para 14,29%) após três meses
de suplementação, mantendo-se esses resultados até o
final do tratamento.
Ao se fazer a correlação entre disposição
e idade, averiguou-se, em ambos os grupos, que os
indivíduos na faixa etária inferior a 46 anos
apresentaram menor disposição quando comparados com os
pacientes mais velhos. Porém, ao analisar cada faixa
etária separadamente, observou-se, no grupo Agaricus sylvaticus, após seis meses de suplementação,
aumento da disposição nos pacientes com idade superior a
30 anos e, manutenção da disposição naqueles entre 20
e 30 anos. No grupo placebo, os resultados
encontrados foram contraditórios, demonstrando redução da
taxa de disposição em todas as faixas etárias.
Estudos têm comprovado que a idade exerce influência significativa sobre a reação psicológica
ao diagnóstico do câncer e ao tratamento
antineoplásico, ou seja, pacientes mais jovens, além do maior
impacto psicológico, geralmente apresentam menor grau
de amadurecimento, referem mais dificuldades
econômicas e maior número de dias perdidos no trabalho
quando comparado com os mais velhos1.
Evidências científicas demonstram que a
fadiga pode persistir por meses ou anos após completar
o tratamento com sucesso em uma minoria de pacientes. A fadiga no câncer é multifatorial e alguns
mecanismos promissores têm sido identificados,
incluindo distúrbios do sono, estresse psicológico, dor, entre
outros sintomas, podendo envolver de forma severa
os domínios mental, físico e
emocional12, 13.
Observou-se, neste estudo, no grupo Agaricus
sylvaticus, redução da insônia (de 10,71% para
7,14%) e do hábito de dormir mal (de 7,14% para 3,57%)
após seis meses de suplementação. Esses resultados
não foram encontrados no grupo placebo.
A progressão do câncer e dos sintomas
associados está intimamente relacionada a
quadros depressivos, podendo refletir em aumento do
prejuízo funcional com conseqüente piora da
qualidade de vida. Tristeza, raiva, ansiedade e angústia
são respostas emocionais negativas freqüentemente
observadas em pacientes com câncer que, quando
intensas e duradouras, podem culminar com o diagnóstico de
depressão13.
Pesquisas científicas têm demonstrado
que pacientes deprimidos apresentam um risco três
vezes maior de não-adesão ao tratamento quando
comparados com indivíduos isentos de
sintomas depressivos13. Sendo assim, o diagnóstico de
depressão em pacientes com câncer baseia-se em
sintomas como desânimo, insônia, dificuldade de cooperar
com o tratamento, sentimentos de menos-valia, culpa
e morte, perda da esperança, falta de prazer e de
apego pela vida, devendo ser detectado o mais
precocemente possível14.
No presente estudo, observou-se, no grupo Agaricus
sylvaticus, uma melhora no estado do humor de felicidade/satisfação (de 60,71% para
85,71%) com conseqüente redução do sentimento de
indiferença (de 39,29% para 14,29%), após seis meses
de suplementação. Esses resultados não foram
encontrados no grupo placebo que apresentou redução do
sentimento de felicidade/satisfação (de 64,29%
para 42,86%) e aumento da infelicidade/insatisfação
(de 0,00% para 21,43%).
Estudos evidenciam, em pacientes com câncer, que os sintomas depressivos podem ocorrer
devido a diversos fatores como falta de regulação
do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal e do
eixo tireoideano, oscilações na função imune das
células Natural Killer (NK), redução da secreção
do hormônio de crescimento, alteração do
ritmo circadiano, presença de alterações metabólicas,
além do uso de medicações específicas como
corticóides, tamoxifeno e interferon-alfa
(INF-a). A ativação de citocinas pró-inflamatórias como as interleucinas 1
e 6 (IL-1 e IL-6) também são capazes de induzir
modificações na função neuronal e promover ativação
do eixo
hipotálamo-pituitária-adrenal13.
Os polissacarídeos presentes nos fungos
medicinais são capazes de exercer efeito no
organismo humano através do aumento das funções
imunológicas, estimulação da ativação de células NK, linfócitos
T, linfócitos B e células complementares, promovendo
um aumento do número de macrófagos e monócitos,
além da proliferação e/ou produção de anticorpos e de
várias citocinas como as IL-2 e IL-6, INF-a, fator
de necrose tumoral e, dessa forma, evitar a
regeneração e a metástase do
câncer4.
O câncer está freqüentemente associado
com a dor que, por sua vez, afeta a afetividade, a função,
o apetite, o sono, provoca depressão, além de
aumentar o risco de suicídio. Pacientes com câncer podem
apresentar associação de dores crônicas e
distúrbios afetivos. 58% a 80% dos pacientes adultos
oncológicos internados sofrem de dor, sendo que as dores
moderadas e intensas estão presentes em 30% a 40%
nos estágios intermediários e, cerca de, 87% nas fases
mais avançadas15.
Em 64,29% pacientes do grupo placebo e, 42,86% dos pacientes pertencentes ao
grupo Agaricus sylvaticus queixaram-se de dores
antes do início do tratamento. Após seis meses,
observou-se aumento dessa queixa para 71,43% no
grupo placebo e redução para 32,14% no
grupo suplementado.
Ao analisar as queixas de dores separadamente, observou-se, no grupo Agaricus sylvaticus, redução das dores retal, abdominal e outras, após seis
meses de suplementação. Ao passo que, no grupo
placebo, observou-se aumento das mesmas, exceto da dor
retal que permaneceu inalterada neste período. A
cefaléia aumentou em ambos os grupos durante todo o
período de acompanhamento, sendo este aumento maior
no grupo placebo.
