Sociedade Brasileira de Coloproctologia alerta para importância de diagnóstico e tratamento. Doenças são mais incidentes em pessoas entre 15 e 40 anos
As doenças inflamatórias intestinais (DII) atingem mais de 5 milhões de pessoas em todo o mundo, e no Brasil tem sido observado aumento no número de novos casos, nos últimos anos.
Para conscientizar sobre as DII, que compreendem principalmente a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa, e alertar sobre a importância do diagnóstico precoce, a Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP) abraça a campanha Maio Roxo, organizada pelo Grupo de Estudos da Doença Inflamatória Intestinal do Brasil (GEDIIB) e pelas associações de pacientes. O mês é dedicado às DII porque em 19 de maio é celebrado o Dia Mundial das Doenças Inflamatórias Intestinais.
“No nosso país a prevalência das doenças inflamatórias intestinais varia de 12 até próximo a 55 em cada 100 mil habitantes, dependendo da região e do estudo epidemiológico. Observa-se uma maior concentração principalmente no Sudeste e no Sul, relacionando-se com o índice de desenvolvimento humano e a urbanização. No Brasil, a incidência média, ou seja, a ocorrência de novos casos, de doença de Crohn e retocolite fica em torno de 7 para cada 100 mil habitantes. Nos países desenvolvidos, incluindo EUA, Canadá e alguns países europeus, a prevalência pode chegar próxima a 120/130 para cada 100 mil habitantes. Estamos observando com o passar das décadas uma tendência no aumento dessa incidência nos países em desenvolvimento semelhante ao que foi observado nos países desenvolvidos”, alerta Dr. Rogerio Saad-Hossne, membro titular da SBCP e presidente do GEDIIB.
Estudos brasileiros
Estudo* publicado em 2018 e conduzido por Gasparini et al. analisou 22.638 pacientes do SUS no estado de São Paulo, com uma média de 42,6 anos, diagnosticados com DII (sendo 10.451 com Crohn e 12.187 com retocolite). A incidência de DII era de 13,30 novos casos para cada 100 mil habitantes por ano, enquanto a prevalência média era de 52,6 casos em cada 100 mil habitantes. Os pesquisadores concluíram que houve aumento da prevalência de DII em SP entre os anos de 2012 e 2015 e que os índices de incidência e prevalência são compatíveis com os da Europa, com uma maior ocorrência entre mulheres.
Já revisão* conduzida por Quaresma et al. publicada em 2019 teve como objetivo analisar a incidência e prevalência de DII no Brasil a partir de poucos estudos disponíveis sobre o assunto. Os pesquisadores encontraram quatro únicos estudos de base populacional, sendo dois em São Paulo, um no Espírito Santo e outro no Piauí. A pesquisa apontou crescimento na incidência e prevalência estimada de DII no Brasil, com maior número de casos nas regiões mais desenvolvidas.
Fatores de risco
As doenças inflamatórias intestinais são mais frequentes em adolescentes e adultos jovens (15 a 40 anos). As causas ainda são desconhecidas, mas sabemos que elas são multifatoriais. Acredita-se que estejam relacionadas a fatores genéticos, imunológicos, ambientais, alimentação, alteração da flora intestinal (disbiose intestinal), entre outros. A existência de membros na família com DII também aumenta as chances de um indivíduo apresentar o problema.
O tabagismo é outro vilão. Há evidências científicas de que fumar pode ser considerado fator de risco para o desenvolvimento e agravamento da doença de Crohn.
Sintomas
Enquanto a retocolite ulcerativa acomete somente o intestino grosso (cólon) e reto, a doença de Crohn pode atingir todo o trato digestório (desde a boca até o ânus), sendo mais prevalente no intestino delgado (Íleo), colón e região perianal. Na retocolite ulcerativa apenas as camadas mais internas que revestem o intestino (mucosa e submucosa) estão acometidas e inflamadas. Já na doença de Crohn, todas as camadas intestinais (mucosa, submucosa, muscular e serosa) podem estar comprometidas pela doença e pela inflamação.
