ARTIGOS ORIGINAIS
INFLUÊNCIA DA IRRIGAÇÃO DE SOLUÇÕES NUTRICIONAIS NO COLO EXCLUSO DE TRÂNSITO INTESTINAL. ESTUDO EXPERIMENTAL EM RATOS
Influence of Irrigation of Nutritional Solutions in the Colon Excluded of Fecal Stream. Experimental Study in Rats
Carlos Guilherme Giazzi Nassri1; Adriana Bassani Nassri2; Emerson Favero3; Carlos Mateus Rotta4; Carlos Augusto Real Martinez5; Nelson Fontana Margarido6
1 Mestre em Gastroenterologia Cirúrgica pelo Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo. Professor Assistente da Disciplina de Técnica Cirúrgica da Faculdade de Medicina da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), São Paulo; 2 Médica Especialista em Coloproctologia, Mogi das Cruzes, São Paulo; 3 Professor Assistente de Técnica Cirúrgica da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), São Paulo; 4 Professor Responsável pela Disciplina de Coloproctologia da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), São Paulo; 5 Professor Adjunto do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Universidade São Francisco (USF). Chefe do Serviço de Cirurgia Geral do Hospital Universitário São Francisco, Bragança Paulista, São Paulo; 6 Professor Titular de Técnica Cirúrgica da Faculdade de Medicina da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), São Paulo; Professor Livre-Docente do Departamento de Cirurgia da Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo - Brasil.
RESUMO: A colite por exclusão é descrita como processo inflamatório que ocorre nos segmentos colorretais desprovidos do trânsito fecal. A deficiência dos ácidos graxos de cadeia curta vem sendo considerada como principal fator causal. Objetivo: O objetivo do presente estudo foi avaliar, em modelo experimental de colite de exclusão, a importância da irrigação do segmento desprovido de trânsito com soluções nutricionais na prevenção e tratamento do processo inflamatório. Método: Foram utilizados trinta ratos Wistar, machos, com peso inicial variando entre 350 e 500 gramas, submetidos à derivação do trânsito intestinal através da realização de colostomia proximal e fístula mucosa distal. Os animais foram divididos em três grupos de 10 animais segundo a irrigação do segmento excluso de trânsito ter sido realizada, empregando-se: Grupo SF: solução fisiológica a 0,9%; Grupo GH: solução de glicose a 50%; e Grupo AG: solução de ácidos graxos de cadeia curta. Em todos os animais, a irrigação do colo excluso foi realizada em intervalos de quatro dias sendo sacrificados sempre no 21º pós-operatório. Os fragmentos removidos dos segmentos intestinais foram corados pelas técnicas da hematoxilina-eosina e tricrômio de Masson. As variáveis histológicas estudadas foram: espessura da túnica mucosa, congestão vascular; infiltrado inflamatório e a deposição de colágeno. Os resultados encontrados foram submetidos a estudo estatístico considerando nível de significância de 5% (p< 0,05). Resultados: Verificou-se que no grupo onde se irrigou o cólon excluso com solução de ácidos graxos de cadeia curta houve menor congestão vascular, menor infiltrado inflamatório e menor deposição de colágeno quando comparado aos demais grupos experimentais. Conclusão: Os resultados do presente trabalho mostram que a irrigação de segmentos desprovidos de trânsito fecal com ácidos graxos de cadeia curta, encontra-se relacionada à melhora no processo inflamatório decorrente visto na colite de exclusão.
Descritores: Colite; Colostomia; Ácidos graxos de cadeia curta; glicose; metabolismo.
INTRODUÇÃO
O cirurgião freqüentemente na prática diária
é obrigado a realizar cirurgias que derivam o trânsito
digestivo, em decorrência das diversas doenças que
acometem o intestino grosso. O aumento da violência
urbana, bem como a incidência cada vez maior
de neoplasias do cólon, doença diverticular e doenças
inflamatórias intestinais vêm fazendo com que
ocorra aumento proporcional na necessidade de
realizarem-se estomas derivativos. A exclusão intestinal
à Hartmann, às colostomias em alça ou em dupla
boca são exemplos dos procedimentos habitualmente
utilizados em situações de urgência, que determinam
à exclusão de trânsito no segmento intestinal situado
a jusante do estoma derivativo.
