ARTIGOS ORIGINAIS
ESTUDO RETROSPECTIVO DO RESULTADO ANATOMOPATOLÓGICO DE 100 POLIPECTOMIAS COLONOSCÓPICAS REALIZADAS NA FMB-UNESP
Retrospective study of the anatomopathological results of 100 colonoscopic polypectomies performed at FMB-UNESP
RogÉrio Saad Hossne1; Mara Fernandes MaranhÃo2; FlÁvio Augusto de Carvalho2; Fabiana Guandalini Mendes2
1 Professor Assistente Doutor da Faculdade de Medicina de Botucatu - Unesp; 2 Aluno(a) do 6º ano Médico da Faculdade de Medicina de Botucatu - Unesp.
RESUMO: Objetivo: Analisar retrospectivamente o resultado do estudo anatomopatológico de polipectomias colonoscópicas realizadas no Setor de Endoscopia da Faculdade de Medicina de Botucatu _ UNESP durante os anos de 2002 e 2003. Material e Métodos: Estudamos retrospectivamente, a partir de procedimentos colonoscópicos realizados em nosso serviço, as características dos pólipos retirados: tamanho, localização e distribuição, bem como o motivo da indicação do mesmo e o resultado do estudo anatomopatológico. Resultados: Num total de 100 polipectomias colonoscópicas realizadas em 75 pacientes, observamos que 63% dos pólipos localizava-se em reto e sigmóide e 15,8% no cólon descendente; o estudo anátomopatologico evidenciou que a grande maioria tinha características adenomatosas (54%). A idade dos pacientes variou entre 6 e 92 anos, não havendo predominância quanto ao sexo; a principal indicação para a realização de colonoscopia foi sangramento. Conclusão: Constatamos o importante papel diagnóstico e terapêutico das colonoscopias no que diz respeito ao câncer colorretal; os achados demonstram que, em nossa casuística, a maioria os pólipos colônicos são adenomatosos, pequenos e de localização distal.
Descritores: pólipos do colo, pólipos adenomatosos, colonoscopia, neoplasias colorretais, histologia.
INTRODUÇÃO
O estudo anatomopatológico e genético
dos pólipos colônicos, nos últimos tempos, tem se
tornado cada vez mais importante; sabe-se que é elevada
a prevalência de pólipos colônicos, principalmente
os assintomáticos, e sua correlação com a incidência
de câncer colorretal. A seqüência adenoma-carcinoma
é a principal causa do câncer colorretal e
correlaciona-se com o aumento do número de casos; estudos
das bases moleculares e genéticas desta seqüência
amplamente estudados, serve de modelo no estudo da carcinogênese, merecendo hoje, cuidados à
parte(1). Além disso, sabemos que, entre os pólipos que se
iniciam com características adenomatosas, o
componente arquitetural viloso presente na sua estrutura
acarreta maior risco de progressão para
malignidade(2).
No entanto, a classificação dos pólipos do
cólon e reto não envolve somente o tipo
adenomatoso, como também os inflamatórios, hiperplásicos e
juvenis(3). Postula-se que entre estes, os hiperplásicos
também possam levar ao início de um processo
neoplásico focal(4,5).
No que diz respeito ao real papel
terapêutico da retirada dos pólipos hiperplásicos e
adenomatosos, os dados obtidos na
literatura(1) ressaltam a
importância deste procedimento, pois o mesmo impede a
progressão da seqüência adenoma-carcinoma,
favorecendo a prevenção. Estes dados apontam para o fato
de que aproximadamente 30% dos carcinomas observados por colonoscopia ou retirados cirurgicamente
coexistiam com adenomas no mesmo segmento. Sabe-se ainda que ambas as lesões são encontradas
mais freqüentemente no cólon distal à flexura esplênica
fortalecendo teoria da
progressão(6). É importante
salientar também que estes pólipos têm prevalência
aumentada conforme avança a idade do
paciente(6,7). Não é o propósito deste estudo discutir possíveis
implicações ambientais de hábitos e dieta na gênese dos
cânceres de intestino grosso, apesar de sabermos que
a dieta, conjuntamente com os fatores ambientais,
influenciam no aparecimento dos pólipos e do
câncer colorretal(3).
O estudo em questão tem o objetivo de
analisar a indicação do exame, a localização e os
resultados anatomopatológico de 100 polipectomias
colonoscópicas realizadas no Setor de Endoscopia da Faculdade
de Medicina de Botucatu, durante os anos de 2002 e 2003.
MATERIAL E MÉTODOS
Estudamos retrospectivamente a indicação
do exame, o resultado anatomopatológico e a
localização dos pólipos retirados por polipectomias realizadas
em nosso serviço (independentemente da técnica
utilizada) no período que compreendeu os anos de 2002
e 2003. Para isso, selecionamos os prontuários de
75 pacientes submetidos ao procedimento no referido
período.
Foram analisados os dados relativos ao paciente e ao exame: idade, sexo, procedência, história
de sangramento prévio, indicação do
procedimento (diagnóstica, terapêutica ou controle), presença de
doença inflamatória intestinal associada,
antecedentes pessoais de adenocarcinoma no cólon.
