Sociedade Brasileira de Coloproctologia alerta para importância de diagnóstico e tratamento. Doenças são mais incidentes em pessoas entre 15 e 40 anos
As doenças inflamatórias intestinais (DII) atingem mais de 5 milhões de pessoas em todo o mundo, e no Brasil tem sido observado nos últimos anos um aumento no número de casos novos (incidência).
Para conscientizar sobre as DII, que compreendem principalmente a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa, e alertar sobre a importância do diagnóstico precoce, a Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP) abraça a campanha Maio Roxo. O mês é dedicado às DII porque em 19 de maio é celebrado o Dia Mundial das Doenças Inflamatórias Intestinais.
“No nosso país a prevalência das doenças inflamatórias intestinais varia de 12 até próximo a 55 em cada 100 mil habitantes, dependendo da região e do estudo epidemiologico. Observa-se uma maior concentração principalmente no Sudeste e no Sul, relacionando-se com índice de desenvolvimento humano e à urbanização. Estamos observando com o passar das décadas, uma tendência no aumento desta incidência nos países em desenvolvimento semelhante ao que foi observado nos países desenvolvidos ”, alerta Dr. Rogerio Saad-Hossne, membro titular da SBCP e da Comissão DII – SBCP.
Fatores de risco
As doenças inflamatórias intestinais são mais frequentes em adolescentes e adultos jovens (15 a 40 anos). As causas ainda são desconhecidas, mas sabemos que ela é multifatorial, acredita-se que elas estejam relacionadas a fatores genéticos, imunológicos, ambientais, alimentação, alteração da flora intestinal (disbiose intestinal) entre outros. A existência de membros na família com DII também aumenta as chances de um indivíduo apresentar o problema. O tabagismo é outro fator de risco de grande importância, há evidências científicas de que fumar pode ser considerado fator de risco para o desenvolvimento e agravamento da doença de Crohn.
Sintomas
Enquanto a retocolite ulcerativa acomete somente o colon e reto, a doença de Crohn pode atingir todo o trato digestório (desde a boca até o ânus), sendo mais prevalentes no intestino delgado (Ileo), colon e região perianal. Como sabemos, na retocolite ulcerativa apenas as camadas mais internas que revestem o intestino (mucosa e submucosa) estão acometidas e inflamadas. Já na doença de Crohn, todas as camadas intestinais (mucosa, submucosa, muscular e serosa) podem estar comprometidas pela doença e pela inflamação.
Diarreia crônica, com períodos de melhora e piora, ou recorrentes com presença sangue e muco ou pus associadas a cólicas abdominais, flatulência, urgência evacuatória, falta de apetite, fadiga e emagrecimento costumam ser os sintomas mais frequentes. Os casos mais graves podem ser acompanhados de anemia, febre, desnutrição e distensão abdominal.
Sendo estes sinais de alarme ao médico e coloproctologista que atendem estes pacientes
Cerca de 15 a 30% dos pacientes com DII podem apresentar manifestações extraintestinais como dor nas articulações (reumatológicas) , lesões de pele (dematológicas) e oftalmológicas, outro ponto a ser investigado e questionado durante a consulta.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico das DII é realizado por meio de análise da história clínica, exames laboratoriais, endoscópicos (endoscopia digestiva alta, colonoscopia) com biópsias e radiológicos (tomografia ou ressonância magnética). Neste sentido a ileocolonoscopia tem um papel fundamental neste diagóstico.
As DIIs não têm cura, mas o tratamento permite a resposta e a remissão clínica, ou seja, fazem com que o paciente controle o processo inflamatório e a doença e desta forma não apresentem sintomas.
“O tratamento é dividido basicamente em 2 momentos indução da remissão e manutenção; Na indução, pode ser iniciado, na dependência do seu quadro clinico e gravidade, com anti-inflamatórios tópicos (derivados salicílicos) e/ou corticóides e até mesmo a terapia biológica/ pequenas moléculas ; estas medicações seguem, em geral, uma sequência progressiva. Na fase seguinte (manutenção) as medicações utilizadas podem ser as mesmas, com exceção dos corticoide, podendo fazer-se o uso de imunossupressores, em especial a azatioprina, associada ou não a terapia biológica.
A terapia biológica consiste no uso de anticorpos monoclonais com alvos específicos, feitos a partir de uma síntese proteica complexa, cujas vias de administração podem ser a via endovenosa e/ou subcutânea. Felizmente temos observado novas drogas, com mecanismos de ação diferentes nos últimos anos. Dispunhamos inicialmente do bloqueadores anti-TNF alfa e hoje temos inibidores da anti-integrina e anti-interleucina, cujos mecanismos de ação são mais seletivos. Da mesma forma, nos últimos três anos tivemos a chegada das pequenas moléculas para o tratamento das doenças imunomediadas, estas são compostos químicos e de uso oral”.
O transplante de microbiota (conhecido como transplante de fezes), muito comentado e discutido em nosso meio, tem um papel limitado e não duradouro no tratamento das DII. “Ele pode melhorar os sintomas na fase aguda, mas não é indicado para todos os casos. Sua principal indicação é no tratamento da colite pseudomembranosa, causado pela hiperproliferação e crescimento da bactéria Clostridium difficile, com excelentes resultados”, esclarece.
A dieta também possui papel importante no tratamento, principalmente nos períodos de fase aguda da doença, quando há sintomas como a diarreia. No entanto, a exclusão ou inclusão de alimentos da dieta pode variar de acordo com a fase e gravidade da doença e deve ser orientada pelo médico e/ou pela nutricionista especializada em DII.
Portadores de DII em tratamento são considerados como imunossuprimidos e têm maior risco de desenvolver infecções.
Ações da campanha Maio Roxo
Durante todo o mês a SBCP realizará ações para esclarecer o público sobre as DII. Posts nas redes sociais (www.instagram.com/portaldacoloproctologia/ e https://www.facebook.com/portalcoloprocto) e lives no Instagram vão tirar dúvidas sobre as doenças inflamatórias intestinais.
No 24/05, às 19h, os doutores Ornella Cassol e Rogerio Saad-Hossne vão falar sobre “DII: 15 perguntas e respostas – O que o proctologista precisa saber.”
No dia 29/05, às 19h, os doutores Gilmara Pandolfo e Rogerio Saad-Hossne vão abordar o tema DII.