Colite de exclusão (CE), colite por desfuncionalização ou colite por derivação é
definida como o processo inflamatório que acomete
segmentos colorretais desprovidos de trânsito
intestinal.(1) A enfermidade foi descrita pela primeira vez em 1981 e,
a partir de então, vem sendo reconhecida com maior
freqüência.(1) A maioria dos enfermos apresenta
evolução assintomática, contudo a doença pode
ser identificada endoscopicamente, em graus variados,
na maior parte dos pacientes submetidos à derivação
intestinal. Nos doentes sintomáticos, a CE
caracteriza-se pela presença de diarréia mucóide, dores
abdominais, tenesmo e eventual perda de sangue pelo
ânus.(2) O desconhecimento dessa entidade clínica, bem
como dos aspectos macroscópicos encontrados na
mucosa do segmento excluso de trânsito, pode fazer com que
a CE seja confundida com outras moléstias
inflamatórias do intestino, possibilitando o emprego de
terapêuticas ineficazes ou a postergação do fechamento
da colostomia.(3)
Diversas teorias foram propostas para explicar a etiopatogenia da CE e, dentre elas, destaca-se
a que relaciona o surgimento da doença com a
diminuição dos ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) na
luz intestinal. Os AGCC representam o principal
substrato energético para o metabolismo dos colonócitos.
No cólon desprovido de trânsito, a ausência de fibras
oriundas da dieta, impede a formação dos AGCC e sua
conseqüente absorção e utilização metabólica
energética pelas células epiteliais da parede cólica. A
deficiência dos AGCC na luz intestinal altera o
metabolismo energético oxidativo do colonócito, formando
espécies reativas de oxigênio, representadas principalmente
pelo radical hidroxila (OH-) que, agredindo a
membrana basal e as junções intercelulares, alteram a função
de barreira epitelial contra a translocação de
antígenos intraluminares, determinando o processo inflamatório.
Ainda existem controvérsias com relação
a melhor opção terapêutica para os doentes que
desenvolvem a CE. No entanto, existem evidências que
o restabelecimento do trânsito intestinal possibilita a
regressão do quadro
inflamatório.(4) Diferentes
opções de tratamento clínico têm sido experimentadas
com intuito de melhorar o processo inflamatório
intestinal, até que os pacientes adquiram condições locais e
gerais, para a realização da reconstituição do trânsito
intestinal. Assim, esquemas terapêuticos
empregando diferentes substâncias têm sido propostos, a
maioria baseando-se na instilação de várias substâncias no
colo excluído. Os ácidos graxos de cadeia
curta(3,5), soluções salinas
(5); derivados aminosalicílicos e
corticóides (6); e glicose hipertônica
(1)representam algumas das substâncias anteriormente empregadas. Com o
objetivo de comparar a eficácia destas substâncias no
tratamento da CE, vários centros, ensaiaram modelos
experimentais de colite mostrando, contudo,
resultados conflitantes.(7, 8, 9,10)
O objetivo do presente estudo é comparar
em um modelo de experimental de CE, a eficácia da
infusão intra-retal de diferentes soluções nutricionais
para o tratamento das alterações histopatológicas da
parede cólica em segmentos desprovidos de trânsito
intestinal.
MÉTODO
Utilizaram-se 30 ratos da raça Rattus Norvegicus
Berkenhout da variedade Wistar, machos, com peso inicial variando entre 350 e 500
gramas, correspondendo a 14 semanas de vida, mantidos
em gaiolas individuais em sistema alternado de
claro/escuro, em temperatura ambiente de 22°C, alimentados
com ração específica e balanceada (Nuvital
Nutrientes®, Paraná, Brasil),
ad libitum. Os ratos foram divididos em três grupos de 10 animais cada, sendo que o
processo de inclusão para cada grupo foi realizado de
forma aleatória. Os grupos experimentais foram
denominados de acordo a substância que seria utilizada
da irrigação cólica, a saber: Grupo SF: Irrigação com
soro fisiológico; Grupo GH: Irrigação com
glicose hipertônica, e Grupo AG: Irrigação com ácidos
graxos de cadeia curta.