Adicionalmente, caracterizamos aspectos pertinentes ao(s)
pólipo(s): resultado anatomopatológico (incluindo grau de
atipia), número de pólipos retirados, localização e se os
mesmos representavam ou não recidivas. Embasados
nestas informações, foi preenchido o protocolo sendo
que ao final da coleta dos dados, procedeu-se à análise
estatística dos resultados.
RESULTADOS
Dentre os 75 pacientes cujos prontuários
foram analisados, 18 indivíduos foram submetidos
à colonoscopia 2 vezes durante o referido período
de estudo (2002-2003), 2 deles o foram 3 vezes e 4 o
foram 4 vezes, totalizando 100 colonoscopias. As
idades dos pacientes variaram entre 6 e 92 anos, sendo que
a média e desvio padrão foram, respectivamente, 56,3
e (+/-)16,7 anos.
Observou-se que a prevalência de
pólipos colônicos cresce com o aumento da idade (Tabela
1), havendo uma distribuição equilibrada entre os
sexos feminino (50,6%) e masculino (49,4%).
Verificamos que em 46 pacientes (61,4%) havia história previa de sangramento, e que 21
pacientes (28%) apresentavam antecedente pessoal de pólipo
ou câncer (Tabela 2).
Na Tabela 3 é possível verificar que na
maior parte dos indivíduos havia um único pólipo, e que
somente em 9 dos 100 procedimentos (9%) havia mais do que 5 pólipos.
A distribuição dos pólipos está demonstrada
no Gráfico 1, onde é possível constatar que a
localização preferencial é nos segmentos distais.
Gráfico 1 - Distribuição dos pólipos de acordo com a localização. Freqüência relativa (%). |
A análise das características histológicas
permite constatar que, em sua maioria, os pólipos
encontrados foram os adenomatosos (54%), seguidos
dos hiperplásicos (17,8%), inflamatórios (10%) e
juvenis (3%) (Gráfico 2).
Gráfico 2 - Distribuição dos pólipos de acordo com o
tipo histológico. Freqüência relativa (%). |
A tabela 4 e o Gráfico 3 sumarizam as
características dos pólipos adenomatosos encontrados no
que tange, respectivamente, à gravidade das atipias
(leve, moderada ou grave) e tipo histológico
(tubular, tubuloviloso e viloso).
Gráfico 3 - Distribuição dos pólipos adenomatosos de acordo com seu subtipo histológico. Freqüência relativa (%). |
DISCUSSÃO
Relatos da literatura demonstram que os pólipos são encontrados com maior freqüência em
homens, sendo que a relação entre o sexo masculino
e feminino é aproximadamente
1.4:1(8) fato este não observado em nosso estudo, onde constatamos que
esta proporção é de 1:1.
Pólipos adenomatosos e hiperplásicos
responderam, respectivamente, por 54% e 17,8%,
totalizando 71,8%. Tais resultados são concordantes com a
literatura, onde se evidencia o predomínio de
leões adenomatosas sobre as
hiperplásicas(7,9,10). Quanto a estas últimas, apesar de tradicionalmente
consideradas não neoplásicas, foi observado que algumas
mutações genéticas estão envolvidas no aparecimento
deste tipo histológico.
Observamos que a distribuição dos pólipos
é crescente no sentido distal, sendo alta a
porcentagem de pólipos retais (51%). Este resultado é
consistente com muitos outros
estudos(11,12). IKEDA e
cols(6) demonstraram ainda que a incidência de câncer é
significativamente maior em sítios mais distais do cólon e
do reto quando comparada à distribuição dos
pólipos adenomatosos, sugerindo que estes teriam maior
potencial de malignidade quando localizados nestes
segmentos mais distais.
No que diz respeito aos antecedentes de sangramento gastrintestinal baixo, sabe-se que
esta condição tem inúmeras causas possíveis, sendo as
mais comuns as afecções anorretais, como
as hemorróidas(8,13). Neoplasias colônicas causam
aproximadamente 20% dos episódios de sangramento do
trato gastrointestinal
baixo(10), havendo ainda, grande discordância entre diferentes autores no que se
refere ao exato mecanismo responsável pelo sangramento
de um pólipo(14). No presente estudo, os dados
pertinentes à presença de sangramento prévio à realização
da colonoscopia foram coletados a partir das queixas
dos pacientes anotadas em seus prontuários; não
foram pesquisadas outras possíveis causas de sangramento.
Este fato limita a validade dos dados com relação à
prevalência de sintomas em pacientes acometidos por pólipos
no nosso estudo, mas pode ser relevante como dado da
história que viabilize a indicação de uma colonoscopia.
Dentre os adenomas encontrados, o
padrão tubular foi o mais freqüente (65%), enquanto o
viloso foi o menos comum (17%). Nossos pacientes
tiveram os pólipos adenomatosos classificados na maneira
habitual, de modo que a análise histológica não inclui
alguns padrões mais recentemente descritos (como
os serrilhados e os microtubulares). Embora
tenhamos observado incidências diferentes para cada
tipo histológico, a literatura consultada mostrou
predomínio de lesões
tubulares(7-10), concordando com os
resultados obtidos.
