ARTIGOS ORIGINAIS
USO DA PERITONEOSTOMIA NA SEPSE ABDOMINAL
Laparostomy in Abdominal Sepsis
JUVENAL DA ROCHA TORRES NETO1, ADONAI PINHEIRO BARRETO2, ANA CAROLINA LISBOA PRUDENTE3, ALLISSON MÁRIO DOS SANTOS4, RODRIGO ROCHA SANTIAGO 5
1 Chefe do Serviço de Coloproctologia da Universidade Federal de Sergipe, Professor Doutor e coordenador do internato de clínica cirúrgica; 2 Acadêmico do serviço de coloproctologia da Universidade Federal de Sergipe; 3 Residente do serviço de coloproctologia da Universidade Federal de Sergipe; 4 Acadêmico do serviço de coloproctologia da Universidade Federal de Sergipe; 5 Médico do serviço de coloproctologia da Universidade Federal de Sergipe.
RESUMO: Dentre as modalidades terapêuticas da sepse abdominal, a peritoneostomia tem papel decisivo permitindo explorações e lavagens da cavidade de forma facilitada. Observamos pacientes com diagnóstico clínico de sepse abdominal internados no Serviço de Coloproctologia do Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe, e que foram submetidos a peritoneostomia de janeiro de 2004 a janeiro de 2006. Foram avaliados quanto ao diagnóstico primário e secundário, tipo de peritonite secundária, antibioticoterapia, esquema de lavagens, tempo de peritoneostomia, complicações e desfecho. Estudamos 12 pacientes, com idade de 15 a 57, média de 39,3 anos. Diagnóstico primário: abdome agudo inflamatório em 6(50%), abdome agudo obstrutivo em 2(16,7%), abdome agudo perfurativo em 2(16,7%), fístula enterocutânea em 1(8,3%) e abscesso intra-cavitário em 1(8,3%). Diagnóstico secundário: perfuração de cólon em 4(33,3%), abscessos intra-cavitários em 3(25%), deiscências de anastomoses em 3(25%), 1(8,3%) com tumor perfurado de sigmóide e 1(8,3%) com necrose de cólon abaixado. Peritonite fecal em 10(83,3%) e purulenta em 2(16,7%). A antibioticoterapia teve duração média de 19 dias. Lavagens de demanda em 6(50%), programadas em 4(33,3%) e regime misto em 2(16,7%). O tempo médio de peritoneostomia foi de 10,9 dias (1-36). Como complicações: evisceração em 2(16,7%) e fistulização em 1(8,3%). Quatro pacientes evoluíram com óbito.
Descritores: Peritoneostomia, Bolsa de Bogotá, tela de polipropileno, peritonite, sepse abdominal.
INTRODUÇÃO
O tratamento da sepse abdominal é prioritariamente cirúrgico, agindo no controle da
fonte de infecção, remoção e drenagem de seus
produtos, aliado a antibioticoterapia, suporte ventilatório
e hemodinâmico adequados
(¹). Em alguns pacientes
pode ser necessária, como abordagem cirúrgica, a
realização da peritoneostomia para tratamento da
infecção intra-abdominal, minimizando a intensidade ou
reduzindo a ocorrência de síndrome da resposta
inflamatória sistêmica (SRIS)
(², ³, 4, 5,
6).
A realização da peritoneostomia tem sido
preconizada desde 1979, seus defensores advogam que
a técnica permitiria a ampla drenagem de secreção
purulenta através da abertura da parede e também
facilitaria a lavagem da cavidade peritoneal através
de reoperações programadas ou de demanda, conforme
a necessidade.
Neste procedimento os planos da parede abdominal não são completamente aproximados,
permitindo uma regular inspeção do estado das alças e
drenagem de conteúdo intra-cavitário, reduzindo a
necessidade de transferência do paciente para o centro
cirúrgico, minimizando os riscos cumulativos dos
múltiplos transportes e anestesias
(3). Além do seu uso no tratamento da sepse abdominal, outras indicações
desse procedimento são: na síndrome compartimental
abdominal (1,3), "damage control" e fasciite
necrotizante (1,4). Tem, ainda, alta eficiência no controle da
infecção abdominal e outras complicações da
pancreatite necrotizante (7, 8).
Analisaremos a utilização da
peritoneostomia para controle da sepse abdominal, sendo utilizada
a Bolsa de Bogotá associada ou não à tela de
polipropileno com lavagens programadas a cada 48 horas, ou
de demanda conforme indicasse o quadro clínico do
paciente.
PACIENTES E MÉTODOS
O estudo foi realizado no Hospital
Universitário da Universidade Federal de Sergipe de janeiro
de 2004 a janeiro de 2006. Consistiu em uma análise
descritiva retrospectiva de 12 pacientes que foram
submetidos à técnica de peritoneostomia com Bolsa
de Bogotá associada ou não à tela de polipropileno
como estratégia terapêutica da sepse abdominal
instalada nesses pacientes.