Após aclimatação ao ambiente de
laboratório durante 72 horas, os animais permaneceram em
jejum prévio de 12 horas, recebendo apenas água
ad libitum. Os animais foram anestesiados com associação
de cloridrato de zolazepan e cloridrato de tiletamina
(Zoletil 50® - Virbac) numa proporção de 1:1, aplicada por
via intramuscular na pata posterior direita do animal,
na dose de 50 mg/Kg peso corpóreo, o que
corresponde ao volume de 0,1 ml da solução para cada 100
g/peso do animal. O preparo da parede abdominal foi
realizado por meio de tricotomia e aplicação
de polivinilpirrolidona-iodo. Procedeu-se a
laparotomia através de incisão mediana próxima ao hipogástrio
numa extensão máxima de três centímetros em sentido
longitudinal. Após inventário da cavidade,
identificava-se o colo, que foi exteriorizado em sua porção média
do arco cólico, e com auxílio de paquímetro metálico,
aferia-se o diâmetro do colo. Esse segmento do colo
foi então seccionado e acondicionado em frasco com
solução de formol a 10%, constituindo-se como
parâmetro de colo normal (controle). Através da boca cólica
distal, foi realizado método de limpeza mecânica
anterógrada intra-operatória
(10), com a intenção de deixar o
segmento distal sem resíduos fecais que poderiam
interferir sobre o metabolismo do colonócito. Após a
completa limpeza do colo distal, foram confeccionadas
contra-aberturas transversais com cinco milímetros de
diâmetro, interessando todos os planos da parede
abdominal em ambos os flancos. No flanco esquerdo, exteriorizou-se a boca do colo excluído (distal),
realizando-se colostomia terminal com maturação
precoce. Pela contra-abertura do flanco direito,
exteriorizou-se o segmento cólico com trânsito intestinal
(proximal), confeccionando-se a colostomia com a mesma
técnica. Os controles pós-operatórios foram realizados
a cada quatro dias (desde o procedimento inicial até
o 21° pós-operatório), com interesse principal às
seguintes condições: peso corpóreo; colostomias e ferida
operatória.
De acordo com seu grupo experimental realizou-se irrigação através da colostomia distal, com
as seguintes soluções: Grupo SF: Solução de cloreto
de sódio a 0,9%; Grupo GH: Solução de glicose
hipertônica a 50%; Grupo AG: Solução de ácidos graxos de
cadeia curta (butirato, acetato e propionato, na proporção
de 3:2:1 como descrito por Harig et al., em
1989.(5)
As irrigações foram realizadas com os
animais anestesiados, no quarto, oitavo, 12°,
16° e 20° pós-operatórios. Através da introdução de sonda de Levine
n° 10 na colostomia do segmento excluído de trânsito,
a irrigação foi feita de maneira suave e contínua até
a instilação completa de seis mililitros da solução
previamente definida para cada grupo, na temperatura
de 25°C. Após a irrigação, os animais foram
recolocados em suas gaiolas individuais, e oferecida ração e
água ad libitum.
No 21° pós-operatório, os animais foram
sacrificados por meio da inalação de dose fatal de
éter etílico. Verificaram-se, inicialmente, as condições
das estomias proximal e distal, bem como da ferida
operatória. A inspeção da cavidade foi empreendida
com especial interesse para achados cirúrgicos
anormais representados por aderências, abscessos e
coleções líquidas intra-cavitárias. Foram desfeitas as
aderências encontradas, e com auxílio de paquímetro,
mediu-se o diâmetro do colo a um centímetro da
face interna da parede abdominal, no tocante ao colo
correspondente as colostomias no trânsito (proximal)
e exclusa dele (distal). Concluída esta etapa,
terminou-se a dissecação de todo colo em sentido
proximal e distal, sendo as colostomias retiradas em
conjunto com a parede abdominal, em peças cirúrgicas
únicas. Os segmentos extirpados foram
acondicionados em frascos separados, devidamente
identificados e fixados em formol a 10% para posterior
análise histológica.