Um estudo comprovou que a
administração parenteral de proteoglucanas extraídas de fungos
medicinais aliada à quimioterapia foi capaz de prolongar
o tempo de sobrevida, restaurar os
parâmetros imunológicos e melhorar a qualidade de vida de
pacientes com câncer de cólon e outros carcinomas
em comparação aos pacientes tratados apenas
com quimioterapia16.
Outro estudo demonstrou que a
suplementação dietética com fungos Agaricus sylvaticus em pacientes com câncer colorretal em tratamento
quimioterápico por um período de três meses, foi capaz de
promover melhora significativa na disposição em 55% dos
sujeitos, ausência de alterações em 36% e, apenas 9%
relataram desânimo. No grupo placebo,
estas alterações não foram observadas onde 28% dos pacientes
apresentaram tontura, 27% dores, 18% insônia, 9%
fraqueza e, 18% ausência de
alterações8.
Está bem esclarecida na literatura a
presença de diversas alterações de humor, motoras,
somáticas, sociais, cognitivas, entre outras em pacientes com
câncer. Todas essas alterações incluem tristeza, perda
de interesse por qualquer tipo de atividade, falta de
prazer, crises de choro, modificações do humor,
inibição ou retardo dos movimentos e agitação, alterações
no sono, variações do apetite, fadiga, apatia,
incapacitação para o desempenho das tarefas cotidianas,
desesperança, desamparo, idéias de culpa e de suicídio,
indecisão, ansiedade, irritabilidade, entre
outras2.
No presente estudo, observou-se, no grupo suplementado, melhoria de praticamente todos os
indicadores avaliados, principalmente quando comparados
com o grupo placebo, demonstrando a possível presença
de substâncias bioativas no fungo Agaricus
sylvaticus capazes de melhorar a qualidade de vida desses pacientes.
Estudos evidenciam a capacidade das proteoglucanas extraídas de fungos medicinais
agirem através do aumento significativo da sobrevida de
pacientes com diversos tipos de câncer, incluindo
o colorretal, além de melhorar a qualidade de vida e
promover alívio dos sintomas em 70% a 97% dos
pacientes com neoplasias malignas 4, 17,
18. Acredita-se que o provável mecanismo de ação está relacionado
à estimulação das funções imunológicas, da
atividade fagocitária dos macrófagos e melhoria das funções
do sistema retículo-endotelial4.
Além das proteoglucanas, diversas outras
substâncias bioativas estão presentes nos fungos
medicinais como glucanas, lectinas, ergosterol,
triterpenos, arginina, glutamina, entre outras. Os mecanismos
de ação dessas substâncias ainda não estão
completamente elucidados na literatura, mas evidências científicas
sugerem que esses compostos bioativos são capazes
de modular o processo de carcinogênese nos estágios
de iniciação, promoção e progressão e, dessa forma,
promover benefícios adicionais aos portadores de
diversos tipos de câncer4.
CONCLUSÃO
Os resultados sugerem que a
suplementação dietética com fungos Agaricus sylvaticus é capaz de melhorar a qualidade de vida de pacientes com
câncer colorretal em fase pós-operatória por reduzir
significativamente os efeitos deletérios ocasionados pela
própria enfermidade e pelo tratamento convencional
da mesma.
ABSTRACT: Introduction: Gastrointestinal cancer jeopardizes the quality of life through physiological, metabolic and psychological alterations. Medicinal fungus may boost the quality of life of patients with cancer. Objective: To evaluate the effects of the dietary supplementation with Agaricus sylvaticus fungus in relation to the quality of life in patients with colorectal cancer during post-surgery phase. Methodology: Randomized, double-blind, placebo-controlled clinical trial carried out at the Federal District Hospital - Brazil, for six months. Samples of 56 enrolled patients (24 men and 32 women), stadiums phase I, II and III, separated as placebo and Agaricus sylvaticus (30mg/kg/day) supplemented groups: In order to evaluate indicators for quality of life, it was used form-standard and direct anamnese-standard. The method of analysis for results was qualitative and descriptive, using the Microsoft Excel 2003 and Epi Info 2004 programs. Results: After six months of treatment, it was observed an increase of adhesion to physical activity; improved disposition and good mood, reduction of complaints, pains, and alterations of sleep such as insomnia and bad nights of sleep when Agaricus sylvaticus and placebo groups were compared. Conclusion: The results suggest that the dietary supplementation with Agaricus sylvaticus may improve the quality of life of patients with colorectal adenocarcinoma in post-surgery phase.
Keywords: Agaricus sylvaticus fungus, quality of life, colorectal cancer, metabolic alterations, physiologic alterations.
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Endereço para
correspondência:
Renata Costa Fortes
QI 14. Conjunto J. Casa 26.
Guará 1 / DF - CEP: 71.015-100.
Ribeirão Preto/SP, Brasil.
Telefone: (0xx61) 9979-9463
E-mail: renatacfortes@yahoo.com.br
Recebido em 18/05/2007
Aceito para publicação em 27/06/2007
Trabalho atribuído ao Departamento de Pós-Graduação em Nutrição Humana, Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade de Brasília,
DF. Realizado no Hospital de Base da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, Brasília, DF. Baseado em dissertação (mestrado) sob
o tema "Avaliação da suplementação nutricional com cogumelos Agaricaceae em portadores de câncer gastrointestinal", Universidade
de Brasília, ano de defesa: 2007, 200 páginas. Não há conflito de interesses.