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Maio Roxo: estudo aponta que prevalência de doenças inflamatórias intestinais no Brasil aumentou 15% ao ano em 9 anos

Sociedade Brasileira de Coloproctologia alerta para importância do diagnóstico precoce; adolescentes e adultos jovens são os mais atingidos

Com mais de 5 milhões de pessoas acometidas em todo o mundo, as doenças inflamatórias intestinais (DIIs) caracterizam-se pela inflamação do trato gastrointestinal, podendo atingir da boca ao ânus. O maior estudo realizado no Brasil sobre essa temática, com mais de 212 mil pacientes do SUS, apontou que em um período de nove anos a prevalência das doenças inflamatórias intestinais aumentou 15% ao ano, chegando a 100 casos para cada 100 mil habitantes. A maior concentração é registrada nas regiões Sudeste e Sul do Brasil.

De causas ainda totalmente desconhecidas e cura definitiva inexistente até o momento, as DIIs mais comuns são a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa. Adolescentes e jovens adultos são os mais afetados pelas DIIs.

Em 19 de maio é celebrado o Dia Mundial das Doenças Inflamatórias Intestinais e, para conscientizar sobre a importância do seu diagnóstico precoce, a Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP) realiza mais uma edição da campanha Maio Roxo. Ao longo do mês, posts e vídeos nas redes sociais (@portaldacoloproctologia) vão esclarecer as principais dúvidas que envolvem as DIIs.

“O objetivo principal do nosso alerta é o diagnóstico precoce, pois, apesar de ainda não termos a cura definitiva das doenças inflamatórias intestinais, um tratamento efetivo e precoce pode promover melhor qualidade de vida ao paciente, podendo chegar até à remissão dos sintomas”, ressalta Dr. Helio Moreira Jr., presidente da SBCP.

Prevalência e incidência

Esse estudo brasileiro foi publicado na revista The Lancet Regional Health Americas, em 2022, e analisou as taxas de incidência e prevalência de DIIs no Brasil de 2012 a 2020, tendo como base dados provenientes do DataSUS. Foram analisadas informações de 212.026 pacientes com DII de ambos os sexos (119.700 com retocolite ulcerativa, 71.321 com doença de Crohn e 21.005 classificados como indeterminados, quando o paciente apresenta sintomas de ambas as doenças).

A proporção entre retocolite e Crohn foi de 1,7:1. E houve uma predominância de mulheres (123.992; 58,5%) em comparação ao sexo masculino (86.902; 41%).

Em azul: pacientes masculinos; em laranja: femininos

A pesquisa apontou que a incidência (ocorrência de novos casos) de DII passou de 9,4 por 100 mil habitantes em 2012 para 9,6 por 100 mil habitantes em 2020, o que corresponde a uma variação percentual anual média (AAPC na sigla em inglês) de 0,8%. No caso da retocolite ulcerativa, a incidência foi de 5,7 para 6,9 por 100 mil habitantes, enquanto na doença de Crohn, houve diminuição de 3,7 para 2,7 por 100 mil habitantes no período citado.

Em azul, DII em geral; em verde, retocolite ulcerativa; em amarelo, doença de Crohn

Já a prevalência (somatório de casos novos e existentes) de DII aumentou significativamente: de 30 por 100 mil habitantes em 2012 para 100,1 por 100 mil habitantes em 2020, correspondendo a uma variação percentual anual média de 14,9%. Na retocolite ulcerativa a prevalência subiu de 15,8 por 100 mil habitantes em 2012 para 56,5 por 100 mil habitantes em 2020. Já na doença de Crohn a prevalência aumentou de 12,6 por 100 mil habitantes para 33,7 por 100 mil habitantes no mesmo período.

Em azul, DII em geral; em verde, retocolite ulcerativa; em amarelo, doença de Crohn

“Esses números, brilhantemente compilados pela tese de doutorado do Prof. Abel Quaresma, pela PUCPR, abrem de forma ampla a ‘caixa preta’ do SUS, para termos uma noção populacional do impacto dessas doenças no Brasil. Vale salientar as diferenças regionais, com maior concentração de casos no sul e sudeste e menor concentração nas regiões norte e nordeste. Além disso, é importante salientarmos que esses dados não incluem casos do sistema de saúde suplementar, apenas casos da rede pública. A incidência e prevalência em alguns estados do país é comparável a países da América do Norte e Europa. O aumento exponencial de casos pode ter relação com estilo de vida ocidentalizado, dieta e perfil genético dos pacientes”, analisa Dr. Paulo Gustavo Kotze, membro titular da SBCP e um dos autores do estudo.