As peças correspondentes ao colo
considerado normal (controle), ou seja, retiradas durante
procedimento cirúrgico inicial, e os segmentos proximal
e distal, correspondentes ao 21° pós-operatório,
foram emblocadas em parafina e coradas pelas técnicas
da hematoxilina-eosina e tricrômico de
Masson(2). As lâminas foram estudadas por meio de microscopia
óptica convencional, no tocante às seguintes variáveis:
altura da túnica mucosa; congestão vascular;
infiltrado linfoplasmocitário; deposição de colágeno. Todas
as lâminas foram analisadas por um histologista e dois
cirurgiões. Para cada variável as comparações
foram quantificadas em cruzes, a saber: 0 _ ausente; +
presença discreta; ++ presença significativa; +++
presença moderada e ++++ presença intensa.
Quanto à altura da túnica mucosa, o
padrão sempre foi à condição normal (controle), que
recebeu a graduação de 10 pontos. Do mesmo modo, as
variações foram estimadas em cruzes, para maior ou
menor altura. Para cada cruz atribui-se o valor de dois
pontos, somados ou subtraídos do valor estabelecido inicial
(controle), conforme o achado histológico.
Os dados deste trabalho foram estatisticamente analisados mediante um nível de significância
adotado de 5% (a0,05). Desta forma, os valores calculados
de probabilidade de erro "p", quando p
£ 0,05, foram considerados estatisticamente significantes
(*). Os modelos utilizados no cálculo foram predominantemente
não paramétricos, tendo-se em vista a mensuração de
caráter subjetivo de algumas variáveis e também o
número de casos de cada grupo. Utilizaram-se a
média aritmética para todas as variáveis, acrescido de
desvio padrão para os dados do peso corpóreo e do
diâmetro intestinal, e os testes de Kruskal-Wallis,
Mann-Whitney, ANOVA, Friedman e Wilcoxon.
RESULTADOS
Peso Corpóreo
Os valores mensurados do peso dos animais são mostrados na Tabela 1. Não houve variações
estatisticamente significantes entre o peso dos animais,
nos diferentes grupos estudados, porém quando este
foi avaliado entre os diferentes tempos de estudo,
observou-se variação estatisticamente significante,
indicando queda inicial abrupta do peso, do inicial ao dia
sete, em seguida queda menos acentuada entre os dias
sete e 14, com tendência de estabilização entre os dias 14
e 21.
DISCUSSÃO
As tentativas prévias de se criar um
modelo experimental para estudar as colites apresentaram
êxito limitado.(11) Nenhum modelo animal atualmente
utilizado é perfeito e, tentativas experimentais de se criar
no animal um modelo humano de colite, utilizando a
infusão retal de agentes químicos tóxicos, tais como o
ácido acético, ácido trinitrobenzeno sulfônico (TNBS)
ou o sulfato sódico de dextran (DSS), são limitados na
sua capacidade de reproduzir fielmente a doença nos
seus aspectos psicológicos, fisiológicos, genéticos,
ambientais que antecedem e contribuem para a patogênese
da doença.(12) Assim sendo, estes modelos
experimentais representam apenas em parte o que ocorre nas
colites. De modo diferente, a exclusão do trânsito intestinal
é modelo experimental facilmente reprodutível em
animais e apresenta paralelismo com o que acontece
com o ser humano. Animais submetidos à exclusão do
trânsito intestinal também desenvolvem alterações
inflamatórias na mucosa cólica semelhantes ao que
ocorre no homem.(10) A similaridade entre a CE observada
em animais de experimentação e no homem permite
maior segurança na interpretação das alterações
histológicas, bioquímicas e genéticas encontradas. Assim
sendo, modelos experimentais de CE possibilitam maior
precisão na avaliação de diversas estratégias
terapêuticas que visam melhorar a inflamação da mucosa cólica.