Diarreia crônica com presença sangue e muco ou pus, com períodos de melhora e piora, associadas a cólicas abdominais, urgência evacuatória, falta de apetite, fadiga e emagrecimento costumam ser os sintomas mais frequentes. Os casos mais graves podem ser acompanhados de anemia, febre, desnutrição e distensão abdominal.
Cerca de 15 a 30% dos pacientes com DII podem apresentar manifestações extraintestinais como dor nas articulações (reumatológicas), lesões dermatológicas e oftalmológicas.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico das DII é realizado por meio de análise da história clínica, exames laboratoriais, endoscópicos (endoscopia digestiva alta e colonoscopia) com biópsias e radiológicos (tomografia ou ressonância magnética).
As DIIs não têm cura, mas o tratamento permite a resposta e a remissão clínica, ou seja, faz com que o paciente controle o processo inflamatório e a doença e desta forma não apresentem sintomas.
O tratamento é dividido basicamente em dois momentos: indução da remissão e manutenção. Na indução, pode ser iniciado, na dependência do seu quadro clínico e gravidade, com anti-inflamatórios tópicos (derivados salicílicos) e/ou corticoides e até mesmo a terapia biológica/pequenas moléculas. Essas medicações seguem, em geral, uma sequência progressiva. Na fase seguinte (manutenção) as medicações utilizadas podem ser as mesmas, com exceção dos corticoides, podendo fazer-se o uso de imunossupressores, em especial a azatioprina, associada ou não à terapia biológica, e a manutenção da terapia biológica/pequenas moléculas.
“A terapia biológica consiste no uso de anticorpos monoclonais com alvos específicos, feitos a partir de uma síntese proteica complexa, cujas vias de administração podem ser a endovenosa e/ou subcutânea. Felizmente temos observado o desenvolvimento e lançamento de novas drogas, com mecanismos de ação diferentes nos últimos anos. Dispúnhamos inicialmente dos bloqueadores anti-TNF alfa e hoje temos inibidores da anti-integrina e anti-interleucina, cujos mecanismos de ação são mais seletivos. Da mesma forma, nos últimos três anos tivemos a chegada das pequenas moléculas (compostos químicos e de uso oral) para o tratamento das doenças imunomediadas”, explica Dr. Rogerio.
Segundo o coloproctologista, o transplante de microbiota (conhecido como transplante de fezes), tem papel limitado e não duradouro no tratamento das DII. “Ele pode melhorar os sintomas na fase aguda, mas não é indicado para o tratamento das DII. Sua principal indicação é no tratamento da colite pseudomembranosa, causada pela hiperproliferação e crescimento da bactéria Clostridium difficile, com excelentes resultados”, esclarece.
A dieta também possui papel importante no tratamento, principalmente nos períodos de fase aguda da doença, quando há sintomas como a diarreia. No entanto, a exclusão ou inclusão de alimentos da dieta pode variar de acordo com a fase e gravidade da doença e deve ser orientada pelo médico e/ou nutricionista especializado em DII.
Portadores de DII em tratamento são considerados como imunossuprimidos e têm maior risco de desenvolver infecções. Por isso devem redobrar os cuidados com relação à Covid-19, especialmente aqueles que fazem terapia combinada de medicamentos e uso de corticoides.
Ações da campanha Maio Roxo
Durante todo o mês a SBCP realizará ações para esclarecer o público sobre as DII. Devido à pandemia da Covid-19, as atividades serão on-line. Posts nas redes sociais (www.instagram.com/portaldacoloproctologia/ e https://www.facebook.com/portalcoloprocto) e lives no Instagram vão tirar dúvidas sobre as doenças inflamatórias intestinais. No 12, às 19h, os doutores Antônio Lacerda Filho, Ornella Cassol e Rogerio Saad-Hossne vão esclarecer sobre doença de Crohn. No dia 19, às 19h, os doutores Carlos Sobrado e Gilmara Pandolfo falarão sobre retocolite ulcerativa.
* Estudos disponíveis em:
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30973356/
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