ARTIGOS ORIGINAIS
VISIBILIDADE EM COLOPROCTOLOGIA ESTÁ CORRELACIONADA COM ATIVIDADE EM PESQUISA
Visibility in Colorrectal Surgery is Related with Research Activity
ANTONIO SÉRGIO BRENNER1; VANESSA ZENI DE LIMA2; MICHELE VARASCHIM2; PAOLA ZARUR VARELLA2; BRUNO ZENI DE LIMA3; SÉRGIO BRENNER4
1 Professor Adjunto e Médico do Serviço de Coloproctologia do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba; 2 Residente do Serviço de Coloproctologia do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba; 3 Residente do Serviço de Cirurgia Geral do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba; 4 Professor Adjunto e Chefe do Serviço de Cirurgia Geral do Hospital Evangélico de Curitiba - Paraná - Brasil.
Resumo: Introdução: O objetivo do presente estudo foi avaliar a influencia da atividade médica em pesquisa, com a exposição que o coloproctologista tem nos congressos da Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP). Métodos: Comparamos o número de publicações em revistas indexadas ao Medline e Lilacs de cada palestrante dos últimos cinco congressos da SBCP, com o número de publicações de médicos sócios não palestrantes, selecionados aleatoriamente. A pesquisa incluiu o ano de 1965 até 2005, respeitando o mesmo tempo de formado e estado de atuação profissional. Resultados: Foram selecionados um total de 13 conferencistas e 88 palestrantes dos últimos 5 congressos da SBCP, que foram comparados com 102 médicos sócios não palestrantes da SBCP. Os palestrantes publicaram mais trabalhos científicos que os não palestrantes (p<0,0009), e os conferencistas produziram estatisticamente mais publicações (p<0,0009). Maior visibilidade foi observada em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais (71,8%, 6,5% e 6,5% dos palestrantes respectivamente), e maior atividade científica foi observada entre 20 e 40 anos de atividade profissional. A grande maioria das publicações foi em revistas nacionais, especialmente na revista da SBCP (aproximadamente 45%). Conclusão: A exposição do médico como convidado nos congressos da SBCP e o volume de produção científica estão correlacionados.
Descritores: Relações interpessoais; liderança; visibilidade.
INTRODUÇÃO
O destaque que o médico alcança durante
sua carreira profissional, é resultado de sua atuação
clínica, suas realizações e posição profissional que
ocupa. Assim como ocorre em qualquer atividade, a
posição, remuneração e o reconhecimento entre seus pares,
é fruto de trabalho intenso e do talento natural de
cada profissional(1, 2).
O sucesso profissional tem como
conseqüência o inevitável convite para eventos, entrevistas
e matérias em meio jornalístico leigo. Através da
intensidade e qualidade da produção científica, seria
possível diferenciar o profissional de destaque, entre os
convidados apenas bem relacionados e com
conhecimento teórico insuficiente ou produção profissional
irrelevante. A atividade em pesquisa se traduz principalmente
pelo número de publicações, fator de impacto da revista
e pelo número de citações que o autor recebeu(3).
Por outro lado, a produtividade científica é apenas um
aspecto dos desafios que a evolução da medicina
experimenta. Médicos com grande experiência prática
não devem ser desqualificados, e tem uma grande
contribuição a oferecer.
Entre os médicos, ser convidado como palestrante em congresso é também receber
destaque especial. Em congressos médicos, existe um
sentimento velado de que alguns dos palestrantes seriam
convidados por relacionamento pessoal ou indicação de
conveniência política. O palestrante ganha visibilidade
e até forma opinião entre seus colegas. Nos casos
de grande envolvimento, torna-se referência com
repercussões em seu consultório particular.
O objetivo do presente estudo foi avaliar a relação da atividade médica em pesquisa, com a
exposição que o coloproctologista tem nos congressos
da Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP).
MÉTODOS
Entendemos como visibilidade a exposição
do médico aos seus colegas, ao ser convidado
como palestrante em eventos médicos.
Analisamos os programas científicos dos
últimos 5 Congressos Brasileiros de Coloproctologia, e
selecionamos os palestrantes brasileiros convidados para
atuarem como conferencistas ou palestrantes nas sessões de
mesa redonda nos últimos cinco congressos da SBCP.
Excluímos o congresso realizado em 2007. Ano em que
apresentamos esse trabalho, e teve um dos autores em
sua comissão organizadora. Após essa etapa,
selecionamos aleatoriamente e por pareamento, outros membros
(associados ou titulares) da sociedade, mas não
palestrantes. Na alocação dos grupos, respeitamos
uma proporcionalidade por estado e por tempo de formatura.
