IN MEMORIAN



Dr. Zerbini:
Seu sonho continua...
Seu exemplo ficou ...

Descerramento da Placa em Homenagem ao Dr. João Carlos Zerbini de Faria pelo Grupo de Coloproctologia da Santa Casa de Belo Horizonte e Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (22/08/2007) - palavras pronunciadas pelo Prof. Geraldo Magela Gomes da Cruz, chefe do Grupo de Coloproctologia.



Em "O Sentido Trágico da Vida" o grande Miguel de Unamuno (1864-1936) disse que a vida do homem tem três vieses: corporal, espiritual e histórico. Nada mais verdadeiro! Temos três vidas: a vida corporal, a vida espiritual e a vida histórica. E, todos nós, participamos das três vidas do Zerbini.
   Assistimos e participamos, todos nós, durante um ano e meio, do sofrimento do Zerbini, que redundou na morte de seu corpo, em 5 de maio do corrente ano. Sofremos com ele e com sua família, e participamos de seu enterro, no Parque da Colina, com o credo simbólico de transformação do corpo em pó. Foi um dia cinzento, nublado, sem sol, triste, sem cores; foi um dia de perda. E procuramos, todos nós, nos consolarmos uns aos outros, minorando o significado da morte física, como fez Fernando Pessoa (1888-1935): "Morrer é apenas não ser visto. Morrer é a curva da estrada". Então, Zerbini simplesmente está escondido ou fez uma curva na estrada da vida. E fomos além: tentamos negar sua morte, como fez Riobaldo em "Grande Sertão: Veredas" do mago Guimarães Rosa (1908-1967): "pessoas, como Zerbini, não morrem; ficam encantadas. Então, é isso: Zerbini não morreu; Zerbini ficou encantado"!
   No sétimo dia, como reza nossa fé, Zerbini ressurgiu dos mortos, gloriosamente, pois sua segunda vida, o espírito, simplesmente libertou-se do corpo físico e voltou para Deus. Foi a repetição das palavras de Jean Cocteau (1889-1963) em "A Condessa de Noailles, Sim ou Não": "Le corps est un parasite de l'âme" ("O corpo é um parasita da alma."). Foi um dia luminoso, colorido, de alegria, em que comemoramos a vitória da alma sobre o corpo. O corpo de Zerbini se foi, mas seu espírito ficou entre nós!
   Hoje é um dia de festa. Estamos aqui para comemorar a terceira vida do Zerbini: sua vida histórica! Hoje estamos aqui para impedir que sua história, tão rica e exemplar _ de homem, filho, pai, esposo, amigo e médico - seja enterrada junto com seu corpo físico. E, para isso, temos que narrar sua história, pois é assim que ela é preservada, como aconselha Romain Roland (1866-1944): "Raconter, cést tuer la mort" ("Narrar é matar a morte"). E para isso, temos que acreditar nas palavras de Helmut Zhielicke (1908-1986): "Cultivar a tradição não significa guardar as cinzas, significa manter a chama". E, para que essa chama do Zerbini continue acesa, nos iluminando, nós, do Grupo de Coloproctologia, resolvemos criar uma placa comemorativa em homenagem à vida histórica do Zerbini, em nosso ambiente de trabalho, colocando nela sua efígie e resgatando sua memória: "Zerbini, você se foi, mas seu exemplo ficou".
   A amizade, a cordialidade, a admiração e o respeito mútuos, que nós dois mantivemos, um com o outro, por mais de quarenta anos, fizeram com que, ao invés de contratar um profissional para criar essa placa, eu mesmo a fizesse, não com a razão, mas com o coração, seguindo o conselho do mago Guimarães Rosa (1908-1967): "Senhor atira bem. O senhor atira bem por que atira com o espírito. Sempre o espírito é que acerta." E acertei, pois foi assim que atirei. Foi assim que fiz essa placa: com o espírito!!!

Descerramento da placa em homenagem ao Dr. Zerbini: Prof. Magela e a família do Dr. Zerbini: Marina (filha), João Carlos (filho), Regina (viúva) e Mateus (filho).