No presente estudo, a opção pelo rato
como animal de experimentação deveu-se, inicialmente, à
sua facilidade de controle e manipulação, tolerância à
dieta padronizada oferecida e resistência natural a
infecções. Importante ressaltar a similaridade em relação ao
homem, quanto à estrutura da camada submucosa
e microflora fecal.(13) A maioria das pesquisas
experimentais relativas a CE empregaram o ratos como
animal de experimentação.(7, 8, 9, 14, 15, 16,
17) No modelo experimental proposto optou-se pela confecção
das colostomias em ambos os flancos, pois esta
disposição facilitava as irrigações realizadas ao longo do
pós-operatório. A adoção de segmento de colo excluso
relativamente longo (quatro centímetros) permitiu
irrigação com volume considerável (seis mililitros) sem que
houvesse extravasamento do conteúdo ao redor do
estoma ou do orifício anal, nos animais estudados. O
modelo adotado utilizando colostomia proximal e fístula
mucosa distal parece ser superior ao procedimento
proposto por Hartmann, pois não existe o risco de
promover aumento da pressão intraluminal no segmento
intestinal excluso de trânsito quando da irrigação, o que
poderia aumentar a pressão na linha de sutura
confeccionada para o fechamento do coto distal, bem
como também prejudicar a mucosa cólica. Desta
maneira, qualquer volume a mais do que o correspondente
à capacidade receptiva do colo excluído, extravasaria
pelo orifício anal.
O método de limpeza mecânica
anterógrada intra-operatória do segmento excluído também
merece destaque. É de fundamental importância
ressaltar-se que uma condição uniforme de limpeza,
possibilita, desde o início, condição igual para todos os
animais nos diferentes grupos
experimentais.(10) Some-se a isso o fato de que muitos autores mostraram que o
conteúdo fecal pode determinar alterações locais,
influenciando nas condições de reação inflamatória, bem
como na proliferação bacteriana no interior do
segmento excluso.(7, 19, 20, 21, 22)
Revisão da literatura mostra que o período
de derivação do trânsito fecal nas pesquisas
experimentais com ratos objetivando o estudo de
alterações histológicas encontradas na colite por exclusão,
são extremamente variáveis, indo de cinco dias a 17
semanas.(7, 8, 9, 14, 15) Na presente pesquisa optou-se pelo
tempo de observação de três semanas, período de tempo
intermediário em relação aos estudos encontrados na
literatura, mas suficiente para promover o
aparecimento da doença. Os achados cirúrgicos por ocasião
do sacrifício dos animais, bem como os
estudos histológicos, demonstraram que este intervalo de
tempo adotado foi suficiente para induzir alterações
inflamatórias no segmento de intestino grosso excluído
do trânsito fecal.
Estudos clínicos inferiram que soluções de
ácidos graxos de cadeia curta, poderiam fornecer
o substrato energético necessário para auxiliar na
cicatrização de processos inflamatórios
cólicos.(5) Diferentemente do que acontece no intestino delgado, no
colo caso exista menor suprimento de ácidos graxos de
cadeia curta, essa deficiência pode ser suprida por
corpos cetônicos oriundos da
circulação.(23) Quanto a
outros aspectos funcionais, sabe-se que os ácidos
graxos de cadeia curta aumentam absorção de água e de
sódio da luz intestinal. (24,
25) Estudos experimentais imputaram à glicose hipertônica, fatores positivos na
cicatrização de
anastomoses.(19) Outras pesquisas em
ratos concluíram que instilação de soluções com
concentração elevada de glicose na luz do colo apresenta
efeito protetor quanto a prevenção do aparecimento
de neoplasias.(26)
No presente estudo, a análise do
comportamento da altura da túnica mucosa foi uniforme quando
se consideraram os grupos experimentais propostos. Quando os diferentes segmentos cólicos
(controle, proximal e distal) foram analisados
separadamente, constatou-se diferença estatisticamente
significante entre eles no que se relaciona a altura da
camada mucosa. Quando se comparou os segmentos de
colo independentemente do grupo considerado,
observou-se que no segmento proximal, ao final de 21 dias,
ocorria aumento da altura da túnica mucosa, que
variava de 36 a 40% em comparação com segmentos
obtidos no controle. Por outro lado, quando se analisou a
evolução desse mesmo parâmetro com relação ao
segmento distal, constatou-se diminuição, nesse último
segmento, que variava de 37 a 43%. Essa diminuição
encontrada encontra-se de acordo com outros
estudos anteriormente publicados. (3, 8, 9, 17, 25, 27, 28, 29)
A totalidade das alterações histológicas,
que ocorrem na colite de
exclusão(30), não foi
identificada no presente estudo, provavelmente em decorrência
do curto espaço de tempo de observação
considerado. Pode-se imaginar que com maior tempo de exclusão
e a manutenção da condição de derivação intestinal,
poderiam encontrar-se alterações histopatológicas
mais acentuadas, aproximando-se com achados
observados por outros autores.