Foram pesquisados os artigos publicados em revistas indexadas ao Medline e Lilacs por todos
os médicos selecionados, entre os anos de 1965 até
2005. Avaliamos a atividade em pesquisa através da
contagem simples do número de publicações nas
revistas indexadas para cada profissional. O número de
publicações dos palestrantes (conferencistas e
participantes em mesa redonda) foi comparado com o
número de publicações de médicos também sócios da
SBCP, mas não-palestrantes.
Utilizamos o teste estatístico t de "student"
para comparação dos grupos adotando-se nível
de significância para p<0,05.
RESULTADOS
Foram selecionados um total de 13 conferencistas e 88 palestrantes dos últimos 5 congressos
da SBCP, que foram comparados com 102 médicos
sócios da SBCP mas não palestrantes.
Os 13 conferencistas publicaram um total de 325 trabalhos (média de 25 artigos cada), e os
88 palestrantes em sessões de mesa redonda, 722
trabalhos (média de 8,2 artigos cada). O grupo
comparativo de 102 médicos não-palestrantes publicaram um
total de 235 trabalhos (média de 2,3 artigos cada).
Os médicos palestrantes (conferencistas
+ palestrantes de mesa redonda) publicaram
estatisticamente mais trabalhos científicos que os sócios da
SBCP não palestrantes - média de 11,62 publicações para
cada palestrante e 2,36 por membros da SBCP
não palestrantes (p<0,0009). Os palestrantes
conferencistas, quando isoladamente avaliados, produziram
estatisticamente mais publicações quando comparados
ao grupo de palestrantes de mesas redondas - média
de 25 X 8,2 publicações (p<0,0009).
Maior atividade científica foi observada em
SP, e nos médicos entre 20 e 40 anos de formado. A
maior visibilidade (convite como palestrante) em
congressos foi dos paulistas com 71,8%, seguido pelos
palestrantes dos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais
com 6,5% cada. O estado de São Paulo obteve também
a maior média de trabalhos publicados por
profissional com 12,8 publicações, seguido por Santa Catarina
(10 publicações), Paraná (6,7 publicações) e Ceará
(6,6 publicações). (Tabela 1)
Gráfico 1 - Publicações em revistas dos palestrantes. |
Gráfico 2 - Publicações em revistas dos não-palestrantes. |
DISCUSSÃO
Um melhor desempenho, mesmo que discreto, confere ao vencedor todos os créditos e
benesses(4). O profissional de sucesso transmite benefícios
simultâneos(5) e no caso dos médicos, os beneficiários
seriam eles mesmos (de forma pessoal), os pacientes
em geral e os médicos que com maior conhecimento
adquirido, evoluem em sua carreira. No Brasil, a
pesquisa pouco atrai os médicos envolvidos
exclusivamente em assistência. O hábito de manter um banco de
dados, publicar seus resultados e discuti-los com a
literatura, mantém o cirurgião atualizado e o
diferencia, direcionando sua prática à uma área específica.
Com o maior conhecimento adquirido e com interesse
focado em um assunto particular, o médico tem o potencial
de tornar-se um expert com condições de propor
refinamentos técnicos ou novos tratamentos.
Número de publicações, citações
recebidas pelo autor e fator de impacto da revista em que o
trabalho foi publicado trazem uma boa noção da
intensidade e qualidade da produção científica do autor.
Trabalhos de visibilidade internacional (listadas no
Science Citation Index database) ou local da publicação
(publicações em língua nativa de revistas não
indexadas), somam-se ao número de citações recebidas e
fator de impacto da revista, e podem ser
facilmente acessados na internet. Esses dados são
usualmente utilizados em seleção profissional, para
financiamento de pesquisa, e estão relacionados à exposição
do profissional (3).
A visibilidade que forma opiniões sofreu
grande interferência recente. Com a informática e
disponibilidade da internet na mesa do consultório, o
médico pode acessar artigos, consensos ou opiniões de
diversos autores. Murali e cols. (2004)
demonstraram que os artigos com resumo ou texto completo
disponíveis na Internet, aumentam o fator de impacto
da revista. Não é só no congresso que o médico tem
a possibilidade de aumentar sua visibilidade e
formar opinião(6). A web tem um poder ainda a ser
adequadamente avaliado.