Causas e fatores de risco

As DIIs não têm causa totalmente conhecidas, mas estima-se que seu aparecimento esteja ligado a fatores como histórico familiar, alterações no sistema imune, mudanças na flora intestinal, alimentação e influência do meio ambiente. O tabagismo é fator de risco comprovado para agravamento da doença de Crohn.

O estudo Gut Microbiome: Profound Implications for Diet and Disease, publicado na revista Nutrients, aponta que a composição da microbiota intestinal é diferente em pacientes com doença de Crohn do que em indivíduos saudáveis. E sugere que as alterações na microbiota intestinal podem desempenhar um papel no desenvolvimento da doença de Crohn.

Os autores afirmam que ao influenciarem o metabolismo e a inflamação, a alimentação e a nutrição podem ultrapassar os fatores genéticos e ambientais na determinação dos resultados de saúde para doenças crônicas como diabetes, obesidade, síndrome do intestino irritável, câncer colorretal e doenças inflamatórias intestinais.

Sintomas

Apesar de se caracterizarem pela inflamação do trato gastrointestinal, as DIIs possuem algumas singularidades:

Retocolite ulcerativaDoença de Crohn
Acomete o intestino grosso (cólon) e reto.Pode atingir desde a boca até o ânus, sendo mais
prevalente no intestino delgado, colón e região perianal.
Atinge apenas a camada mais superficial que reveste o
intestino (mucosa).
Todas as camadas intestinais (mucosa, submucosa,
muscular e serosa) podem ser atingidas pela inflamação.

Entre os sintomas mais frequentes estão:

– Diarreia crônica com presença sangue, muco ou pus;
– Cólicas abdominais;
– Urgência evacuatória;
– Falta de apetite;
– Cansaço;
– Emagrecimento.

Em casos mais graves, observam-se ainda anemia, febre, desnutrição e distensão abdominal. Cerca de 15 a 30% dos pacientes podem apresentar ainda manifestações extraintestinais como dor nas articulações, lesões de pele ou nos olhos.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico de uma DII é realizado por meio de história clínica e exames laboratoriais, endoscópicos (endoscopia digestiva alta e colonoscopia) com biópsias, além de exames radiológicos (tomografia ou ressonância magnética).

Apesar de ainda não haver uma cura definitiva, o tratamento adequado permite o controle do processo inflamatório e dos sintomas (chamado remissão clínica).

O objetivo do tratamento é induzir a remissão e mantê-la. Na fase de indução, podem ser prescritos anti-inflamatórios tópicos, corticoides e medicamentos injetáveis (terapia biológica). Já na etapa de manutenção, as medicações utilizadas podem ser as mesmas, com exceção dos corticoides (devido aos seus efeitos colaterais), podendo associar imunossupressores e biológicos.

A dieta também é fundamental; bons hábitos alimentares podem evitar crises, prevenir o desenvolvimento da doença e manter a remissão. Mas a dieta deve ser individualizada, conforme o estado do paciente e fase em que se encontra, sendo orientada por equipe multidisciplinar incluindo médicos e nutricionistas.

“O tratamento dessas doenças tem melhorado nos últimos anos. Novas drogas e principalmente novas estratégias de tratamento mais precoce da doença com drogas potentes têm melhorado a vida dos nossos pacientes. Com a evolução dos tratamentos injetáveis e novas moléculas orais, na fase inicial da doença, se controla sua evolução, evitando-se hospitalizações e cirurgias. A dieta sempre tem papel fundamental como coadjuvante no tratamento dos pacientes, seja na fase aguda ou de remissão da doença. O papel das nutricionistas no apoio multidisciplinar dos pacientes é fundamental”, ressalta Dr. Kotze.


Referências

Hills RD Jr, Pontefract BA, Mishcon HR, Black CA, Sutton SC, Theberge CR. Gut Microbiome: Profound Implications for Diet and Disease. Nutrients. 2019 Jul 16;11(7):1613. doi: 10.3390/nu11071613. PMID: 31315227; PMCID: PMC6682904. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6682904/. Acesso em: 24 abr. 2024.

Quaresma AB, Damiao AOMC, Coy CSR, Magro DO, Hino AAF, Valverde DA, Panaccione R, Coward SB, Ng SC, Kaplan GG, Kotze PG. Temporal trends in the epidemiology of inflammatory bowel diseases in the public healthcare system in Brazil: A large population-based study. Lancet Reg Health Am. 2022 Jun 9;13:100298. doi: 10.1016/j.lana.2022.100298. PMID: 36777324; PMCID: PMC9903988. Disponível em: https://www.thelancet.com/journals/lanam/article/PIIS2667-193X(22)00115-6/fulltext Acesso em: 25 abr. 2024.


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