Ao considerar-se a presença de
congestão vascular, encontrou-se comportamento histológico
diferente no segmento distal, do grupo irrigado com
solução de ácidos graxos de cadeia curta quando
comparados aos demais grupos. Naqueles animais
constataram-se menores índices de congestão vascular,
alterações estas com importante significado. Estudos
experimentais também verificaram congestão vascular
no segmento de colo excluído do trânsito, resultados
esses que coincidem com os achados do grupo
irrigado com solução fisiológica e glicose
hipertônica.(8) Os resultados da presente pesquisa no que dizem respeito
à presença de congestão vascular no segmento
cólico desprovido de trânsito, evidenciaram menor
congestão vascular no grupo irrigado com os ácidos graxos
de cadeia curta permitindo concluir que existe um
efeito protetor destes nutrientes na prevenção de
congestão vascular sobre a submucosa da parede do
colo desfuncionalizado.
Quando se avaliou a presença de infiltrado
inflamatório, constatou-se que no segmento cólico
controle, existia diferença significante em relação aos
valores do início do estudo, porém este achado não
apresenta significado científico. Por outro lado, quando
se procedeu à comparação entre os grupos ao longo
do tempo de exclusão, encontrou-se aumento
significativo na intensidade do infiltrado inflamatório. Na
análise entre segmentos do colo, verificou-se
aumento significante quanto à presença de infiltrado
inflamatório nos segmentos distais, porém em menor
intensidade no grupo irrigado com ácidos graxos. Esses
achados indicam que a exclusão do trânsito digestivo
implica no aparecimento de maior quantidade de
infiltrado inflamatório, mostrado pelo maior
comprometimento deste segmento intestinal. Por outro lado, no grupo
irrigado com ácidos graxos de cadeia curta, houve
redução do processo inflamatório na
porção desfuncionalizada do colo corroborando o papel
protetor destas substâncias.
Pode-se argumentar que o comportamento do infiltrado inflamatório entre os grupos
experimentais considerados, nos diferentes segmentos de colo, foi
similar aos achados da literatura, e desta maneira,
afirmar que, além do modelo experimental de colite
por exclusão ter sido alcançado, a utilização de
ácidos graxos de cadeia curta funcionou como um fator
de diminuição do processo inflamatório sobre a
mucosa colônica.(7, 8 29, 31)
O presente estudo encontrou variação
estatisticamente significante nos grupos irrigados com
ácidos graxos de cadeia curta no tocante a menor
deposição de tecido colágeno, demonstrando que estes
ácidos voláteis diminuíam a quantidade de colágeno na
parede cólica. Estudos realizados em ratos considerando
o metabolismo do colágeno no intestino grosso
observaram que no período pós-operatório, existe aumento
da síntese de colágeno quando os animais são nutridos
com rações com baixo teor de resíduos quando
comparados a ratos nutridos com ração normal de
laboratório. Concluiu-se que o conteúdo intestinal é um
importante fator, e que estimularia a produção de
colágeno.(14) Outros autores chamam a atenção para uma nova
forma de colite onde ocorre maior quantidade de
colágeno no segmento intestinal excluído do trânsito
digestivo.(31) Ainda no campo experimental, estudos em ratos
avaliando a influência de infusão de ácidos graxos sobre
o colo excluído do trânsito, demonstraram que essa
estratégia possui grande valor ao promover o
aumento da síntese de
colágeno(20).