Os pacientes foram operados e acompanhados pela equipe de cirurgia coloproctológica
desse Hospital. Eles foram analisados quanto ao
diagnóstico primário, diagnóstico secundário, tipo de peritonite
secundária, antibioticoterapia, esquema de lavagens,
tempo de peritoneostomia, complicações e desfecho.
Os dados colhidos foram armazenados em planilhas do software Microsoft Excel 2003, com
confecção de gráficos e tabelas.
RESULTADOS
Foram estudados 12 pacientes, 10(83,3%) homens e 2(16,7%) mulheres, com média de idade
de 39,3 variando de 15 a 57 anos.
Com relação ao diagnóstico que constava
como motivo da internação desses pacientes e suas
intervenções cirúrgicas no nosso serviço, dos 12
pacientes estudados, 6 (50%) tiveram como diagnóstico
primário abdome agudo inflamatório, 2 (16,7%) abdome
agudo obstrutivo, 2 (16,7%) abdome agudo perfurativo,
1 (8,3%) fístula enterocutânea e 1 (8,3%) paciente
com abscesso intra-cavitário (Fig1).
Figura 1 - Gráfico ilustrando a freqüência dos diversos
diagnósticos primários. |
Figura 2 - Gráfico ilustrando os principais esquemas
antibióticos utilizados. |
Figura 3 - Fotografia demonstrando paciente em 8ºdia
de peritoneostomia com Bolsa de Bogotá, apresentando
também ileostomia (visão superior). |
Figura 4 - Fotografia demonstrando paciente em 8ºdia
de peritoneostomia com Bolsa de Bogotá, apresentando
também ileostomia (visão de perfil). |
Figura 5 - Fotografia demonstrando o mesmo paciente no 17º
dia de peritoneostomia. Foi realizada uma aproximação parcial
dos bordos e utilizada tela de polipropileno como reforço de contenção. |
Figura 6 - Fotografia demonstrando o fechamento da parede
abdominal no 30º dia de peritoneostomia (visão superior). |
Figura 7 - Fotografia demonstrando o fechamento da parede
abdominal no 30º dia de peritoneostomia (visão perfil). |
Levantaremos ainda a incidência de
complicações tardias da peritoneostomia, como, por exemplo,
a ocorrência de hérnia ventral incisional.
CONCLUSÃO
A peritoneostomia é uma arma importante no controle da infecção intra-abdominal,
podendo dar bons resultados na luta contra a síndrome da resposta inflamatória sistêmica
nesses pacientes. É um método com risco de
complicações, como fístula e eventração, e ainda
com mortalidade elevada não apenas imputada à
utilização da peritoneostomia, mas também a
complicações locais ou gerais devidas à
gravidade dos pacientes.
ABSTRACT: Among the therapeutics approach form of abdominal sepsis, the laparostomy has a decisive role allowing cavity explorations and lavages in an easier way. We study patients with abdominal sepsis diagnoses admitted to our surgical service of Coloproctology form Sergipe´s Federal University Hospital who underwent a Bogotá Bag laparostomy associated or not with polypropylene mesh from January 2004 to January 2006. These patients were assessed as: first and second diagnosis; secondary peritonitis type; antibiotic-therapy; lavages setup; laparostomy´s time; complications and the end of the treatment. We study 10(83.3%) men and 2(16.7%) women, with average age of 39,3 (15-57). First diagnosis: inflammatory abdomen acute 6(50%), block acute abdomen 2(16.7%), perforative acute abdomen 2(16.7%), fistula 1(8.3%) and intracavity abscess 1(8.3%). Secondary diagnosis: colon perforation in 4(33.3%), intracavity abscess 3(25%), anastomoses dehiscence 3(25%), 1(8.3%) with sigmoid perforative cancer and 1(8.3%) with colon necrosis. Fecal peritonitis was found in 10 patients (83.3%) and purulent in 2(16.7%). The antibiotic-therapy was made during nineteen days. Lavages on demand 6(50%), planned with 4(33.3%) and mixed setup in 2(16.7%). The average time of the laparostomy was 10,9 days (1-36). Complications: evisceration in 2 cases (16.7%) and fistulization in only one (8.3%). Four patients died.
Key words: Laparostomy, Temporary abdominal closure, Bogotá Bag, Peritonitis, abdominal sepsis.
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Endereço para correspondência:
Juvenal da Rocha Torres Neto
Rua Ananias Azevedo, 100, Ed. Piazza Fiorentina, apto. 902
Treze de Julho, Aracaju - SE - Brasil
Fax: (79) 3214-4830
E-mail: jtorres@infonet.com.br
Recebido em 08/05/2007
Aceito para publicação em 04/06/2007
Trabalho realizado no Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe.