RELATO DE CASOS
CARCINOMA ADENOESCAMOSO DO RETO: RELATO DE CASO
Adenosquamous Rectal Carcinoma: A Case Report
ANDRÉ LUIGI PINCINATO 1; FLÁVIA BALSAMO 2; JULIANA MAGALHÃES LOPES 1; RODRIGO BRITTO DE CARVALHO 1; ALLINE MACIEL PINHEIRO BORGES 1; GALDINO JOSÉ SITONIO FORMIGA 3
1 Residentes do Serviço de Coloproctologia do Hospital Heliópolis - São Paulo, SP; 2 Assistente do Serviço de Coloproctologia do Hospital Heliópolis - São Paulo, SP; 3 Chefe do Serviço de Coloproctologia do Hospital Heliópolis - São Paulo, SP.
RESUMO: Os carcinomas adenoescamosos são neoplasias bastante raras que ocorrem mais freqüentemente no reto e porções distais do cólon. A apresentação clínica e macroscópica destas lesões não difere do adenocarcinoma. Relata-se um caso de tumor adenoescamoso do reto, cuja confirmação diagnóstica somente foi realizada após a cirurgia de ressecção tumoral e estudo imuno-histoquímico.
Descritores: Carcinoma adenoescamoso, neoplasia, reto, cólon, carcinogênese.
INTRODUÇÃO
Os carcinomas adenoescamosos de cólon e reto são definidos como tumores cujos
componentes escamosos e glandulares coexistem, e ambos têm
potencial de originar
metástases.1-3 É uma entidade
extremamente rara, com incidência de 0,025 a 0,2%
de todos os tumores malignos do intestino
grosso.1,2,4
O primeiro caso descrito foi por Herxheimer, em 1907, um carcinoma adenoescamoso de ceco.
Em 1909, Probst relata um caso acometendo sigmóide.
5
A patogênese não é bem definida e
existem diversas teorias para explicar a existência das
duas linhagens celulares concomitantes.2,3,6
A localização dos tumores é principalmente
em reto e porções distais do cólon, com apresentação
clínica e macroscópica semelhante ao
adenocarcinoma, porém com menor
sobrevida.1,4
O objetivo deste estudo é relatar um caso
de tumor adenoescamoso do reto e apresentar revisão
da literatura.
RELATO DO CASO
J.L.F, 56 anos, masculino, branco, natural e procedente de São Paulo, S.P. Há oito meses com
puxo, tenesmo, mucorréia, hematoquezia e alteração do
hábito intestinal de uma para três vezes por dia. Não
apresentava emagrecimento ou qualquer antecedente
patológico prévio. Submetido a exame físico geral
e proctológico que evidenciou lesão úlcero-vegetante
de 10 a 13cm da margem anal, em parede anterior,
não transponível ao aparelho rígido, cujo
anátomo-patológico resultou em adenocarcinoma túbulo-viloso.
Realizou colonoscopia que também demonstrou
imperviedade da lesão. O CEA pré-operatório foi 333,5 ng/dl. TC
de abdome e pelve: sem metástases hepáticas
(Figura 1), com espessamento da parede retal e borramento
da gordura peri-retal (Figura 2). Raio-x de tórax: sem
alterações.