CONCLUSÃO
A irrigação do colo excluído com
solução de ácidos graxos de cadeia curta ao fim de 21
dias, promoveu diminuição do processo inflamatório
em segmentos desprovidos de trânsito intestinal. Os
resultados obtidos em relação à evolução da
congestão vascular e infiltrado inflamatório nos
diferentes grupos de estudo, sugerem que os ácidos
graxos de cadeia curta possuem efeitos benéficos sobre
o colo desfuncionalizado. Do mesmo modo, ao analisarem-se as mensurações de tecido colágeno,
verificou-se diminuição nos segmentos distais do
grupo irrigado com ácidos graxos de cadeia curta,
o que, por inferência, permite concluir a
possibilidade da relação entre reação inflamatória na
parede cólica e deposição de colágeno na submucosa.
Estudos complementares devem ser realizados para elucidação desses aspectos histológicos, que
poderiam estar relacionados à fisiopatologia da
colite por exclusão.
ABSTRACT: Diversion colitis is described as an inflammatory process that occurs in the colorectal segments excluded of the fecal stream. The deficiency of the short-chain fatty acids inside of intestinal lumen was considered the main etiologic factor. Aim: The aim of the present study was valued, in experimental model of diversion colitis, the importance of the irrigation of the segment without fecal stream with nutritional solutions in prevention and treatment of the colic mucosa inflammation. Method: There were used thirty Wistar males rats, with initial weight varying between 350 and 500 grammas, submitted to the derivation of the fecal stream through proximal colostomy and distal mucous fistula. The animals were divided in three groups with 10 animals according to the irrigation of the excluded colic segment had been carried out with: SF Group: 0.9 % physiologic solution; GH Group: hypertonic glucose solution of 50 % and AG Group: solution of short-chain fatty acids. In all the animals, the irrigation of the excluded colon was carried each four days and the animals were sacrificed ever in 21st post-operative day. The removed fragments of the intestinal segments were colored by the techniques of hematoxylin-eosin and Masson trichromium. The histological variables studied were: thickness of the mucous layer, vascular congestion; inflammatory infiltrate and the level of tissue collagen. The considered results were subjected to statistical study considering signification level of 5 % (p <0.05). Results: The obtained results showed that in the group where the excluded colon was irrigated with solution of short-chain fatty acids there was less vascular congestion, less inflammatory infiltrated and less collagen deposition when compared to another experimental groups. Conclusion: The results of the present study indicate that in the group receiving the short-chain fatty acid solution there was a decrease in the inflammatory infiltrate and the vascular congestion, as well as a reduction in the deposition of collagen tissue. The irrigation of segments without fecal stream with short-chain fatty acids it improves the inflammatory process found in the diversion colitis.
Key words: Colitis; colostomy; short-fain fatty acids; glucoses; metabolisms.
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Endereço para correspondência:
Carlos Guilherme Giazzi Nassri
Rua Coronel Cardoso Siqueira, 3232, Quadra 28, lote 7.
Mogi das Cruzes - São Paulo.
Caixa Postal 274.
E-mail: guilhermito@hotmail.com
Recebido em 30/05/2008
Aceito para publicação em 19/06/2008
Trabalho realizado na Disciplina de Técnica Cirúrgica da Faculdade de Medicina da Universidade de Mogi das Cruzes e apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Gastroenterologia Cirúrgica do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo, "Francisco Morato de Oliveira" (HSPE-FMO) para obtenção do Título de Mestre em Gastroenterologia Cirúrgica - São Paulo - Brasil.
Conflito de interesses: Nenhum
Fonte de financiamento: Fundação de Amparo ao Ensino e a Pesquisa (FAEP).