O estado de São Paulo representa
aproximadamente 30% dos associados à SBCP, mas teve um
de seus membros convidado como palestrante em mais de 70% dos congressos da SBCP. Mesmo
considerando-se o maior número de associados, a maior
exposição que o cirurgião paulista recebe deve-se ao seu
grande desenvolvimento científico e provavelmente,
ao ambiente competitivo de suas instituições. Fato
esse corroborado pelo maior número de publicações. O
dobro do segundo estado que mais publicou no
período. Existe portanto, uma relação entre atividade em
pesquisa e destaque profissional.
Estratificamos os grupos de cada estado por tempo de formatura dos associados. Não foi
possível obter-se a idade de cada profissional. Evitamos
assim, comparações entre médicos com tempo de
atuações profissionais muito distintas. Um coloproctologista
recém saído da sua residência, dificilmente seria
um palestrante no congresso da SBCP, e certamente
teria menor número de publicações que um médico
sênior lotado em um serviço de grande volume de
publicações.
Uma tendência observada em congressos recentes é dar exclusividade à convidados
internacionais nas sessões de conferência. Os poucos
palestrantes nacionais seriam médicos de grande renome e
experiência, habitualmente com um volume grande
publicações. De uma forma geral, conferencistas
nacionais participariam das sessões de mesa redonda ou
painel. Por esse motivo, identificamos apenas 13
conferencistas nos últimos 5 anos, contra 88 palestrantes em
mesa redonda.
Os nossos resultados demonstram que a Sociedade Brasileira de Coloproctologia busca cada
vez mais os profissionais cientificamente qualificados.
Essa conduta estimula os novos membros a buscar
uma maior qualificação, e dá segurança aos
congressistas, que podem confiar na existência de um critério
técnico na escolha dos palestrantes.
CONCLUSÃO
A exposição do médico como convidado nos congressos da SBCP e o volume de
produção científica estão correlacionados. Os
Serviços credenciados pela SBCP devem incentivar e
financiar a pesquisa. A revista da SBCP serve como
meio de divulgação adequado pois é onde a maioria
dos membros da nossa sociedade apresenta seus
resultados.
Abstract: Introduction: The aim of the present study was to evaluate the influence of medical research with the exposition that the colorectal surgeon has in the Brazilian colorectal society national congress (SBCP). Methods: We selected all the Brazilian presenters from conferences and round tables sessions of the last 5 national congresses. Presenter's number of publications in journals indexed in Medline and Lilacs were compared to non-presenters surgeons randomly selected. The research included years 1965 to 2005. Groups were selected respecting age and state. Results: Thirteen congress participants and 88 presenters were selected and compared with 102 non-presenters from the SBCP. Presenters published significantly more scientific papers than non-presenters surgeons. More visibility were observed in São Paulo, Rio de Janeiro and Minas Gerais state (71,8%, 6,5% and 6,5% of the presenters respectively), and more research activity was observed in doctors graduated 20 to 40 years ago. The vast majority of publications were printed in national journals, especially in the SBCP journal (near 45%). Conclusion: The doctor exposition as a presenter in the Brazilian National SBCP Congress and publication volume is correlated.
Key words: Interpersonal relations; leadership; visibility.
Referências
1. McConnell CR. Balancing inside and outside: preparing
for tomorrow while fulfilling today's responsibilities. Health
Care Manag (Frederick). 1999 Dec;18(2):73-82.
2. Strickland B, Arnn J. Orientation on
understanding interpersonal influence. J Am Diet Assoc.
1977 Sep;71(3):229-34.
3. Bordons M, Zulueta MA. [Evaluation of the scientific
activity through bibliometric indices]. Rev Esp Cardiol.
1999 Oct;52(10):790-800.
4. Reynolds TM, Wierzbicki AS. Does activity in
research correlate with visibility? J Clin Pathol.
2004 Apr;57(4):426-7.
5. Friedman SD. Be a better leader, have a richer life. Harv
Bus Rev. 2008 Apr;86(4):112-8, 38.
6. Murali NS, Murali HR, Auethavekiat P, Erwin
PJ, Mandrekar JN, Manek NJ, et al. Impact of FUTON
and NAA bias on visibility of research. Mayo Clin Proc.
2004 Aug;79(8):1001-6.
Endereço para correspondência:
Dr. Antonio Sérgio Brenner
Rua de Paz, 156 - Curitiba - PR - Brasil
80060-160
Tel / FAX: 55 41 32634474
E-mail: drbrenner@iadcuritiba.com.br
Recebido em 23/06/2008
Aceito para publicação em 03/07/2008
Trabalho realizado no Serviço de Coloproctologia do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba e Instituto do Aparelho Digestivo de Curitiba. Curitiba-PR - Brasil.