Figura 1 - TC de abdome - ausência de metástases hepáticas. |
Figura 2 - TC de pelve - espessamento da parede do reto. |
Figura 3 - Células com padrão tubular e área com células
epiteliais sem diferenciação glandular (seta), HE, 100x. |
Figura 4 - Imuno-histoquímica com células coradas com
anticorpo 34bH12 (seta), 20 x. |
Figura 5 - Infiltração de adenocarcinoma (seta) no fígado,
aumento de 100x. |
DISCUSSÃO
O carcinoma adenoescamoso é uma entidade extremamente rara, conseqüentemente, a literatura
a respeito deste tumor é
limitada.2 A freqüência é
maior entre caucasianos (84%) do que entre
afro-americanos (15%) e outras raças
(1%).4
Como no adenocarcinoma, o reto e as
porções distais do cólon são os locais mais freqüentemente
afetados.1,2,4,7
Diversas teorias foram propostas para explicar a origem do carcinoma adenoescamoso de
cólon. A presença de restos embrionários heterotópicos
do epitélio escamoso na mucosa colônica não é
sustentada, assim como, a transformação de células
glandulares em escamosas.8
Um estímulo anormal da mucosa pode
resultar em diferenciação aberrante como na colite
ulcerativa, esquistossomose, radiação, e infecção pelo
papiloma vírus humano.2,5,7 A metaplasia escamosa pode
ocorrer em até 1% dos adenomas colônicos, e poderia
ser uma causa para este tumor.7
Outra possível origem é ser de uma
célula pluripotencial (steam cell), com capacidade de
diferenciação multidirecional. Esta teoria é
corroborada por estudos de microscopia eletrônica, onde a
ultra-estrutura das células sugere que a diferenciação
glandular e escamosa, origina-se de uma única
célula progenitora.8
A apresentação clínica é similar a
do adenocarcinoma incluindo sangramento retal,
tenesmo, dor, mudança do hábito intestinal e perda de
peso,3,7 como evidenciado no relato do caso, com a
duração dos sintomas muito variável, desde semanas a
vários meses.7 A associação com colite
ulcerativa, hipercalcemia, polipose múltipla, câncer ginecológico
e esquistossomose é relatada.9
Lesões sincrônicas e metacrônicas
com adenocarcinoma também são citadas, sugerindo
que esses tumores podem não se apresentar
como neoplasias solitárias, e merecem um seguimento
apropriado.2,5
Metástases ocorrem para linfonodos,
fígado, peritônio, pulmão e
ossos,5 sendo que os componentes escamoso, e glandular ou ambos podem
metastatizar. Existe uma certa tendência de aumento do
componente escamoso nas
metástases.6 Em nosso caso, as metástases foram decorrentes da disseminação
de adenocarcinoma para o fígado.
A investigação pré-operatória é similar
ao adenocarcinoma, e a biópsia, seja incisional
ou excisional, é a única forma de
distingüí-lo.1,7 A suspeita deve surgir em adenocarcinoma com áreas
de tumor muito pouco diferenciado devendo ser pesquisados com imunoperoxidase e/ou
microscopia eletrônica para identificação do
componente escamoso.6
O prognóstico de tumores estádio I e II
com linfonodo negativo (Dukes A e B) é semelhante
ao adenocarcinoma. Porém, na doença nodal, o
prognóstico é pior.2,5 A maioria dos pacientes
é diagnosticada em fases avançadas da doença, e
a sobrevida após o diagnóstico é de
aproximadamente nove meses.1
No caso descrito, o paciente apresentava metástases hepáticas no momento do diagnóstico, e
a sobrevida foi de 11 meses, corroborando os dados
da literatura.
A cirurgia é o tratamento de escolha, e
segue os mesmos princípios do
adenocarcinoma.4 A terapia adjuvante tem sido usada como tratamento do
carcinoma adenoescamoso, mas o benefício é
desconhecido pela raridade da lesão. Os agentes
adjuvantes quimioterápicos mais comumente usados são:
5-fluorouracil, semustine, carmustine e methotrexate
para estádios C.2 Há relatos de bons resultados com
esquema Nigro com 5-fluorouracil e mitomicina e
radioterapia de 4500 cGy para lesões
anorretais.4,7
Apesar da terapia adjuvante não ter
beneficio comprovado, seu uso é teoricamente benéfico.
ABSTRACT: The adenosquamous carcinomas are rare and occur in the lower part of the colon and rectum. Their symptomatology and macroscopy do not differ from adenocarcinoma lesions. We report an adenosquamous rectal tumor which diagnosis was confirmed only after tumor resection and immunocytochemical study.
Key words: Adenosquamous carcinoma, neoplasm, rectum, colon, carcinogenesis.
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of the colon. Report of a case. Cancer 1983; 52: 1122-5.
Endereço para correspondência:
FLÁVIA BALSAMO
Serviço de Coloproctologia do Hospital Heliópolis
R. Cônego Xavier, 276- Vila Heliópolis
04231-030- São Paulo, SP
Tel.: 11- 2274-7600 (ramal 244)
Fax: 11-2247-7646
E-mail: flabal@uol.com.br
Recebido em 05/12/2007
Aceito para publicação em 26/02/2008
Trabalho realizado no Serviço de Coloproctologia do Hospital Heliópolis, São Paulo, SP - Brasil.