CONCLUSÃO
Constatamos que, em nossa casuística, a
maioria dos pólipos colorretais são adenomatosos e de
localização distal. Dentre os adenomas, a maior
proporção é representada por pólipos do tipo tubular.
A colonoscopia é considerada um método ótimo
para detecção de pólipos colônicos, tendo em vista a
possibilidade de realizar-se polipectomias terapêuticas.
Pequenos pólipos são fáceis de remover e a
remoção colonoscópica raramente é seguida de alguma
complicação. Adicionalmente, sabe-se que pacientes
com múltiplos adenomas ou pólipos adenomatosos de
grande diâmetro apresentam alto risco de desenvolver
câncer colorretal. Estes fatores, somados à detecção
de mutações na gênese dos pólipos hiperplásicos,
tornam a colonoscopia um procedimento custo-efetivo, e
um excelente método diagnóstico e terapêutico.
ABSTRACT: Objective: To analyze the retrospective results of the anatomopathological study of colonoscopic polypectomies performed at the Sector of Endoscopy of the School of Medicine of Botucatu _ UNESP during the years of 2002 and 2003. Material and Methods: We studied in retrospect the characteristics of the polyps found and removed during colonoscopies performed at our service, including: size, site of appearance and distribution, as well as the reasons for removal and the anatomopathological results. Results: In 100 polypectomies performed in 75 patients we observed that 63% of the polyps were found in the area comprised by the sigmoid and the rectum and 15,8% were found in the left colon; the anatomopathological results showed that most of them had adenomatous features (54%). The patients' age varied between 6 and 92 years, with no predominance of any sex; the main indication for the colonoscopies was history of bleeding. Conclusion: We verified the important role of colonoscopies in diagnosing and treating the colorectal cancer; the results found showed that most of colonic polyps are adenomatous, small and distal in their localization.
Key words: colonic polyps, adenomatous polyps, colonoscopy, colorectal neoplasms, histology.
Referências
1. Leslie A, Carey FA, Pratt NR, Steele RJC. The
colorectal adenoma-carcinoma sequence. Br J Surg 2002; 89: 845-9.
2. Rocha BP, Ferrari AP, Forones NM. Freqüência de
pólipos em doentes operados de Câncer colorretal Arq.
Gastroenterol 2000; 37 (1): 31-4. disponível em http://www.sciello.br.
3. Chen Liu, James M, Crawford, The gastrointestinal tract
in: Kumar V, Abas AK, Fausto N, Robbins and Cotran
pathologic basis of disease, 7th ed Philadelphia: Elservia Saunders,
2005 p.857-64.
4. Church JM. Clinical significance of small colorectal
polyps. Dis Colon Rectum 2004; 47(4): 481-5.
5. Jass, JR. Hyperplastic polyps of the colorrectum-innocent
or guilty? Dis Colon Rectum 2001; 44:163-6.
6. Ikeda Y, Mori M, Yoshizumi T, Sugimachi K. Cancer
and adenomatous polyp distribution in the colorectum. Am
J Gastroenterol 1999; 94:191-3.
7. Manzione CR, Nadal SR, Nadal MA, Melo SMV.
Análise morfológica e histológica de pólipos colorretais submetidos
à ressecção endoscópica. Rev Bras de Coloproct
2004; 24(2):119-25.
8. Shennak MM, Tarawneh MM. Pattern of colonic disease
in lower gastrointestinal bleeding in Jordanian patients:
a prospective colonoscopy study. Dis Colon Rectum
1997; 40:208-14.
9. Webb WA, McDaniel L, Jones L. The anatomical
distribution of colorectal polyps at colonoscopy. Arch Intern Med
2003; 163:413-20.
10. Weston AP, Campbell DR. Diminutive colonic
polyps: histopathology, spatial distribution, concomitant
significant lesions, and treatment complications. Am J Gastroenterol
1995; 90:24-8.
11. Burt RW, Samowitz WS. The adenomatous polyps and
the hereditary polyposis syndromes. Gastroenterol Clin
North Am 1988; 17:657-78.
12. Welch CE, Hedberg SE. Polypoid lesions of the
gastrointestinal tract. 2nd ed. Philadelphia: WB Saunders, 1975.
13. Vernava AM, Moore BA, Longo WE, Johnson FE.
Lower gastrointestinal bleeding. Dis Colon Rectum 1997; 40:846-58.
14. Uno Y, Munakata A. Endoscopic an histologic correlates
of colorectal polyp bleeding. Gastrointest Endosc 1995; 41
(5): 460-7.
Endereço para correspondência:
Rogério Saad Hossne
Departamento de Cirurgia e Ortopedia
Faculdade de Medicina de Botucatu _ UNESP
Distrito de Rubião Júnior s/nº
18618-000 Botucatu - SP
e-mail: saad@fmb.unesp.br
Fax: (14) 3815-7428
Recebido em 11/05/2007
Aceito para publicação em 08/08/2007
Trabalho realizado no Departamento de Cirurgia e Ortopedia da Faculdade de Medicina de Botucatu - UNESP. Agradecimentos ao
Departamento de Patologia.